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Osmar Mendes : Uma Foto e Quinze Destinos
Uma Foto e Quinze Destinos
Histórias relacionadas ao Convênio de Bahá'u'lláh
Osmar Mendes
Editora Bahá'í do Brasil
FOTO

A foto dos quinze personagens que compõem a história do livro, tirada em Adrianópolis em fins de 1867.*

*ou início de 1868, data não precisa, mas certamente alguns meses antes do exílio de Bahá'u'lláh para 'Akká, que ocorreu em 21 de agosto de 1868.

Em pé, da esquerda para a direita:
1. Mirza Muhammad-'Alíy-i-Nahrí.
2. Mirza Nasru'lláh-i-Tafrishí.
3. Mullá Muhammad-i-Zarandí (Nabíl-i-A'zam)
4. Mirza Áqá Ján-i-Káshání (Khádimu'lláh)
5. Áqá Husayn-i-Isfahání (Mishkín-Qalam)
6. Mirza 'Alíy-i-Sayyáh
7. Áqá Husayn-i-Áshchí
8. Áqá 'Abdu'l-Ghaffár-i-Isfahání
Sentados, da esquerda para a direita:
9. Áqá Muhammad-Javád-i-Qazvíní
10. Mirza Mihdí (filho de Bahá'u'lláh)
11. 'Abdu'l- Bahá

12. Mirza Muhammad-Qulí (meio-irmão de Bahá'u'lláh, com, presumivelmente, um de seus filhos)

13. Siyyid Mihdíy-i-Dahají
Sentados, no chão, da esquerda para a direita:
14. Majdu'd-Dín (sobrinho de Bahá'u'lláh)

15. Mirza Muhammad-'Alí (meio-irmão de 'Abdu'l-Bahá)

Apresentação

Fotografias carregam consigo para o futuro as memórias de momentos singulares da vida e da história, evitando que a passagem dos anos lance sombras sobre elas. Algumas captam momentos por demais significativos e, por isso, são as testemunhas do tempo e podem revelar segredos que um olhar desatento não captaria numa primeira mirada.

A fotografia que serviu de inspiração a esta obra serve como uma excelente metáfora para as reflexões relacionadas ao Convênio de Bahá'u'lláh. Traz em si o registro de um dos períodos mais fecundos e turbulentos da história contemporânea. Embora tirada em preto e branco, iria, mais tarde, revelar em profundidade o colorido das vidas humanas nela retratadas, realçando-lhes os contrastes entre "luz" e "sombra". Foi tirada em Adrianópolis, provavelmente entre os anos 1867 e 1868, quando o Sol do Amanhecer apenas despontava no horizonte de Sua grande Glória, isto é, poucos anos depois da Declaração pública de Bahá'u'lláh - ocorrida no Jardim do Ridvan, Bagdá, em 1863 - de que Ele era o Prometido Divino, e antes de Sua partida como um exilado para a cidadela de 'Akká.

A fotografia, objeto deste livro, acabou por revelar, no contexto de sua história, a natureza de seus próprios personagens, ao ser contrastada com Aquela Luz, Fonte de todas as luzes. As histórias das vidas individuais aqui relatadas são daquelas que falam da relação entre amantes e o Ser amado, e, se por um lado, põem à mostra a existência do Paraíso de estar na Presença Divina e todas as suas inefáveis delícias, por outro revelam o tênue fio que separa a vida da morte, ou dos véus que impedem o reconhecimento da realidade das coisas, levando à cegueira do coração e da alma; e, ainda mais, demonstram a vastidão do espaço separando o falso do verdadeiro, o fiel do infiel, a profundeza do abismo existente entre o conhecimento e a ignorância, o largo e profundo oceano existente entre a humildade e o apego ao eu, o qual leva à morte espiritual.

Como destacado pelo eminente historiador Adib Taherzadeh, cujos textos são também parte da obra, "os companheiros de Bahá'u'lláh, por causa de sua proximidade a Ele, não podiam permanecer fiéis à Causa de Deus a menos que fossem capazes de afastar de si mesmos todo o mal decorrente do egoísmo. Qualquer sinal de autoglorificação, não importa quão insignificante fosse, seria fatal e, em Sua santa Presença, nada poderia sobreviver a não ser a mais extrema abnegação pessoal". Alguns, por sua demonstração cabal, por palavras e ações de humildade, obediência e desprendimento diante de seu Senhor, vieram a se tornar pilares espirituais, enquanto outros, "por orgulho e apego a si mesmos e às atrações do ego", acabaram por "se apartarem como que por um véu", privando-se da bondade divina e caindo em desgraça eterna.

Este é o Antigo Convênio de Deus que, como explica 'Abdu'l-Bahá, "... é o Iluminador dos horizontes... É a santa fragrância de Sua Santidade, o Criador, o Sopro de Vida de Seu Jardim. É a forte cidadela e, portanto, um abrigo seguro para todos os seres criados." Quem nele entrar estará a salvo e seguro, mas quem permanecer fora de seus muros estará em perigo de extinção eterna. Aquilo que assegura a permanência da alma dentro deste Jardim é o serviço desprendido à Causa de Deus, sendo a maior proteção do indivíduo, a sua brandura e humildade.

Uma Foto e Quinze Destinos Relacionados ao Convênio de Bahá'u'lláh é, sobretudo, um convite ao leitor para conhecer a verdadeira história que se desenvolve por debaixo do colorido do nosso dia-a-dia, o desenrolar de um "Novo Dia", sendo assim um poderoso chamado ao Reino de Deus e também um testemunho vivo da vitória dos verdadeiros amantes. É ao mesmo tempo um alerta sobre os perigos do egoísmo e cegueira espirituais, que impedem o coração humano de refletir a luz de Deus.

Bahá'u'lláh, o Personagem ao redor do Qual giram todas as histórias desta obra, escreveu, dentre muitas outras passagens similares, sobre a relação que deve existir entre aqueles que buscam Sua proximidade:

Ó Filho do Homem!

Se Me amas, não te prendas a ti mesmo; e se buscas Meu prazer, não consideres o teu próprio; para que tu morras em Mim e Eu possa viver eternamente em ti.1

E em outra passagem, escreveu:

Ó vós que, como mariposas, amais Sua luz! Enfrentai corajosamente todo perigo e consagrai vossas almas à Sua chama consumidora. Ó vós que estais sedentos por Ele! Despi-vos de toda afeição terrena e apressai-vos a abraçar vosso Bem-Amado... Tua vista te é por Mim confiada; não permitas que o pó dos desejos vãos lhe anuvie o brilho. Teu ouvido é sinal de Minha generosidade; não deixes que o tumulto dos motivos indignos o desviem de Minha Palavra que abrange toda a criação. Teu coração é Meu tesouro; não permitas que a mão traiçoeira do ego te roube as pérolas que nele entesourei.2

A vida dos quinze personagens e suas relações com a Causa iriam demonstrar mais tarde que dez deles acabaram por se abrigar debaixo desta poderosa Revelação, tornando-se, por sua abnegação, humildade e serviços dedicados ao Mensageiro Divino e à Sua Causa, "estrelas brilhando no horizonte da iluminação e conhecimento, aves cantando no Jardim da Graça, e espíritos imortais", enquanto que os cinco outros, pelo seu apego ao ego, inveja, desejo de liderança terrena, por desobediência e ignorância espirituais, e até mesmo por ódio, acabaram sendo arrastados pelo redemoinho de suas próprias paixões, sendo varridos para fora da Causa, vindo a extinguirem-se no lamaçal da miséria e afastamento de Deus.

A seguinte passagem de Bahá'u'lláh permanecerá como o verdadeiro conselho a todos aqueles que desejam se manter em Sua proximidade:

Não permitais que vossas vãs fantasias e más paixões, vossa insinceridade e cegueira de coração, ofusquem o esplendor ou maculem a santidade de tão elevado grau. Sois assim como a ave que voa, com a plena força de suas poderosas asas e com completa e jubilosa confiança, através da imensidão dos céus, até que, impelida a satisfazer a fome, volve-se avidamente para a água e o barro da terra abaixo e, emaranhada no enredo de seu desejo, vê-se impotente para retomar seu vôo para os domínios donde viera. Sem o poder de se livrar daquilo que lhe pesa nas asas maculadas, essa ave, antes um habitante dos céus, é forçada agora a buscar sua morada no pó. Portanto, ó Meus servos, não contamineis vossas asas com o barro da desobediência e dos desejos vãos, e não as deixeis macularem-se com o pó da inveja e do ódio, para que não sejais impedidos de voar nos céus de Meu conhecimento divino.3

No centro da fotografia encontra-Se a figura de 'Abdu'l-Bahá, ao redor do Qual parecem gravitar os demais, atraídos por Sua magnética personalidade, e Cuja grandeza foi posteriormente desvelada, quando plenamente revelada a posição que Lhe foi conferida pela Pena Suprema, como o Centro, o Eixo de Seu incomparável e poderoso Convênio.

Inúmeras são as Epístolas do próprio punho de Bahá'u'lláh fazendo menção à posição destinada a 'Abdu'l-Bahá. Em uma delas, Ele assim escreveu: "Que a glória de Deus esteja sobre Ti e sobre qualquer um que Te sirva e se mova a Teu redor. Ai daquele que Te fizer oposição ou Te injuriar. Bem-aventurado quem Te jurar lealdade; e que o fogo infernal atormente quem for Teu inimigo." Em outra, Ele afirma: "Nós te fizemos um refúgio para toda a humanidade, um escudo para todos os que estão no céu e sobre a terra, uma cidade para quem quer que tenha acreditado em Deus, o Incomparável, o Onisciente."

Outro devoto servo na fotografia é Mullá Muhammad-i-Zarandí, mais conhecido como Nabíl-i-A'zam, que viria a imortalizar-se como um dos mais destacados Apóstolos de Bahá'u'lláh e que deixou para a posteridade o relato detalhado dos episódios daqueles primeiros dias da Causa, no livro pleno de narrativas, intitulado Os Rompedores da Alvorada.

Outros importantes discípulos fiéis aparecem na fotografia e suas vidas permaneceram até o fim como exemplos de zelo, dedicação, humildade, entusiasmo e sacrifício, e seus nomes e o relato de suas vidas encontram-se registrados em tons vibrantes dentro de importantes obras. As histórias de alguns destes fiéis e dedicados servos foram escritas pelo próprio punho de Abdu'l-Bahá, no conhecido livro Memorials of the Faithful (Memórias dos Fiéis).

Desde os momentos iniciais desta Causa, todos os crentes sempre enfrentaram crescentes testes e dificuldades. O próprio Bahá'u'lláh, em muitas de Suas Epístolas, claramente adverte: "Pela Justiça de Deus! Estes são os dias em que Deus tem provado os corações da inteira companhia de Seus Mensageiros e Profetas e, além destes, aqueles que guardam Seu sagrado e inviolável Santuário, os habitantes do Pavilhão celestial e os que residem no Tabernáculo da Glória. A que provação severa, pois, devem ser sujeitados os que atribuem companheiros a Deus!"4

Em outra Epístola, Ele assim explica o método utilizado pelo próprio Deus: "Sabei vós que provações e tribulações, desde tempos imemoriais, têm sido a sorte dos Eleitos de Deus e de Seus bem-amados e daqueles de Seus servos que estejam desprendidos de tudo mais, senão dEle, daqueles a quem nenhuma mercadoria, nenhum comércio, possa seduzir da lembrança do Onipotente, que não falam antes de Ele haver falado e que agem de acordo com Seu mandamento. Tal é o método de Deus levado a efeito nos tempos antigos e assim permanecerá no futuro. Bem-aventurados os que suportam com firmeza, os que são pacientes em vicissitudes e privações, que não lamentam por causa de qualquer coisa que lhes sobrevenha e que trilham a senda da resignação..."5

Assim, esta aparente calamidade é, na verdade, a Sua própria providência, um meio de purificação: "... exteriormente, é fogo e vingança, mas interiormente é luz e misericórdia. Apressa-te para ela, a fim de que venhas a ser uma luz eterna e um espírito imortal. É este Meu mandamento a ti; observa-o."

Os efeitos da luz sobre cada objeto, irá por fim revelar a sua forma, sua cor, e refletirá a luz de acordo com a natureza desse mesmo objeto. Mas, "se um lugar", explica Bahá'u'lláh, "for fechado à luz por paredes ou um teto, ficará inteiramente privado do esplendor da luz; nem poderá o sol ali brilhar. Assim é que certas almas inválidas confinaram as terras do conhecimento dentro dos muros do ego e da paixão, e as têm nublado com ignorância e cegueira, ficando privadas da luz do sol místico e dos mistérios do Eterno Bem-Amado; e têm vagueado longe da preciosa sabedoria da Fé lúcida do Senhor dos Mensageiros, sendo excluídas do santuário do Todo-Formoso e sendo banidas da Caaba do esplendor."6

Foi assim que, ainda durante os dias de vida terrena de Bahá'u'lláh, o caráter egoísta de alguns dos personagens da fotografia, em sua busca de prestígio e liderança, já se havia tornado manifesto, incluindo o de Seu meio-irmão Mirza Yahyá. Outro que posteriormente se rebelou de forma feroz foi Seu próprio filho, de nome Mirza Muhammad-'Alí, o qual igualmente já havia dado mostras de insinceridade e em quem já se manifestava um certo ar de autoglorificação. Na grande maioria dos casos, entretanto, foi somente após o passamento da Abençoada Beleza que suas ações tornaram-se mais audazes e agressivas, sendo todas elas dirigidas contra a abençoada pessoa de 'Abdu'l-Bahá, "o Mais Poderoso Ramo, Aquele eleito por Deus, Aquele que brotou desta Raiz Antiga", o Qual foi indicado pelo próprio Pai, Bahá'u'lláh, como Seu sucessor e o Centro do Convênio, ao qual todos devem volver as faces.

O vento das provações soprou violento naqueles dias e algumas "... aves, antes habitantes dos céus, volveram-se à água e ao barro... tornando-se moradores do pó". Seus nomes, antes associados à glória da proximidade de Deus, estão agora esquecidos, enquanto alguns poucos outros são lembrados, não por causa de seu afastamento dEle e de Seu poderoso Convênio, mas pelo grande mal que fizeram, pelas inúmeras tristezas e dificuldades que imputaram deliberadamente a 'Abdu'l-Bahá e à Família Sagrada de Bahá'u'lláh.

Em todos os tempos, o aparecimento dos Profetas de Deus tem sido acompanhado de testes e provações como uma forma de julgamento, e é, neste sentido, o momento da separação entre o "joio" e o "trigo"; mas que grande comoção não deveria acompanhar o aparecimento dAquele Prometido de todos os Tempos, a vinda da Suprema Manifestação de Deus! Alguns estarão tão atraídos à Luz que queimarão todo pensamento refratário e sacrificarão a própria vida em Seu caminho; enquanto outros se apegarão tenazmente aos seus desejos mundanos e tentarão se prender a outros com seus enredos. Disto dão testemunho as próprias Escrituras Sagradas:

...Os ventos das provações não podem impedir que aqueles favorecidos com Tua proximidade volvam a face para o horizonte da Tua glória; as tempestades das vicissitudes inutilmente tentarão afastar de Tua corte aqueles devotados inteiramente à Tua vontade. Parece-me que a lâmpada do Teu amor incandesce em seus corações, e a luz da Tua ternura está acesa no íntimo de suas almas. Adversidades não os alienam de Tua Causa; os reveses da fortuna jamais os farão desviarem-se de Teu agrado. ...7

Vês, ó meu Deus, o que sobreveio a Teus bem-amados em Teus dias. Tua glória dá-me testemunho! A voz da lamentação de Teus eleitos ergueu-se por todo o Teu domínio. Alguns foram enredados pelos infiéis em Tua terra e por eles impedidos de se aproximar de Ti e de atingir a corte de Tua glória. Outros puderam acercar-se, mas foram obstados de contemplar Teu semblante. Outros ainda, em sua ansiedade por Te ver, puderam entrar em Tua corte, mas permitiram que, entre Ti e eles, interviessem os véus das fantasias de Tuas criaturas e as injúrias infligidas pelos opressores dentre Teu povo.8

Dentre alguns dos personagens da fotografia que se destacaram por sua perversidade, injúrias e opressão, está o mais famoso e que foi considerado como o arqui-rompedor do Convênio, a pessoa de Mirza Muhammad-'Alí. Outro foi Mirza Áqá Ján, "o primeiro a crer" nEle, quem foi cognominado por Bahá'u'lláh "Khádimu'lláh" (Servo de Deus), quem teve o privilégio do primeiro contato com o Espírito e o Gênio de Bahá'u'lláh, e foi um dos que, nos dias após o passamento da Abençoada Beleza, ameaçou a vida e a posição de 'Abdu'l-Bahá, aliando-se aos rompedores do Convênio e tornando-se um deles.

Outro que caiu vítima de seus próprios orgulho e ambição foi Siyyid Mihdíy-i-Dahají, um famoso e grande erudito instrutor da Fé durante aqueles primeiros dias na Pérsia, quem teve a honra de estar na presença de Bahá'u'lláh em Bagdá, Adrianópolis e em 'Akká, recebendo Suas graças, mas cujo brilho ofuscou-se por completo devido à sua ambição insaciável por liderança, levando-o a rebelar-se contra o Centro do Convênio, 'Abdu'l-Bahá.

Ele, 'Abdu'l-Bahá, em uma de Suas Epístolas, afirma que o grau mais elevado de sacrifício para um crente no caminho de Deus é render inteiramente sua vontade à Vontade de seu Criador e tornar-se um servo verdadeiro dos amantes da Abençoada Beleza.

Quanto ao perigo da associação com aquelas almas refratárias e perversas, é Bahá'u'lláh Quem assim orienta:

Ó Meu Filho!

A companhia do ímpio aumenta a tristeza, enquanto que a associação ao justo retira a ferrugem do coração. Quem busca comunhão com Deus deve procurar a companhia de Seus amados; e quem deseja escutar a palavra de Deus, que dê ouvidos às palavras de Seus eleitos.9

Ó Filho do Pó!

Acautela-te! Não andes com o ímpio, nem busques sua companhia, pois em tal associação a radiante luz do coração é transformada em fogo infernal.10

A compilação das histórias reunidas neste livro é, portanto, um poderoso chamado a uma reflexão mais profunda sobre o Caminho, e os perigos do Caminho, que a alma humana deverá enfrentar em sua jornada de progresso espiritual em direção ao Criador. Mas é, sobretudo, a demonstração cabal do poder do Convênio de Deus em "inspirar e impulsar os corações humanos", em "mover os corações" para "administrar os assuntos complicados da Causa", "para esmagar em mil pedaços todas as forças da oposição". É uma demonstração de que "nada no mundo jamais será capaz de resistir ao poder do Reino", ou ainda de que, caso "toda a humanidade se reunisse, não poderia impedir o sol de luzir, os ventos de soprarem, as nuvens de emitirem suas chuvas, nem poderia privar as montanhas de sua firmeza e as estrelas de sua irradiação". Assim, de forma enfática, 'Abdu'l-Bahá explica: "Por teu Senhor, o Clemente! Tudo está sujeito à corrupção, mas o Convênio de teu Senhor continuará a predominar sobre todas as regiões."

Os relatos sobre a vida dos fiéis, daqueles que se mantiveram firmes, são o testemunho vivo da vitória segura do poder de Deus, e nos asseguram de que "a constância e firmeza neste novo e maravilhoso Convênio é, em verdade, o espírito vivificador dos corações que transbordam de amor do Senhor Glorioso". O caminho da transformação espiritual e da santidade está aberto a todos os Seus humildes servos. O amado Mestre, Abdu'l-Bahá, assim nos diz, referindo-Se à promessa do próprio Bahá'u'lláh:

Vosso Senhor prometeu, seguramente, aos Seus servos firmes e constantes, que os faria bem sucedidos em todos os tempos, exaltando-lhes a palavra e propagando o poder, difundindo a luz, fortalecendo os corações, elevando os estandartes, auxiliando as hostes, fazendo brilhar suas estrelas e crescer a abundância das chuvas da misericórdia que sobre eles caem, habilitando os leões corajosos à vitória.11

É nesta direção que Ele está agora, de forma clara, constante e amorosa, convocando todos os Bahá'ís como apoiadores do Convênio de Seu Pai:

Ó povo de lealdade! Ó povo de fidelidade! Ó povo desperto pelo Sopro de Deus. Ó povo que inala a fragrância da vida do Espírito de Deus!... A senda foi aplainada, o caminho corrigido, o tapete do Reino estendido, o Tabernáculo elevado sobre a Colina do Poder, as forças do céu foram sacudidas. Os cantos da terra tremeram, o sol escureceu, a lua cessou de dar sua luz, as estrelas caíram, as nações da terra lamentaram e o Filho do Homem veio sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória, e Ele enviou Seus Anjos com o toque da grande trombeta e ninguém sabe o sentido destes sinais salvo os sábios e informados.

Vós sois os anjos, se seus pés são firmes, seu espírito, regozijado, seus pensamentos secretos, puros, seus olhos, consolados, seus ouvidos, abertos, seu peito, dilatado de alegria, suas almas, contentes, e se vos levantardes para ajudar o Convênio, para resistir à dissensão e serdes atraídos pela Resplandecência! Verdadeiramente, Eu vos digo que a Palavra de Deus foi seguramente explicada, tornou-se um sinal evidente, uma prova forte e sólida, seus traços serão difundidos no leste e no oeste, e a estas, todas as cabeças se curvarão e todas as almas se renderão e se ajoelharão com suas faces no chão.12

Antônio Gabriel Marques Filho
Salvador, Bahia, agosto de 2001.
Introdução

Lendo o maravilhoso livro do Sr. H. M. Balyuzi, Bahá'u'lláh, The King of Glory, deparei-me, na página 242, com uma foto que muito me impressionou. Trata-se de um grupo de 15 discípulos de Bahá'u'lláh que em Sua companhia residiam na cidade de Adrianópolis, no período de quatro anos em que lá viveu, de 1864 a 1868, antes de Seu banimento final para 'Akká, na Palestina. A foto foi tirada, ao que tudo indica, em fins de 1867 ou início de 1868.

Na época da foto, todos eram fiéis seguidores do Manifestante Divino e servos obedientes do Convênio de Deus. Certamente o elo mais forte de união entre eles era o Convênio, ou seja, o reconhecimento da posição de Bahá'u'lláh, fidelidade a Ele e obediência às Suas Leis e Mandamentos.

Interessei-me em pesquisar qual teria sido o destino de cada um deles após aquele período e até o final de suas vidas. Recorri, em primeiro lugar, às obras históricas do Sr. Adib Taherzadeh, à coleção de quatro volumes de The Revelation of Bahá'u'lláh, e ao livro The Covenant of Bahá'u'lláh, além do que constava no livro do Sr. Balyuzi. Tal pesquisa levou-me a outros livros históricos, como Os Rompedores da Alvorada - a História de Nabíl, Memorials of the Faithful, de 'Abdu'l-Bahá, e A Presença de Deus, de Shoghi Effendi.

Aprendi tantas lições de vida com eles, particularmente relacionadas ao Convênio de Bahá'u'lláh, que decidi fazer algumas compilações desses livros e reuni-las num volume, que é este, e cujo título sintetiza a obra toda: Uma Foto e Quinze Destinos - Relacionados ao Convênio de Bahá'u'lláh. Todas as histórias focalizam apenas alguns episódios da vida dos personagens, e apenas no que dizem respeito à sua relação com o CONVÊNIO DE Bahá'u'lláh.

Mas não gostaria que a leitura desta obra fosse apenas para entretenimento. Por isso, transcrevo também textos dos autores, em que falam dos personagens da foto, que enfatizam o que julgo ser um aspecto vital na vida de um bahá'í:

Saber o significado do CONVÊNIO, ser integralmente fiel a ele e às injunções decorrentes desse fato - ou seja, buscar conhecer as leis e determinações reveladas por Bahá'u'lláh e cumpri-las integralmente, mesmo com sacrifícios pessoais, pois isso representa a vida eterna e a verdadeira felicidade em todos os mundos de Deus.

As compilações iniciam-se com o Centro do Convênio de Bahá'u'lláh - 'Abdu'l-Bahá - e terminam também com referências ao nosso bem-amado Mestre, já que praticamente todas as histórias têm a ver com Sua vida. Por esta razão, o texto escolhido para retratar 'Abdu'l-Bahá, no contexto de Convênio, é o extraordinário escrito de Shoghi Effendi, em A Dispensação de Bahá'u'lláh, descrevendo oficialmente a posição de 'Abdu'l-Bahá nesta Dispensação.

Para aprofundarmos nosso conhecimento no verdadeiro significado do Convênio de Bahá'u'lláh, a obra é iniciada com um texto do Sr. Adib Taherzadeh, de seu livro The Covenant of Bahá'u'lláh (O Convênio de Bahá'u'lláh).

Mas é oportuno, também, lermos os seguintes textos de autoria do Sr. Peter Khan, membro da Casa Universal de Justiça, excertos de uma de suas famosas palestras e que trata também do Convênio de Bahá'u'lláh:

A evolução humana tem sido marcada por estágios progressivos de organização social tais como a família, a tribo, a cidade-estado e a nação. O propósito explícito de Bahá'u'lláh foi o de inaugurar o próximo e último estágio a saber, a unidade mundial - arauta da Paz Maior, profetizada nas religiões do mundo. Assim como a Palavra de Deus revelada por Bahá'u'lláh é a fonte e o ímpeto da unidade da humanidade, assim também o Convênio que Ele estabeleceu é o princípio organizador para sua realização.

O Convênio de Bahá'u'lláh assegura tanto a unidade de compreensão das doutrinas fundamentais de Sua Fé, como a concretização dessa unidade no desenvolvimento espiritual e social da comunidade bahá'í. Esse Convênio se distingue por conter disposições para a interpretação autêntica dos textos sagrados e para um sistema autorizado de administração, em cuja cúpula se encontra um corpo legislativo eleito com poderes para suplementar as leis reveladas por Bahá'u'lláh.

O Convênio é a característica mais notável de Sua Revelação, pois, diferentemente de qualquer sistema religioso do passado, está destinado a preservar a unidade de toda a humanidade mediante o funcionamento orgânico de uma ordem social baseada em princípios espirituais. Tão firme e poderoso é esse Convênio, assevera o filho de Bahá'u'lláh, 'Abdu'l-Bahá, que, desde o princípio dos tempos até o presente, nenhuma Dispensação religiosa produziu algo semelhante.

A Fé Bahá'í é, dessa forma, a primeira religião da história a ter sobrevivido ao crítico primeiro século com sua unidade firmemente estabelecida. "Não fosse pelo poder protetor do Convênio a guardar a fortaleza inexpugnável da Causa de Deus", escreveu 'Abdu'l-Bahá, "em um só dia surgiriam, entre os Bahá'ís, mil seitas diferentes, como ocorreu em eras passadas." Nesta Revelação, porém, o Convênio de Bahá'u'lláh é o ímã que atrai e mantém unidos os corações de Seus seguidores.

Nosso convênio com Bahá'u'lláh

Um convênio implica um acordo solene entre duas partes. A parte de Bahá'u'lláh em Seu Convênio é trazer-nos ensinamentos que transformem as condições tanto interiores como exteriores da vida na terra, deixar-nos um Intérprete autorizado para evitar uma compreensão errônea da vontade de Deus para nós, e oferecer-nos guia para o estabelecimento de instituições que irão perseguir as metas da realização da unidade. O Convênio de Bahá'u'lláh afeta-nos em todos os níveis da existência de nossas organizações sociais e nossa vida individual.

Como indivíduos, temos, por nossa vez, a responsabilidade de observar as leis que Deus nos deu para salvaguardar nossa dignidade e capacitar-nos a nos tornarmos os seres nobres como Ele nos criou para ser. Isso inclui orar, meditar, ler as Sagradas Escrituras diariamente, jejuar, viver uma vida pura, ser íntegro e ensinar Sua Fé. É nossa responsabilidade mostrar amor uns pelos outros, por imperfeitos que sejamos; é nossa obrigação amar e obedecer às instituições que Bahá'u'lláh trouxe à existência.

A menos que façamos essas coisas, não estaremos nos abrindo aos benefícios do Convênio de Bahá'u'lláh para conosco.

Tenham todos uma boa leitura, muitas emoções certamente, e que, ao final, possamos ter entendido definitivamente o que Bahá'u'lláh quis dizer neste conselho de As Palavras Ocultas:

Ama-Me, a fim de que Eu te possa amar. Se não me amas, de modo algum pode o Meu amor te atingir. Sabe isto, ó servo!

UMA FOTO E QUINZE DESTINOS
Primeira Parte: O Convênio de Bahá'u'lláh

A vida física no mundo ao nosso redor é regida pelas leis da natureza. O sol derrama sua energia sobre todas as coisas vivas neste planeta, a terra provê o alimento, e toda criatura vive segundo as regras da natureza. Estas leis controlam os reinos mineral, vegetal e animal, que não podem se desviar, por um mínimo que seja, do curso que o Criador lhes designou. Por exemplo, a abelha foi criada para construir o favo na forma de um hexágono, e não pode escolher fazê-lo de outra forma. O peixe necessita viver na água, e a fera, na terra. Cada organismo vivo, e de fato o universo inteiro, obedece involuntariamente às leis da natureza.

O homem é a única exceção. Deus dotou-o de duas naturezas opostas, a animal ou física, e a espiritual. O ser físico do homem está sujeito às leis da natureza, mas sua alma, sua natureza espiritual, não. A alma emana dos mundos espirituais de Deus e não pode ser limitada por vínculos materiais. Devido às suas qualidades espirituais, o homem foi dotado, pelo Criador, da capacidade do livre arbítrio, uma capacidade que não existe no resto de Sua criação na terra. Além disso, Deus criou o homem à Sua própria imagem, o que significa que Ele concedeu todos os Seus atributos ao ser humano, atributos que jazem latentes nele.

A fim de possibilitar à alma progredir e atingir qualidades espirituais, e assim revelar estes atributos latentes, Deus fez um Convênio com o homem e determinou que ele obedecesse às leis nele contidas. Notamos portanto que, por um lado, o corpo do homem é limitado pelas leis da natureza, mas por outro lado sua alma é governada pelas leis do Convênio de Deus. Um convênio é um contrato entre duas partes, cada qual com obrigações a cumprir. Conseqüentemente, um convênio significativo entre Deus e o homem exige liberdade de escolha para ambas as partes, e o homem deve usar o seu livre arbítrio ao escolher sua resposta ao Criador.

O relacionamento entre Deus e o ser humano neste Convênio é algo semelhante ao relacionamento entre o diretor de uma escola e o aluno. Quando o aluno vai à escola pela primeira vez, ele entra num convênio com o diretor da escola - embora muitas vezes sem o saber. Nesse contrato, o diretor provê os meios para a educação da criança. Ele designa professores para lhe ensinar, define o programa educacional e assegura o bem-estar e desenvolvimento da criança, em todos os seus aspectos. A responsabilidade da criança neste convênio é seguir as instruções do professor e aprender cada lição que lhe é ensinada. É através deste processo que a criança adquire conhecimento, desenvolve sua capacidade, e é dotada de poderes intelectuais e espirituais. À medida que o aluno progride em seu conhecimento e maturidade, o diretor designará outros professores para contribuir à sua educação. Neste convênio, as responsabilidades das duas partes são fundamentalmente diferentes. Não podem ser confundidas, nem são intercambiáveis.

Uma outra característica deste convênio é que as duas partes não possuem o mesmo grau. De um lado, o diretor da escola é conhecedor, sábio e forte. De outro lado, a criança é ignorante, fraca e imatura. Os termos deste convênio são definidos inteiramente pela parte mais forte e a criança não tem participação neles. Geralmente, o lado mais fraco perde quando um contrato é definido unicamente pelo lado mais forte. Porém, isto não acontece neste caso, pois o motivo do diretor ao organizar tudo é seu amor pela criança e sua preocupação com sua educação. Sua maior ambição é ver a criança atingir sabedoria e conhecimento. Ele anseia por ver seu aluno tornar-se uma pessoa madura.

O mesmo se aplica a Deus. Ele é o Criador, o Todo-Poderoso, o Autor do Convênio, cujos termos Ele próprio estipulou unilateralmente, sem a ajuda do homem. Como no exemplo acima, a parte de Deus neste Convênio é diferente da parte do homem. A parte que cabe a Deus é liberar as forças vivificantes da vida e da Revelação, e ao homem cabe recebê-las voluntariamente e obedecer dedicadamente aos Seus mandamentos.

Aprendemos do estudo das religiões que é o próprio ato da criação que faz nascer este Convênio de Deus com o ser humano. A parte de Deus neste Convênio é conceder vida ao indivíduo, provê-lo, de um lado, com suas necessidades físicas, colocando à sua disposição todos os recursos desta terra, e, de outro, conceder à sua alma a dádiva de Sua Revelação através de Seus Mensageiros, para guiar seus passos à morada eterna.

Bahá'u'lláh nos diz que tudo no mundo físico foi criado para o bem-estar e desenvolvimento da humanidade. Dirigindo-Se ao homem em As Palavras Ocultas, Ele afirma:

"Ó Filho da Generosidade!

Dos desertos do nada, com a argila de Meu mandamento, Eu te fiz aparecer e destinei a teu ensino todo átomo que existe e a essência de todas as coisas criadas. Assim, antes de procederes do ventre materno, Eu te provera duas fontes de leite cintilante, olhos para te vigiarem e corações para te amarem. Por Minha terna misericórdia, Eu te nutri à sombra de Minha mercê e, pela essência de Minha graça e Meu favor, te guardei..."1

Esta e muitas outras passagens similares nos Escritos de Bahá'u'lláh indicam que Deus criou os mundos animal, vegetal e mineral para o benefício e uso do ser humano. Há um relacionamento delicado entre todos os níveis da criação, em que o reino inferior serve o reino superior, enquanto que o reino superior convive em harmonia com o inferior. De fato, o mundo natural foi colocado à disposição do ser humano para enriquecer a sua qualidade de vida na terra, porém cabe ao mesmo respeitar e preservar o seu meio ambiente.

Deus não provê apenas o bem-estar físico do ser humano, mas também Se revela a ele através de Seus Mensageiros para desenvolver sua vida espiritual. Através da influência desses Mensageiros, a humanidade passou pelas etapas de infância, pré-adolescência e adolescência, e hoje, em decorrência da Revelação de Bahá'u'lláh, está destinada a amadurecer. Os Mensageiros são semelhantes aos professores na analogia anterior. Eles revelam progressivamente os ensinamentos de Deus de acordo com a capacidade dos povos de Sua época.

Como beneficiária das dádivas espirituais de Deus, a humanidade progrediu em cada época na mesma medida em que foi capaz de pôr em prática os ensinamentos de Seus Mensageiros e Profetas. Como na analogia em que o progresso da criança depende da sua vontade de obedecer ao professor e seguir suas instruções, o progresso espiritual da alma humana depende, em grande parte, da receptividade do indivíduo e de sua disposição em obedecer ao seu Senhor. Se ele se submeter à vontade de Deus, procurar obedecer os ensinamentos de Seus Mensageiros, e abrir seu coração para receber a efusão da Revelação de Deus para a época em que vive, então terá sido fiel ao Convênio de Deus. Mas se deixar de se volver aos Mensageiros de Deus e à Sua Manifestação, ficará espiritualmente empobrecido. Isto vale tanto para indivíduos como para a sociedade de forma geral.

Este eterno Convênio de Deus com o ser humano abrange várias formas identificáveis. O erudito bahá'í, George Townshend, por exemplo, identificou sete tipos de convênio derivados do Convênio eterno. Ele as descreve da seguinte forma:

1. O... Convênio, começando com Adão e terminando com Bahá'u'lláh - entre Deus e a raça humana inteira;

2. Entre Deus e cada Mensageiro, designando Sua missão;

3. Entre o Mensageiro e os fiéis: Convênio da próxima (ou futura) Manifestação;

4. Entre o Mensageiro e os fiéis: Convênio ético de fé e obediência;

5. Entre o Mensageiro e os fiéis: Convênio do sucessor imediato;

6. Entre o Mensageiro e um discípulo;

7. Entre o Sucessor imediato (por exemplo, o Centro do Convênio) e os fiéis:

a. Convênio de sucessão continuada;
b. Convênio ético.

A questão da sucessão (nº 3, 5 e 7 na análise de Townshend) é de fundamental importância na história da religião. Uma falta de consenso entre os fiéis tem sido um dos principais motivos de separatismo e desunião nas religiões e é uma das razões pela qual todos os Manifestantes de Deus foram perseguidos. Esta questão pode ser dividida em dois aspectos: o Convênio Maior e o Convênio Menor. O Convênio Maior é aquele que o Manifestante de Deus faz com Seus seguidores com relação à próxima Manifestação. O Convênio Menor é aquele que o Manifestante de Deus faz com relação ao Seu sucessor imediato.

Criando Firmeza no Convênio

Um dos mais importantes ensinamentos de Bahá'u'lláh é a livre busca da verdade. Isto significa que o indivíduo tem o dever de buscar a verdade com devoção e sem preconceito até que, espera-se, ele possa reconhecer Bahá'u'lláh como a Manifestação de Deus para esta época e aceitar Sua Causa. Não há nada mais precioso e vital para um Bahá'í do que sua fé em Bahá'u'lláh. Mas "fé" é um termo relativo. Sua intensidade varia conforme a pessoa e depende do grau em que se reconhece a posição de Bahá'u'lláh como a Manifestação Suprema de Deus.

Quando um crente aceita a Causa de Bahá'u'lláh, obtém um ilimitado âmbito na investigação das muitas verdades entesouradas na Revelação; este caminho do estudo dos ensinamentos pode continuar até o fim de sua vida. Shoghi Effendi disse que a "primeira obrigação" de um crente é aprofundar-se na compreensão da Revelação de Bahá'u'lláh. Estas são as suas palavras:

É minha convicção inalterável que todo fiel adepto deve, como sua primeira obrigação e o objeto de seu constante esforço, adquirir um conhecimento mais adequado do significado da estupenda Revelação de Bahá'u'lláh. Uma compreensão exata e completa de tão vasto sistema, de tão sublime revelação, de tão sagrada incumbência, está, por óbvias razões, fora do alcance de nossas mentes limitadas. Contudo podemos - e é nosso dever incontestável, enquanto trabalhamos na propagação de Sua Fé - procurar derivar nova inspiração e maior apoio, mediante um conceito mais nítido das verdades que essa Fé encerra e dos princípios em que se baseia.2

Quando o indivíduo reconhece Bahá'u'lláh como Manifestante de Deus, uma centelha de fé se acende em seu coração. A princípio apenas um fraco lampejo de luz, esta centelha precisa ser transformada num fogo de intensidade crescente, pois é aí que o crente se apaixona por Bahá'u'lláh. Mas como uma pessoa que acaba de aceitar esta crença pode se aproximar de Bahá'u'lláh, transformando em fogo a centelha de sua fé e aumentando seu amor por Ele a cada dia que passa?

É dito no Islã, e Bahá'u'lláh confirma e reitera isso, que O conhecimento é uma luz que Deus coloca no coração de quem quer que Ele queira. Afirmar que o coração é o ponto focal do conhecimento de Deus pode parecer estranho para alguns, pois normalmente admite-se que a mente é o meio para adquirir conhecimento e não o coração. Mas a fé e o conhecimento de Deus, tais como sementes, são inicialmente plantados no coração. Só depois é que a mente capta a verdade e começa a compreendê-la. No final, é a interação entre ambos - coração e mente - que traz confirmação e certeza à alma.

Embora em alguns casos a fé de um crente em Bahá'u'lláh possa ser adquirida por meio de uma abordagem intelectual, sua intensificação e crescimento diários não podem continuar puramente por meios intelectuais. E se a fé de uma pessoa não evoluir com o passar do tempo, é como uma criança que nasceu mas deixou de crescer. É muito provável que tal pessoa sinta, no íntimo de seu coração, algumas dúvidas a respeito da Fé, e poderá sentir grandes conflitos em sua mente, especialmente quando tiver de passar por testes. Embora intelectualmente aceite Bahá'u'lláh como Manifestante de Deus e até possa conhecer bem os Seus Escritos, ele não conseguirá obter aquela certeza absoluta que dota o ser humano de qualidades espirituais e lhe concede contentamento, segurança e felicidade eternos.

O coração é o ponto focal de calor e amor. É característico do coração apaixonar-se por outra pessoa, mas é o indivíduo que encontra e escolhe aquela pessoa. Se ele volver seu afeto para o mundo material, seu coração facilmente se prenderá às coisas materiais. Mas se, ao contrário, ele se volver a Deus e às coisas espirituais, então seu coração se apaixonará por seu Criador, desde que ele cumpra com uma condição estabelecida por Bahá'u'lláh:

Ó Filho do Ser!

Teu coração é Meu lar; santifica-o para Minha descida. Teu espírito é a sede de Minha Revelação; purifica-o, para que nele Eu possa Me manifestar.3

Como podemos santificar nosso coração? Em uma outra passagem Bahá'u'lláh explica:

Ó Filho do Pó!

Tudo o que se acha no céu e na terra, Eu o destinei a ti, salvo o coração humano, o qual fiz a habitação de Minha beleza e glória; tu, porém, deste Meu lar, Minha morada, a outro e não a Mim; e sempre que o Manifestante de Minha santidade ia à Sua própria morada, encontrando lá um estranho, apressava-se, sem lar, ao santuário do Bem-Amado. No entanto, tenho ocultado teu segredo, não te desejando envergonhar.4

E ainda:
Ó Meu amigo só na palavra!

Pondera tu um pouco. Já ouviste dizer que amigo e inimigo devessem morar em um só coração? Expulsa, pois, o estranho, para que o Amigo possa entrar em Seu lar.5

Portanto, para adquirir fé e permitir que a revelação de Deus brilhe dentro do coração, deve-se expulsar o "estranho". Este "estranho" é o apego do homem ao mundo. O mais terrível tipo de apego, e o mais danoso, é o apego ao seu ego. Ele se manifesta principalmente na forma do orgulho do nosso conhecimento e em outras realizações como classe ou posição. É o amor a si próprio que transforma o indivíduo em opinioso, egocêntrico e orgulhoso, e inclusive o despoja de qualidades espirituais. Tal pessoa nutre em seu coração um grande inimigo, a saber, o "estranho" a quem Se referiu Bahá'u'lláh. Mesmo que se torne bahá'í, ele encontrará dificuldade em obter progresso espiritual decorrente dos Ensinamentos de Bahá'u'lláh porque o apego a si próprio se tornou uma barreira entre ele e Deus.

Quem ler os Escritos puramente pela ótica do intelecto, enquanto, orgulhosamente, se considerar dotado de grandes qualidades e realizações, estará, indubitavelmente, fechando a porta para as dádivas e confirmações de Bahá'u'lláh, e portanto Suas palavras não terão influência sobre seu coração. É claro que quando uma pessoa reconhece verdadeiramente Bahá'u'lláh como Manifestante de Deus, torna-se humilde ante Ele, e este é um dos principais pré-requisitos para expulsar o "estranho", gradualmente, do nosso coração. Humilha-te perante Mim, para que Eu benevolamente te possa visitar..., é a clara advertência de Bahá'u'lláh ao homem.

Cega teus olhos, a fim de contemplares Minha beleza; fecha teus ouvidos, para que possas escutar a doce melodia de Minha voz: esvazia-te de todos os conhecimentos, para que possas participar de Minha sabedoria; e santifica-te da riqueza, a fim de obteres uma porção duradoura do oceano de Minha riqueza eterna. ...6

Há um lindo poema persa que esclarece esta questão de forma nítida. É uma história sobre uma gota de chuva que cai das nuvens. A gota sabia que era a água da vida, o mais precioso elemento criado por Deus, e portanto estava orgulhosa de si mesma. Vangloriando-se durante toda a trajetória da sua descida, subitamente se deu conta que estava caindo num oceano. De imediato, reconheceu sua própria insignificância e exclamou: "Se isto existe, o que sou eu?" Quando o oceano ouviu esta expressão de humildade, atraiu a gota a si mesmo e a fez uma companheira da pérola.

O texto seguinte faz parte de uma das orações obrigatórias reveladas por Bahá'u'lláh. Embora muito breve, lembra a história da gota e do oceano, e serve como uma perfeita confissão de quem nós somos:

"Dou testemunho, ó meu Deus, de que Tu me criaste para Te conhecer e adorar. Confesso, neste momento, minha incapacidade e Teu poder, minha pobreza e Tua riqueza..."7

A recitação diária de qualquer uma das orações obrigatórias pode servir como uma poderosa arma na batalha espiritual contra o ego, uma batalha que todo crente precisa travar a fim de subjugar seu maior inimigo e afugentar o "estranho". A recitação da oração obrigatória, que é prescrita por Bahá'u'lláh a todos os crentes e constitui-se num dos mais sagrados rituais da Fé, é um dos principais fatores que possibilitam a uma alma reconhecer a sua incapacidade em relação ao seu Criador e admitir suas próprias limitações.

A recitação da oração obrigatória, associada à leitura diária dos Escritos Sagrados conforme estabelecido por Bahá'u'lláh no Kitáb-i-Aqdas, além de um estudo mais profundo da Revelação de Bahá'u'lláh, possibilitará ao crente adquirir um vislumbre da majestade e grandeza da Abençoada Beleza. Como a gota que se depara com o oceano, ele se torna humilde e modesto. O "estranho" é afugentado e o coração se torna pleno do espírito da Fé de Deus. É nesta etapa que o crente será provado.

Testes e provações - inevitáveis - são bênçãos e glórias quando bem compreendidos, aceitos e vencidos.

As provações são parte integral da vida. Mesmo no mundo físico, há testes; por exemplo, notamos que quando há movimento, há também resistência; quanto mais rápido for o movimento, maior será a resistência. Portanto, um objeto rápido encontra uma enorme resistência do ar simplesmente por causa de sua velocidade.

Isto também é verdadeiro no sentido espiritual. Quando o indivíduo reconhece a posição de Bahá'u'lláh e aceita Sua Causa, ele é provado de muitas maneiras, muitas vezes sem o saber. Cada vez que conseguir passar um teste, adquirirá maior percepção espiritual e sua Fé se fortalecerá. Ele, então, se aproximará de Deus e será elevado a um nível maior de serviço; da próxima vez, seus testes serão mais difíceis. Nem sempre conseguimos passar por um teste, mas Deus, em Sua misericórdia, nos concede novamente a oportunidade de vencer a barreira numa outra ocasião. Porém, se devido ao apego mundano o ego predominar, a fé se enfraquecerá e a pessoa correrá o risco de perdê-la completamente.

Não importa quão fortemente um indivíduo acredite em Bahá'u'lláh, nem quão intenso seja seu amor por Ele - sua fé dependerá do grau em que estiver disposto a obedecer Suas leis, ensinamentos e mandamentos. De fato, o papel do homem no Convênio é, antes de qualquer coisa, reconhecer e depois obedecer dedicadamente à Manifestação de Deus em todos os sentidos.

A palavra "obediência" desagrada muitas pessoas hoje em dia. Na sociedade de hoje, em que todos os valores morais e espirituais estão em declínio, o conceito de obediência é normalmente associado com ditadura, tirania, fanatismo religioso e intolerância. Este ponto de vista é freqüentemente defendido por homens e mulheres cultos ,que normalmente são abertos e inteligentes. Essas pessoas vêm de todas as posições sociais, algumas pertencem a movimentos religiosos com tendências liberais, outras são humanistas, agnósticas ou atéias. Elas têm observado atentamente as terríveis conseqüências da obediência cega a vários regimes políticos ou hierarquias religiosas, e temem qualquer movimento, religioso ou secular, que exija obediência absoluta aos seus mandamentos.

Os Bahá'ís consideram essas pessoas dignas de louvor e admiração, simpatizam plenamente com seus pontos de vista e compreendem sua apreensão. Elas não devem ser culpadas por sua atitude perante este tema. A culpa é das instituições políticas e religiosas; até mesmo um estudo superficial das antigas religiões estabelecidas, hoje divididas em tantas seitas divergentes, indica que seus líderes se afastaram do caminho que seus Fundadores haviam originalmente estabelecido. Muitos desses líderes desvirtuaram a verdadeira religião de Deus, não entenderam seu propósito, interpretaram erroneamente seus ensinamentos, adulteraram suas verdades, fizeram concessões nos seus princípios, fabricaram seus dogmas e, para ganhar tempo e obter benefícios egoístas, cumpriram apenas verbalmente suas verdades espirituais. Existem hoje milhões de pessoas, seguidoras das principais religiões do mundo, que caíram na armadilha das doutrinas religiosas obsoletas cujas origens e ensinamentos raramente compreendem, mas que aceitam cegamente, quase sempre por ingenuidade, seguindo seus líderes com toda a sinceridade de uma alma simples e muitas vezes desesperada em busca de alguma solução espiritual para suas dificuldades e carências internas.

Não causa surpresa, portanto, que Bahá'u'lláh tenha condenado os líderes religiosos, quando insinceros, em termos fortes:

A fonte e a origem da tirania têm sido os sacerdotes. Através das sentenças pronunciadas por essas almas arrogantes e perversas, os governantes da terra perpetraram o que ouvistes... As rédeas das massas negligentes têm estado, e ainda estão, nas mãos dos expoentes de vãs fantasias e idéias fúteis. Estes decretam o que queiram.8

No Kitáb-i-Íqán, Ele declara:

Os expoentes da religião, em cada era, têm impedido seu povo de atingir as plagas da salvação eterna, por haverem detido firmemente em suas poderosas mãos as rédeas da autoridade. Alguns por cobiça de poder, outros por falta de conhecimento e compreensão, privaram o povo desse bem.9

Em outra passagem no mesmo livro, Ele lamenta a condição daqueles que cegamente acompanham seus líderes religiosos:

E o povo também, desprezando inteiramente Deus e tomando-os por seus mestres, submeteu-se incondicionalmente à autoridade desses líderes pomposos e hipócritas, pois lhes falta visão, ouvido e coração próprios para poder distinguir entre a verdade e a falsidade.10

O novo espírito desta era insuflada nas mentes e corações dos homens neste século despertou muitos para esta tragédia. Líderes religiosos tanto distorceram a verdade das suas religiões que suas vozes, outrora inspiração para multidões, hoje são recebidas por estas mesmas pessoas com graus variados de indiferença ou hostilidade. Como resultado, um grande número de pessoas já rompeu os grilhões que os líderes religiosos prenderam às suas mentes e conseguiram se libertar dessa escravidão. Muitos se desiludiram totalmente com a religião, alguns são crentes mas sem muito entusiasmo, e outros engrossaram as fileiras dos agnósticos e ateus. Muitas dessas pessoas são pensadores honestos que, devido à sua amarga experiência, denunciaram a doutrina da obediência cega aos ensinamentos de uma religião.

Não são apenas os líderes das religiões estabelecidas que, ao desvirtuar os ensinamentos de suas religiões, alienaram o povo. Há também muitos "falsos profetas" que, por amor à liderança e ganho pessoal, mostram-se ao povo sob a falsa aparência de um "homem santo", anunciando-se como um salvador dos homens e fundador de uma nova seita religiosa, defendendo alguma prática sensacionalista, e quase sempre corrupta e imoral. Assim, ele atrai pessoas simples ou ignorantes à sua causa, explora-as em seu próprio benefício, segura-as fortemente com as rédeas da autoridade e domina suas mentes e corações. É este tipo de obediência cega que é abominado por qualquer pessoa que tenha um mínimo de discernimento.

Por outro lado, o ser humano, na sua vida diária, obedece de boa vontade às diretrizes de indivíduos ou instituições que falam em nome de uma verdade reconhecida. Está disposto a aceitar a autoridade que, no seu ponto de vista, é crível e digno de confiança. Por exemplo, um motorista segue sem hesitar as placas de trânsito até chegar ao seu destino. Esta obediência cega deve-se à sua fé na autoridade do órgão que colocou as placas. De forma semelhante, um paciente permitirá de boa vontade ao cirurgião operar um tumor canceroso porque tem fé em seu diagnóstico.

Há uma resposta similar ao reconhecermos a verdade da Causa de Deus. Uma vez reconhecida como crível, não é difícil alcançar a obediência aos ensinamentos. Uma vez que o papel do homem no Convênio de Deus é a obediência aos Seus Ensinamentos, está claro que ele não pode cumprir esta obrigação a não ser que reconheça a verdade de Sua Revelação. É muito significativo que o primeiro assunto que Bahá'u'lláh escolheu expor no Kitáb-i-Aqdas é o papel que o homem desempenha no Convênio com seu Criador. O texto seguinte é o primeiro parágrafo do Livro Sacratíssimo:

O primeiro dever prescrito por Deus a Seus servos é o reconhecimento dAquele que é o Alvorecer de Sua Revelação e a Fonte de Suas leis, Aquele que representa a Deidade tanto no Reino de Sua Causa como no mundo da criação. Quem cumpre esse dever atinge todo o bem, e quem dele se priva conta-se entre os extraviados, mesmo que seja o autor de todos os atos retos. Cumpre a cada um que alcança esse mais sublime grau, esse ápice de transcendente glória, observar todos os mandamentos dAquele que é o Desejo do mundo. Esses deveres gêmeos são inseparáveis. Um não é aceitável sem o outro. Assim decretou Aquele que é o Manancial da inspiração divina.11

Portanto, constatamos que há duas coisas neste Convênio que são exigidas do ser humano: primeiro, reconhecer a Manifestação de Deus como a fonte de todo o bem, e, segundo, obedecer aos Seus Mandamentos.

Conforme já foi mencionado, um dos mandamentos mais importantes de Bahá'u'lláh é que nos volvamos para o Centro de Seu Convênio após Sua Ascensão. Esta injunção foi revelada no Kitáb-i-Aqdas, no Kitáb-i-'Ahdí, e em outras Epístolas. Na Súriy-i-Ghusn, Bahá'u'lláh Se refere a 'Abdu'l-Bahá nas seguintes palavras:

Agradecei a Deus, Ó povo, por haver Ele aparecido; pois, em verdade, Ele é a maior de todas as graças, a mais perfeita dádiva a vós; e por Seu intermédio se ressuscitam até os ossos em decomposição. Quem se dirigir a Ele terá se dirigido a Deus, e quem dEle se desviar, terá se desviado de Minha Beleza, terá repudiado Minha Prova e transgredido contra Mim. Ele é Quem Deus confiou a vós, de Quem Ele vos incumbiu, Seu Manifestante entre vós, e o Seu aparecimento entre Seus servos favorecidos... Fizemo-Lo descer na forma de um templo humano. Bendito e santificado seja Deus, que cria qualquer coisa que deseje através de Seu decreto inviolável, infalível. Aqueles que se privam da sombra do Ramo estão perdidos na solidão do erro, consumidos pelo fogo dos desejos mundanos, são daqueles que, seguramente, hão de perecer.12

Portanto, para um Bahá'í verdadeiramente fiel ao Convênio, a obediência às palavras de 'Abdu'l-Bahá é obediência a Deus. O reconhecimento do grau de Bahá'u'lláh e o fato de simplesmente crer nEle, por importantes que sejam, não garantirão a nossa fé a não ser que permaneçamos fiéis e firmes em Seu Convênio. Uma das características que destacam a Fé de Bahá'u'lláh é que Ele não abandonou Seus seguidores aos seus próprios meios. Ele deixou, em seu meio, uma fonte de guia divina à qual eles podem recorrer. Outorgou Seus poderes divinos e autoridade a 'Abdu'l-Bahá e estabeleceu um Convênio firme com os crentes para segui-Lo e obedecê-Lo com absoluta devoção e amor. Este Convênio foi estendido para incluir Shoghi Effendi e a Casa Universal de Justiça. Portanto, fé em Bahá'u'lláh não é um mero reconhecimento de Sua mensagem divina, mas também envolve obediência e lealdade àqueles a quem Ele conferiu o manto da infalibilidade.

É natural para um ser humano aceitar e seguir aqueles ensinamentos com os quais já concorda. Entretanto, a medida da firmeza do homem no Convênio pode ser determinada pela resposta do indivíduo a todos os ensinamentos e determinações existentes nas Escrituras Sagradas Bahá'ís, mesmo aqueles que sejam contrários ao seu modo de pensar.

Um crente que se depare com um ensinamento desses, mas que imediatamente, sem hesitar, admita que pode estar errado na sua compreensão do assunto e reconheça que as palavras de Bahá'u'lláh e Seus Ensinamentos são a verdade oriunda da Revelação de Deus para esta época, é verdadeiramente um crente firme no Convênio. É claro que o indivíduo poderá passar por conflitos interiores, resultados de sua incapacidade de compreender a sabedoria de um determinado texto; mas não deve se desesperar, pois através de oração e confiança poderá, com o tempo, vir a reconhecer a verdade do assunto que, antes, havia lhe causado tantas dificuldades de entendimento.

Aqueles que alcançaram o ápice da fé e reconhecem a posição de Bahá'u'lláh com absoluta certeza - que Ele, e mais ninguém, é o vice-regente de Deus na terra - não podem senão prestar imediata e total obediência a cada um de Seus Mandamentos. Em espírito de amor e devoção, eles também demonstrarão o mesmo grau de obediência e submissão às palavras de 'Abdu'l-Bahá e Shoghi Effendi, e às diretrizes da Casa Universal de Justiça. As seguintes palavras de Bahá'u'lláh, reveladas no Kitáb-i-Aqdas, estabelecem, permanentemente, o critério de firmeza e constância em Seu Convênio:

Se Ele decretar como lícito o que desde tempos imemoriais fora proibido, e se proibir o que sempre se considerara legítimo, a ninguém é dado o direito de Lhe questionar a autoridade. Quem vacila, por menos de um momento que seja, é considerado transgressor.13

Firmeza no Convênio é um termo relativo, e sua intensidade varia conforme o indivíduo. A medida da fé de cada crente no Convênio depende do grau em que ele reconhecer prontamente a verdade das palavras de Bahá'u'lláh ou daqueles a quem Ele conferiu infalibilidade.

'Abdu'l-Bahá

"Ele é o 'Mistério de Deus'... primeiro e acima de tudo, o Centro, o Eixo, do incomparável Convênio de Bahá'u'lláh, Convênio esse que tudo abrange - Sua mais exaltada obra, o imaculado Espelho de Sua Luz, o perfeito Exemplar de Seus ensinamentos, o infalível Intérprete de Sua Palavra, a encarnação de todos os ideais e virtudes Bahá'ís."

- Shoghi Effendi

Urge agora - estou plenamente convencido - tentarmos esclarecer a posição ocupada por 'Abdu'l-Bahá e compreender sua significação nesta sagrada Era. Seria verdadeiramente difícil para nós, que estamos ainda tão próximos desta imponente figura e que somos atraídos pelo misterioso poder dessa personalidade tão magnética, obter uma compreensão clara e exata do papel e do caráter dAquele que, não somente na Revelação de Bahá'u'lláh, mas em todo o terreno da história religiosa, preenche uma função ímpar.

Assim, movendo-Se em uma esfera própria e possuindo um grau radicalmente diferente daquele do Autor e do Precursor da Revelação Bahá'í, 'Abdu'l-Bahá forma, juntamente com Estes - em virtude da posição que Lhe foi ordenada pelo Convênio de Bahá'u'lláh - aquilo que se pode chamar as Três Figuras Centrais de uma Fé que permanece sem par na história espiritual do mundo. Dominando, com Eles, os destinos dessa nascente Fé divina, ergue-Se de um nível a que jamais poderá aspirar, dentro de um período de mil anos completos, nenhum indivíduo ou grupo que venha a servir os interesses da Fé após Ele. Se alguém tentasse diminuir-Lhe o prestígio incomparável, julgando que Seu grau fosse em pouco ou nada superior ao daqueles sobre cujos ombros tenha caído o manto de Sua autoridade, isso seria um ato de impiedade tão grave como a crença, não menos herética, que visa exaltá-Lo a um estado de igualdade absoluta com a Figura central de nossa Fé ou com seu Precursor. Por largo que seja o abismo que separa 'Abdu'l-Bahá dAquele que é a Fonte de uma Revelação independente, nunca poderá ser considerado tão vasto como a distância entre Ele, o Centro do Convênio, e Seus ministros que hão de continuar Sua obra, nada importando quais sejam os nomes, categorias, funções ou futuras realizações destes. Os que conheceram 'Abdu'l-Bahá e que, atraídos por Sua magnética personalidade, Lhe dedicaram tão fervorosa admiração, devem refletir, à luz dessa afirmação, sobre a grandeza dAquele Cuja posição é tão superior.

Que 'Abdu'l-Bahá não é Manifestante Divino, e não ocupa posição similar à posição de Seu Pai, embora seja o Seu sucessor, e que ninguém exceto o Báb ou Bahá'u'lláh poderá reclamar para si semelhante grau antes do término de mil anos completos - são verdades que encerram as específicas palavras tanto do Fundador de nossa Fé como do Intérprete de Seus ensinamentos.

Antes de expirado um milênio completo - adverte-nos explicitamente o Kitáb-i-Aqdas - quem afirmar ser portador de uma Revelação direta de Deus será seguramente um impostor mentiroso. Rogamos a Deus que, por Sua graça, o ajude a retratar-se e a repudiar tal pretensão. Se se arrepender, Deus sem dúvida o perdoará. Porém, se persistir em seu erro, é certo que Deus enviará quem o trate impiedosamente. Terrível, deveras, é Deus quando pune!

E para tornar ainda mais enfático esse ponto, Bahá'u'lláh acrescenta:

Quem interpreta esse versículo senão em seu sentido óbvio está privado do Espírito de Deus e de Sua misericórdia que abarca toda a criação. Se aparecer um homem - é outra afirmação concludente - antes de se completar um período de mil anos - sendo que cada ano consiste de doze meses, segundo o Alcorão, e de dezenove meses de dezenove dias cada, segundo o Bayán - e se esse homem revelar ante vossos olhos todos os sinais de Deus, rejeitai-o sem a menor hesitação.

Com Suas próprias afirmações, 'Abdu'l-Bahá corrobora essa advertência, em termos não menos enfáticos e incondicionais: Esta é minha convicção firme e inabalável - declara Ele - a essência de Minha crença manifesta e explícita - uma convicção e uma crença com que estão de pleno acordo os habitantes do Reino de Abhá: A Abençoada Beleza é o Sol da Verdade, e Sua luz é a luz da Verdade. Do mesmo modo é o Báb o Sol da Verdade, e Sua luz, a luz da Verdade... Minha posição é a de servidão - uma servidão que é completa, pura e real, firmemente estabelecida, durável, óbvia, explicitamente revelada e não condicionada a interpretação alguma... Sou Eu o Intérprete da Palavra de Deus; e esta é Minha interpretação.

E no próprio Testamento de 'Abdu'l-Bahá - em um tom e linguagem que bem poderiam confundir até os mais inveterados dos infratores do Convênio de Seu Pai - não torna Ele nula a arma principal daqueles que se haviam esforçado tão persistentemente a fim de Lhe imputar a pretensão tácita de ser igual, ou até mesmo superior, a Bahá'u'lláh?

A base da crença do povo de Bahá é esta: - assim proclama uma das mais imponentes passagens desse último documento, deixado para transmitir, a toda a posteridade, as instruções e vontades do Mestre que partira - Sua Santidade, o Excelso (o Báb), é a manifestação da Divina Unidade e o Precursor da Beleza Antiga. Sua Santidade, a Beleza de Abhá (Bahá'u'lláh) - (oxalá Minha vida seja oferecida em holocausto por Seus amigos leais) - é o supremo Manifestante de Deus e a Aurora de Sua mais divina Essência. Todos os outros são Seus servos e cumpridores de Sua Vontade.

Dessas declarações, entretanto, tão inequívocas, categóricas, e incompatíveis que são com qualquer pretensão de ser Profeta, não devemos inferir, de modo algum, que 'Abdu'l-Bahá seja apenas um dos servos da Abençoada Beleza, ou mesmo um cuja função se limite à interpretação autorizada dos ensinamentos de Seu Pai. Longe de mim tal noção ou o desejo de incutir tais idéias! Julgá-Lo assim seria, claramente, uma traição à inestimável herança que Bahá'u'lláh legou à humanidade. A posição que Lhe foi conferida pela Pena Suprema é incomensuravelmente exaltada acima e além do que se infere dessas, Suas próprias declarações escritas. Quer seja no Kitáb-i-Aqdas, a mais imponente e sagrada de todas as obras de Bahá'u'lláh, quer no Kitáb-i-'Ahdí, o Livro de Seu Convênio, ou na Súriy-i-Ghusn (Epístola do Ramo), as referências registradas pela pena de Bahá'u'lláh - referências essas poderosamente reforçadas pelas Epístolas que o Pai de 'Abdu'l-Bahá Lhe dirigiu - investem-No de um poder e O cercam de uma auréola que a presente geração jamais poderá apreciar devidamente.

Ele é, e para todo o sempre deve ser considerado, primeiro e acima de tudo, o Centro, o Pivô do incomparável e todo-abrangente Convênio de Bahá'u'lláh - Convênio esse que tudo abrange, Sua mais exaltada obra, o imaculado Espelho de Sua Luz, o perfeito Exemplar de Seus ensinamentos, o infalível Intérprete de Sua Palavra, a personificação de todo ideal e encarnação de toda virtude bahá'í, o Mais Poderoso Ramo nascido da Raiz Antiga, o Sustentáculo da Lei de Deus, o Ser "em torno de Quem giram todos os nomes", o Manancial da Unidade da Humanidade, o Porta-Estandarte da Suprema Paz, a Lua do Orbe Central desta mais sagrada Dispensação - denominações e títulos esses que são implícitos e que encontram sua mais elevada, verdadeira e justa expressão no mágico nome 'Abdu'l-Bahá. Ele, acima e além dessas denominações, é o "Mistério de Deus" - uma expressão que o próprio Bahá'u'lláh escolhera para designá-Lo e que, embora de modo algum justifique que se Lhe atribua a posição de Profeta, mostra como na Pessoa de 'Abdu'l-Bahá se reúnem e harmonizam completamente as incompatíveis características de uma natureza humana e de um conhecimento e perfeição sobre-humanos.

Quando o Oceano de Minha Presença tiver refluído, e o Livro de Minha Revelação se achar completo - proclama no Kitáb-i-Aqdas - volvei vossas faces Àquele eleito por Deus, Aquele que brotou desta Raiz Antiga. E também: Quando o Pombo Místico já tiver levantado vôo de Seu Santuário de Louvor, e houver buscado a sua meta longínqua, sua habitação oculta, submetei tudo o que não entendais no Livro Àquele que proveio desta poderosa Estirpe.

No Kitáb-i-'Ahdí, além disso, Bahá'u'lláh declara solene e explicitamente: Incumbe aos Aghsán, aos Afnán, e a todos os Meus parentes, voltarem as faces para o Mais Poderoso Ramo. Considerai o que revelamos em Nosso Livro Sacratíssimo: "Quando o oceano de Minha presença tiver refluído, e o Livro de Minha Revelação se achar completo, volvei vossas faces Àquele eleito por Deus, Aquele que brotou desta Raiz Antiga." O objeto desse sagrado versículo não é senão o Mais Poderoso Ramo ('Abdu'l-Bahá). Através de Nossas graças, Nós vos revelamos Nossa Potentíssima Vontade, e Eu sou em verdade o Misericordioso, o Onipotente.

Na Súriy-i-Ghusn (Epístola do Ramo) foram registrados os seguintes versículos: Brotou do Sadratu'l-Muntahá esse sagrado e glorioso Ser, esse Ramo de Santidade; bem-aventurado quem tenha buscado Seu amparo e habite à Sua sombra. Em verdade, o Sustentáculo da Lei divina surgiu desta Raiz que Deus plantou firmemente no Solo de Sua Vontade, e cujo Ramo se ergueu até abranger a criação inteira. Glorificado seja Ele, pois, por esta Obra sublime, abençoada, poderosa e exaltada! ... Como prova de Nossa misericórdia, emanou uma Palavra da Suprema Epístola - uma Palavra que Deus embelezou com os adornos de Seu próprio Ser e fez soberana sobre a terra e tudo o que nela está, e um sinal de Sua grandeza e poder entre seus povos... Agradecei a Deus, ó povo, por haver Ele aparecido; pois, em verdade, Ele é a maior de todas as graças, a mais perfeita dádiva a vós; e por Seu intermédio se ressuscitam até os ossos em decomposição.

Quem se dirigir a Ele se terá dirigido a Deus, e quem dEle se desviar, se terá desviado de Minha Beleza, terá repudiado Minha Prova e transgredido contra Mim. Ele é Quem Deus confiou a vós, de Quem Ele vos incumbiu, Seu Manifestante entre vós, e o Seu aparecimento entre Seus servos favorecidos... Fizemo-Lo descer na forma de um templo humano. Bendito e santificado seja Deus, que cria qualquer coisa que deseje através de Seu decreto inviolável e infalível. Aqueles que se privam da sombra do Ramo estão perdidos na solidão do erro, consumidos pelo fogo dos desejos mundanos, e são daqueles que, seguramente, hão de perecer.

Ó Tu que és a menina de Meus olhos! - escreve Bahá'u'lláh, do próprio punho, dirigindo-Se a 'Abdu'l-Bahá - Descansem sobre Ti Minha glória, o oceano de Minha benevolência, o sol de Minha bondade, o céu de Minha misericórdia. Pedimos a Deus que ilumine o mundo através de Teu conhecimento e Tua sabedoria, que ordene para Ti o que possa alegrar Teu coração e consolar Teus olhos. Que a glória de Deus esteja sobre Ti, diz Ele em outra Epístola, e sobre qualquer um que Te sirva e se mova a Teu redor. Ai daquele que Te fizer oposição ou Te injuriar. Bem-aventurado quem Te jurar lealdade: e que o fogo infernal atormente quem for Teu inimigo. Nós Te fizemos um refúgio para toda a humanidade, afirma Ele em ainda outra Epístola, um escudo para todos os que estão no céu e sobre a terra, uma cidadela para quem quer que tenha acreditado em Deus, o Incomparável, o Onisciente. Permita Deus que, por Teu intermédio, Ele os possa enriquecer e sustentar; que Ele Te inspire com aquilo que seja um manancial de riquezas para todas as coisas criadas, um oceano de graças para todos os homens, e a aurora da compaixão para todos os povos. ...

'Abdu'l-Bahá, confirmando a autoridade que Lhe fora conferida por Bahá'u'lláh, declara o seguinte: De acordo com o explícito texto do Kitáb-i-Aqdas, Bahá'u'lláh O designou para ser o Intérprete de Sua Palavra e o Centro de Seu Convênio - um Convênio tão firme e poderoso que nunca, desde o princípio do tempo até o dia presente, nenhuma Revelação religiosa produziu igual.

Não obstante tão elevada posição, porém, e os elogios tão profusos com que Bahá'u'lláh glorificou Seu Filho nesses sagrados Livros e Epístolas, essa distinção sem paralelo nunca deve ser interpretada como prova de ser Sua condição idêntica à condição de Seu Pai, o próprio Manifestante, ou, de modo algum, equivalente. Fazer tal interpretação com referência a qualquer dessas passagens citadas, teria, obviamente, o efeito imediato de colocá-la em conflito com as asserções e advertências não menos claras e autênticas às quais já me referi. De fato - como já tive ocasião de afirmar - os que atribuem a 'Abdu'l-Bahá um grau por demais elevado são tão repreensíveis como aqueles que Lhe querem diminuir o valor, nem é menos perniciosa sua influência. E isso pela simples razão de que, quando persistem em suas deduções inteiramente injustificáveis, tiradas dos escritos de Bahá'u'lláh, estão fornecendo ao inimigo, se bem que inadvertidamente, contínuas provas para as acusações falsas e ambíguas.

Sinto-me constrangido, pois, a declarar inequivocamente e sem a menor hesitação, que não existe no Kitáb-i-Aqdas, nem no Livro do Convênio de Bahá'u'lláh, nem mesmo na Epístola do Ramo ou em outra Epístola, quer revelada por Bahá'u'lláh, quer por 'Abdu'l-Bahá, autoridade alguma para a opinião que tende a sustentar a assim chamada "unidade mística" de Bahá'u'lláh e 'Abdu'l-Bahá, ou a estabelecer a identidade deste com Seu Pai, ou com qualquer Manifestante precedente. Tal conceito errôneo pode ser atribuído em parte a uma interpretação inteiramente extravagante de certos termos e certas passagens na Epístola do Ramo, ao fato de se haver introduzido na tradução inglesa certas palavras que não existem no original, ou que dão uma impressão errada, ou são ambíguas em sua conotação. Baseia-se isso principalmente, sem dúvida, numa inferência que não é, em absoluto, justificável, tirada das passagens iniciais de uma Epístola de Bahá'u'lláh, da qual alguns extratos, segundo são reproduzidos na obra "Bahá'í Scriptures", precedem imediatamente a Epístola do Ramo, sem, entretanto, formarem parte integrante da mesma. A todos que lêem esses extratos, deve-se esclarecer que a frase: "a Língua do Antigo" refere-se somente a Deus, que o termo "O Nome Supremo" é uma referência óbvia a Bahá'u'lláh, e que "o Convênio" não quer dizer o Convênio específico de que Bahá'u'lláh é o Autor imediato e 'Abdu'l-Bahá o Centro, mas sim aquele Convênio geral que - segundo os ensinamentos Bahá'ís - o próprio Deus, ao inaugurar uma nova Revelação, estabelece invariavelmente com a humanidade. A "Língua" que "dá" as "boas-novas", como dizem esses extratos, não é outra senão a Voz de Deus referindo-se a Bahá'u'lláh, e não Este se referindo a 'Abdu'l-Bahá.

Além disso, se, em vez de vermos na declaração "Ele é Eu mesmo" uma alusão à unidade mística de Deus e Seus Manifestantes, segundo explica o Kitáb-i-Íqán, tentássemos provar por tal declaração a identidade de 'Abdu'l-Bahá com Bahá'u'lláh, estaríamos violando diretamente o tão frisado princípio da unidade dos Manifestantes de Deus - um princípio que o Autor desses mesmos extratos tenta, por inferência, acentuar.

Equivaleria isso, também, a uma reversão àquelas crenças irracionais e supersticiosas que se insinuaram imperceptivelmente nos ensinamentos de Jesus Cristo, no primeiro século da era cristã, as quais, cristalizando-se até se tornarem dogmas estabelecidos, têm diminuído a eficácia da Fé Cristã e lhe obscurecido o alvo.

Afirmo - é o comentário escrito pelo próprio 'Abdu'l-Bahá sobre a Epístola do Ramo - que o verdadeiro sentido, a significação real, o segredo íntimo desses versículos, dessas palavras, é minha servidão ao sagrado Limiar da Beleza de Abhá, minha abnegação completa, a consciência de ser absolutamente nada perante Ele. Constitui isso minha coroa resplandecente, meu mais precioso adorno. Disso me orgulho no reino da terra e do céu. Está nisso minha glória na companhia dos favorecidos! A ninguém é permitido dar a esses versículos qualquer outra interpretação - Ele nos adverte na passagem que segue logo depois. E afirma, sobre o mesmo ponto: De acordo com os textos explícitos do Kitáb-i-Aqdas e do Kitáb-i-'Ahdí, eu sou o Intérprete manifesto da Palavra de Deus... Quem se desviar de minha interpretação será vítima de sua própria fantasia.

Além disso, a inevitável dedução da crença na identidade do Autor da nossa Fé com Aquele que é o Centro de Seu Convênio, seria a de colocar 'Abdu'l-Bahá em uma posição superior à do Báb, quando justamente o inverso é o princípio fundamental desta Revelação. Isso justificaria, também, a acusação com que os violadores do Convênio, durante todo o ministério de 'Abdu'l-Bahá, tentaram envenenar as mentes dos leais adeptos de Bahá'u'lláh e perverter-lhes a compreensão.

Seria mais correto, como também estaria mais de acordo com os princípios estabelecidos por Bahá'u'lláh e pelo Báb se, em vez de mantermos essa identidade fictícia com relação a 'Abdu'l-Bahá, considerássemos como idênticos, na realidade, o Precursor e o Fundador de nossa Fé - verdade essa que o texto do Súratu'l-Haykal afirma inequivocamente. Tivesse o Ponto Primordial (o Báb) sido outro, como pretendeis, e não Eu mesmo - é a explícita declaração de Bahá'u'lláh - e tivesse Ele atingido Minha presença, nunca teria Eu permitido, na verdade, separar-Se de Mim; antes, haveríamos Nós Nos deleitado mutuamente com a companhia um do outro, em Meus Dias. Aquele que agora faz ouvir a Palavra de Deus - afirma Bahá'u'lláh ainda outra vez - não é senão o Ponto Primordial que novamente Se manifestou. Ele - disse Bahá'u'lláh, referindo-Se a Si próprio, numa Epístola dirigida a uma das Letras do Vivente - é o mesmo que apareceu no ano sessenta (1260 após a Hégira). Este é, em verdade, um de Seus poderosos sinais. Quem - é Seu apelo na Súriy-i-Damm - levantar-se-á para conseguir o triunfo da Beleza Primordial (o Báb) revelada no semblante de Seu Manifestante subseqüente? E, referindo-Se à Revelação proclamada pelo Báb, por outro lado, Ele a caracteriza como Minha própria Revelação anterior.

Em uma declaração de 'Abdu'l-Bahá dirigida a alguns Bahá'ís da América do Norte, encontramos mais uma exposição, clara e enfática, dos pontos que desejo acentuar... em suma: que 'Abdu'l-Bahá não é Manifestante de Deus, que recebe Sua luz, Sua inspiração e Seu sustento diretamente da Fonte Principal da Revelação Bahá'í; que é como um espelho límpido e perfeito que reflete os raios da glória de Bahá'u'lláh, não possuindo inerentemente aquela realidade que desafia definição, que tudo penetra e abarca - realidade essa que é distintiva do Profeta, única e exclusivamente; que Suas palavras não são iguais em categoria, embora possuam a mesma validade que as de Bahá'u'lláh; e que Ele não deve ser aclamado como Jesus Cristo que tenha voltado - o Filho que viria "na glória do Pai".

Em conclusão, cito as referidas palavras de 'Abdu'l-Bahá:

"Escrevestes que há uma divergência entre os crentes a respeito da "Segunda Vinda de Cristo". Deus Misericordioso! Inúmeras vezes tem surgido essa questão, e a resposta tem emanado da pena de 'Abdu'l-Bahá em termos claros e irrefutáveis: o "Senhor dos Exércitos" e o "Cristo Prometido" mencionados nas profecias referem-se à Abençoada Perfeição e à Sua Santidade, o Excelso (o Báb). Meu nome é 'Abdu'l-Bahá. Minha qualificação é 'Abdu'l-Bahá. Minha realidade é 'Abdu'l-Bahá. Meu louvor é 'Abdu'l-Bahá. Ser escravo no limiar da Abençoada Perfeição é meu diadema glorioso e refulgente, e servir a toda a humanidade é minha religião perpétua... Nenhum nome, nenhum título, nenhuma menção, nenhuma recomendação tenho, nem terei jamais, a não ser o de 'Abdu'l-Bahá. É isso o que desejo - é minha maior aspiração. É minha vida eterna, minha glória imperecível."

Segunda Parte: Da Luz... às Trevas - Os que romperam o Convênio.

Mirza Áqá Ján-i-Káshaní (Khádimu'lláh)

Depois da ascensão de Bahá'u'lláh e como resultado da rebelião de Muhammad-'Alí,* diversos destacados instrutores da Fé, incluindo alguns dos companheiros de Bahá'u'lláh, romperam com Seu Convênio. Eles se insurgiram contra 'Abdu'l-Bahá e criaram uma grande rebeldia dentro da comunidade bahá'í. Mas o Convênio de Bahá'u'lláh tinha uma base muito firme e muitas almas heróicas, devotadas e fiéis, permaneceram firmes em torno de 'Abdu'l-Bahá para defender o Convênio contra os ataques dos infiéis.

*O leitor pode consultar o livro A Presença de Deus (1981), pp. 332-341, Shoghi Effendi, para maiores informações sobre esta situação.

Entre todos os companheiros de Bahá'u'lláh, Mirza Áqá Ján era o único que tivera uma associação íntima com Ele, tendo o privilégio de ser Seu amanuense. Mas, a despeito desta grande honra que lhe fora concedida, seu orgulho e ambição impediram-no de permanecer firme no Convênio, tendo se rebelado contra 'Abdu'l-Bahá e criado muita confusão na mente dos Bahá'ís.

O Dr. Yúnis Khán-i-Afrúkhtih, um devotado crente durante o ministério de 'Abdu'l-Bahá que serviu ao Mestre como secretário por vários anos, deixou um relato muito interessante sobre os eventos que ocorreram durante seus nove anos de serviço em 'Akká. Segue-se uma transcrição de um extrato de suas memórias relacionadas aos últimos anos de Mirza Áqá Ján em 'Akká, por volta de 1897:

... Por ocasião do passamento de Bahá'u'lláh, Mirza Áqá Ján, que havia caído em desgraça, vivia uma vida ignominiosa. Porém, graças à generosidade de Bahá'u'lláh, possuía uma renda razoável. Os rompedores do Convênio haviam resolvido, secreta-mente, tirar sua vida. Provavelmente, a razão para isso seria ou para apossarem-se de suas propriedades ou porque Bahá'u'lláh não ficara satisfeito com sua conduta no final de Sua vida. Mirza Áqá Ján descobriu o plano deles e imediatamente foi à presença de 'Abdu'l-Bahá, implorando perdão por seus erros e refugiando-se em Sua casa...

Mais tarde, os rompedores do Convênio decidiram tirar proveito da situação de Mirza Áqá Ján para criar problemas e danos (a 'Abdu'l-Bahá). ... Conseguiram estabelecer uma ligação secreta com ele e estimularam-no a ajudá-los a criar um movimento de sedição entre os crentes. Mantinham contato com ele e, durante um longo período, conceberam um plano para criar discórdia e distúrbios dentro da comunidade. Considerando que Mirza Áqá Ján havia sido amanuense de Bahá'u'lláh e registrara as palavras de Deus conforme eram reveladas, foi induzido a levantar-se e, ele próprio, outorgar-se o título de revelador divino.

Como resultado de suas sugestões, Mirza Áqá Ján, este malfadado homem, trabalhou por um longo tempo preparando alguns escritos. Neles, afirmava que, em um sonho, estivera na presença de Bahá'u'lláh e que se tornara recipiente de inspiração e revelação divinas. Estes escritos continham passagens que invocavam a ira de Deus contra determinados crentes e pretendia-se que fossem entregues a eles.

Mirza Áqá Ján chegou a afirmar ter recebido uma Epístola do céu, escrita em tinta verde, na qual ele havia sido instruído a salvar a Fé das mãos dos infiéis. As falsas acusações e as calúnias que imputou a 'Abdu'l-Bahá, o Centro do Convênio, eram muito piores que aquelas que os rompedores do Convênio já haviam levantado contra Ele. Estava combinado que um certo dia, que seria o da revolta, Mirza Áqá Ján entregaria esses papéis, escritos no mesmo estilo de seus "Escritos Revelados", aos rompedores do Convênio que se encarregariam de suas transcrições, como nos dias de Bahá'u'lláh, na caligrafia de Mirza Majdi'd-Dín,* disseminando-os entre os Bahá'ís.1

*Ele era o filho de Mirza Músá, Áqáy-i-Kalím, fiel irmão de Bahá'u'lláh, que por algum tempo transcreveu as Epístolas de Bahá'u'lláh, mas que mais tarde tornou-se "o mais terrível adversário de 'Abdu'l-Bahá". Foi um dos mais ativos apoiadores de Muhammad-'Alí, o arqui-rompedor do Convênio. (nota do revisor: ver capítulo referente a Majdu'd-Dín nesta compilação)

O Dr. Yúnis Khán continua, em suas memórias, a explicar que os rompedores do Convênio haviam decidido colocar seus planos em ação no dia do aniversário da ascensão de Bahá'u'lláh. Sabiam que todos os crentes estariam reunidos em volta do Santuário de Bahá'u'lláh, e então combinaram com Mirza Áqá Ján que ele falaria abertamente contra 'Abdu'l-Bahá na reunião, a fim de criar tensão e mal-estar. Ao mesmo tempo, os rompedores do Convênio combinaram para que um certo Yahyá Tábúr Áqásí estivesse presente naquela ocasião. Ele era um oficial de alta patente do governo, hostil a 'Abdu'l-Bahá e amigo dos rompedores do Convênio. Sua função seria permanecer fora da vista dos demais até que os esperados distúrbios ocorressem, quando ele e seus homens apareceriam em cena, tomando as ações contra os crentes. Enviaria, então, um relatório contra 'Abdu'l-Bahá às autoridades governamentais em Constantinopla, pedindo Seu banimento da Terra Santa.

A seguir, uma transcrição do Dr. Yúnis Khán de sua primeira reunião com Mirza Áqá Ján e dos eventos que ocorreram naquele aniversário da ascensão de Bahá'u'lláh, quando uma grande tragédia foi aquietada e eficazmente evitada.

... Em muitas ocasiões, quando éramos convidados à presença de 'Abdu'l-Bahá em Sua sala de recepção, observava que um senhor idoso, de pequena estatura, com uma barba branca e uma tez bem morena, sempre chegava na sala depois de todos os outros convidados. Primeiro, ele se prostrava à entrada da sala (de 'Abdu'l-Bahá), e então entrava, curvava a cabeça até o peito e, quando 'Abdu'l-Bahá o cumprimentava, sentava-se na soleira da porta. Fiquei curioso em saber quem era essa pessoa e por diversas vezes pensei em perguntar aos crentes residentes, quando eu saísse da sala, sobre sua identidade. Por algum tempo, porém, esqueci-me de fazê-lo. Isso devido ao fato de que ficávamos tão inebriados com o vinho das generosas elocuções do Mestre que, ao sairmos, ninguém tinha disposição de falar com quem quer que fosse.

Um determinado dia, eu estava sentado (na presença de 'Abdu'l-Bahá) muito próximo da entrada da sala. Vi, então, o idoso senhor chegando. Primeiro, prostrou-se à entrada ao corredor; depois encaminhou-se para a sala e novamente prostrou-se à sua entrada. Então, entrou, baixou a cabeça diante de 'Abdu'l-Bahá e ficou parado até que o Mestre indicou-lhe um lugar para sentar-se, o que fez, mantendo porém os olhos abaixados, próximo à porta... A esta altura, eu estava muito curioso para saber quem era esse homem e por que não o tinha visto com os demais crentes da cidade.

Quando todos partiram da presença do Mestre, notei que esse homem dirigira-se ao interior da casa. Perguntei a alguém quem era a pessoa, ficando sabendo tratar-se de Mirza Áqá Ján... Mais tarde, perguntei aos meus amigos o que Mirza Áqá Ján estava fazendo ali. "Não é ele" - indaguei - "a pessoa que foi rejeitada por Bahá'u'lláh e a quem os rompedores do Convênio planejavam matar?" Disseram-me que buscara refúgio na casa do Mestre. Naqueles dias, eu pensava com freqüência em Mirza Áqá Ján, que havia caído em desgraça, e me perguntava qual seria seu fim. Quão pouco sabia, então, que apenas duas semanas depois ele teria um papel importante e inesquecível na arena da Causa e do qual eu mesmo seria um dos espectadores.2

Em sua detalhada narrativa, o Dr. Yúnis Khán descreve o episódio, ocorrido na noite do aniversário do passamento de Bahá'u'lláh. Como ocorrera em anos anteriores, todos os crentes da região reuniram-se em 'Akká e, antes da alvorada, dirigiram-se ao Santuário de Bahá'u'lláh em companhia de 'Abdu'l-Bahá. Naquele lugar sagrado, ficaram em orações até o clarear do dia, e então se retiraram para os quartos dos peregrinos em Bahjí.

Neste ponto, o Dr. Yúnis Khán relata com detalhes o que ocorreu naquele dia:

...Depois do almoço, sentamo-nos por algum tempo... Observamos que os rompedores do Convênio moviam-se ativamente ao nosso redor e que havia um bom número de pessoas desconhecidas. Não demorou para sabermos de seus planos para criar confusão.

Após ter sido servido o chá da tarde, todos estavam se preparando para ir ao Santuário de Bahá'u'lláh, quando soubemos que Mirza Áqá Ján desejava dirigir a palavra aos presentes e que havia cadeiras para todos em frente à Mansão.

Este senhor idoso, que sempre se prostrava aos pés de 'Abdu'l-Bahá, estava agora em pé sobre um pequeno banco, para que todos pudessem vê-lo... Enquanto falava, notei que se expressava de uma forma nada coerente, e fiquei bem atento para ver se entendia o que ele queria transmitir, mas acabei ficando frustrado. ... Podia-se ver claramente que estava trêmulo e cheio de medo, mas consegui entender algumas de suas palavras, como: "Quando me prostrei, adormeci...". "A Abençoada Beleza me disse..." "Esta carta escrita com tinta verde foi dada a mim..." "Por que vocês estão sentados, indolentes?..." "Por quê, por quê?" Não tendo dormido na noite anterior, e tendo agora que ouvir tão ridículas palavras, fiquei impaciente e saí. Mirza Mahmúd-i-Káshání, um crente residente, protestou contra Mirza Áqá Ján e logo começou um tumulto geral.3

O Dr. Yúnis Khán acrescenta que, enquanto isso acontecia, um dos crentes informou 'Abdu'l-Bahá sobre o incidente. Assim que 'Abdu'l-Bahá apareceu, Mirza Áqá Ján correu para o Santuário de Bahá'u'lláh, nele adentrando. Um certo Mirza 'Alí-Akbar, um crente firme e fiel, imediatamente correu atrás dele e conseguiu pegar os escritos aos quais Mirza Áqá Ján se referira, que estavam amarrados em volta de sua cintura, sob seu manto. Esses papéis, que foram entregues a 'Abdu'l-Bahá, estavam redigidos no mesmo estilo dos Escritos de Bahá'u'lláh, continham muitas passagens atacando 'Abdu'l-Bahá e haviam sido preparados para serem distribuídos entre os crentes.

Com a presença de 'Abdu'l-Bahá, os Bahá'ís se acalmaram em poucos minutos. Mirza Áqá Ján foi para junto dos rompedores do Convênio e os funcionários do governo, que estavam postados em pé atrás da janela do quarto de Mirza Muhammad-'Alí, não tiveram oportunidade de levar a cabo seus desígnios sinistros. Depois deste evento, Mirza Áqá Ján passou definitivamente para o lado dos rompedores do Convênio, tornando-se um de seus apoiadores mais capacitados. Ele faleceu em 1901.

O Sr. Hasan Balyuzi, em seu livro Bahá'u'lláh - The King of Glory,4 refere-se a Mirza Áqá Ján , quando narra o período em que Bahá'u'lláh vivia em Bagdá, na época em que ainda não podia divulgar oficialmente ser Ele "Aquele que Deus tornaria manifesto", conforme profetizado pelo Báb. Escreve o Sr. Balyuzi:

Havia uma pessoa, porém, a quem Bahá'u'lláh concedeu um vislumbre daquele "Segredo que se agitava dentro de Seu peito". Era um jovem Bábí de Káshán, de nome Mirza Áqá Ján. Este jovem tivera um sonho no qual o Báb lhe apareceu, e logo depois do sonho veio a conhecer alguns escritos de Bahá'u'lláh. Tendo se certificado de que Jináb-i-Bahá encontrava-se em Bagdá, viajou para o Iraque e em Karbilá chegou à Sua presença. Não importa quão grave tenha sido a desobediência de Mirza Áqá Ján mais tarde - pois acabou se tornando um rompedor do Convênio - ele terá sempre esta distinção de ter sido o primeiro discípulo a reconhecer na Pessoa de Bahá'u'lláh o Prometido do Bayán - o Prometido de Todas as Eras. Anos mais tarde, Bahá'u'lláh deu-lhe o título honroso de Khádimu'lláh - Servo de Deus."

O Sr. Balyuzi menciona, então, as referências de Shoghi Effendi a Mirza Áqá Ján no livro A Presença de Deus.5 O texto completo que o Guardião escreve no citado livro é o seguinte:

Havia um jovem Bábí - Mirza Áqá Ján - "o primeiro a crer" nEle, cognominado mais tarde, Khádimu'lláh (Servo de Deus) - que, em sua fervorosa devoção e influenciado por um sonho que tivera sobre o Báb, e também como resultado da leitura que fizera de certos escritos de Bahá'u'lláh, abandonou precipitadamente seu lar em Káshán, rumando para o Iraque na esperança de chegar à Sua presença, e passou a servi-Lo assiduamente, por um período de quarenta anos, na tríplice função de amanu-ense, companheiro e mordomo. A ele, mais que a qualquer outra pessoa, Bahá'u'lláh sentiu-Se impelido a revelar, nesta crítica situação, um vislumbre da ainda não revelada glória de Sua missão. Mirza Áqá Ján, descrevendo a Nabíl os acontecimentos daquela primeira e inesquecível noite passada em Karbilá na presença do querido Objeto de sua busca, o qual era, naquela ocasião, hóspede de Hájí Mirza Hasan-i-Hakím-Báshí, prestou o seguinte testemunho: "Como era verão, Bahá'u'lláh costumava passar as primeiras horas da noite, e mesmo dormir, no terraço da casa... Essa noite, quando Ele Se havia recolhido, eu, de acordo com Suas instruções, deitei-me para um breve descanso, a uma pequena distância de onde Ele Se encontrava. Nem bem me levantara e... começara a oferecer minhas preces, quando, a um canto do terraço limitado por uma parede, percebi Sua abençoada Pessoa levantar-Se e caminhar em minha direção. Quando me alcançou, disse: 'Também tu estás desperto!' e pôs-Se a salmodiar, andando de lá para cá. Como poderia eu descrever essa voz e os versos que entoava, e o garbo de Sua postura ao ir e vir a largas e fortes passadas à minha frente! Parecia-me, a cada passada Sua e a cada palavra que pronunciava, surgirem diante de mim milhares de oceanos luminosos e descerrarem-se ante meus olhos milhares de mundos de incomparável esplendor, e irradiarem sua luz sobre mim milhares de sóis! Sob os raios do luar, que se derramavam sobre Ele, continuava, assim, a passear e a entoar. Cada vez que Se aproximava de mim, fazia uma pausa e, com acento tão maravilhoso que língua alguma poderá descrever, dizia-me: 'Ouve-Me, Meu filho, por Deus, o Verdadeiro! Esta Causa será, indubitavelmente, proclamada. Não dês ouvidos às vãs palavras do povo do Bayán, que deturpa o significado de cada termo!' Desta forma, Ele continuou a andar, a entoar e a dirigir-me estas palavras, até que os primeiros alvores do dia brilharam no céu... Depois disso, transportei os preparos do Seu leito para os Seus aposentos e, tendo-Lhe preparado o chá, retirei-me de Sua presença."

A confiança instilada em Mirza Áqá Ján por este imprevisto e repentino contato com o espírito e o gênio diretor desta Revelação recém-nascida, atingiu as profundezas de sua alma - alma já inflamada pela chama do amor que sentira ao reconhecer a ascendência que seu recém-encontrado Mestre já exercia sobre Seus condiscípulos, tanto no Iraque como na Pérsia.

Em seu livro The Covenant of Bahá'u'lláh, Adib Taherzadeh dedica um capítulo inteiro,6 a Mirza Áqá Ján, descrevendo suas ações como rompedor do Convênio. Parte dessa narrativa está incluída no trabalho que inicia este capítulo, que é o Apêndice I do livro A Revelação de Bahá'u'lláh, vol. I, em especial as palavras do Dr. Yúnis Khán, que foi testemunha viva do episódio no qual a vida e a posição de 'Abdu'l-Bahá foram seriamente ameaçadas pelos rompedores do Convênio que conviviam com Ele após a Ascensão de Bahá'u'lláh.

Podemos refletir e imaginar por que tais coisas acontecem. Por que uma pessoa que foi a primeira a reconhecer a posição de Bahá'u'lláh e que com Ele conviveu durante quarenta anos, servindo-O pessoalmente como Seu secretário de confiança, acabou perdendo-se completamente, cometendo o maior pecado espiritual possível - rebelar-se contra o Convênio Sagrado e Inviolável de Deus e Seu Mensageiro, no caso o Convênio de Bahá'u'lláh - com o que viu perder-se no nada toda uma vida, gloriosa e privilegiada, dedicada ao Bem-Amado e Senhor da Eternidade?

Adib Taherzadeh, nos seguintes trechos do volume III7 do livro The Revelation of Bahá'u'lláh nos dá a resposta:

O extraordinário amor e devoção que os companheiros de Bahá'u'lláh tinham por Ele em seus corações, e o entusiasmo ao alcançar Sua presença, são descritos por Hájí Mirza Haydar-'Alí como devidos principalmente a duas coisas: uma, a firmeza de sua fé em Bahá'u'lláh como o Supremo Manifestante de Deus e, a outra, a total entrega e dedicação de suas vontades a Ele.

Na mesma proporção do grau em que os discípulos adquirem essas duas qualidades, será também sua capacidade de se aproximarem de seu Mestre e Senhor. Existiram também crentes que foram admitidos à presença de Bahá'u'lláh, testemunharam as bênçãos da efusão de Sua Revelação, ficaram deslumbrados ante Sua majestade e tornaram-se plenos do espírito da fé. Mas, por não se haverem desapegado das coisas deste mundo e não terem podido subjugar o "ego", permaneceram afastados de Seus misericordiosos favores.

Em uma de Suas Epístolas,8 Bahá'u'lláh afirma terem existido alguns crentes que conviveram com Ele dia e noite* e, no entanto, não puderam ser atraídos a Ele porque estavam espiritualmente afastados. Mas existiram muitos outros que jamais chegaram à Sua presença, fisicamente, mas que alcançaram Sua proximidade, espiritualmente.

*Mirza Áqá Ján é um exemplo disso. Estava a serviço de Bahá'u'lláh na maior parte do tempo, mas, no final da vida, tornou-se um rompedor do Convênio, destruindo uma vida de quarenta anos de serviços a Bahá'u'lláh.

Nesta Epístola, Bahá'u'lláh declara que a recompensa que Deus destinou a um crente sincero e puro de coração que tenha atingido Sua presença é bem maior do que todas as recompensas que todos os atos do mundo reunidos fizerem por merecer. Na verdade, a recompensa decorrente dessa conquista, Ele afirma, não pode ser descrita em palavras. Somente Deus é consciente dela.

Bahá'u'lláh afirma em uma Epístola que mesmo aqueles que visitem a terra na qual o trono do Manifestante de Deus está estabelecido serão generosamente abençoados no mundo vindouro, quanto mais aqueles que tiveram o privilégio de efetivamente ter alcançado Sua presença.

Sobrepujar o ego e render sua vontade humana à vontade divina do Manifestante de Deus pode tornar-se a tarefa mais difícil na vida de um ser humano. Quando a pessoa alcança este exaltado grau - submeter-se inteiramente a Deus - torna-se recipiente de Seus incontáveis favores.

Todas as criaturas submetem-se, em um sentido físico, às forças da natureza. A árvore não mostra resistência à chuva e aos raios do sol. Deles recebe a energia para viver e desenvolver-se e, como conseqüência dessa aceitação, floresce e frutifica.

Num sentido espiritual, o ser humano precisa fazer o mesmo com relação a tudo aquilo que recebe de Deus. A única diferença é que, enquanto as outras criaturas se submetem involuntariamente às forças da natureza, o ser humano tem a liberdade de decidir entre várias opções.

'Abdu'l-Bahá, em uma de Suas Epístolas,9 afirma que o grau mais elevado de sacrifício para um crente no caminho de Deus é render inteiramente sua vontade à vontade de seu Criador e tornar-se um servo verdadeiro dos amados da Abençoada Beleza. Pois Deus, em Sua essência, está exaltado acima da servidão do ser humano a Ele. Portanto, para tornar-se um verdadeiro servo de Deus a pessoa precisa servir aos Seus amados. 'Abdu'l-Bahá, nesta Epístola, reitera Sua posição de servidão, afirmando que, no íntimo de Seu coração, Ele Se considera o mais humilde servo dentre os crentes e que Sua maior ambição é ser capaz de render devotados serviços a cada um dos amigos.

No quinto aniversário da Ascensão de Bahá'u'lláh, Mirza Áqá Ján, o amanuense de Bahá'u'lláh, juntou-se aos rompedores do Convênio e tornou-se um dos instrumentos mais eficazes de Mirza Muhammad-'Alí em suas maquinações contra 'Abdu'l-Bahá. Criou grandes distúrbios entre os crentes, trazendo muito sofrimento e tristeza ao coração de 'Abdu'l-Bahá por algum tempo.

Mirza Áqá Ján fora a primeira pessoa a crer em Bahá'u'lláh como "Aquele que Deus tornará manifesto". Não pertencia à classe dos eruditos, tendo tido apenas uma educação elementar. Em sua juventude, fabricava sabão, que vendia para sua sobrevivência. Tal profissão era uma forma de comércio muito humilde na época, normalmente realizada em casa por pessoas com pouca instrução. Mirza Áqá Ján viajou para o Iraque logo depois da chegada de Bahá'u'lláh a Bagdá, e seu primeiro encontro ocorreu na casa de um amigo em Karbilá.

Lá, na presença de Bahá'u'lláh, sentiu um grande poder espiritual emanando de Sua Pessoa, um poder que imediatamente transformou todo o seu ser. Foi a primeira pessoa a quem Bahá'u'lláh deu um pequeno vislumbre da glória, ainda não revelada, de Sua posição. Ele também o escolheu para Seu servo pessoal, dando-lhe o título de Khádim (Servo) e, mais tarde, de Khádimu'lláh (Servo de Deus).

Ao mesmo tempo em que Mirza Áqá Ján era o "servo atendente", foi capacitado por Bahá'u'lláh para atuar como Seu amanuense, apesar de sua inadequada escolaridade. Cumpriu esta função até o final do Ministério de Bahá'u'lláh. Este homem, na verdade, serviu a Bahá'u'lláh assiduamente por muitos e muitos anos na tríplice função de secretário, servo atendente e companheiro. Dentre todos os companheiros de Bahá'u'lláh, não havia ninguém que sempre estivesse tão próximo de Bahá'u'lláh como Mirza Áqá Ján. Ele foi, por muito tempo, um canal de comunicação entre Bahá'u'lláh e os crentes. Era uma prática comum para os crentes enviar seus pedidos ou cartas para Mirza Áqá Ján, o qual os encaminhava a Bahá'u'lláh.

Durante o retiro de Bahá'u'lláh às montanhas do Kurdistão, Mirza Áqá Ján esteve, por algum tempo, a serviço de Mirza Yahyá, o qual queria que ele fosse a Teerã com a missão, secreta, de assassinar o Xá Nasiri'd-Dín. Mirza Áqá Ján aceitou essa criminosa missão e logo após chegar a Teerã obteve acesso à corte do Xá sob o disfarce das vestes de um trabalhador comum. Porém, tendo falhado em levar a efeito sua sinistra intenção e dando-se conta da extensão de sua loucura, retornou a Bagdá. Quando Bahá'u'lláh regressou de Seu retiro solitário nas montanhas do Kurdistão, Mirza Áqá Ján implorou-Lhe perdão por sua participação no plano maligno de Mirza Yahyá, voltando a servir a Bahá'u'lláh.

Como vimos, o fato de estar muito próximo do Manifestante de Deus pode ser espiritualmente fatal para qualquer pessoa que não esteja desapegada das coisas deste mundo. Somente aqueles que são humildes, totalmente abnegados e sem qualquer traço de ambição, desejando apenas aquilo que seja de Seu contentamento, podem sobreviver em Sua presença. Mirza Áqá Ján não possuía essas qualidades. No curso de seus serviços a Bahá'u'lláh, no decorrer dos anos, tornou-se orgulhoso de si mesmo e muitas vezes desagradava a Bahá'u'lláh com sua conduta. Algumas vezes, 'Abdu'l-Bahá costumava recriminá-lo e pedia que Bahá'u'lláh o perdoasse por seus erros. Houve ocasiões em que 'Abdu'l-Bahá o castigou com Suas próprias mãos, tal a seriedade de sua conduta diante de Bahá'u'lláh.

A despeito de todas essas carências, Mirza Áqá Ján trabalhou muito e durante muitos anos esteve ocupado, dia e noite, em anotar as palavras que eram reveladas por Bahá'u'lláh. Seus "escritos de revelação"10 são um testemunho da velocidade e da força da Revelação das palavras de Deus, que eram derramadas com uma velocidade e profusão sem precedentes na história das religiões. Foi quase ao final de Sua vida terrena, profundamente insatisfeito com a conduta irregular de Mirza Áqá Ján naquele tempo, que Bahá'u'lláh dispensou seus serviços e demitiu-o de Sua presença.

É interessante como Deus estabelece Sua Fé no mundo com a ajuda de pessoas as mais inadequadas. Mirza Áqá Ján não era nem uma pessoa culta, capaz de assumir uma responsabilidade tão séria como amanuense do Manifestante de Deus, nem tinha aquelas qualidades que são essenciais a uma pessoa que O servia o tempo todo. 'Abdu'l-Bahá também teve alguns indivíduos que trabalharam dire-tamente a Seu lado; dentre esses, alguns provaram ser servos incapazes e infiéis. Na verdade, tanto Bahá'u'lláh como 'Abdu'l-Bahá estavam rodeados de muitos companheiros, íntimos, que mais tarde tornaram-se rompedores do Convênio. No entanto, a despeito deste sério obstáculo, tendo de trabalhar com indivíduos incompetentes, infiéis e algumas vezes até muito perigosos, Deus promove a Sua Fé, demonstrando com isso Seu poder e onipotência aos Seus servos.

Mirza Muhammad Javád-i-Qazvíní

Outra pessoa que pode ser considerada à mesma luz que Siyyid Mihdí e Jamál-i-Burujirdí* é Muhammad-Javád-i-Qazvíní, embora este último não tivesse a erudição dos dois primeiros. Bahá'u'lláh conferiu-lhe o título de Ismu'lláhu'l-Javád (O Nome de Deus, o Todo-Generoso). Ele também tornou-se um rompedor do Convênio e infligiu grandes sofrimentos à Pessoa de 'Abdu'l-Bahá. Javád, ainda jovem, atingira a presença de Bahá'u'lláh em Bagdá. Em 1867, foi para Adrianópolis na companhia de Nabíl-i-A'zam e estava entre os que puderam acompanhar Bahá'u'lláh até 'Akká.

*Grandes instrutores da Fé que acabaram desertando, tornando-se rompedores do Convênio. (O.M.).

Durante o ministério de Bahá'u'lláh, Javád gozou de Sua proximidade e, apesar de suas numerosas falhas, Bahá'u'lláh conferiu-lhe Seus favores e ocultou suas faltas. Mas depois da ascensão de Bahá'u'lláh, Javád, levado pelas suas ambições e desejos, uniu-se a Mirza Muhammad-'Alí, o arqui-rompedor do Convênio de Bahá'u'lláh, e causou muita angústia e dor a 'Abdu'l-Bahá e, com muita agressividade, atacou-O com seus escritos venenosos, que continham muitas informações erradas, falsidades e calúnias. Assim, terminou em tragédia a carreira daquele que Bahá'u'lláh havia enaltecido através de Sua amorosa bondade. Não demorou muito para que seus planos e aspirações fossem frustrados e, tal como Jamál e Siyyid Mihdí, ele pereceu ingloriosamente.

A PROVA DO OURO

Ao nos referirmos à queda de Javád-i-Qazvíní, é interessante relatar a história de seu irmão mais velho, Hájí Muhammad-Báqir-i-Qazvíní,* que teve uma carreira excepcional como bahá'í; ele caiu em pecado, mas foi salvo no final de sua vida. Hájí Muhammad-Báqir chegou à presença de Bahá'u'lláh em Bagdá. Enquanto lá se encontrava, pediu que Bahá'u'lláh lhe concedesse riqueza. Bahá'u'lláh aquiesceu ao seu apelo e assegurou-lhe que Deus aceitaria seu pedido. Logo depois, ele tornou-se muito rico, mas em conseqüência disso tornou-se negligente em relação à Causa de Deus. ...

*Referência a Hají Muhammad Báqir está sendo feita aqui, nesta parte do livro que trata dos integrantes da foto que acabaram sendo rompedores do Convênio, por ser irmão de um deles (Javád-i-Qazviní) e, apesar de ter passado por muitos testes e provações, particularmente por ambição financeira, arrependeu-se e "acabou sendo abençoado, recebendo graças e confirmações de Deus até partir deste mundo." Portanto, ele não foi um rompedor do Convênio. (O.M.).

O trecho1 a seguir foi extraído de um relato de Hájí Mirza Haydar-´Alí† onde, em uma Epístola, Bahá'u'lláh escreve sobre Hájí Muhammad-Báqir‡:

†Fiel seguidor de Bahá'u'lláh, conhecido como o "Anjo do Carmelo". (n.r.)

‡Hájí Muhammad-Báqir era um comerciante muito conhecido na Pérsia e servia à Fé com amor, dedicação e sacrifício. (O.M.)

Este homem chegou à presença de Bahá'u'lláh em Bagdá. Lá ele escreveu-Lhe uma carta e pediu riquezas e prosperidade. Em resposta, esta excelsa e maravilhosa Epístola lhe foi revelada. Nela, Bahá'u'lláh afirmou que seu pedido seria concedido e que as portas da prosperidade e riqueza lhe seriam abertas de todas as direções. No entanto, Ele exortou-o a acautelar-se e não permitir que as riquezas se transformassem em barreira e o tornassem negligente. ...

... no futuro, testemunhará este homem [Hájí Muhammad-Báqir] ser tomado por um temor que o fará renunciar a Deus e à Sua Causa. Logo em seguida, sofrerá perdas substanciais, as quais o farão escrever uma carta a Bahá'u'lláh, arrependendo-se. Deus, então, transformará suas perdas em lucro, e novamente ele tornar-se-á bem sucedido nos seus negócios e será o mais destacado comerciante em Constantinopla e Tabriz. Desta vez, no entanto, ele tornar-se-á ainda mais orgulhoso do que anteriormente, mais negligente e privado... Desta vez ele perderá todas as suas posses, não conseguirá continuar seu comércio e será incapaz de dar conta de seus negócios. É aí que ele arrepender-se-á e retornará, contente em viver na pobreza. Ele passará os dias de sua vida servindo à Causa de Deus. Seu fim será abençoado e ele receberá grandes confirmações de Deus.

...Havia outros [crentes], alguns dos quais se tornaram completamente negligentes em relação à Causa depois de obterem sucesso na vida. ... Riqueza e apego às coisas materiais são algumas das maiores provações para a alma do homem. Em As Palavras Ocultas, Bahá'u'lláh afirma:

Ó Filho do Ser!

Não te ocupes com este mundo, pois com o fogo experimentamos o ouro e com o ouro pomos à prova Nossos servos.2

...nada há nos Escritos de Bahá'u'lláh que condene a riqueza, desde que não se torne barreira entre o homem e Deus. Ao contrário, Ele glorifica a posição do rico cujas riquezas não o impediram de reconhecer Sua Causa e O servir com devoção. O ponto de vista de que é preciso ser pobre para se tornar piedoso e espiritual não é necessariamente correto. O critério para a proximidade de Deus é o desprendimento e, embora seja mais difícil para os ricos atingirem essa sublime posição, uma pessoa pobre, muitas vezes, tem que travar batalhas dentro de si antes de se desprender deste mundo. ...

Durante uma de Suas palestras... 'Abdu'l-Bahá afirma que uma pessoa pobre que é paciente e tolerante é melhor que um rico que é grato. No entanto, um pobre que é grato é mais louvável que aquele que é paciente, enquanto o mais meritório de todos é aquele que despende sua riqueza para os outros.

Dos ensinamentos de Bahá'u'lláh, torna-se claro que o homem deve ganhar sua vida dedicando-se a algum tipo de trabalho, comércio ou profissão. Em As Palavras Ocultas, Bahá'u'lláh diz:

Ó Meus Servos!

Sois as árvores de Meu jardim; deveis dar frutos belos e maravilhosos, para que vós e outros sejam por eles beneficiados. Assim, compete a cada um ocupar-se em ofícios ou profissões, pois o segredo da riqueza está nisso, ó homens de compreensão! Resultados dependem de meios e a graça de Deus vos será toda-suficiente. Árvores infrutíferas sempre foram e serão destinadas ao fogo.3

Siyyid Mihdíy-i-Dahají

Existiram outros instrutores da Fé na Pérsia* que, como aqueles, eram orgulhosos e ambiciosos. Notório entre eles citamos Siyyid Mihdíy-i-Dahají... Também era tratado com muito amor, bondade e paciência por Bahá'u'lláh, sendo um eloqüente instrutor da Causa e altamente estimado pelos crentes.1

*Citados no capítulo "Principais rompedores do Convênio durante o Ministério de 'Abdu'l-Bahá", The Covenant of Bahá'u'lláh, Adib Taherzadeh.

Houve alguns outros instrutores que também se rebelaram contra o Convênio na Pérsia. Siyyid Mihdíy-i-Dahají foi um deles. Como aconteceu com Jamál,† era também um homem muito culto e um instrutor dam Fé muito capaz. Bahá'u'lláh conferiu a ele o título de Ismu'lláhu'l-Mihdí (o Nome de Deus, Mihdí) e revelou muitas Epístolas em sua honra.

†Jamál-i-Burújirdí, o mais proeminente dos rompedores do Convênio na Pérsia. (O.M.)

Siyyid Mihdí nascera em Dahaj, na província de Yazd. Esteve na presença de Bahá'u'lláh em Bagdá, Adrianópolis e 'Akká, recebendo Suas infalíveis graças. Como Jamál o fizera, também viajou amplamente através da Pérsia e era muito querido dos crentes. Entretanto, as pessoas que eram dotadas de discernimento espiritual achavam-no insincero, egoísta e profundamente apegado às coisas deste mundo. Notável entre aqueles que escreveram suas impressões sobre ele está Hájí Mirza Haydar-'Alí, que escreveu também sobre Jamál-i-Burújirdí. Uma rápida leitura de suas narrativas é suficiente para deixar claro que esses dois homens tinham pelo menos uma coisa em comum - uma ambição insaciável por liderança. Por exemplo, Siyyid Mihdí sempre entrava nas reuniões Bahá'ís com um ar de superioridade. Adorava ter sempre um séquito de seguidores caminhando atrás dele e, à noite, era precedido por vários crentes que carregavam lanternas para ele. Como não havia iluminação pública naqueles dias, as pessoas carregavam lanternas à noite. As pessoas importantes tinham um servo caminhando à sua frente com uma lanterna. Normalmente apenas um servo acompanhava uma pessoa proeminente e, no caso de Siyyid Mihdí, os crentes disputavam entre si a honra de escoltá-lo. Hájí Mirza 'Alí lembra que uma noite nada menos que catorze crentes, com lanternas nas mãos, escoltaram Siyyid Mihdí para uma reunião!

Homens como esses sempre caem em desgraça. A Fé de Bahá'u'lláh não abriga pessoas egoístas e que buscam a auto-glorificação. Seu padrão é a servidão, e as características de conduta são a sinceridade e a pureza de motivo. Por isso não é surpresa que, como aconteceu com Jamál, também Siyyid Mihdí foi derrubado quando os ventos das provações começaram a soprar sobre ele. Acabou rompendo o Convênio de Bahá'u'lláh e, na esperança de tornar-se um dos líderes indiscutíveis da Fé, acabou unindo-se a Mirza Muhammad-'Alí, rebelando-se contra o Centro do Convênio - 'Abdu'l-Bahá.

Quando isso chegou ao conhecimento dos crentes na Pérsia, estes o abandonaram e logo toda a glória que usufruía transformou-se em degradação. Em resposta ao repúdio de parte dos crentes, ele inicialmente fez um grande clamor e buscou criar muita confusão no seio da comunidade, chegando até a agitar a mente de alguns, menos avisados, mas o poder do Convênio finalmente varreu-o para o abismo da ignomínia, limpando a Fé de sua poluição.

Majdu'd-Dín

Majdu'd-Dín era filho do irmão fiel de Bahá'u'lláh, Áqáy-i-Kalím, mas mostrou ser completamente diferente de seu pai. Foi o mais traiçoeiro da família, o maior inimigo de 'Abdu'l-Bahá. De fato, foi a espinha dorsal, se não o principal instigador, de Mirza Muhammad-'Alí, o arqui-rompedor do Convênio de Bahá'u'lláh.1

A fim de pesquisar, embora brevemente, as nefastas atividades dos rompedores do Convênio durante o ministério de 'Abdu'l-Bahá, é necessário mencionar alguns indivíduos que foram os apoiadores e colaboradores diretos nas atividades de Mirza Muhammad-'Alí. O mais ativo de todos na Terra Santa foi Majdu'd-Dín, o filho de Áqáy-i-Kalím, o nobre irmão de Bahá'u'lláh. Ele foi o principal instigador, a força motivadora de Mirza Muhammad-'Alí. Era casado com Samadíyyih, a irmã de Mirza Muhammad-'Alí, e foi um feroz inimigo de 'Abdu'l-Bahá, Quem profetizou que Majdu'd-Dín haveria de viver por longos anos para ver o triunfo da Causa e a frustração de suas maldosas tramas. A profecia foi cumprida. Majdu'd-Dín viveu mais de cem anos e viu o nascimento da Ordem Administrativa - a Filha do Convênio - e o fortalecimento das estruturas criadas por Shoghi Effendi. Faleceu em 1955, dois anos após o início da Cruzada Mundial de Dez Anos, lançada pelo Guardião, tendo testemunhado a ascendência do Convênio e a extinção de suas esperanças e intenções malignas.2

Durante os primeiros dias de sua rebelião, os rom-pedores do Convênio, notando, de um lado, seu próprio crescimento e aparente sucesso na conversão de um considerável número de crentes para o seu lado e, de outro, a humildade e amorosa generosidade de 'Abdu'l-Bahá, estavam convencidos de que teriam uma retumbante vitória. O Dr. Yúnis Khán escreve:

Ouvi muitas vezes o Mestre dizer: "Certa vez estava aconselhando Majdu'd-Dín, tentando guiá-lo com muito amor e compaixão. Aconselhei-o a abandonar o caminho do erro, advertindo-o de que se arrependeria das conseqüências de seus atos. Mas falei a ele com tanta sinceridade e fervor que não pude conter as lágrimas que afloraram aos Meus olhos. Então, observei que, ao ver minha emoção, Majdu'd-Dín sorria para mim com desdém, pensando, intimamente, o quanto me havia derrotado. Foi quando levantei a voz e lhe disse:

'Ó ser desprezível! Minhas lágrimas foram derramadas quando, por piedade, pensei em teu estado lastimável, e não em mim. Pensas que me sentia perdido e impotente quando fiz meu apelo a ti?'"

A paciência e a amorosa bondade demonstradas por 'Abdu'l-Bahá eram interpretadas pelos rompedores do Convênio, conforme conta a história acima, como sinal de fraqueza.3

Foi no ano de 1901 que 'Abdu'l-Bahá, durante Suas conversações com os crentes, previu a vinda de algumas inevitáveis tribulações que seriam causadas pelos rompedores do Convênio (...)

Os crentes ficaram preocupados com tais predições e não sabiam de que forma iriam atingir o Mestre. Oravam para que Deus interviesse e evitasse as dificuldades que poderiam estar reservadas a Ele.

Em agosto de 1901, o trabalho de construção no Monte Carmelo alcançara um estágio avançado. 'Abdu'l-Bahá visitava Haifa com freqüência. Foi quando, subitamente, irrompeu um levante em 'Akká. Em 20 de agosto de 1901, os crentes comemoraram o aniversário da Declaração do Báb (de acordo com o calendário lunar) no Santuário de Bahá'u'lláh em Bahjí. Ao voltar a 'Akká, 'Abdu'l-Bahá foi informado que Seus irmãos haviam sido escoltados por soldados, sendo levados de Bahjí a 'Akká com grande humilhação. Majdu'd-Dín também, fora trazido de Tibérias. O Mestre imediatamente procurou informar-Se, junto às autoridades, sobre o motivo das prisões. Foi então que o Governador informou a 'Abdu'l-Bahá do conteúdo de uma ordem recebida do Sultão de que Ele e Seus irmãos deveriam ser confinados dentro das paredes da cidade de 'Akká, e que as mesmas restrições que haviam sido impostas a Bahá'u'lláh e Seus companheiros na Maior Prisão deveriam ser renovadas. Ainda mais, nenhum dos crentes poderia deixar a cidade e todas as suas atividades seriam monitoradas pelas autoridades (...)

Todas essas restrições foram resultado direto das maquinações de Mirza Muhammad-'Alí junto a Názim Páshá, o Governador da Província da Síria. As circunstâncias desse episódio são descritas por Mirza Badi'u'lláh em sua "carta de confissão", escrita alguns anos depois deste incidente. Ele afirma que Mirza Muhammad-'Alí enviara Mirza Majdu'd-Dín a Damasco para apresentar uma petição ao Governador, reclamando contra as atividades de 'Abdu'l-Bahá. O propósito principal deste ato traiçoeiro fora de alarmar as autoridades com informações falsas sobre os propósitos de 'Abdu'l-Bahá com a construção do prédio no Monte Carmelo (previsto para ser o Santuário do Báb), que seria um forte que estava sendo preparado para levantar uma rebelião. Informava também sobre grandes reuniões dos crentes em 'Akká e a ida e vinda de americanos, os quais descreviam como assessores militares (os primeiros crentes americanos a visitarem 'Abdu'l-Bahá).

É sabido que Majdu'd-Dín levou presentes caros ao Governador, como suborno, pedindo sua ajuda para a deportação de 'Abdu'l-Bahá. Na verdade, já outras vezes, anteriormente, no curso dos diversos apelos às autoridades governamentais da Síria, os rompedores do Convênio levantaram grandes somas de dinheiro para subornar diversas autoridades. Tendo se utilizado de todo o patrimônio de Mirza Áqá Ján para este propósito, venderam uma terça parte da propriedade da Mansão de Bahjí por mil e duzentas liras a Yahyá Tábúr Áqásí, um inveterado inimigo da Fé, usando todo esse montante para subornar as autoridades.

Majdu'd-Dín voltou de sua missão de forma jubilosa, tendo garantido a promessa de ajuda do Governador. Mas os eventos tomaram um rumo diferente. Após receber o relatório do Governador, o Sultão 'Abdu'l-Hamíd ficou alarmado e determinou que a ordem de prender 'Abdu'l-Bahá, Seus irmãos e Seus companheiros fosse reimposta. Conseqüentemente, para surpresa de Majdu'd-Dín, seus planos acabaram voltando-se contra si mesmo, como também contra seu chefe, Mirza Muhammad-'Alí, os quais, juntamente com Mirza Badi'u'lláh, foram encarcerados na cidade de 'Akká por ordem do Sultão. A profecia de 'Abdu'l-Bahá havia sido cumprida: Seus irmãos foram os primeiros a caírem em suas próprias armadilhas.4

O seguinte telegrama foi enviado por Shoghi Effendi ao mundo bahá'í, logo após o falecimento de Majdu'd-Dín em 1955, e claramente mostra quão diabólicas foram suas maquinações contra o Centro do Convênio e contra o Guardião da Fé:

Anunciamos a todas as Assembléias Nacionais que Majdu'd-Dín, o mais terrível adversário de 'Abdu'l-Bahá, denunciado por Ele como a encarnação de Satã e que teve um papel preponderante para a crescente hostilidade de 'Abdu'l-Hamíd e Jamál Páshá, e que foi o principal instigador do rompimento do Convênio e arqui-rompedor do Convênio de Bahá'u'lláh, que por mais de sessenta anos trabalhou com maldosa astúcia e falsidade para solapar suas bases, pereceu miseravelmente em decorrência de uma paralisia que atacou seus membros e sua língua. A Dispensação da Providência prolongou a duração de sua vida infame para cem anos, fazendo com que ele testemunhasse a extinção de suas esperanças mais acariciadas e a desintegração, com dramática rapidez, da infernal horda que ele incessantemente incitou e zelosamente dirigiu, testemunhando também o progresso triunfante e a gloriosa conclusão do ministério de trinta anos de 'Abdu'l-Bahá, como também as evidências do surgimento e estabelecimento, em todos os continentes do globo, da ordem administrativa, a filha do Convênio divinamente designada e precursora da Ordem que engloba o mundo inteiro.5

Mirza Muhammad-'Alí
Lawh-i-Fitnih

A Lawh-i-Fitnih (Epístola do Teste) é outra Epístola em árabe revelada por Bahá'u'lláh em Bagdá, em honra à Princesa Shams-i-Jihán.* Ela era neta de Fath-'Alí Sháh, e conhecida pela designação de Fitnih. Seu interesse na Fé começou quando entrou em contato com Táhirih,† tornando-se sua amiga íntima.

*Alguns eruditos Bahá'ís declararam que esta Epístola foi revelada em Adrianópolis; eles podem estar certos.

†Uma das "Letras do Vivente", a grande heroína e a mais notável mulher dentre os discípulos do Báb.

Shams-i-Jihán foi a Bagdá, atingiu a presença de Bahá'u'lláh e reconheceu Sua posição, tornando-se uma crente devotada. A Pena do Altíssimo‡ revelou diversas Epístolas a ela e deu-lhe o título de Varaqatu'r-Ridvan (A Folha do Paraíso).

‡Uma designação com a qual Bahá'u'lláh referia-Se a Si próprio como o Revelador da Palavra de Deus.

A Lawh-i-Fitnih, como seu título indica, versa inteiramente sobre testes e provações associados ao Dia de Deus. Nela, Bahá'u'lláh alude à Sua própria Revelação e afirma que através de Seu advento a criação inteira será provada; nenhuma alma ficará isenta. Todos aqueles que são a incorporação da piedade e da sabedoria, do conhecimento e da virtude, e até mesmo as realidades dos Profetas e Mensageiros de Deus, serão testados.

Em muitas de Suas Epístolas, Bahá'u'lláh adverte os Seus seguidores quanto aos testes e dificuldades que sobreviverão a eles ao entrarem na Fé. Em cada era o coração humano foi provado com a vinda do Manifestante de Deus. Esta é a lei de Deus, eterna no passado e eterna no futuro. Porém, este é o Dia do próprio Deus e Bahá'u'lláh liberou para a humanidade enormes energias espirituais. Por isso, os testes que acompanham tão poderosa Revelação são grandes também.

A Causa de Deus está exaltada acima do mundo da humanidade. A fim de abraçá-la, o homem deve adquirir qualidades divinas. E, para isso, as ambições pessoais e mundanas tornam-se grandes barreiras. O teste para o homem, portanto, é dominar seu próprio eu. Sem tal conquista não pode reconhecer o Profeta. Pois o Mensageiro de Deus possui duas naturezas, a divina e a humana. A primeira está sempre oculta pela segunda. Somente aqueles dotados de visão espiritual podem penetrar o véu das limitações humanas e contemplar a realidade da Manifestação. Aqueles que se encontram cegos espiritualmente são testados pela personalidade do Profeta. Eles conseguem ver apenas o lado humano de suas qualidades e por isso algumas vezes buscam encontrar falhas nessas Almas Sagradas.

Depois de reconhecer o Manifestante, o crente será testado por Deus de muitas maneiras. Cada vez que passar por um teste, adquirirá um discernimento espiritual maior e sua fé crescerá mais forte. Quanto mais se aproxima da Pessoa do Manifestante, mais difíceis se tornam os testes. É então que qualquer traço de ambição ou ego pode trazer perigo à sua vida espiritual.

Existe uma tradição no Islã que define as dificuldades e perigos encontrados pelo homem em sua jornada para Deus. Tal tradição descreve como todos os homens irão definhar e morrer, exceto os fiéis; todos os fiéis irão definhar e morrer, exceto os que são testados; todos os que são testados irão definhar e morrer, exceto aqueles que são sinceros, e todos os sinceros estarão em grande perigo.

A história da Fé demonstra isso amplamente. Existiram discípulos de Bahá'u'lláh cuja fé e devoção os elevaram a grandes alturas. Encontravam-se bem próximos de Sua Pessoa e tornaram-se renomados entre os fiéis. Porém, quando os ventos dos testes sopraram sobre eles, a chama da fé foi extinta em seus corações, devido ao seu orgulho e ambição. Como resultado, caíram em desgraça e pereceram espiritualmente. Dentre eles havia alguns membros da própria família de Bahá'u'lláh. Seu meio-irmão, Mirza Yahyá, rebelou-se contra Bahá'u'lláh e, depois de Seu falecimento, três de Seus filhos e duas filhas, juntamente com diversos parentes e vários instrutores famosos da Causa, que até aquele momento haviam servido à Fé com assiduidade, romperam o Convênio de Bahá'u'lláh, opuseram-se a 'Abdu'l-Bahá, o Centro desse Convênio, e uniram-se para extinguir a Sua Causa.

Algumas pessoas ficam intrigadas com a oposição e traições ocorridas dentro da comunidade, especialmente por parte daqueles que estavam mais próximos de Bahá'u'lláh. Mas a razão de seus afastamentos dEle foi a falta de suficiente fé e carência de qualidades espirituais, pré-requisitos essenciais para o reconhecimento do Manifestante de Deus e submissão aos Seus mandamentos.

Pode-se fazer uma comparação, por analogia, com pessoas que, sem conhecimento de matemática, por exemplo, vão à presença de um eminente cientista, o qual expõe suas teorias em termos matemáticos complicados. Obviamente, elas não irão entendê-lo, nem saberão apreciar devidamente seu brilhante trabalho. Não podem ver no cientista outras faculdades senão as de um ser humano comum, cujas palavras, porém, lhes são incompreensíveis. E assim começam a julgar o cientista de acordo com seus próprios padrões e, em conseqüência, permanecem inalterados por seus poderes intelectuais. Quanto mais próximas estiverem dele, melhor poderão observar sua natureza humana, a qual atua como um véu e oculta sua grandeza aos olhos daquelas pessoas. Somente aquelas que entendem de matemática poderão apreciar a real genialidade do cientista. Na visão destas pessoas, o conhecimento científico ultrapassa as qualidades humanas do cientista e, portanto, elas não focalizam a atenção em sua aparência externa.

Muitos daqueles que se opuseram a Bahá'u'lláh ou romperam Seu Convênio após terem abraçado Sua Fé eram homens ambiciosos, carentes de qualidades espirituais, cujo propósito fundamental era aumentar seu prestígio e ganhar proeminência dentro da comunidade bahá'í.

Um desses foi Mirza Muhammad-'Alí, filho de Bahá'u'lláh. Era orgulhoso e buscava liderança e poder. Muitos dos discípulos de Bahá'u'lláh que possuíam olhos espirituais foram capazes de perceber nele um ar de superioridade e autoglorificação. Sentiam sua insinceridade mesmo antes que ele violasse o Convênio de Bahá'u'lláh.

Por exemplo, Hájí Muhammad-Táhir-i-Málmírí descreveu em suas memórias sua chegada a 'Akká, por volta de 1878, e seu primeiro encontro com Mirza Muhammad-'Alí:

Quando nós* chegamos a Haifa... fomos levados à casa de Áqá Muhammad-Ibráhím-i-Káshání. Bahá'u'lláh o instruíra a fixar residência em Haifa, para cuidar da distribuição de cartas e prestar ajuda e hospitalidade aos peregrinos Bahá'ís. Quando Bahá'u'lláh foi informado que nós três havíamos chegado, determinou, através de Mirza Áqá Ján... que eu deveria ficar em 'Akká com meu irmão, Hájí 'Alí.1 Fomos levados de Haifa a 'Akká na carruagem de 'Abdu'l-Bahá. Eu fui levado até a casa de Hájí 'Alí, que estava situada em Khán-i-Súq-i-Abiyad (Mercado Branco), bem próxima da residência de Mirza Músá, irmão de Bahá'u'lláh, e de muitos outros Bahá'ís como Nabíl-i-A'zam. ... Estava muito feliz naquele dia. Alegria e êxtase enchiam minha alma. No dia seguinte, Mirza Muhammad-'Alí, acompanhado de seus dois irmãos, Mirza Díyá'u'lláh e Mirza Badí'u'lláh, vieram à casa de Nabíl-i-A'zam para me ver. Com ansiedade, eu e meu irmão fomos ao encontro deles. Mas, logo ao encontrar Mirza Muhammad-'Alí e Badi'u'lláh, fiquei deprimido e toda a alegria de meu coração foi transformada em tristeza e pesar. Fiquei angustiado... e amargamente desapontado comigo mesmo. Procurava imaginar o que sucedera tão rapidamente para que eu, apesar de toda a ansiedade e excitação que sentira ao chegar a 'Akká, ficasse completamente abatido e triste. Estava convencido, naquele momento, que eu havia sido rejeitado por Deus.

*Hájí Muhammad-Táhir e dois amigos peregrinos.

Fiquei em tal estado de abatimento e angústia que pensei em deixar a reunião imediatamente, mas não ousei fazê-lo. Em meu coração, comungava com Deus... ansiosamente esperando que os visitantes partissem a fim de que pudesse sair e buscar uma solução para a triste condição em que me encontrava. Observei que enquanto Nabíl-i-A'zam e meu irmão conversavam animadamente com estes dois filhos de Bahá'u'lláh, eu me encontrava num estado de agitação mental e agonia durante toda a reunião... Depois de uma hora, quando os visitantes saíam, meu irmão lhes agradeceu a visita, alegre e calorosamente.

Naquela noite, informou-me que devíamos ir à presença do Mestre em Sua sala de recepção. Embora deprimido e triste, em conseqüência da reunião com Mirza Muhammad-'Alí, acompanhei-o. Assim que cheguei à presença do Supremo Ramo,* uma nova vida foi insuflada dentro de mim. Todo o meu ser encheu-se de tal alegria e felicidade que de imediato desapareceram todas as agonias e perturbações do passado.

*'Abdu'l-Bahá, conhecido como o Mestre.

Alguns dias mais tarde, meu irmão convidou-me a ir com ele a fim de encontrarmo-nos novamente com Mirza Muhammad-'Alí, mas a despeito de toda a sua insistência recusei-me a ir... Durante o período em que fiquei em 'Akká, Mirza Muhammad-'Alí veio diversas vezes à residência de Nabíl-i-A'zam, mas eu sempre encontrava uma desculpa para não ir até lá.2

Depois da ascensão de seu Pai, Mirza Muhammad-'Alí opôs-se a 'Abdu'l-Bahá, o Centro da Causa designado por Bahá'u'lláh, precipitando uma crise, dentro da comunidade, não menos severa que aquela que abalou as bases da Causa com a rebelião de Mirza Yahyá. Mesmo nos dias de Bahá'u'lláh, Mirza Muhammad-'Alí havia se comportado de tal forma a causar, em muitas ocasiões, grande tristeza e angústia a Bahá'u'lláh. Certa vez, foi enviado à Índia por seu Pai para publicar uma compilação de determinadas Epístolas e, nessa ocasião, como afirma Shoghi Effendi no livro A Presença de Deus, ele "alterara o texto dos sagrados Escritos entregues a seu cuidado..." Foi ele também que, "por uma extremamente hábil e simples falsificação de uma palavra repetida em algumas das passagens denunciatórias, dirigidas pela Pena Suprema (Bahá'u'lláh) a Mirza Yahyá, e mediante outros ardis, tais como mutilação e interpolação, conseguira que essas passagens se tornassem diretamente aplicáveis" a 'Abdu'l-Bahá. Ele ainda foi mais longe, apresentando "aberta e vergonhosamente... em uma declaração por escrito, assinada e lacrada por ele... a mesma pretensão" que, após a ascensão de Bahá'u'lláh, ele imputou a 'Abdu'l-Bahá, a saber, o direito de "inaugurar uma nova Dispensação e de compartilhar com Seu Pai (Bahá'u'lláh) a Suprema Infalibilidade, prerrogativa exclusiva dos detentores da função profética".3 Tão ímpia ação despertou a ira de Bahá'u'lláh. Em uma Epístola Ele adverte que fosse Mirza Muhammad-'Alí desviar-se por um momento da Causa de Deus, ele se tornaria um ramo sem vida. Ele enfatiza na mesma Epístola que ninguém jamais poderá associar-se com os Manifestantes de Deus e reivindicar infalibilidade a si próprio.

Uma das características distintivas da Causa de Deus é que ela não abriga personalidades egoístas. Seu lema é servitude, uma servitude real e completa, e que se manifesta na forma de humildade e abnegação.

Em Seus Ensinamentos, Bahá'u'lláh deixa claro existirem apenas três graus neste mundo da existência. Primeiro, o grau de Deus, que está além de nossa compreensão; depois o grau dos Manifestantes Divinos, que está exaltado acima do mundo da humanidade; e, finalmente, o grau humano, que é o de servitude. No serviço à Causa de Deus, a maior proteção para o indivíduo são submissão e humildade. É o presente mais aceitável que um ser humano pode oferecer a Deus. Pois, em virtude de Sua soberania e domínio, a humildade não é um dos atributos de Deus.

'Abdu'l-Bahá, o verdadeiro Exemplo dos Ensinamentos de Bahá'u'lláh, estabeleceu o padrão de servitude para todos seguirem. Ele desceu ao mais baixo plano de servitude, que é o grau mais elevado que um ser humano pode atingir.

A posição de Bahá'u'lláh foi de soberania e domínio. A posição de Seu Filho, 'Abdu'l-Bahá, foi de servitude. Quando a água flui do alto de uma montanha e corre para o vale, ela cria energia. De forma semelhante, o fluxo das forças espirituais de Bahá'u'lláh para 'Abdu'l-Bahá produziu um grande poder que foi liberado para a humanidade. Quando Bahá'u'lláh apareceu, não havia ninguém digno ou capaz de receber Sua Revelação. 'Abdu'l-Bahá, em nome da humanidade tornou-Se seu recipiente perfeito e, embora não sendo um Manifestante de Deus, foi investido de autoridade divina e poder através de Bahá'u'lláh.

Em Sua Última Vontade e Testamento, escrita com Seu próprio punho, Bahá'u'lláh designou 'Abdu'l-Bahá como Aquele ao qual todos os Seus seguidores deveriam voltar-se depois de Sua ascensão. Nesse momentoso documento, Bahá'u'lláh escreve:

Incumbe aos Aghsán,* aos Afnán† e a todos os Meus parentes, voltarem as faces para o Mais Poderoso Ramo. Considerai o que revelamos em Nosso Sacratíssimo Livro: "Quando o oceano de Minha presença estiver esgotado, e o Livro de Minha Revelação houver terminado, voltai as faces para Aquele que Deus designou, que brotou desta Raiz Antiga." O objeto deste sagrado versículo não é outro senão o Mais Poderoso Ramo ('Abdu'l-Bahá). Através de Nossas graças, Nós vos revelamos Nossa potentíssima Vontade, e Eu sou em verdade o Misericordioso, o Onipotente.4

*Os descendentes masculinos de Bahá'u'lláh.

†"Ramos", uma designação utilizada por Bahá'u'lláh para indicar os parentes do Báb, que são descendentes de três tios maternos do Báb, e de dois irmãos de Sua esposa.

Em outras Epístolas, Bahá'u'lláh prestou iluminados tributos ao Mais Poderoso Ramo e exaltou Sua posição. Por exemplo, na Súriy-i-Ghusn (Epístola do Ramo), Bahá'u'lláh revelou as seguintes palavras:

Brotou do Sadratu'l-Muntahá* este sagrado e glorioso Ser, este Ramo de Santidade; bem-aventurado quem tenha buscado Seu amparo e habite à Sua sombra. Em verdade, o Sustentáculo da Lei divina surgiu desta Raiz† que Deus plantou firmemente no Solo de Sua Vontade, e cujo Ramo se ergueu até abranger a criação inteira. Glorificado seja Ele, pois, por essa Obra sublime, abençoada, poderosa e exaltada!... Como prova de Nossa misericórdia, emanou uma Palavra da Suprema Epístola - uma Palavra que Deus embelezou com os adornos de Seu próprio Ser e fez soberana sobre a terra e tudo o que nela existe, e um sinal de Sua grandeza e poder entre seus povos... Agradecei a Deus, ó povo, por haver Ele aparecido; pois, em verdade, Ele é a maior de todas as graças, a mais perfeita dádiva a vós; e por Seu intermédio se ressuscitam até os ossos em decomposição. Quem se dirigir a Ele terá se dirigido a Deus, e quem dEle se desviar terá se desviado de Minha Beleza, terá repudiado Minha Prova e transgredido contra Mim. Ele é Quem Deus confiou a vós, de quem Ele vos incumbiu, Seu manifestante entre vós, e o Seu aparecimento entre Seus servos favorecidos... Fizemo-Lo descer na forma de um templo humano. Bendito e santificado seja Deus, que cria qualquer coisa que deseje, através de Seu decreto inviolável, infalível. Aqueles que se privam da sombra do Ramo estão perdidos na solidão do erro, consumidos pelo fogo dos desejos mundanos, são daqueles que, seguramente, hão de perecer.5

*Um título de Bahá'u'lláh.
†Bahá'u'lláh.

Na Lawh-i-Fitnih, Bahá'u'lláh afirma que os testes e as provações que acompanham Sua Revelação são tão severos que muitas pessoas que crêem em Deus e que estão bem informadas dos mistérios de Sua Causa sofrerão privações e serão deixadas na escuridão. Referindo-Se aos líderes religiosos, Ele prevê que essas estrelas do céu do conhecimento irão cair. Afirma que através desses testes tudo o que estiver oculto nos corações dos homens virá à tona, que a humanidade será dividida, alguns elevados às alturas da fé e outros jogados ao pó. Ele menciona que os ventos deste poderoso teste de Deus já começaram a soprar e que a força total de seu impacto será sentida no ano de Shidád* (Tensão). Esta é uma referência à rebelião de Mirza Yahyá em Adrianópolis, que abalou a Fé em suas bases e temporariamente criou divisão entre seus seguidores. É também uma alusão à ascensão de Bahá'u'lláh, que trouxe como conseqüência a rebelião de Mirza Muhammad-'Alí e o rompimento do Convênio de Bahá'u'lláh.

*O valor numérico de Shidád é 309, significando o ano de 1309 A.H. (1892 d.C.), o ano da ascensão de Bahá'u'lláh.

Um estudo cuidadoso das vidas e dos ensinamentos dos Fundadores das grandes religiões demonstra que uma das funções do Manifestante de Deus sempre tem sido a de explicar o significado e o propósito de Sua Revelação e resolver qualquer problema difícil que traga perplexidade às mentes de Seus seguidores. Bahá'u'lláh e 'Abdu'l-Bahá estavam sempre prontos para responder às perguntas que Lhes eram formuladas pelos crentes. Perguntas que variavam desde assuntos profundos até pequenos detalhes de qualquer aspecto da Revelação de Bahá'u'lláh. Na verdade, grande parte dos Escritos de Bahá'u'lláh e de 'Abdu'l-Bahá foi escrita em resposta a tais questões. Eles interpretaram as Escrituras do passado, explicaram muitas das intrincadas afirmações e passagens, elucidaram mistérios divinos, expuseram os Ensinamentos de Deus para esta era, delinearam as características de uma Nova Ordem Mundial e deram os detalhes da aplicação das leis e mandamentos de Bahá'u'lláh.

Porém, quanto ao assunto da sucessão, Eles mantiveram-Se silentes e somente no final de Suas vidas foi que deram a conhecer a identidade de Seus sucessores. Há muita sabedoria nisso. Tal forma de agir pode ser comparada com a de um professor que está sempre pronto para responder as perguntas dos alunos e para ajudá-los a resolverem seus problemas. Somente em uma ocasião ele guarda silêncio, abstendo-se de ajudar os alunos, a saber, no dia do exame. Nesse dia, os alunos têm que encontrar as respostas sozinhos. É o teste que têm que enfrentar e é também o dia da separação. Aqueles que passam sobem a um grau superior, o que não ocorre com os que falham.

A história da Fé demonstra que o Convênio tem sempre provido um meio de testes para os seguidores. O Báb trouxe as boas-novas do aparecimento "dAquele que Deus tornará manifesto", mas não revelou explicitamente a identidade de Bahá'u'lláh. Bahá'u'lláh estabeleceu um poderoso Convênio, designando 'Abdu'l-Bahá como o Centro desse mesmo Convênio, mas manteve essa designação como um segredo bem guardado até pouco antes de Sua ascensão, quando entregou o Kitáb-i-'Ahdí (Livro de Meu Convênio) a 'Abdu'l-Bahá. Este documento, nos termos da analogia acima, tornou-se a prova escrita ao inteiro corpo de Seus seguidores. Alguns passaram e outros falharam no teste. De forma semelhante, a Última Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá, na qual Shoghi Effendi foi designado como o Guardião da Fé, foi mantida em segredo. Somente depois de Seu falecimento é que este documento foi lido. Novamente, tal fato foi a causa de testes para os crentes. Alguns, que tinham idéias ambiciosas e ânsia de poder, opuseram-se a Shoghi Effendi como o Guardião da Fé. Esses homens fizeram tudo o que puderam para criar divisões dentro da Causa. Mas uma das características distintivas da Fé é que, embora muitos destacados seguidores de Bahá'u'lláh tenham rompido o Convênio e se levantado, com todos os meios ao seu dispor, para criar cisma dentro da Fé, falharam em seus propósitos. O Convênio de Bahá'u'lláh triunfou e aqueles que se opuseram a ele pereceram e foram reduzidos a nada.

Antes que a Fé, contudo, pudesse içar o seu estandarte no âmago do continente norte-americano e dali, como base, estabelecer seus postos avançados sobre uma tão vasta parte do mundo ocidental, o recém-nascido Convênio de Bahá'u'lláh tinha que sofrer um batismo de fogo, como havia acontecido com a Fé que o originara, a fim de demonstrar sua solidez e proclamar sua indestrutibilidade a um mundo descrente. Uma crise, quase tão grave quanto a que acometera a Fé em seus primeiros anos, em Bagdá, viria a abalar seus alicerces no momento exato em que esse Convênio se iniciava, e sujeitar de novo a Causa, da qual era o fruto mais nobre, às mais acerbas provações experimentadas no decurso de todo um século.

No próprio coração e centro de Sua Fé foi precipitada essa crise erroneamente interpretada como um cisma pelos adversários, tanto políticos como eclesiásticos, bem como pelos remanescentes dos sequazes de Mirza Yahyá - em franco declínio - e, portanto, vista com júbilo como sinal da imediata ruptura e dissolução final do sistema estabelecido por Bahá'u'lláh. Fora provocada por um membro de Sua própria família, um meio-irmão de 'Abdu'l-Bahá expressamente nomeado no livro do Convênio e detentor de uma categoria só inferior à dAquele que havia sido designado como o Centro desse Convênio.

Por nada menos de quatro anos, essa crise agitou com violência as mentes e os corações de uma vasta proporção dos fiéis por todo o Oriente, eclipsou, por algum tempo, o Orbe do Convênio, criando uma brecha irreparável nas fileiras dos próprios parentes de Bahá'u'lláh e selando, em última instância, o destino da grande maioria dos membros de Sua família, e, embora nunca conseguisse causar uma divisão permanente na estrutura da própria Fé, lhe danificou severamente o prestígio. A verdadeira base dessa crise era o ciúme veemente, irreprimível, que inflamava a alma - ciúme da reconhecida preeminência de grau, poder, habilidade, conhecimento e virtude que 'Abdu'l-Bahá demonstrava, acima e além de todos os outros membros da família de Seu Pai - esse ciúme provocado não só em Mirza Muhammad-'Alí, arqui-violador do Convênio, mas também em alguns de Seus parentes mais próximos. Uma inveja tão cega como aquela que se apoderara da alma de Mirza Yahyá, tão fatal como aquela que a superior excelência de José havia incendiado nos corações de seus irmãos, tão profundamente arraigada como aquela que ardera no peito de Caim e o incentivara a matar seu irmão Abel - tal foi a inveja que, desde alguns anos, antes da ascensão de Bahá'í 'lláh, lavrava no recôndito do coração de Mirza Muhammad-'Alí, sendo secretamente inflamada por aqueles inúmeros sinais de distinção, admiração e favor conferidos a 'Abdu'l-Bahá não só pelo próprio Bahá'u'lláh, por Seus companheiros e Seus seguidores, como também pelo vasto número de descrentes que vieram a reconhecer aquela grandeza inata manifestada por 'Abdu'l-Bahá desde a infância.

Longe de ser apaziguado pelas provisões de um Testamento que o elevava à segunda posição mais alta dentro das fileiras dos fiéis, o fogo de inapagável animosidade que ardia no peito de Mirza Muhammad-'Alí flamejava ainda mais intensamente, logo que ele veio a perceber em sua plenitude as implicações desse Documento. Tudo o que 'Abdu'l-Bahá podia fazer durante um período de quatro anos angustiantes - Suas incessantes exortações, Seus fervorosos apelos, os favores e a bondade por Ele dispensados com tanta profusão, as admoestações e advertências que Ele pronunciava, até mesmo Seu voluntário recolhimento na esperança de evitar a tempestade ameaçadora - provou ser em vão.

Gradativamente e com inexorável persistência, mediante mentiras, meias-verdades, calúnias e flagrantes exageros, esse "Promotor Primário de sedição" conseguiu alistar em seu apoio quase a família inteira de Bahá'u'lláh, bem como um número considerável dos que haviam formado seu séquito imediato. As duas esposas sobreviventes de Bahá'u'lláh, Seus dois filhos, o vacilante Mirza Díyá'u'lláh e o traiçoeiro Mirza Badi'u'lláh, com suas irmã e meia-irmã e seus esposos, sendo um deles o infame Siyyid 'Alí, parente do Báb, o outro o astucioso Mirza Majdu'd-Dín, juntamente com sua irmã e seu meio-irmão - filhos do nobre, fiel, agora falecido Áqáy-i-Kalím - todos se uniram num determinado esforço para subverter os fundamentos do Convênio estabelecido pelo Testamento recém-proclamado. Até Mirza Áqá Ján, que durante anos laborara como amanuense de Bahá'u'lláh, bem como Muhammad-Javád-i-Qazvíní, que sempre, desde os dias de Adrianópolis, ocupara-se em transcrever as inumeráveis Epístolas reveladas pela Pena Suprema, com sua família inteira, aliaram-se com os violadores do Convênio, deixando-se enredar por suas maquinações.

Abandonado, traído, assaltado pela quase totalidade dos Seus parentes, ora congregados na Mansão e nas casas circunvizinhas que se apinhavam ao redor do mais Sagrado Sepulcro, 'Abdu'l-Bahá, já privado tanto de Sua mãe como de Seus filhos, e sem qualquer apoio a não ser o de uma irmã solteira e quatro filhas solteiras, da esposa e de um tio (meio-irmão de Bahá'u'lláh), ficou sozinho para suportar, frente a uma multidão de inimigos internos e externos, organizados contra Ele, todo o peso das tremendas responsabilidades que Seu elevado cargo acumulara sobre Ele.

Esses repudiadores de um Convênio divinamente estabelecido - estreitamente unidos por um só desejo e um só propósito comuns; incansáveis em seus esforços; confiantes do apoio do poderoso e pérfido Jamál-i-Burújirdí e de seus sequazes, Hájí Husayn-i-Kashí, Khalíl-i-Khu'í e Jalíl-i-Tabrízí, os quais haviam esposado sua causa; ligados por um vasto sistema de correspondência com todos os centros e indivíduos que podiam alcançar; secundados em seus labores por emissários que eles enviavam à Pérsia, ao Iraque, à Índia e ao Egito; e encorajados em seus desígnios pela atitude de oficiais a quem subornavam ou seduziam - todos levantaram-se, como um só homem, a fim de lançarem uma campanha de injúrias e vilipêndios que era comparável em virulência às acusações infames dirigidas a Bahá'u'lláh por Mirza Yahyá e Siyyid Muhammad em conjunto. A amigos e desconhecidos, crentes e descrentes, igualmente, a oficiais de alto ou baixo nível, tanto abertamente como por insinuação, não só verbalmente, como também por escrito, representavam 'Abdu'l-Bahá como um usurpador que era ambicioso, arbitrário, sem princípios ou piedade, que havia deliberadamente desatendido às instruções testamentárias de Seu Pai e, em linguagem intencionalmente velada e ambígua, assumindo um grau equivalente ao do próprio Manifestante, havendo, em Suas comunicações com o Ocidente, começado a fazer pretensão de ser a volta de Jesus Cristo, o Filho de Deus, vindo na "Glória do Pai" e, em Suas cartas aos crentes da Índia, proclamado-Se o prometido Sháh Bahrám, arrogando a Si próprio o direito de interpretar os escritos de Seu Pai, de inaugurar uma nova Dispensação e de compartilhar com Seu Pai a Suprema Infalibilidade, prerrogativa exclusiva dos detentores da função profética. Afirmaram eles, ainda mais, que por interesses particulares, 'Abdu'l-Bahá fomentara discórdia, promovera inimizade e brandira a arma da excomunhão; que Ele havia pervertido o propósito de um testamento - o qual, segundo Sua alegação, tratava primariamente dos interesses particulares da família de Bahá'u'lláh - pois Ele o aclamava um Convênio de importância mundial, preexistente, incomparável, sem igual na história de todas as religiões; que Ele privara Seus irmãos de seu legítimo quinhão, despendendo-o com oficiais em Seu próprio benefício; que Ele havia declinado todos os reiterados convites que Lhe foram feitos para tratar das questões surgidas e reconciliar as divergências que prevaleciam; que Ele realmente corrompera o Texto Sagrado, nele interpolando passagens escritas por Ele próprio, e pervertera o propósito e o significado de algumas das mais poderosas Epístolas reveladas pela pena de Seu Pai; e, finalmente, que em conseqüência de tal conduta, o estandarte da rebelião fora içado pelos crentes orientais, que a comunidade dos fiéis fora rompida, rapidamente declinava e estava condenada à extinção.

E foi, não obstante, esse mesmo Mirza Muhammad-'Alí que - considerando-se o expoente da fidelidade, o porta-estandarte dos "Unitários", o "Dedo que aponta seu Mestre", o campeão da Sagrada Família, o porta-voz dos Aghsán, o esteio dos Escritos Sagrados - havia ainda durante a vida de Bahá'u'lláh, em uma declaração por escrito, assinada e lacrada por ele, apresentado tão aberta e vergonhosamente a mesma pretensão agora falsamente imputada por ele a 'Abdu'l-Bahá, devido ao que o Pai o castigara com Sua própria mão.

Foi ele quem, ao ser enviado em missão à Índia, alterara o texto dos sagrados escritos entregues a seu cuidado para publicação. E foi quem teve a desfaçatez e a temeridade de dizer abertamente a 'Abdu'l-Bahá que, justamente como Omar conseguira usurpar a sucessão do Profeta Maomé, ele também se sentia capaz de fazer o mesmo. Foi quem, obcecado pelo medo de não sobreviver a 'Abdu'l-Bahá, no momento quando Este lhe assegurou que, com o tempo, toda a honra por ele cobiçada viria a ser sua, respondeu imediatamente que nenhuma garantia havia de Lhe sobreviver. Segundo atesta Mirza Badi´u´lláh em sua confissão, escrita e publicada na ocasião de seu arrependimento e de sua reconciliação com 'Abdu'l-Bahá, que tão pouco durou, foi ele quem levara, mediante um estratagema - enquanto o corpo de Bahá'u'lláh ainda esperava sepultamento - duas pastas que continham os mais preciosos documentos de seu Pai, por Ele confiados, antes de Sua ascensão, a 'Abdu'l-Bahá. Foi ele que, por uma extremamente hábil e simples falsificação de uma palavra repetida em algumas das passagens denunciatórias dirigidas pela Pena Suprema a Mirza Yahyá, e mediante outros ardis, tais como mutilação e interpolação, conseguira que essas passagens se tornassem diretamente aplicáveis a um Irmão a Quem ele odiava com ódio tão consumidor. E, afinal, foi esse mesmo Mirza Muhammad-'Alí quem, assim como afirma 'Abdu'l-Bahá em Seu Testamento, conspirara, com circunspeção e astúcia, para Lhe tirar a vida - intenção essa indicada pelas alusões em uma carta escrita por "Shú'á'u'lláh" (filho de Mirza Muhammad-'Alí), o original da qual havia sido incluso nesse mesmo Documento por 'Abdu'l-Bahá.

Por atos como esses, e outros demasiadamente numerosos para serem relatados, fora o Convênio de Bahá'u'lláh manifestamente violado. Outro golpe, atordoante em seus primeiros efeitos, fora administrado à Fé e lhe fizera tremer, momentaneamente, a estrutura. A tempestade prognosticada pelo autor do Apocalipse irrompera. Os "relâmpagos" e os "trovões", o "terremoto", que deveriam necessariamente acompanhar a revelação da "Arca de Seu Testamento", já haviam todos sucedido.

Tal foi a tristeza de 'Abdu'l-Bahá por tão trágico evento, sucedido tão imediatamente após a ascensão de Seu Pai, que ficou estampada em Seus traços até o fim de Sua vida, não obstante os triunfos testemunhados no decurso de Seu ministério. A intensidade das emoções nEle despertadas por esse sombrio episódio fazia recordar o efeito produzido sobre Bahá'u'lláh pelos fatídicos acontecimentos precipitados pela rebelião de Mirza Yahyá.

"Juro pela Antiga Beleza", escreveu Ele em uma de Suas Epístolas, "tão grande é Minha tristeza, Minha dor, que a pena se paralisa entre Meus dedos." "Tu me vês" - Ele, em uma oração escrita em Seu Testamento, assim lamenta: "submerso num oceano de calamidades que acabrunham a alma, de aflições que oprimem o coração... Acerbas provações Me têm cercado, e de todos os lados os perigos Me sobrevêm. Tu Me vês imerso em um mar de insuperável tribulação, afundando em um abismo insondável, angustiado por Meus inimigos e consumido com a chama do ódio que Meus inimigos acenderam - parentes com quem fizeste Teu forte Convênio e Teu Testamento firme..."

E ainda, nesse mesmo Testamento: "Senhor! Tu vês todas as coisas chorarem por Mim, e Meus parentes se regozijarem por causa de Minhas tribulações. Por Tua glória, ó Meu Deus! Até entre Meus inimigos alguns lamentaram Meus pesares e Minha angústia, e dentre os invejosos um grande número tem pranteado por causa de Minhas vicissitudes, Meu exílio e Minhas aflições." "Ó Tu, a glória das glórias!" - exclamara Ele em uma de Suas últimas Epístolas: "Renunciei ao mundo e a seu povo e estou desconsolado e penosamente aflito por causa dos infiéis. Na gaiola deste mundo eu adejo assim como um pássaro assustado e, todo dia, anseio por alçar vôo para Teu Reino."

O próprio Bahá'u'lláh revelara, significativamente, o seguinte, em uma de Suas Epístolas - uma Epístola que derrama uma luz iluminadora sobre o inteiro episódio: "Por Deus, ó povo! Meus olhos choram, e os olhos de 'Alí (o Báb) choram entre a Assembléia nas alturas, e Meu coração clama e o coração de Maomé clama dentro do Mais Glorioso Tabernáculo, e Minha alma brada e as almas dos Profetas bradam ante aqueles que estão dotados de compreensão. Minha tristeza não é por Mim mesmo, e sim por Aquele que há de vir depois de Mim - à sombra de Minha Causa, com soberania manifesta e indubitável - desde que não acolherão com agrado Sua vinda, Lhe repudiarão os sinais e disputarão a soberania, com Ele contenderão e Sua Causa atraiçoarão..." "Será possível", observa Ele em uma Epístola não menos significativa, "que, após o alvorecer do sol de Teu Testamento acima do horizonte de Tua Mais Grandiosa Epístola, os pés de qualquer um possam tropeçar em Teu Caminho Reto? A isto respondemos: 'Ó Minha mais excelsa Pena! Convém Te ocupares com aquilo que Te foi ordenado por Deus, o Excelso, o Grande. Não perguntes por aquilo que possa consumir Teu coração e os corações dos habitantes do Paraíso, os quais têm circundado Minha maravilhosa Causa. Incumbe-Te não conhecer o que de Ti temos velado. Teu Senhor é, verdadeiramente, o Ocultador, o Onisciente!'". Bahá'u'lláh, mais especificamente, referindo-Se a Mirza Muhammad-'Alí em linguagem clara e inequívoca, havia afirmado: "Ele, em verdade, é apenas um de Meus servos... Fosse ele por um momento passar além da sombra da Causa, seria, seguramente, reduzido ao nada." Ainda mais, em linguagem não menos enfática, com referência a Mirza Muhammad-'Alí, havia Ele, outra vez, declarado: "Por Deus, o Verdadeiro! Fôssemos Nós, por um só instante, privá-Lo das efusões de Nossa Causa, ele definhar-se-ia e viria a cair no pó." Além disso, o próprio 'Abdu'l-Bahá testificara: "Não há dúvida de que em mil passagens nos sagrados escritos de Bahá'u'lláh os violadores do Convênio têm sido execrados."

Algumas dessas passagens, Ele mesmo as compilou, antes de partir deste mundo, incorporando-as em uma de Suas últimas Epístolas como advertência e proteção contra aqueles que, por todo o Seu ministério, haviam Lhe manifestado tão implacável ódio e que chegaram tão perto de conseguir a subversão dos fundamentos de um Convênio do qual dependia não só Sua própria autoridade, mas também a integridade da própria Fé.

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Terceira Parte: Fidelidade Eterna - Os Discípulos Fiéis.

Mirza Muhammad-'Alíy-i-Nahrí

Outro destacado crente que chegou como peregrino a Adrianópolis e atingiu a presença de Bahá'u'lláh foi o devotado Mirza Muhammad-'Alíy-i-Nahrí, que tivera o privilégio de visitá-Lo, alguns anos antes, em Bagdá. Mirza Muhammad-'Alí pertencia a uma família proeminente de Isfahán, abençoada com riqueza material e dotes espirituais. Ele e seu irmão Mirza Hádí passaram alguns anos em Karbilá, onde se uniram à seita Shaykhí e costumavam sentar-se aos pés de Siyyid Kázim-i-Rashtí durante horas para receber iluminação espiritual.*

*A respeito da seita Shaykhí e seu líder Siyyid Kázim, vide Os Rompedores da Alvorada.

Foi em Karbilá que esses irmãos visitaram o Báb pela primeira vez. Quando O viram rezar diante do túmulo do Imame Husayn, ficaram profundamente atraídos à Sua Pessoa e reconheceram Seus extraordinários poderes. Eles perceberam também a profunda reverência e alta estima que Siyyid Kázim tinha por Ele. Não admira que, ao receberem a notícia de que um jovem em Shíráz havia Se declarado como o Báb, imediatamente reconheceram sua identidade.†

†Logo depois de Sua Declaração, o Báb instruiu Seus discípulos a difundirem as novas, mas sem revelar a Sua identidade até uma data posterior, quando ela poderia ser anunciada.

Obedientes às ordens do Báb, Mirza Muhammad-'Alí e seu irmão foram para Isfahán. No caminho para aquela cidade, encontraram Mullá Husayn, quem os deixou bem informados a respeito da Causa. O zelo e o entusiasmo de Mullá Husayn, a firmeza de sua fé e o ardor de seu amor pelo Báb inspiraram imensamente os dois irmãos e os ajudaram a reconhecer a verdade da recém-nascida Causa de Deus. Chegaram à presença do Báb em Shiráz quando Ele estava em prisão domiciliar por ordem do governador da província.1 Este encontro criou um novo espírito de dedicação e certeza em Mirza Muhammad-'Alí e Mirza Hádí, e dali em diante eles se tornaram os mais destacados dentre os primeiros discípulos do Báb.

De Shíráz, Mirza Hádí foi a Karbilá enquanto Mirza Muhammad-'Alí retornou a Isfahán. Logo depois de sua chegada a essa cidade, Mirza Muhammad-'Alí soube que sua esposa havia falecido em Karbilá. Ele se casou novamente e permaneceu em Isfahán até a chegada do Báb àquela cidade, no caminho para Teerã. Até aquela data, Mirza Muhammad-'Alí não tinha filhos. Sua primeira esposa havia morrido depois de poucos anos de casamento e não lhe havia dado filho algum. Sua segunda esposa também estava sem filhos até que ocorreu um episódio muito significativo.

Nabíl-i-A'zam descreve este feliz episódio:

Antes do Báb transferir Sua residência para a casa de Mu'tamid, certa noite Mirza Ibráhím, pai de Sultánu'sh-Shuhadá* e irmão mais velho de Mirza Muhammad-'Alíy-i-Nahrí, a quem já nos referimos anteriormente, convidou o Báb à sua casa. Mirza Ibráhím era amigo do Imám-Jum'ih, tinha íntima associação com ele e cuidava da administração de todos os seus assuntos. O banquete servido para o Báb naquela noite foi de magnificência insuperável. Comentou-se bastante que nem os oficiais nem as pessoas proeminentes da cidade haviam oferecido uma festa de tal magnitude e esplendor. Sultánu'sh-Shuhadá e seu irmão, Mahbúbu'sh-Shuhadá,† que eram meninos de nove e onze anos, respectivamente, serviram naquele banquete e receberam atenção especial do Báb. Naquela noite, durante o jantar, Mirza Ibráhím voltou-se ao seu Convidado e disse: "Meu irmão Mirza Muhammad-'Alí não tem filho algum. Eu Vos imploro para interceder em seu benefício e atender ao desejo de seu coração." O Báb tomou uma porção da comida que já Lhe havia sido servida e a colocou, com Suas próprias mãos, num prato e a entregou ao Seu anfitrião, pedindo-lhe que fosse entregue a Mirza Muhammad-'Alí e sua esposa. "Que ambos se sirvam dela", disse Ele; "seu desejo será realizado." Graças àquela porção que o Báb selecionou para entregar à esposa de Mirza Muhammad-'Alí, ela concebeu e, no devido tempo, deu à luz uma menina que mais tarde se uniria em matrimônio com o Supremo Ramo,‡ uma união que veio a ser considerada como a consumação das esperanças nutridas por seus pais.2

*Mirza Hasan, intitulado por Bahá'u'lláh como o "Rei dos Mártires".

†Mirza Husayn, intitulado o "Bem-Amado dos Mártires".

‡Referência ao casamento de Munírih Khanúm com 'Abdu'l-Bahá.

A recém-nascida filha recebeu dos seus pais o nome de Fátimih. Bahá'u'lláh, posteriormente, conferiu-lhe o nome de Munírih (Iluminada). Seu nascimento ocorreu por volta da época em que seu pai e seu tio, Mirza Hádí, haviam viajado para participar da conferência de Badasht.3 É interessante notar que nessa conferência os dois irmãos estavam entre os que ficaram extremamente agitados quando Táhirih retirou seu véu. Sua reação foi abandonar a cena e se abrigar nas ruínas de um velho castelo. Bahá'u'lláh mandou buscá-los, acalmou seus ânimos e frisou que não era necessário que eles abandonassem seus companheiros. Quando a conferência de Badasht terminou, os crentes foram atacados no povoado de Níyálá. Em conseqüência dessas perseguições, Mirza Hádí morreu no caminho de volta para casa e Mirza Muhammad-'Alí voltou a Isfahán. Através da potência de sua fé, ele se tornou um destacado expoente da Fé naquela cidade. Foi principalmente através de sua ajuda e orientação que dois de seus sobrinhos, aqueles citados por Nabíl e intitulados "Rei dos Mártires" e "Bem-Amado dos Mártires", foram confirmados na Causa. Eles se tornaram os mais ilustres dentre os mártires da Fé.

Quando Bahá'u'lláh estava em Bagdá, Mirza Muhammad-'Alí levou seus dois jovens sobrinhos àquela cidade, onde atingiram Sua presença. Contemplaram a Glória de Deus por trás de muitos véus de ocultação; suas almas foram magnetizadas pelo Seu amor e transformadas numa nova criação. Eles se desprenderam verdadeiramente deste mundo e voltaram para casa num espírito de júbilo e firmeza.

Alguns anos mais tarde, Mirza Muhammad-'Alí viajou para Adrianópolis. Mais uma vez teve o privilégio de atingir a presença de seu Senhor e realizar o desejo de seu coração. Mas não viveu o suficiente para testemunhar a honra conferida à sua filha, Munírih Khánum, de tornar-se a esposa de 'Abdu'l-Bahá.

Foi durante o período de Adrianópolis que certos eventos ocorreram, preparando o caminho para o casamento de 'Abdu'l-Bahá em 'Akká, alguns anos depois. Naquela época era costume, principalmente entre a nobreza, arranjar o casamento de seus filhos e filhas quando eram ainda crianças. A maioria dos casamentos eram arranjados dentro da família e o casal tinha muito pouco direito de opinião quanto a essa escolha. Quando 'Abdu'l-Bahá era uma criança, em Teerã, escolheram-Lhe Shahr-bánú, uma prima, para ficarem noivos. Ela era filha de Mirza Muhammad-Hasan, um meio-irmão mais velho de Bahá'u'lláh.4 Quando Bahá'u'lláh e Sua família foram exilados para o Iraque, Shahr-bánú permaneceu no distrito de Núr, em Mázindarán, até que em 1285 A.H. (1868) Bahá'u'lláh instruiu Seu tio Mullá Zaynu'l-'Ábidín* a levar Shahr-bánú para Teerã e de lá preparar sua viagem a Adrianópolis.

*Bahá'u'lláh tinha oito tios paternos. Entre aqueles a quem Ele ensinou a Fé do Báb estavam estes tios. Dois deles rejeitaram a Causa de Deus e ativamente se levantaram em oposição. Estes foram Shaykh 'Azizu'lláh e Safí Qulí Big. Os outros dois, Mullá Zaynu'l-'Abidín e Karbilá'í Zamán, tornaram-se crentes devotados. O primeiro deles acompanhou Bahá'u'lláh ao forte Shaykh Tabarsí e, quando Bahá'u'lláh recebeu bastonadas em Ámul, jogou-se aos Seus pés e foi tão surrado que desmaiou. Para detalhes deste incidente, vide Os Rompedores da Alvorada.

Logo que esta notícia chegou aos ouvidos de Sháh Sultán Khánum5 (meia-irmã de Bahá'u'lláh e seguidora de Mirza Yahyá), ela se levantou em oposição para impedir a realização do casamento. Levou Shahr-bánú à sua casa em Teerã e praticamente forçou-a a se casar com Mirza 'Alí-Khán-i-Núrí, o filho do Primeiro Ministro. Bahá'u'lláh referiu-Se a este fato na Epístola ao Filho do Lobo.6 Este casamento tão rudemente imposto a Shahr-bánú imergiu-a num estado de perpétua tristeza e aflição. O mais novo de seus irmãos, Mirza Nizámu'l-Mulk, um fiel e devotado seguidor de Bahá'u'lláh, registrou em suas memórias que, depois de seu casamento, Shahr-bánú rezava fervorosamente a Deus para ser libertada de sua trágica situação. Parece que suas preces foram respondidas, pois logo em seguida ela contraiu tuberculose e faleceu.

Quanto a Munírih Khánum, ela passou sua infância e juventude em Isfahán sob o cuidado e proteção de seus pais e ilustres primos. Algum tempo depois da morte de seu pai, a família, incluindo o "Rei dos Mártires" e o "Bem-Amado dos Mártires", decidiu que havia chegado o tempo dela se casar. Por isso, foram feitos planos para Munírih Khánum se casar com Mirza Kázim, o mais novo dos irmãos do "Rei dos Mártires" e do "Bem-Amado dos Mártires".

No dia do casamento, foi oferecida uma magnífica festa e a atmosfera festiva chegou ao seu clímax quando os nubentes receberam as bênçãos matrimoniais. No entanto, quando a cerimônia terminou, um lamentável incidente transformou a alegria de todos em profundo pesar. O noivo, que até então tinha estado em perfeita saúde, ao se aproximar da entrada de sua casa foi repentinamente atacado por um estranho fenômeno. Parecia atordoado por uma força inexplicável e teve que ser ajudado para se manter em pé. Ele ficou gravemente doente e morreu logo depois.

Depois desse trágico incidente, Munírih Khánum afastou seus pensamentos deste mundo e passou suas horas em prece e meditação. As circunstâncias de seu casamento com 'Abdu'l-Bahá são realmente muito emocionantes. O seguinte relato, a maior parte do qual em suas próprias palavras, revela a alegria e a emoção de uma vida tão sublime:

Em conformidade com a ordem da Abençoada Perfeição (Bahá'u'lláh), Siyyid Mihdí Dhaji [Dahají] chegou à Pérsia e posteriormente passou por Isfahán para promulgar a Causa de Deus. Uma grande festa lhe foi preparada e todos os crentes se juntaram em sua volta, querendo saber ansiosamente as notícias da Terra Santa e todos os detalhes a respeito da Abençoada Família e do encarceramento dos crentes nos alojamentos do quartel em 'Akká. Entre os que perguntavam, estava Shms os Zoha [Shamsu'd-Duhá], a esposa de meu tio, e membro da família do Rei dos Mártires. Ela perguntou a Siyyid Mihdí: "Enquanto você estava na presença de Bahá'u'lláh, alguma vez ouviu se alguma moça foi mencionada ou escolhida para o Mestre 'Abdu'l-Bahá?" Ele respondeu: "Não, mas um dia a Abençoada Perfeição estava caminhando no alojamento dos homens e falando. Então, voltou-Se para mim e disse, 'Aga Siyyid Mihdí! Eu tive um sonho extraordinário na noite passada. Sonhei que o rosto da bela moça que vive em Teerã, cuja mão nós pedimos a Mirza Hasan para o Supremo Ramo, tornou-se escuro e sombrio. Ao mesmo tempo, surgiu o rosto de uma outra moça, cujo semblante estava radiante e o coração, iluminado. Nós a escolhemos para se tornar a esposa do Supremo Ramo.' Exceção feita a esta conversa, proferida pelos lábios da Abençoada Perfeição, nada mais ouvi."

Quando minha tia voltou para casa e me viu, ela declarou, pelo Deus Uno, que no mesmo momento em que Siyyid Mihdí estava nos relatando o sonho de Bahá'u'lláh, ocorreu-lhe que, inquestionavelmente, eu era essa moça, e logo descobriríamos que ela estava certa. Eu chorei e respondi: "Longe de mim, pois não sou digna de tal generosidade. Suplico-lhe que jamais mencione novamente este assunto; que guarde silêncio a respeito."

Munírih Khánum continua a história de como viajou à Terra Santa seguindo as sucessivas instruções de Bahá'u'lláh aos seus parentes. No caminho, encontraram muitos amigos que tentaram impedi-los de viajar à Terra Santa, dizendo que nessa época não é permitido a ninguém ir a 'Akká porque alguns acontecimentos infelizes resultaram em novo encarceramento dos amigos e as autoridades não permitem que Bahá'í algum entre na cidade de 'Akká. "Estas notícias nos perturbaram imensamente e não sabíamos o que fazer, mas Shaykh Salmán assegurou-nos que essas condições não se aplicavam a nós e nos fez sentir confiantes de que chegaríamos à Terra Santa com a maior tranqüilidade, mesmo que todos os crentes fossem presos e acorrentados." Após muitas provações e dificuldades pelo caminho, finalmente chegaram a 'Akká.

"... membros da Abençoada Família vieram nos visitar e nos dar as boas-vindas. Eu voltei com eles e pela primeira vez me encontrei na presença da Abençoada Perfeição. O estado de êxtase e arrebatamento que se apossou de mim transcende qualquer descrição. Estas foram as primeiras palavras de Bahá'u'lláh: 'Nós a trouxemos para o interior da Prisão num tempo em que a porta do encontro está fechada a todos os crentes. E isto não é por nenhuma outra razão senão mostrar a todos o Poder e a Potência de Deus.' Eu continuei morando na casa de Kalím por quase cinco meses. Visitava Bahá'u'lláh muitas vezes e depois retornava à minha casa. Sempre que Kalím retornava de sua visita à Abençoada Perfeição ele me contava sobre Sua infinita generosidade e me trazia algum presente de Sua parte. Um dia ele chegou com uma grande alegria estampada na face e disse: 'Eu trouxe o mais maravilhoso presente para você. É que um novo nome lhe foi concedido e este nome é Munírih (Iluminada).'

"Então, a noite da união... chegou. Eu estava vestida com uma roupa branca que me havia sido preparada pela Folha Mais Sagrada e era mais preciosa do que as sedas e veludos do Paraíso. Por volta das nove horas... foi-me permitido chegar à presença de Bahá'u'lláh. Acompanhada pela Folha Mais Sagrada, eu ouvi as palavras da Abençoada Perfeição... Ele disse: 'Sê bem-vinda! Sê bem-vinda! Ó tu Minha abençoada folha e serva. Nós te escolhemos e aceitamos para seres a companheira do Supremo Ramo e O servires. Isto provém da Minha Bondade sem igual; os tesouros da terra e do céu não se lhe podem comparar. Deves ser muito grata, pois tu atingiste este mais grandioso favor e concessão... Que estejas sempre sob a proteção de Deus!' "7

A respeito de sua associação com 'Abdu'l-Bahá, Munírih Khánum escreve:

Fosse eu escrever os detalhes dos meus cinqüenta anos de união com o Bem-Amado do mundo, de Seu amor, Sua misericórdia e generosidade, precisaria de mais cinqüenta anos de tempo e oportunidade para escrevê-los; no entanto, se os mares do mundo fossem transformados em tinta e as folhas da floresta em papel, eu não renderia adequada justiça a isso.8

Mirza Nasru'lláh-i-Tafrishí

Residia na Pérsia, onde era bem conhecido e uma pessoa de recursos, conforme se deduz dos textos que serão apresentados a seguir. Aparece na foto pelo fato de ter ido a Adrianópolis, em 1867, para, junto com um filho e seu irmão, Mirza Ridá-Qulí, buscar sua irmã, Badrí-Ján, uma das esposas de Mirza Yahyá, que o abandonara quando ele abertamente tornou-se um rompedor do Convênio, buscando asilo na casa de um irmão fiel de Bahá'u'lláh.

Porém, Mirza Nasru'lláh-i-Tafrishí faleceu em Adrianó-polis, e seu irmão não pôde deixar a cidade, acabando por ser incluído no grupo de seguidores de Bahá'u'lláh que foram exilados para 'Akká, em companhia da irmã e do sobrinho, filho de Nasru'lláh.

Tais referências são feitas em conexão com um crente também nascido em Tafrish, que ficou bem conhecido na história da Fé, de nome Áqá 'Azim-i-Tafrishí, sobre quem 'Abdu'l-Bahá escreveu em Memorials of the Faithful, e o Sr. Adib Taherzadeh o menciona no volume III da série The Revelation of Bahá'u'lláh, como segue:

Quando Bahá'u'lláh chegou a 'Akká não havia uma fonte de água potável na cidade. Havia um poço, distante cerca de dez minutos a pé, do qual muitas pessoas em 'Akká obtinham a água que usavam em suas casas. De lá, também, os amigos levavam água para Bahá'u'lláh e Seus companheiros na fortaleza-prisão. Mas a água tinha um gosto muito desagradável.

Havia um crente em particular, Áqa 'Azím-i-Tafrishí, que servia a Bahá'u'lláh e Seus companheiros levando água tirada daquele poço para a prisão. Era uma tarefa difícil, pois ele tinha de fazer várias viagens ao poço, levando a água em um saco de couro, nas costas, para os amigos em 'Akká. Mais tarde, conseguiu água com um gosto melhor nas fontes de Kabrí, situada na direção de Bahjí, a meia hora de distância, a pé, de 'Akká.

Áqá 'Azím foi um devotado crente que estivera pela primeira vez na presença de Bahá'u'lláh em Bagdá, recebendo Suas bênçãos e favores. Depois de algum tempo voltou à Pérsia, trabalhando para alguns amigos. Lá, trabalhou como servo no lar de Mirza Nasru'lláh-i-Tafrishí, e quando este, com seu filho e um irmão, foram para Adrianópolis, Áqá 'Azím foi junto também. Mirza Nasru'lláh, que era irmão de Badrí-Ján, uma das esposas de Mirza Yahyá, faleceu em Adrianópolis. Entretanto, 'Azím permaneceu nessa cidade a serviço de Mirza Ridá-Qulí e seu sobrinho.

A principal razão para a viagem do grupo a Adrianó-polis foi o fato de a irmã ter deixado o marido, Mirza Yahyá, e buscado refúgio na casa de Jináb-i-Kalím, um fiel irmão de Bahá'u'lláh. Diante das circunstâncias, os dois irmãos foram chamados a Adrianópolis para levar a irmã de volta à Pérsia. Mas logo após a morte de Mirza Nasru'lláh, Bahá'u'lláh e Seus companheiros foram exilados para 'Akká. Badrí-Ján, seu irmão Ridá-Qulí e seu sobrinho, juntamente com Áqá 'Azím, foram incluídos no grupo dos que acompanharam Bahá'u'lláh.

Mais tarde, em 'Akká, Ridá-Qulí e sua irmã uniram-se a Siyyid Muhammad-i-Isfahání, o anti-Cristo da Revelação de Bahá'u'lláh, sendo expulsos da comunidade por Bahá'u'lláh. ...

Quanto a Áqá 'Azím, tão logo descobriu os sinais de infidelidade de seu mestre contra Bahá'u'lláh, imediatamente dissociou-se dele, continuando a servir a Bahá'u'lláh com devoção e abnegação. Por sua sinceridade, fé e serviços, alcançou o beneplácito de seu Senhor, que continuou a derramar sobre ele Suas bênçãos até o final de sua vida.

Em Memorials of the Faithful (Recordações dos Fiéis), 'Abdu'l-Bahá escreve o seguinte sobre Áqá 'Azim, inclusive mencionando seus serviços a Mirza Nasru'lláh-i-Tafrishí:

Este homem de Deus veio do distrito de Tafrish. Era desapegado ao mundo, destemido, independente de parentes ou estranhos. Foi um dos primeiros crentes e pertencia à companhia dos fiéis. Foi na Pérsia que teve a honra de receber a fé, começando a servir aos amigos. Servia a todos e era um ajudante de confiança de todos os viajantes que visitavam sua cidade. Com Músáy-i-Qumí, com ele esteja a glória de Deus, foi ao Iraque, recebendo sua porção de luz da Luz do Mundo, tendo tido a honra de entrar na presença de Bahá'u'lláh, servindo-O e tornando-se objeto de bênçãos e graças de seu Senhor.

Depois de algum tempo, 'Azim e Hájí Mirza Músa voltaram à Pérsia, onde ele continuou a servir aos amigos, inteiramente por amor a Deus. Não desejando receber salário ou qualquer forma de estipêndio por seus serviços, trabalhou no lar de Mirza Nasru'lláh-i-Tafrishí durante muitos anos, sua fé e certeza crescendo cada vez mais. Mirza Nasru'lláh deixou a Pérsia para ir a Adrianópolis, e com ele foi também Jináb-i-'Azím, chegando novamente à presença de Bahá'u'lláh. Continuou a servir, sem nenhum interesse pessoal, com lealdade e amor. Quando o grupo de exilados partiu para 'Akká, 'Azím recebeu a distinção de estar entre eles.

Na prisão, foi escolhido para servir a companhia dos crentes; transportava água para os amigos. Teve também outras tarefas muito difíceis para cumprir na prisão. Não descansava nunca, trabalhando dia e noite. 'Azím - "o grande, o magnificente" - possuía um caráter realmente magnificente. Era paciente, suportava os sofrimentos sem jamais reclamar, perdoava, e evitava as coisas ruins do mundo. E como era o carregador de água oficial da família, tinha o privilégio de estar na presença de Bahá'u'lláh todos os dias.

Foi sempre um grande companheiro dos amigos, um consolo para seus corações, trazendo felicidade a todos, presentes ou não. Muitas e muitas vezes ouviu-se Bahá'u'lláh expressar Sua aprovação a este homem. Manteve inabalável sua fidelidade, sempre constante e jamais sujeito a mudanças. Era uma alegria para todos olhar para seu semblante de felicidade. Não sabia o que era fadiga. Jamais falhou com alguém. Sempre que recebia algum pedido, atendia imediatamente. Firme e dedicado à Fé, uma verdadeira árvore que cresceu forte nos jardins dos cuidados de Deus.

Após ter servido à família de Bahá'u'lláh por longos anos, partiu de repente, tranqüilo, sereno, feliz com as graças do Reino, deixando este mundo de vida passageira para o mundo da vida eterna. Os amigos, todos, lamentaram seu passamento, mas a Abençoada Beleza tranqüilizou seus corações ao derramar com abundância Suas graças e louvores àquele que recém partira.

Bênçãos do Reino da compaixão divina estejam com 'Azím; que a Glória de Deus esteja com ele, do nascer ao pôr-do-sol.

Mullá Muhammad-i-Zarandí (Nabíl-i-A'zam)

Ainda outro daqueles que emigraram de sua terra natal para estar próximo de Bahá'u'lláh foi o grande Nabíl.* Na flor da juventude despediu-se da sua família em Zarand e, com a ajuda divina, começou a ensinar a Fé. Tornou-se um dos líderes do exército de amantes em busca de seu Bem-Amado e, nessa busca, deixou a Pérsia dirigindo-se à Mesopotâmia, mas não encontrou Aquele que procurava, pois o Bem-Amado encontrava-Se na época no Kurdistão, vivendo em uma caverna em Sar-Galú, inteiramente sozinho no deserto, sem um companheiro, um amigo, ou alma alguma para ouvi-Lo. Comungava com a beleza entesourada em Seu próprio coração. Foram cortadas todas as notícias sobre Ele. O Iraque estava eclipsado e em lamentos.

*Nabíl, autor do livro Os Rompedores da Alvorada, é, de Bahá´u´lláh, o "Poeta Laureado, Seu cronista e Seu infatigável discípulo" (citado por Shoghi Effendi, A Presença de Deus, 1981, p. 190).

Quando Nabíl descobriu que a chama que fora acesa e crescia em Bagdá estava definhando, que os crentes eram poucos, que Yahyᆠhavia se escondido em um local secreto, onde permanecia em torpor e inércia, e que um vento gelado soprava sobre todos - ele se viu obrigado a deixar a cidade, lamentando muito, dirigindo-se a Karbilá. Lá permaneceu até que a Abençoada Beleza retornasse do Kurdistão, voltando a Bagdá.

†Mirza Yahyá foi "nomeado centro provisório [da comunidade Bábí] até a manifestação do Prometido..." (citado por Shoghi Effendi, A Presença de Deus, 1981, p.186).

Depois de Seu regresso a Bagdá iniciou-se um tempo de alegria geral, todos os crentes felizes, reavivados, e do país inteiro começaram a surgir os visitantes. Nabíl foi um deles, que se apressou a chegar à presença de Bahá'u'lláh, tornando-se o recipiente de grandes bênçãos. Agora, passava seus dias em grande felicidade, escrevendo odes para celebrar os louvores de seu Senhor. Era um talentoso poeta, e sua língua muito eloqüente; um homem de muito vigor e ardente em seu amor apaixonado.

Depois de algum tempo retornou a Karbilá, regressando logo a Bagdá, e desta cidade dirigiu-se à Pérsia. Pelo fato de ter se associado a Siyyid Muhammad, foi levado ao erro, sentindo-se muito aflito, com várias provações a vencer. Mas como as estrelas cadentes, tornou-se um míssil que acabou por completo com todas as imaginações satânicas,* repudiando os maldosos instigadores, e regressou a Bagdá, onde encontrou repouso à sombra da Árvore Sagrada. Foi então enviado a Karmansháh, voltando mais uma vez a Bagdá. Em todas as viagens tinha missões específicas, prestando sempre grandes serviços à Fé.

*Referência ao simbolismo islâmico, de acordo com o qual o bem é protegido do mal: os anjos repelem os maus espíritos que tentam espiar o que estaria acontecendo no Paraíso, jogando estrelas cadentes sobre eles. Conforme o Alcorão, 15:18, 37:10 e 67:5.

Chegou o tempo de Bahá'u'lláh deixar Bagdá, "A Morada da Paz", com Sua família e alguns discípulos, com destino a Constantinopla, a "Cidade do Islã". Após a partida de Bahá'u'lláh, Nabíl vestiu um traje de dervixe, partindo a pé atrás da caravana para juntar-se à mesma no caminho. Em Constantinopla, foi-lhe determinado ir à Pérsia para ensinar a Causa de Deus, e também para viajar por todo o país contatando os crentes nas cidades e nos vilarejos a fim de informar os amigos sobre tudo o que havia acontecido com Bahá'u'lláh. Quando essa missão foi cumprida e os tambores do "Não sou Eu teu Senhor?" rufavam fortemente - pois estávamos no "ano oito"* - Nabíl apressou-se rumo a Adrianópolis, gritando pelo caminho: "Sim, verdadeiramente Tu és! Sim, verdadeiramente!" e "Senhor, Senhor, estou aqui!".

*Referência ao advento da Declaração de Bahá´u´lláh em 1863 como o Prometido do Báb. O advento do próprio Báb ocorreu no "ano sessenta" - 1844.

Ele chegou à presença de Bahá'u'lláh e sorveu do vinho tinto da submissão e homenagem. Foram-lhe dadas, então, algumas ordens especiais para viajar para várias partes e, em todas as regiões, levantar o chamado de que Deus já Se havia manifestado, e espalhar as boas-novas de que o Sol da Verdade havia surgido. Ele estava, verdadeiramente, ardendo com o fogo do amor de Deus e nada o detinha. Com grande fervor, caminhou de país a país, levando a melhor das mensagens e reavivando corações. Flamejante como uma tocha acesa, iluminava todos com quem falava, era a estrela de todas as reuniões das quais participava. A todos que dele se aproximavam, oferecia o cálice do vinho da Verdade, que os inebriava. Viajou o máximo que pôde e, finalmente, chegou à fortaleza de 'Akká.

Naqueles dias, as restrições eram excepcionalmente severas. Os portões estavam trancados, as estradas fechadas. Vestindo um disfarce, Nabíl chegou às portas de 'Akká. Siyyid Muhammad e seus maldosos cúmplices, que o reconheceram, imediatamente procuraram as autoridades para informar sobre quem era o recém-chegado. "Ele é persa" - disseram, "não é, como parece, um nativo de Bukhárá. Veio aqui para buscar notícias de Bahá'u'lláh." As autoridades o expulsaram imediatamente.

Nabíl, desesperado, retirou-se para a cidade de Safad. Mais tarde, foi a Haifa, onde fez sua residência em uma caverna no Monte Carmelo. Lá viveu longe de amigos e estranhos igualmente, lamentando-se noite e dia, gemendo e entoando orações. Nesse local, permaneceu como recluso, esperando que as portas se abrissem. Quando veio o tempo predestinado para o fim do cativeiro, e os portões da cidade foram abertos, Bahá'u'lláh apareceu em público com beleza, majestade e glória. Nabíl apressou-se ao Seu encontro com o coração radiante de alegria. Então, passou a ser como uma vela incandescente que queimava inteiramente com o amor de Deus. Dia e noite ele cantou louvores ao Bem-Amado de todos os mundos e àqueles que estavam em Seu Limiar, escrevendo versos usando os formatos de pentagramas e hexagramas, compondo lindas letras e longas odes. Quase que diariamente era admitido à presença do Manifestante.*

*Os escritos bahá´ís enfatizam que a "divindade atribuída a tão grande Ser e a encarnação completa dos nomes e atributos de Deus em tão excelsa Pessoa não deve, sob circunstância alguma, ser mal entendida ou mal interpretada... que Deus, invisível mas racional... no entanto, por mais que exaltemos a divindade de Seu Manifestante na terra, jamais poderá Ele encarnar Sua infinita, incognoscível, incorruptível e toda-abrangente Realidade em... um ser mortal." (Shoghi Effendi, A Dispensação de Bahá´u´lláh)

Assim continuou até o dia em que Bahá'u'lláh ascendeu deste plano de vida. Naquela aflição suprema, diante daquela calamidade indescritível, Nabíl chorava e tremia, e clamava aos Céus. Descobriu que o valor numérico da palavra "shidáh" - ano de tensão - era 309, e assim ficou evidente que Bahá'u'lláh havia predito o que estaria agora ocorrendo.†

†De acordo com o cálculo abjad, as letras de "shidáh" somam 309. O ano 1892, a data da Ascensão de Bahá´u´lláh, corresponde ano 1309 da era muçulmana.

Totalmente arrasado, desesperado pela separação de Bahá'u'lláh, em febre e derramando lágrimas, Nabíl ficou em tal estado de angústia que qualquer pessoa que o via ficava realmente atônita. Ele lutou para superar tudo isso, mas seu único desejo era morrer. Não podia sofrer mais, a saudade ardia em seu peito; não podia suportar tal fogo que extinguia seu coração. E assim tornou-se rei das cortes do amor: adentrou o mar para em suas águas se afogar.

Antes daquele dia, quando deixou voluntariamente a vida, escreveu o ano de sua morte em uma palavra: "afogado".* Então partiu para seu Bem-Amado, libertando-se de seu desespero e não mais precisando esconder-se.

*"Ghariq" - as letras que compõem essa palavra somam 1310; o início do ano 1310 A.H. corresponde a 26 de julho de 1892.

Este homem de incomparável distinção era um erudito, sábio e eloqüente ao falar. Sua genialidade inata era inspiração pura, seu dom poético como um córrego cristalino. Em toda a sua vida, desde a juventude até a velhice, passou seu tempo servindo e adorando ao Senhor. Passou por incontáveis dificuldades, viveu sempre em desdita, sofreu muitas aflições. Mas dos lábios do Manifestante ouviu coisas maravilhosas. Recebeu as luzes do Paraíso; conseguiu o que mais desejava. E, por fim, quando a Luz do mundo se pôs, ele não pôde suportar mais, atirando-se ao mar. As águas do sacrifício fecharam-se sobre ele; foi afogado e, finalmente, alcançou a presença do Mais Elevado.

Sobre ele, sempre, sejam derramadas as mais abundantes bênçãos; sobre ele, também, as mais misericordiosas graças. Possa ele alcançar a grande vitória e conquistar a graça manifesta no Reino de Deus.

Nenhum relato da Revelação de Bahá'u'lláh seria completo sem referência a Mullá Muhammad-i-Zarandí, intitulado Nabíl-i-A'zam, um dos Seus mais destacados Apóstolos que desempenhou um papel importante na propagação de Sua Mensagem e na disseminação de Suas palavras. Ele é imortalizado pelas suas detalhadas narrativas, uma parte das quais, Os Rompedores da Alvorada, que trata principalmente da história do Báb, foi traduzido para o inglês por Shoghi Effendi, o Guardião da Fé. A outra parte, que trata do ministério de Bahá'u'lláh, permanece não publicada.

Em sua juventude, Nabíl era pastor de ovelhas. Ele tinha um grande amor pela natureza e freqüentemente passava a noite deitado no chão, contemplando as estrelas e em comunhão solitária com seu Criador. Enquanto seguia seu rebanho pelos campos, entoava os versículos do Alcorão e orava a Deus para capacitá-lo a encontrar a verdade no decorrer da sua vida.

Certo dia, em 1847, ele casualmente ouviu dois homens contando a história do Báb. Seu coração ficou imediatamente atraído pela nova Mensagem e logo em seguida entrou em contato com um crente que lhe ensinou a Fé. Ele se tornou um fervoroso seguidor do Báb e, apesar dos muitos obstáculos que se colocaram no seu caminho, permaneceu ativo na promoção de Sua Mensagem.

Seu primeiro encontro com Bahá'u'lláh ocorreu em Teerã, por volta de 1850. Nessa época, no entanto, Nabíl não percebeu a grandiosidade de Sua posição. Mais tarde, quando a comunidade Bábí parecia sem liderança, e os crentes, acabrunhados e confusos, Nabíl, em seu estado de ilusão, clamou ser "Aquele que Deus tornará manifesto" e divulgou alguns dos seus próprios escritos entre os Bábís. Depois, foi a Bagdá e chegou à presença de Bahá'u'lláh. Desta vez seus olhos interiores contemplaram a glória de Sua Revelação e sua alma foi vivificada pelo Seu poderoso Espírito. Prostrou-se aos Seus pés e implorou perdão pela sua presunção. Como um ato de penitência e, para demonstrar a medida de sua humildade diante de Bahá'u'lláh, ele cortou sua barba que, naquela época, era um símbolo da dignidade de um homem, com ela fez uma vassoura e varreu a entrada da casa de Bahá'u'lláh.

Animado por um ardente desejo de servir a Bahá'u'lláh e fortalecido pela Sua infalível graça, Nabíl pôde prestar notáveis serviços à Sua Causa. A lealdade e devoção que Lhe dedicava eram exemplares. Ele se destaca entre os companheiros de Bahá'u'lláh como aquele dominado por um amor ardente em relação a Ele. Os que com ele mantinham contato não podiam deixar de perceber o fogo que lhe ardia na alma, tão intenso era esse amor.

Nabíl era um talentoso poeta, um gênio inspirado que escrevia com grande fluência. Algumas de suas narrativas são efetivamente compostas em versos. Tais poemas revelam a intensidade de sua fé e o ardor de seu amor.

Bahá'u'lláh enviou-o a muitas missões importantes na Pérsia. Nessas viagens, aonde quer que fosse, compartilhava as notícias sobre Bahá'u'lláh e inspirava os crentes a se levantarem e Lhe servirem. Quando Bahá'u'lláh deixou Bagdá para ir a Constantinopla, Nabíl não conseguiu ficar para trás. Disfarçado com roupas de dervixe, seguiu o caminho de Constantinopla a pé e durante a viagem, sem ser reconhecido, reuniu-se ao grupo de Bahá'u'lláh. De Constantinopla, Bahá'u'lláh enviou-o à Pérsia para ensinar e difundir as novas da Causa. Da Pérsia, seguiu para Adrianópolis, palco da proclamação da Mensagem de Bahá'u'lláh. Bahá'u'lláh novamente mandou-o à Pérsia para disseminar Seus Escritos e ajudar os crentes a apreciarem o significado de Sua Revelação. Com grande zelo e entusiasmo, ele viajava a todos os cantos e ajudava no estabelecimento das bases de uma comunidade Bahá'í em crescimento, ao contrário do ínfimo número daqueles que, em sua cegueira, seguiram Mirza Yahyá. Esta última comunidade, conhecida como os Azalís, foi, nos anos seguintes, condenada à insignificância e esquecimento. Também foi neste período que a palavra "bahá'í", designando os seguidores de Bahá'u'lláh, veio a substituir o termo " Bábí".

Outra missão confiada por Bahá'u'lláh a Nabíl, após essa viagem, foi a de seguir para o Egito para apelar ao Quediva* em defesa de sete companheiros crentes que haviam sido encarcerados por instigação de um dos inimigos da Fé, o Cônsul-Geral da Pérsia naquele país. Logo após sua chegada, no entanto, o próprio Nabíl também foi aprisionado em Alexandria. Lá, entrou em contato com Fáris Effendi, um médico e clérigo cristão que também estava preso. Nabíl ensinou-lhe a Fé e Fáris Effendi tornou-se um profundo e dedicado crente, provavelmente o primeiro cristão a se converter.

*Título oficial do governador do Egito durante a soberania turca nesse país. (n.t.)

Quando Bahá'u'lláh foi exilado em 'Akká, o navio em que Ele viajava fez uma parada em Alexandria, bem próximo à prisão. Por uma estranha coincidência, Nabíl foi informado do fato. Ele e Fáris Effendi enviaram uma carta a Bahá'u'lláh no navio, informando-O a respeito de sua condição. Bahá'u'lláh enviou uma Epístola em resposta, expressando Seu prazer em receber sua carta e assegurando-lhes Sua amorosa misericórdia. Escreveu palavras especiais de encorajamento a Fáris Effendi, o qual havia declarado Bahá'u'lláh como seu glorioso Senhor, implorando que pudesse ser aceito como um de Seus devotados servos.

Algum tempo depois, Nabíl pôde deixar o Egito. Viajou para a Terra Santa e, disfarçado, chegou até o portão de 'Akká, mas os inimigos de Bahá'u'lláh o reconheceram e o denunciaram às autoridades, as quais o expulsaram da cidade. Em seguida, viveu em diversos lugares da Terra Santa e, por algum tempo, numa caverna no Monte Carmelo. Passava os dias em oração e súplica, ansiando pelo dia em que pudesse novamente atingir a presença de seu Senhor. Finalmente, suas preces foram respondidas, as portas da prisão foram escancaradas para os crentes e Nabíl chegou à presença de Bahá'u'lláh com imensa alegria. Esse foi um momento de vitória para ele. Passou o resto de seus dias em 'Akká e muitas vezes teve o privilégio de chegar à presença de Bahá'u'lláh. Foi em 1887 que começou a importante tarefa de escrever suas narrativas, cujo prefácio ele inicia com as seguintes palavras:

É minha intenção, pela ajuda e assistência de Deus, dedicar as páginas introdutórias desta narrativa ao relato daquilo a que eu pude ter acesso a respeito daquelas grandes luzes gêmeas, Shaykh Ahmad-i-Ahsá'í e Siyyid Kázim-i-Rashtí, após o que espero poder relatar, em sua ordem cronológica, os principais acontecimentos que ocorreram desde o ano 60,* ano que testemunhou a declaração da Fé pelo Báb, até a presente data, o ano de 1305 A.H.†

*1260 A.H. (1844 d.C.)
†1887-8 d.C.

Em certos casos entrarei em alguns detalhes; em outros me contentarei com um breve sumário dos acontecimentos. Registrarei uma descrição dos episódios que eu mesmo testemunhei, bem como daqueles que me foram contados por informantes fidedignos e reconhecidos, cujos nomes e posição especificarei em cada caso. Aqueles a quem estou principalmente agradecido são: Mirza Ahmad-i-Qazvíní, o amanuense do Báb; Siyyid Ismá'íl-i-Dhabíh; Shaykh Hasan-i-Zunúzí; Shaykh Abú-Turáb-i-Qazvíní; e, finalmente, mas não menos importante, Mirza Músá, Áqáy-i-Kalím, irmão de Bahá'u'lláh.

Rendo louvores a Deus por me haver auxiliado na tarefa de escrever estas páginas iniciais, e por tê-las abençoado e honrado com a aprovação de Bahá'u'lláh, que graciosamente Se dignou considerá-las e, por intermédio de Seu amanuense, Mirza Áqá Ján, que as leu para Ele, expressou Seu agrado e aceitação. Suplico que o Todo-Poderoso possa me apoiar e guiar, para que eu não erre e falhe na tarefa que me propus a cumprir.

Quando Bahá'u'lláh faleceu, Nabíl ficou inconsolável. Não podia viver sem seu Amado. O fogo do amor que tão impetuosamente e por tanto tempo nele ardera, agora o engolfara e estava prestes a consumi-lo com a chama do sacrifício. Por algum tempo, ele tentou, com todas as suas forças, superar a dificuldade, mas isso se tornou cada vez mais difícil e, finalmente, incapaz de conter o oceano de amor que se agitava no interior de sua alma, deu fim à sua vida, afogando-se no mar. Era verdadeiramente um amante da Abençoada Beleza. Deixou um bilhete, prestando homenagem a 'Abdu'l-Bahá, escrevendo a data de sua morte numa única palavra árabe, "Gharíq" (afogado). O valor numérico desta palavra é 1310 A.H. (1892-3 d.C.)

Uma de suas últimas contribuições foi escrever um relato a respeito do passamento de Bahá'u'lláh, um texto que comove o coração. Além disso, ele foi escolhido por 'Abdu'l-Bahá para que selecionasse, dos Escritos de Bahá'u'lláh, aquelas passagens que hoje constituem o texto da Epístola da Visitação.* Esta Epístola é recitada no Sacratíssimo Sepulcro† e no Santuário do Báb, e para a celebração da ascensão de Bahá'u'lláh e do martírio do Báb. É uma Epístola única, usada pelos Bahá'ís de todo o mundo nessas e em outras ocasiões apropriadas.

*Os quatro primeiros parágrafos desta Epístola (Orações e Meditações Bahá'ís, Editora Bahá'í do Brasil, 2000, p. 248) foram extraídos de uma Epístola de Bahá'u'lláh a um de Seus seguidores, Áqá Bábá; os parágrafos cinco e seis são de outra Epístola revelada a um indivíduo Bahá'í que não fui capaz de identificar, e o último parágrafo de uma Epístola de Bahá'u'lláh a Khadíjih Bagum, a esposa do Báb.

†O Santuário de Bahá'u'lláh em Bahjí.

A contribuição de Nabíl às histórias Bábí e Bahá'í é enorme em sua amplitude. Os crentes estimam que suas narrativas já publicadas não somente possuem um cunho informativo, mas são também uma fonte de inspiração e aprofundamento na Fé. Ele legou para a posteridade um tesouro que o passar do tempo jamais destruirá e do qual gerações ainda por vir obterão suas próprias colheitas de conhecimento e inspiração.

Áqá Husayn-i-Isfahání (Mishkín-Qalam)

Entre os exilados, vizinhos e prisioneiros havia também um segundo Mír 'Imád,* o eminente calígrafo, Mishkín-Qalam.† Ele utilizava para seu trabalho uma pena perfumada de almíscar e seu semblante irradiava fé. Era reconhecido como um dos místicos mais destacados, possuindo uma mente aguçada e sutil. A fama deste peregrino espiritual atingia a todas as terras. Era um dos melhores calígrafos da Pérsia, bem conhecido e respeitado entre todos eles. Gozava de uma posição especial entre os ministros da corte em Teerã, usufruindo uma condição de vida bem estável pela qualidade de seu trabalho.‡ Era famoso em toda a Ásia Menor; sua pena era o deslumbramento de todos os calígrafos, pois conhecia e utilizava todos os estilos de caligrafia. Era, além disso, um astrônomo competente.

*Um famoso calígrafo que viveu e trabalhou na corte do Xá 'Abbás, o Safaví, 1557-1628. (O.M.)

†Mishk significa "almíscar". Mishkín-Qalam significa tanto a pena com perfume de almíscar como a pena com tinta preta.

‡Em algumas das produções desse artista, os Escritos eram arranjados para terem a forma de um pássaro. Quando Edward G. Browne estava na Pérsia, foi-lhe dito que "tais escritos seriam ansiosamente buscados pelos persas de todas as classes se não tivessem, como assinatura do homem que os desenhou, o seguinte verso:

Dar díyár-i-khatt shá-i-sáhib-álam
Bandiy-i- Báb-i-Bahá". ( Mishkín-Qalam)
O verso em questão pode ser traduzido como segue:

"Ao Senhor da caligrafia, meu estandarte vem antes,

Mas para Bahá´u´lláh, um servo à porta, nada mais eu sou." (Citado em: A Year Amongst the Persians, p. 227)

Este homem, que tinha a seu dispor todas as regalias da vida, veio a conhecer a Causa de Deus em Isfahán e logo se dirigiu ao encontro de Bahá'u'lláh. Percorreu grandes distâncias, subindo montanhas, cruzando desertos, atravessando o mar, até que, finalmente, chegou a Adrianópolis, em cuja cidade alcançou as alturas da fé e da convicção. Aqui, sorveu o vinho da certeza. Respondeu ao chamado de Deus e atingiu a presença de Bahá'u'lláh, ascendendo ao apogeu onde foi recebido e aceito.

Agora, deslumbrado pela graça recebida, caminhava de um lado para outro, inebriado com seu amor a Deus e, devido ao seu intenso desejo e anseio, sua mente parecia divagar. Levantava-se e caia novamente; mostrava-se distraído. Passou algum tempo sob a proteção direta de Bahá'u'lláh e a cada dia recebia novas bênçãos de seu Senhor.

Enquanto isso, produzia seus esplêndidos trabalhos de caligrafia. Escreveria o Máximo Nome - Yá Bahá'u'l-Abhá - Ó Tu, Glória do Todo-Glorioso (hoje conhecido e utilizado mundialmente pelos Bahá'ís), com extraordinária habilidade, de diferentes formas, e enviaria a todas as partes.

O DISCÍPULO FIEL

Foi então instruído a fazer uma viagem a Constantinopla, partindo com Jináb-i-Sayyáb. Quando chegaram à Grande Cidade, os líderes persas e turcos receberam-no com grande honra no início, deslumbrados com sua arte de calígrafo. Ele, porém, começou a ensinar a Fé de forma eloqüente e corajosa. O embaixador persa observava tudo disfarçadamente, até que o denunciou aos vizires do Sultão, com difamações. "Esse homem é um agitador", disse-lhes o embaixador, "foi enviado para cá por Bahá'u'lláh para criar confusão e promover desordens nesta cidade. Ele já conquistou a adesão de muitos e sua intenção é atrair ainda muitos mais. Esses Bahá'ís viraram a Pérsia de cabeça para baixo, e agora querem fazer o mesmo aqui na capital da Turquia. O governo persa já acabou com vinte mil deles, esperando com essa tática apagar o fogo da sedição. Vocês devem ser alertados para o perigo que eles representam; senão, logo essa coisa perversa estará proliferando por aqui também. Seu fogo consumirá tudo o que vocês realizaram e irá queimar o mundo inteiro. Então, nada mais poderão fazer, pois será muito tarde."

Na verdade, aquele homem humilde e submisso, na cidade que é o trono da Ásia Menor, ocupava-se unicamente com sua caligrafia e com adoração a Deus. Não buscava criar confusão alguma, senão amizade e paz. Queria reconciliar os seguidores de diferentes crenças, não levá-los a uma separação ainda maior. Buscava servir a estranhos e ajudava a educar os nativos. Era um refúgio para os desafortunados, uma fonte de conforto para os pobres. Convidava todos para a unidade da humanidade, condenando todas as formas de hostilidade e malícia.

O embaixador persa, porém, possuía muito poder e mantinha estreito contato com os ministros já havia muito tempo. Conseguiu convencer muitas pessoas a se imiscuírem em diferentes reuniões e nelas levantar acusações contra os crentes. Instigados pelos opressores, espiões começaram a conviver com os companheiros de Mishkín-Qalam. Então, conforme instruções que haviam recebido do embaixador, deram relatos pessoais ao Primeiro-Ministro, afirmando que o indivíduo em questão era realmente um criador de problemas, um rebelde e criminoso. O resultado foi que Mishkín-Qalam acabou sendo preso e enviado para Galípoli, onde veio juntar-se à nossa companhia de vítimas.

Mandaram-no para a ilha de Chipre e nosso grupo para a prisão de 'Akká. Em Chipre, Jináb-i-Mishkín foi mantido prisioneiro na fortaleza de Famagusta e nessa cidade permaneceu, cativo, por nove anos.

Quando Chipre foi libertado das mãos do Império Turco, Mishkín-Qalam foi solto, dirigindo-se para a terra onde vivia seu Bem-Amado, 'Akká, e aqui permaneceu envolvido pela graça de Bahá'u'lláh, produzindo suas maravilhosas caligrafias. Era uma pessoa sempre alegre, de espírito vivo e iluminado com o amor de Deus, como uma vela que vai queimando aos poucos sua vida. Foi sempre um exemplo e conforto para seus companheiros.

Após a ascensão de Bahá'u'lláh, Mishkín-Qalam permaneceu leal e solidamente firme no Convênio. Manteve-se inabalável diante dos violadores como uma espada empunhada, pronta a reagir a qualquer ataque. Jamais compactuou com eles, nada temendo senão a Deus. Jamais titubeou. Nunca falhou em seu serviço à Fé.

Algum tempo após a ascensão, fez uma viagem à Índia, onde buscou a companhia dos seguidores da Verdade. Ficou algum tempo lá, e diariamente ensinava e servia à Causa. Quando eu soube que ele estava ficando sem recursos, mandei buscá-lo de volta a esta Maior Prisão para alegria de todos os crentes, que se sentiram felizes ao tê-lo de volta novamente. Foi sempre meu íntimo companheiro. Possuía um amor extraordinário e intenso. Era um compêndio de perfeições: crente fiel, de confiança, sereno, desapegado do mundo, companheiro inigualável, inteligente - e seu caráter era como um jardim cheio de flores. Por amor a Deus, não se importava com as coisas boas da vida; fechava os olhos ao sucesso, não buscava conforto ou descanso, não se interessava pelas riquezas - queria unicamente estar livre dos apegos deste mundo. Não tinha ligação com esta vida, mas passava seus dias e noites em súplicas e em comunhão com Deus.

Estava sempre sorrindo, animado; era a personificação do espírito, a incorporação do amor. Não havia quem o igualasse em sinceridade e lealdade, nem em paciência e calma interior. Era o desapego vivo, vivendo dos sopros do espírito.

Se ele não tivesse o intenso amor que nutria por Bahá'u'lláh, se não tivesse voltado seu coração inteiramente para o Reino da Glória, poderia ter todos os prazeres e riquezas do mundo. Aonde quer que fosse, seus inúmeros estilos de caligrafia eram seu grande capital, e suas grandes realizações traziam-lhe a atenção, admiração e respeito de todos, ricos e pobres. Mas estava perdidamente enamorado pelo único e verdadeiro Amor e, assim, libertara-se de todos os outros laços mundanos, podendo subir e flutuar no espaço infinito do espírito.

Finalmente, quando eu me encontrava ausente, ele deixou este mundo obscuro e estreito, partindo para a terra das luzes celestiais. Lá, no jardim das infindáveis misericórdias de Deus, recebeu infinitas recompensas.

A ele, nossa saudação e louvor, e a graça amorosa do Companheiro Supremo.

Mirza 'Alíy-i-Sayyáh

A traição da verdade da Causa do Báb, por Mirza Yahyá, havia submergido a Fé numa crise de tal magnitude que havia abalado a unidade e a solidariedade da comunidade, trazendo como conseqüência indizíveis sofrimentos a Bahá'u'lláh e aos Seus amados. Sem um conhecimento pleno de todas as maquinações, intrigas e atos perversos de Mirza Yahyá e seus apoiadores, é impossível avaliar os males que eles infligiram a Bahá'u'lláh e à Sua Causa. Um relato completo de sua perniciosa influência e atos infames está além dos limites deste livro. Basta dizer que a rebelião de Mirza Yahyá causou tanta angústia a Bahá'u'lláh que as perseguições que Lhe foram infligidas pelos inimigos externos à comunidade Bahá'í não se lhe podem comparar.

Bahá'u'lláh permaneceu na casa de Ridá Big por cerca de um ano e depois transferiu Sua residência para a casa de Amru'lláh, onde permaneceu por três meses. Em quase todas as Epístolas reveladas nesse período, Ele Se refere à infidelidade e perfídia de Mirza Yahyá e aos danos por ele infligidos à Causa de Deus. Uma das Epístolas desse período é a Lawh-i-Sayyáh, revelada em honra de Mullá Ádí-Guzal, também conhecido como Mirza 'Alíy-i-Sayyáh. O título "Sayyáh" (Viajante) foi-lhe conferido pelo Báb. Ele era nativo de Marághih e havia sido educado como mullá naquela cidade. Nos primórdios da Fé, ele chegou à presença do Báb, reconheceu Sua posição e tornou-se um de Seus seguidores. Tão logo abraçou a Causa do Báb, começou a servir seu Senhor com grande dedicação e zelo. Quando o Báb foi encarcerado nos castelos de Máh-kú e Chihríq, Sayyáh esteve a Seu serviço como fiel mensageiro. Chegou à Sua presença muitas vezes nessas fortalezas e era um dos Seus principais companheiros. De lá seguia a diversas regiões da Pérsia, levando a mensagem do Báb aos Seus seguidores e trazendo cartas deles de volta para o Báb. Certa vez, levou algumas Epístolas manuscritas pelo Báb, juntamente com um primoroso porta-canetas como presente para Quddús.

Um dos inesquecíveis serviços por ele prestado ao Báb, na época em que Ele estava desolado pela notícia do martírio de muitos heróis em Mázindarán, foi visitar, em Seu nome, o local onde os mártires de Tabarsí1 haviam sucumbido. A esse respeito, Nabíl relata o seguinte:

Tão logo Ele [o Báb] completou Seus elogios àqueles que haviam imortalizado seus nomes na defesa do forte, no dia de 'Áshúrá,* convocou Mullá Ádí-Guzal, um dos crentes de Marághih, que nos dois últimos meses havia sido Seu companheiro no lugar de Siyyid Hasan, o irmão de Siyyid Husayn-i-'Azíz. Recebeu-o afetuosamente, conferiu-lhe o nome de Sayyáh, confiou aos seus cuidados as Epístolas de visitação que havia revelado em memória dos mártires de Tabarsí e o fez empreender, em Seu lugar, uma peregrinação àquele local. "Levanta-te", Ele o instou, "e segue, com completo desprendimento, à guisa de um viajante, para Mázindarán, e lá visita, em Meu nome, o lugar que entesoura os corpos daqueles imortais que, com seu sangue, selaram sua fé em Minha Causa. Ao te aproximares dos limites daquele santo lugar, retira teus sapatos e, inclinando tua cabeça em reverência à sua memória, invoca seus nomes e em estado de oração circunda seus sepulcros. Traga para Mim, como recordação de tua visita, um punhado da sagrada terra que cobre os restos dos Meus bem-amados, Quddús e Mullá Husayn. Esforça-te para estares de volta até o dia de Naw-Rúz, de modo a celebrares comigo esse festival, provavelmente o último que Eu verei."

*O décimo dia de Muharram, o aniversário do martírio do Imame Husayn, que caiu no dia 26 de novembro de 1849.

Fiel às instruções recebidas, Sayyáh pôs-se a caminho em sua peregrinação a Mázindarán. Chegou ao seu destino no primeiro dia de Rabí'u'l-Avval do ano de 1266 A.H. [15 de janeiro de 1850 d.C.] e no nono dia do mesmo mês [23 de janeiro de 1850 d.C.], no primeiro aniversário do martírio de Mullá Husayn, ele havia completado sua visita, desincumbindo-se da missão que lhe havia sido confiada. De lá, seguiu para Teerã.

Ouvi de Áqáy-i-Kalím, que recebeu Sayyáh na entrada da casa de Bahá'u'lláh em Teerã, o seguinte relato: "Estávamos em pleno inverno quando Sayyáh, ao retornar de sua peregrinação, veio visitar Bahá'u'lláh. Apesar do frio e da neve de um rigoroso inverno, ele apareceu pobremente vestido com um traje de dervixe, descalço e maltrapilho. Seu coração ardia com a chama que a peregrinação lhe havia ateado. Tão logo Siyyid Yahyáy-i-Dárábí, intitulado Vahíd, que estava hospedado na casa de Bahá'u'lláh, foi informado do retorno de Sayyáh do forte Tabarsí, esquecido da pompa e circunstância a que um homem de sua posição estava acostumado, apressou-se e jogou-se aos pés do peregrino. Segurando nas mãos as suas pernas cobertas de lama até os joelhos, beijou-os com devoção. Naquele dia, fiquei admirado com a evidência da amorosa solicitude que Bahá'u'lláh demonstrava a Vahíd. Ele lhe mostrou tamanho obséquio como eu jamais O havia visto dedicar a alguém. As maneiras de Sua conversa não me deixaram dúvida que este mesmo Vahíd em breve se destacaria por atos tão notáveis quanto os que imortalizaram os defensores do forte Tabarsí."

Sayyáh permaneceu alguns dias nessa casa. No entanto, era incapaz de perceber, assim como Vahíd, a natureza daquele poder que estava latente em seu Anfitrião. Embora ele mesmo fosse o receptor de extremos favores de Bahá'u'lláh, não conseguia apreender o significado das bênçãos que sobre ele eram derramadas. Eu o ouvi relatar suas experiências durante sua permanência em Famagusta: "Bahá'u'lláh me surpreendeu com Sua bondade. Quanto a Vahíd, apesar da eminência de sua posição, invariavelmente mostrava preferência a mim sobre si próprio na presença de seu Anfitrião. No dia de meu regresso de Mázindarán, ele chegou a beijar meus pés. Fiquei admirado com a recepção que me foi dedicada naquela casa. Embora imerso num oceano de bondade, naquela época não pude apreciar a posição então ocupada por Bahá'u'lláh, nem fui capaz de suspeitar, mesmo vagamente, a natureza da Missão que Ele estava destinado a cumprir."2

Depois do martírio do Báb, Sayyáh permaneceu em Azerbaijão por um curto período. De lá, seguiu para Karbilá, onde residiu por um tempo considerável. Durante o seu interrogatório em Constantinopla, em 1868,3 declarou ter morado em Karbilá por doze anos. Casou-se com a filha de Shaykh Hasan-i-Zunúzí, um eminente discípulo do Báb, a quem Ele havia transmitido as boas-novas e a promessa de encontrar o "Prometido Husayn"* em Karbilá. O próprio Sayyáh também havia recebido do Báb a promessa de que chegaria à presença de "Aquele que Deus tornará manifesto".

*No Islã Xiita, acredita-se que após o advento do Qá'im (o Prometido do Islã) o Imame Husayn há de retornar. O nome de Bahá'u'lláh era Husayn-'Alí. Foi no verão de 1851 que Bahá'u'lláh encontrou Shaykh Hasan em Karbilá e lhe confidenciou a respeito de Sua posição. Vide A Revelação de Bahá'u'lláh, vol. I, p. 246-247. Foi a partir de então, antes de Bahá'u'lláh ser encarcerado no Síyáh-Chál, que Shaykh Hasan reconheceu completamente a posição de Bahá'u'lláh como "Aquele que Deus tornará manifesto".

Sayyáh viajou a Adrianópolis no início de 1284 A.H. (1867). Lá ele chegou à presença de Bahá'u'lláh e, numa reunião com os crentes, contou-lhes como a promessa feita pelo Báb a respeito de seu encontro com "Aquele que Deus tornará manifesto" havia se cumprido. A este respeito, escreveu também a Mirza Yahyá. Ele foi um dos mais devotados seguidores de Bahá'u'lláh. Quando ele esteve por três meses em Adrianópolis,† Bahá'u'lláh enviou-o, juntamente com Mishkín-Qalam4 e Jamshíd-i-Gurjí, a Constantinopla, em uma importante missão.

†Quando interrogado em Constantinopla, Sayyáh disse que havia permanecido em Adrianópolis por três meses.

Na Epístola de Sayyáh, Bahá'u'lláh desvela a glória de Sua posição, afirma ser Ele a Beleza Antiga, através de Cujo comando toda a criação veio à existência, afirma que a humanidade volve-se a Ele em adoração e se apega à orla das vestes de Sua bondade, mesmo não sendo capaz de reconhecê-Lo em Sua admirável Revelação. Aos seguidores do Bayán que O negaram e repudiaram Sua Causa, refere-Se como o povo da sedição e companheiros de Satã, lembra-lhes que por muitos anos Ele Se associou a eles, mas ocultou Sua glória de seus olhos, de modo que nenhum deles pudesse reconhecê-Lo; mas eles se levantaram contra Ele com extrema inimizade. Foi então que Ele desvelou a beleza de Seu semblante e irradiou o esplendor de Sua Face sobre toda a criação. Declara que chegaram os dias de testes e que foi estabelecida a balança, balança essa que avalia com justiça os atos de todos os homens. Proclama aos povos do mundo que, se desejam ouvir a voz de Deus, devem dar ouvidos às Suas maravilhosas melodias, e se querem contemplar a Face de Deus, devem fitar Seu formoso Semblante. Adverte-os, entretanto, que não serão capazes de assim o fazer, a menos que purifiquem seus corações de todas as vãs fantasias e se desprendam deste mundo e de tudo o que nele há.5

Nesta Epístola Bahá'u'lláh prediz, por alusão, Seu exílio à cidade de 'Akká, designando-a como o "vale de Nabíl".* Em termos alegóricos, descreve Sua chegada àquela cidade nas seguintes palavras:

*O valor numérico da palavra Nabíl é igual ao de 'Akká.

Ao chegarmos, fomos recebidos com estandartes de luz, e com isso exclamou a Voz do Espírito, dizendo: "Breve se alistarão sob estes estandartes todos os que habitam na terra."6

Há passagens nesta Epístola que esclarecem a severidade dos testes que o crente encontra ao trilhar o caminho da fé. Aludindo ao povo do Bayán, Bahá'u'lláh refere-Se a alguns indivíduos que se contavam entre os mais santos dos homens, que adoravam a Deus com grande devoção, que eram considerados os mais devotos e eram dotados da mais aguçada percepção; no entanto, quando as brisas de Sua Revelação sobre eles sopraram, dEle se apartaram como que por um véu. Isto, apesar do fato de Ele ter Se associado a eles por tanto tempo e manifestado Sua glória diante deles. Ele atribui esta falha ao orgulho e apego a si mesmo e às atrações do ego. Lamenta que seus atos de devoção e serviço tenham se tornado causa de orgulho, privando-os da bondade de Deus.

O tema do desprendimento aparece em numerosas Epístolas. Talvez se possa dizer que, dentre as exortações de Bahá'u'lláh, há poucas tão intensamente frisadas como a do desapego a este mundo e a todo desejo egoísta. (...) Uma leitura atenta da Epístola de Sayyáh torna absolutamente claro que os companheiros de Bahá'u'lláh, por causa de sua proximidade a Ele, não podiam permanecer fiéis à Causa de Deus, a menos que fossem capazes de afastar completamente o mal do ego. Qualquer sinal de autoglorificação, não importa quão insignificante fosse, seria fatal a eles e, em Sua santa presença, nada podia sobreviver a não ser a mais extrema abnegação pessoal.

Havia muitos entre os Seus discípulos que foram capacitados a subjugar seu ego. Pelas suas palavras e atos demonstraram sua total insignificância ao encontrarem-se face a face com seu Senhor. Eles tornaram-se os gigantes espirituais desta Dispensação e, através de sua fé, irradiaram um esplendor imperecível sobre a Causa de Deus. É a respeito de tais homens, durante o período em Bagdá, que Nabíl escreveu o seguinte:

Muitas noites, nada menos de dez pessoas se mantinham com apenas um punhado de tâmaras. Nenhuma dentre elas sabia a quem, efetivamente, pertenciam os sapatos, os mantos ou as túnicas que se encontravam em suas casas. Qualquer um que fosse ao mercado poderia alegar serem seus os sapatos que usava na ocasião, e cada um que estivesse na presença de Bahá'u'lláh poderia afirmar serem seus o manto e a túnica que vestia. Até seus próprios nomes, eles haviam esquecido; seus corações estavam vazios de tudo que não fosse adoração por seu Bem-Amado... Ó, a alegria daqueles dias, a satisfação e encantamento daquelas horas!7

O fato de algumas almas terem sido capazes de conquistar tal distinção, elevando-se aos domínios do desprendimento e humilhando-se diante de seu Senhor, é um bom presságio para a raça humana que, na plenitude do tempo, está destinada a seguir seus passos. Hoje, os seguidores de Bahá'u'lláh não podem atingir Sua presença nesta vida e, por isso, os testes especialmente relacionados com Sua Pessoa não parecem afetá-los. Mas os requisitos de fé no caminho de Bahá'u'lláh permanecem inalterados. É necessário ao crente da atualidade, tal como nos dias de Bahá'u'lláh, desprender-se de todas as coisas terrenas e banir de sua alma os traços de paixão e desejo, de ego e autoglorificação, de modo a poder realmente apreciar a admirável posição de Bahá'u'lláh e tornar-se um servo digno de Sua Causa. Se falhar nisso, embora não se defronte com os mesmos perigos que cercavam os companheiros de Bahá'u'lláh, com certeza terá certa dose de dúvida em seu íntimo com relação à Fé, podendo passar por grandes conflitos em sua mente. Embora possa intelectualmente aceitar Bahá'u'lláh como Manifestante de Deus e ser bem versado em Suas escrituras, não será capaz de ter a absoluta certeza que dota um ser humano com as virtudes divinas e lhe confere perpétuo contentamento, serenidade e felicidade.

Adquirir a verdadeira fé é a maior conquista do homem. A fé dota o ser humano com poderes que nenhuma ação terrena pode igualar. Com o poder da fé, os crentes superaram obstáculos aparentemente intransponíveis e conquistaram vitórias memoráveis para a Causa de Bahá'u'lláh. Para ter fé, o homem deve banir de seu coração todo traço das vãs imaginações e fantasias. Examinemos o caminho que leva à realização dessa elevada meta e exploremos as inúmeras armadilhas e obstáculos que se opõem à alma durante a sua busca.

Há dois pontos focais de enorme poder na alma humana. Um é o cérebro, o centro do intelecto e do pensamento, e o repositório do conhecimento e da erudição. Através da ação dessa faculdade, o homem pode manifestar o poder singular da alma racional que o distingue dos animais. O intelecto é o maior presente de Deus ao homem. Mas como o homem tem livre arbítrio, ele pode ser conduzido, pelo seu intelecto, tanto para a fé e a crença em Deus como para a descrença.

O outro ponto focal é o coração, que é o centro do entusiasmo e do amor. O coração do homem apaixona-se pelo mundo e por si mesmo. Mas é também o lugar em que se revelam os atributos de Deus. Em As Palavras Ocultas, Bahá'u'lláh afirma:

Ó Filho do Ser!

Teu coração é Meu lar; santifica-o para Minha descida...8

É no coração do homem que surge a centelha da fé. Mas isto só acontece quando o coração se liberta do apego às coisas deste mundo. Em As Palavras Ocultas, Bahá'u'lláh declara:

Ó Filho do Pó!

Tudo o que se acha no céu e na terra, Eu o destinei a ti, salvo o coração humano, o qual fiz a habitação de Minha beleza e glória; tu, porém, deste Meu lar, Minha morada, a outro e não a Mim; e sempre que o Manifestante de Minha santidade ia à Sua própria morada, encontrando lá um estranho, apressava-Se, sem lar, ao santuário do Bem-Amado. No entanto, tenho ocultado teu segredo, não te desejando envergonhar.9

Deus criou o homem de tal modo que os dois pontos focais nele existentes, isto é, a mente e o coração, possam complementar um ao outro. A mente, sem o coração iluminado pela fé, não adquire a capacidade de investigar ou a linguagem para entender a verdade da Causa de Deus. Tal como os olhos privados de luz, ela é incapaz de explorar o mundo do espírito. Em vez disso desenvolve seus poderes no campo do materialismo e naturalmente rejeita o conceito de Deus e religião. E assim, torna-se a maior barreira para o indivíduo adquirir fé. Em tais circunstâncias, o coração torna-se cheio de amor ao mundo e a si próprio, pois é da natureza do coração amar. Se não lhe é permitido amar a Deus, ele amará a si mesmo e às possessões terrenas. Este é um dos significados de "estranho" a que Bahá'u'lláh Se refere em As Palavras Ocultas:

Ó Meu Amigo na Palavra!

Pondera tu um pouco. Já ouviste dizer que amigo e inimigo devessem morar em um só coração? Expulsa, pois, o estranho, para que o Amigo possa entrar em Seu lar.10

Para adquirir fé, o homem deve expulsar o "estranho" de seu coração. Na medida em que consegue fazer isto, ele adquire fé. Uma vez que a centelha da fé se acende no coração, deve ser deixada transformar-se firmemente numa chama, senão pode extinguir-se devido ao apego a este mundo. Por exemplo, quando um indivíduo atinge um ponto em que reconhece Bahá'u'lláh como Manifestante de Deus, seu coração se torna o receptáculo da luz da Causa de Deus para este dia. Se, desde o início, o crente se imerge no oceano da Revelação de Bahá'u'lláh, lê Seus escritos diariamente não só para aumentar seu próprio conhecimento, mas para receber alimento espiritual, busca a companhia dos retos e se levanta para servi-Lo com sinceridade e desprendimento, sua fé crescerá firmemente e ele tornar-se-á uma alma radiante e entusiástica. Poderá obter uma compreensão mais profunda dos escritos e atingir um ponto em que tanto sua mente como seu coração funcionam juntos em harmonia. Tal crente descobrirá muita sabedoria oculta nas palavras de Bahá'u'lláh e reconhecerá as limitações e fraquezas de sua própria mente finita.

Mas se um crente, depois de ter reconhecido Bahá'u'lláh, falhar em seguir este caminho, poderá se ver em conflito com muitos aspectos da Sua Causa. Seu intelecto pode não estar capacitado a entender a sabedoria de muitos de Seus ensinamentos e pode até rejeitar alguns de Seus preceitos e, ao final, perder completamente a fé. Algumas pessoas se esforçam durante anos para superar este problema, pois anseiam ser confirmadas em sua fé. Muitas vezes um tal indivíduo pode ser auxiliado a adquirir uma verdadeira compreensão da Fé por aqueles que verdadeiramente crêem em Bahá'u'lláh e são desprendidos deste mundo.

Se, entretanto, todas as tentativas falharem, o único remédio para o indivíduo que ainda possui um vislumbre de fé em seu coração, mas que tem dúvidas a respeito da Causa, é admitir que pode estar errado na sua avaliação dos ensinamentos da Fé, afirmar que o conhecimento de Bahá'u'lláh é de Deus e entregar-Lhe completamente seus sentimentos e pensamentos. Uma vez que ele se submete desta maneira e persevera neste caminho com sinceridade e humildade, os canais da graça de Deus abrem-se e seu coração torna-se o receptor da luz do verdadeiro conhecimento. Em algum momento de sua vida, seja por intuição ou através de prece e meditação, ele descobrirá a resposta a todos os seus problemas e dificuldades. Todo traço de conflito desaparecerá de sua mente. Aos poucos compreenderá as razões existentes por trás daqueles mesmos ensinamentos que anteriormente confundiam seu intelecto e encontrará muitos mistérios entesourados nas palavras de Bahá'u'lláh, mistérios dos quais, até então, era totalmente inconsciente.

As seguintes palavras de Bahá'u'lláh em As Palavras Ocultas demonstram que o homem não pode atingir o conhecimento de Sua Revelação sem antes submeter-se a Deus:

Ó Filho do Pó!

Cega teus olhos, a fim de contemplares Minha beleza; fecha teus ouvidos, para que possas ouvir a doce melodia de Minha voz; esvazia-te de todos os conhecimentos, para que possas participar de Minha sabedoria; e santifica-te da riqueza, a fim de obteres uma porção duradoura do oceano de Minha riqueza eterna. Cega teus olhos, isto é, para tudo salvo Minha beleza; fecha teus ouvidos para tudo que não seja Minha Palavra; esvazia-te de toda erudição, salvo o conhecimento de Mim; para que assim, com uma visão clara, um coração puro e ouvidos atentos, possas entrar na corte da Minha santidade.11

... A fé aparece no homem através da submissão a Deus. A entrega de si mesmo com todas as suas implicações liberta a alma do apego a este mundo mortal. Expulsa o "estranho" do coração e capacita-o a receber o "Amigo" no seu santuário. Bahá'u'lláh afirma:

Ó Filho do Homem!

Humilha-te perante Mim, para que Eu, por Minha graça, possa te visitar...12

Em outra passagem, Ele revela:
Ó Filho do Homem!

Se Me amas, não te prendas a ti mesmo; e se buscas Meu prazer, não consideres o teu próprio; para que tu morras em Mim e Eu possa viver eternamente em ti.13

Áqá Husayn-i-Áshchí

Áqá Husayn nasceu em Káshán. Durante a estada do Báb em Káshán, o pai de Áqá Husayn, Áqá Muhammad-Javád, encontrou-se com Ele na casa de seu tio, Hájí Mirza Jání, tornando-se um de Seus discípulos. Quando Bahá'u'lláh vivia em Bagdá, Áqá Muhammad-Javád emigrou para essa cidade, lá estabelecendo-se com seu filho. Recebeu de Bahá'u'lláh a missão de ir a Teerã para pedir a mão da filha de Seu irmão, Mirza Muhammad-Hasan, para casar-se com 'Abdu'l-Bahá. Foi quando regressava dessa missão que ficou doente em Kirmánsháh, falecendo ao chegar a Bagdá.

Áqá Husayn foi criado, durante algum tempo, pelo tio, Ustád Ismáíl, mas quando Bahá'u'lláh estava para deixar Bagdá, Áqá Husayn recebeu a honra de ser aceito em Sua família, inicialmente para servir às senhoras da casa e depois como cozinheiro. (Áshchí significa cozinheiro, ou preparador de sopa). Ele acompanhou Bahá'u'lláh em todos os estágios de Seus exílios até chegarem a 'Akká. Esteve envolvido na morte dos Azalís, tendo ficado preso por algum tempo. Depois disso abriu uma pequena loja em 'Akká. Viveu durante todo o período do ministério de 'Abdu'l-Bahá e alguns anos do ministério do Guardião da Fé, tendo falecido em 1346 A.H. (1927-8 d.C.).

Falando sobre a chegada de Bahá'u'lláh a 'Akká, em 1868, o Sr. Adib Taherzadeh menciona os nomes de alguns dos moradores que ficaram bem impressionados com o que viram com a chegada dos novos exilados à cidade.

Não é de admirar, portanto, que um grande número dentre os habitantes de 'Akká tivessem se reunido no local da chegada do navio para zombar do grupo recém-chegado, tendo à frente seu Líder a Quem conheciam como "O Deus dos persas".

Mas dentre os presentes havia alguns dotados de alguma percepção espiritual. Esses, ao contemplarem a face de Bahá'u'lláh, ficaram impressionados com Sua majestade, testemunhando uma glória que jamais haviam visto. Um desses foi Khalíl Ahmad 'Abdú, um senhor venerável que costumava dizer aos habitantes de 'Akká ter ele visto no semblante de Bahá'u'lláh sinais de grandeza, majestade e veracidade. Dizia que o povo de 'Akká devia se regozijar e agradecer a Deus por ter enobrecido sua terra natal com as pegadas de tão grande Personagem. Profetizou que através dEle os habitantes iriam ser abençoados e prosperar, e isso veio a acontecer de forma literal.

Outro homem na multidão que observava a chegada dos exilados foi 'Abdu'lláh Tuzih. Ele viu a radiância, o poder e a glória do semblante de Bahá'u'lláh, o que o atraiu a Ele. Mais tarde tornou-se um dos crentes, e sua filha (que nasceu no mesmo dia da chegada de Bahá'u'lláh à cidade) anos mais tarde tornou-se a esposa de Husayn-i-Áshchí, o cozinheiro de Bahá'u'lláh e um de seus devotados servidores.

Referindo-se a alguns dos discípulos que puderam chegar à presença de Bahá'u'lláh ainda na época em que Se encontrava na cela da prisão, próximo de 1870, quando as restrições já eram menores para algumas visitas, o Sr. Adib Taherzadeh narra o seguinte episódio que envolve Husayn-i-Áshchí:

Ustád Ismá'íl acabou conseguindo entrar na prisão, onde, depois de algum tempo, teve o privilégio de chegar à presença de Bahá'u'lláh. Sua residência habitual na Terra Santa era uma cova no Monte Carmelo. Ganhava a vida como mascate, carregando sempre consigo um pequena bandeja na qual colocava algumas agulhas, dedais e outros pequenos artigos para vender. Vivia na pobreza, mas muito feliz, seu coração vibrante de alegria pela proximidade de seu Senhor.

Ao caminhar de um lado para outro com sua pequena e desgastada bandeja, Ustád Ismá'íl evidentemente só pensava em Bahá'u'lláh, ansioso por vê-Lo. Seu coração comungava com Ele. Algumas vezes dava voltas em torno da fortaleza-prisão para sentir-se mais próximo de seu Bem-Amado. Certa ocasião, Bahá'u'lláh observava-o em suas caminhadas através da janela da prisão. Chamou Seu cozinheiro, Husayn-i-Áshchí, que era sobrinho de Ustád Ismá'íl, e perguntou-lhe se alguma vez já vira a bandeja que seu tio carregava. Quando Husayn respondeu que não, Bahá'u'lláh, em tom jocoso, disse-lhe que se ele colocasse um par de óculos poderia ver o tio à distância, carregando algumas agulhas enferrujadas de um lado da bandeja e alguns dedais, também enferrujados, do outro lado. Bahá'u'lláh freqüentemente o elogiava por seu desapego das coisas deste mundo e sua atitude de gratidão ao seu Senhor.

Husayn-i-Áshchí foi também um verdadeiro historiador da Fé, pois escrevia algo semelhante a um diário onde anotava com detalhes os principais acontecimentos relacionados à vida de Bahá'u'lláh e Seus discípulos. São suas "Memórias" e estão preservadas, embora ainda não publicadas em persa nem traduzidas para o inglês. Tanto o Sr. Hasan Balyuzi, em seu livro Bahá'u'lláh - The King of Glory, como o Sr. Adib Taherzadeh, nos volumes de The Revelation of Bahá'u'lláh, transcrevem freqüentemente textos escritos por Husayn-i-Áshchí, particularmente durante os períodos de Adrianópolis e 'Akká.

A seguir, um exemplo dessas narrativas, com pequenas histórias, muito interessante. Mencionando os "Cidadãos de 'Akká", no tempo em que Bahá'u'lláh ainda se encontrava prisioneiro na fortaleza-prisão, o Sr. Adib Taherzadeh menciona alguns dos habitantes que aceitaram a Fé, tornando-se firmes discípulos:

Houve muitos habitantes de 'Akká que abraçaram a Fé ou tornaram-se grandes admiradores e apoiadores de Bahá'u'lláh. Husayn-i-Áshchí conta a história de alguns deles em suas memórias. A seguir, um resumo de suas reminiscências:

"Depois do reconhecimento da posição de Bahá'u'lláh, Shaykh Mahmúd foi ver um certo Sálih Effendi, de quem era amigo íntimo. Lembrou a ele que, quando eram jovens, ambos haviam estado presentes a uma reunião na qual o velho Shaykh, o líder religioso do pai de Shaykh Mahmúd, havia profetizado a vinda do Senhor a 'Akká, e afirmara que iriam vê-Lo. Shaykh Mahmúd transmitiu ao amigo as boas novas de que a profecia do velho Shaykh havia se cumprido e que ele fora levado à presença do Senhor, em 'Akká. Convidou o amigo para ir conhecê-Lo também.

Mas Sálih Effendi, embora tenha reconhecido a validade da posição de Bahá'u'lláh, não abraçou a Fé, pois afirmava que vivia uma vida indigna da excelsa posição de Bahá'u'lláh, e seus atos não estavam em conformidade com Seus Ensinamentos. Mas sempre expressava seu amor pelos crentes e não fazia mal algum à Fé. Alguns anos mais tarde ficou doente com tuberculose, que era incurável naqueles dias. 'Abdu'l-Bahá providenciou tratamento médico regular até o fim de sua vida.(...)

Outra pessoa de 'Akká que se tornou seguidor de Bahá'u'lláh foi 'Uthmán Effendi. Quando os exilados residiam ainda na fortaleza-prisão, ele possuía um armazém na cidade. Costumava suprir as provisões diárias para Bahá'u'lláh, sendo pago mensalmente. Foi inicialmente atraído à Causa pela conduta e honestidade de trato por parte dos crentes. Abraçou a Fé e alcançou a presença de Bahá'u'lláh, que prometeu que ele se tornaria um homem rico e influente. Em pouco tempo, 'Uthmán Effendi adquiriu considerável riqueza. Possuía metade da vila de Kasra, que era uma das vilas drusas. Tornou-se também um homem de grande influência, muito respeitado nos círculos governamentais de 'Akká."

Áqá 'Abdu'l-Ghaffár-i-Isfahání

Áqá 'Abdu'l-Ghaffár foi um mercador de Isfahán que se tornou um crente durante uma viagem a Bagdá. Ele foi um dos companheiros de Bahá'u'lláh em Seu exílio para Adrianópolis. Foi enviado por Bahá'u'lláh para Istambul, onde foi preso e sentenciado ao exílio na ilha de Chipre. Quando o navio que transportava Bahá'u'lláh e Seus companheiros de exílio chegou a Haifa, ele jogou-se ao mar, incapaz de suportar a separação de Bahá'u'lláh, mas foi salvo e enviado para Chipre. No entanto, conseguiu escapar da ilha no dia 29 de setembro de 1870 e foi ao encontro de Bahá'u'lláh em 'Akká, onde se estabeleceu em Khán-i-Afranj. A fim de ocultar sua presença das autoridades, mudou seu nome para Áqá 'Abdu'lláh. Depois da ascensão de Bahá'u'lláh, foi viver em Damasco, onde faleceu.

Outro daqueles que deixaram sua pátria para tornar-se nosso vizinho e companheiro de prisão foi 'Abdu'l-Ghaffár, de Isfahán. Era uma pessoa de grande discernimento que, por razões de comércio, havia viajado para a Ásia Menor por muitos anos. Fez uma viagem ao Iraque, onde Áqá Muhammad-'Alí de Sád (Isfahán) ensinou-lhe a Causa, trazendo-o para o abrigo da Fé. Sem demora rasgou a bandagem que cobria seus olhos até então, levantando-se para buscar a salvação no Céu do amor Divino. No caso dele, o véu era fino, quase transparente, e foi por isso que, ao ouvir a primeira palavra sobre o Prometido, imediatamente libertou-se do mundo das vãs imaginações, apegando-se Àquele que claramente se podia ver.

Na viagem do Iraque para a Grande Cidade, Constanti-nopla, 'Abdu'l-Ghaffár foi uma companhia muito íntima e agradável. Serviu como intérprete para todo o grupo, já que falava turco de forma excelente, uma língua que nenhum dos amigos dominava. A vida transcorreu tranqüilamente até o fim e, então, na Grande Cidade, ele continuou conosco, como um bom companheiro e amigo. O mesmo ocorreu em Adrianópolis e também quando, como um dos prisioneiros, ele nos acompanhou à cidade de Haifa.

Aqui, os opressores determinaram que ele fosse enviado ao Chipre. Ele ficou aterrorizado e gritou por ajuda, pois desejava ficar conosco na Maior Prisão. Quando o levaram à força, do alto do navio ele se atirou no mar. Isso não teve efeito algum sobre os insensíveis oficiais. Depois de tirá-lo da água mantiveram-no como prisioneiro no navio, tratando-o cruelmente e levando-o, à força, ao Chipre. Ficou preso em Famagusta, mas de alguma forma conseguiu escapar, dirigindo-se apressadamente a 'Akká. Aqui, protegendo-se da maldade de nossos opressores, mudou seu nome para 'Abdu'lláh. Abrigado sob a proteção do cuidado amoroso de Bahá'u'lláh, passou seus dias em tranqüilidade e feliz.

Mas quando a maior Luz do mundo se extinguiu, para brilhar para sempre do Horizonte Todo-Luminoso, 'Abdu'l-Ghaffár ficou muito abatido e tornou-se presa fácil da agonia. Não quis mais uma casa para viver. Partiu para Damasco e por lá ficou, fechado em sua tristeza, dia e noite em lamentos. Foi ficando cada vez mais fraco. Mandamos Hájí-Ghaffár para lá, para tratar de sua saúde e dar-lhe todo o conforto e ajuda que precisasse, e que nos informasse todos os dias de seu estado. Mas 'Abdu'l-Ghaffár nada fazia senão falar, interminavelmente, a toda hora, com seu atendente, para lhe dizer o quanto desejava partir desta vida, para o misterioso reino do além. E por fim, longe de sua pátria, exilado de seu Amor, partiu para o Sagrado Limiar de Bahá'u'lláh.

Foi verdadeiramente um homem muito sofrido e humilde, um homem de bom caráter, bons atos e palavras amorosas. Saudações e louvores a ele, e a glória do Todo-Glorioso.

Seu docemente perfumado sepulcro está localizado em Damasco.

Mirza Muhammad-Qulí

Jináb-i-Mirza Muhammad-Qulí1 foi um irmão leal da Abençoada Beleza. Este grande homem era conhecido desde a infância pela nobreza da alma. Era recém-nascido quando seu distinguido pai faleceu, e assim aconteceu que desde o início até o fim de seus dias, passou a vida sob os braços protetores de Bahá'u'lláh.

Era desprendido de todo e qualquer pensamento egoísta, avesso a qualquer outra menção que não estivesse relacionada à Causa Sagrada. Cresceu na Pérsia sob os cuidados de Bahá'u'lláh, continuando a viver sob Sua proteção, e no Iraque recebeu favores especiais. Na presença de Bahá'u'lláh era ele quem servia o chá aos visitantes; e atendia ao seu Irmão o tempo todo, dia e noite. Estava sempre quieto. Manteve-se inabalavelmente firme no Convênio de "Não sou Eu teu Senhor?"

Vivia sob as graças da bondade e da misericórdia de seu Irmão e Senhor; dia e noite tinha acesso à presença de Bahá'u'lláh; era invariavelmente paciente e indulgente até que, por fim, alcançou as verdadeiras alturas do favor e da aceitação divinos.

Mantinha-se sempre fiel à sua maneira de ser. Viajou em companhia de Bahá'u'lláh do Iraque a Constantinopla, em cujo comboio, nas suas paradas no caminho, sua era a tarefa de levantar as tendas. Serviu com grande dedicação, desconhecendo o significado de repouso e fadiga. Em Constantinopla, e depois também em Adrianópolis, continuou seus serviços, sempre nas mesmas e invariáveis condições.

Junto com seu incomparável Senhor, foi então exilado para a fortaleza de 'Akká, condenado por ordem do Sultão à prisão perpétua. Aceitou essa pena com o mesmo espírito de aceitação a tudo o que lhe acontecia na vida - conforto ou tormento, dificuldade ou repouso, doença ou saúde. De forma eloqüente, agradecia à Abençoada Perfeição, proferindo louvores com o coração tranqüilo e a face brilhando como o sol. Diariamente, pela manhã e à noite, atendia a Bahá'u'lláh, feliz e fortalecido por Sua presença; mas, a maior parte do tempo, mantinha-se em si1êncio.

Quando o Bem-Amado de toda a humanidade ascendeu ao Reino dos Esplendores, Mirza Muhammad-Qulí permaneceu firme no Convênio, evitando as artimanhas, a malícia e a hipocrisia que então começaram a surgir, devotando-se inteiramente a Deus, suplicando e orando. Àqueles que o ouviam, dava sábios conselhos; e lembrava-os dos dias da Abençoada Beleza, lamentando o fato de ele ter sobrevivido.

Depois da partida de Bahá'u'lláh, não teve um momento de tranqüilidade; preferiu manter-se isolado, mas cuidava de si mesmo sem incomodar ninguém, sozinho, em seu pequeno refúgio, queimando-se internamente com o fogo da separação. Foi definhando dia a dia, cada vez com menos saúde até que, por fim, alçou vôo para os mundos de Deus.

Que a paz seja sua companhia, que o louvor e a misericórdia sejam suas dádivas nos jardins do Céu! Seu sepulcro de luz está localizado em Naqib, em Tibérias.

Mirza Mihdí

Pouco menos de dois anos haviam passado desde o confinamento de Bahá'u'lláh nos alojamentos do quartel, quando repentinamente ocorreu um acidente extremamente trágico. Foi a morte prematura de Mirza Mihdí, intitulado o Mais Puro Ramo, o irmão mais novo de 'Abdu'l-Bahá, mortalmente ferido ao cair da cobertura dos alojamentos.

Em 1848, numa época em que os seguidores do Báb estavam cercados por sofrimentos e perseguições, nasceu em Teerã um filho de Bahá'u'lláh e de Sua ilustre esposa Ásíyih Khánum, intitulada Navvab.1 Ele era quatro anos mais novo do que 'Abdu'l-Bahá e recebeu o nome de "Mihdí", em memória de um irmão de Bahá'u'lláh que Lhe era muito querido e havia morrido um ano antes. Posteriormente a Pena do Altíssimo concedeu a este filho o título de Ghusnu'lláhu'l-Athar (O Mais Puro Ramo).

Ao contrário de 'Abdu'l-Bahá, Mirza Mihdí não podia recordar muito da vida luxuosa em Teerã, pois estava com apenas quatro anos de idade quando seu Pai foi aprisionado no Síyáh-Chál, e todos os seus bens pilhados e confiscados pelos inimigos da Causa. Durante os quatro meses em que Bahá'u'lláh permaneceu na horrível masmorra, a Sagrada Família passou um período de angústia e temor, sem saber o que Lhe aconteceria. Freqüentemente apavorado e ansioso, este filho de tenra idade e de natureza frágil só encontrava refúgio e abrigo nos braços de sua amorosa e dedicada mãe. Mas a Providência privou-o disso também. A viagem a Bagdá foi empreendida no rigoroso frio do inverno, e por ser cheia de dificuldades e perigos insuportáveis para um menino frágil como Mirza Mihdí, ele teve de ficar em Teerã sob o cuidado de parentes. Por cerca de sete anos suportou a agonia e a saudade da separação de seus amados pais. Parece que nesta tenra idade o Todo-Poderoso estava preparando sua alma através de dor e sofrimento para desempenhar um papel primordial na arena do sacrifício e irradiar um esplendor imperecível sobre a Causa do seu Pai celestial.

Mirza Mihdí foi levado a Bagdá para junto de sua Família no ano de 1276 A.H. (cerca de 1860 d.C.). Foi nessa cidade que este puro e santo jovem, notável pela sua meiguice, foi tocado pelo Espírito Divino e magnetizado pelas forças galvanizadoras da Revelação de Bahá'u'lláh. Daí em diante dedicou cada momento de sua vida ao serviço de seu Pai celestial. Foi companheiro de Bahá'u'lláh em Bagdá, Adrianópolis e 'Akká e serviu-O como amanuense* até o final de sua vida, legando para a posteridade várias Epístolas manuscritas. Os últimos dez anos de sua vida foram cheios de dificuldades e sofrimentos impostos a Bahá'u'lláh e Seus companheiros no decorrer de três sucessivos exílios, desde Bagdá até 'Akká.

*Embora Mirza Áqá Ján fosse o amanuense de Bahá'u'lláh, havia outras pessoas que, ocasionalmente, se incumbiam desta tarefa.

O Mais Puro Ramo era parecido com 'Abdu'l-Bahá e durante sua curta e memorável vida mostrava as mesmas qualidades espirituais que distinguiam seu ilustre Irmão. Os crentes o amavam e veneravam, assim como a 'Abdu'l-Bahá.

Em 'Akká, o Mais Puro Ramo viveu nos alojamentos, perto de seu Pai. Muitas vezes chegava à presença de Bahá'u'lláh ao entardecer e O servia como amanuense. Ao anoitecer do dia 22 de junho de 1870, Bahá'u'lláh disse-lhe que não precisava escrever naquela noite e que podia subir para a cobertura para orar e meditar conforme seu costume. Era muito comum os prisioneiros irem para a cobertura para tomar ar fresco ao anoitecer de um escaldante dia de verão. O Mais Puro Ramo costumava caminhar na cobertura, de um lado para o outro, recitando orações e meditando. Mas naquela fatídica noite, quando entoava os versos do Qasídiy-i-Varqá'íyyih, um dos mais comoventes poemas de Bahá'u'lláh revelados no Curdistão,2 ele foi dominado por um estado de extremo desprendimento e alegria. Ao caminhar por aquele lugar tão familiar, absorto em suas costumeiras meditações, com os olhos fechados, caiu através de uma clarabóia sobre um engradado aberto que se encontrava no chão. Ficou gravemente ferido e sangrou muito. Tão terrivelmente machucado estava que tiveram de rasgar suas roupas para tirá-las. Eis um resumo do relato de Husayn-i-Áshchí - o cozinheiro da casa de Bahá'u'lláh e crente devotado - no qual descreve as trágicas circunstâncias da queda e da morte do Mais Puro Ramo:

É impossível a qualquer um imaginar o grau de humildade e abnegação, a intensidade de devoção e a meiguice que o Mais Puro Ramo mostrava na sua vida. Ele era poucos anos mais moço do que o Mestre, mas levemente mais alto do que Ele. Costumava atuar como amanuense de Bahá'u'lláh e dedicava-se à transcrição das Escrituras... Quando terminava de escrever, tinha o costume de subir à cobertura dos alojamentos do quartel para orar. Havia uma clarabóia, um vão no meio da cobertura, próximo à cozinha. Enquanto caminhava em estado de prece, atraído ao Reino de Abhá, com a cabeça levantada para o alto, ele caiu através da clarabóia sobre alguns objetos rígidos. O terrível estrondo do impacto nos fez correr ao local da tragédia, onde, atônitos, vimos o que havia ocorrido segundo decretado por Deus, e ficamos tão chocados que nos batemos nas cabeças. Então, a Beleza Antiga saiu de Seu quarto e perguntou o que ele havia feito para sofrer a queda. O Mais Puro Ramo respondeu que conhecia a localização da clarabóia e anteriormente tomava cuidado para não se aproximar dela, mas desta vez foi seu destino esquecê-la.

Carregamos sua estimada pessoa ao seu quarto e chamamos um médico italiano, mas este nada pôde fazer... Apesar da dor atroz, da agonia e da fraqueza, Mirza Mihdí calorosamente saudou os que estavam em sua volta, derramou abundante amor e bondade sobre eles, pediu desculpas a todos e disse que estava envergonhado de estar deitado na presença deles...3

Membros da Sagrada Família e alguns dos companheiros reuniram-se à sua volta e estavam tão aflitos e entristecidos que 'Abdu'l-Bahá, com os olhos cheios de lágrimas, prostrou-Se aos pés de Bahá'u'lláh e implorou o restabelecimento do irmão. Conta-se que Bahá'u'lláh disse: "Ó Meu Supremo Ramo,* deixa-o nas mãos de Deus". Ele, então, aproximou-Se de Seu filho ferido, despediu todos de Sua presença e permaneceu ao seu lado por algum tempo. Embora ninguém saiba o que aconteceu naquela preciosa hora entre o que ama e seu Bem-Amado, podemos estar certos de que este filho de Bahá'u'lláh, cuja devoção e amor pela Causa de seu Pai não conheciam limites, deve ter se regozijado pela emanação das bênçãos e amor de seu Senhor.

*'Abdu'l-Bahá.

Deve-se lembrar que a relação de Bahá'u'lláh com os membros de Sua família que permaneceram fiéis à Sua Causa não era igual à relação que existe entre os membros de outras famílias. Normalmente um pai e um filho têm, um para com o outro, uma atitude muito íntima e informal em casa. No caso de Bahá'u'lláh e Seus filhos fiéis, porém, esta relação era bastante diferente, embora a intimidade entre pai e filho realmente existisse. No entanto, a posição de Bahá'u'lláh como Manifestante de Deus obscurecia completamente Sua posição de pai biológico. 'Abdu'l-Bahá, a Folha Mais Sagrada e o Mais Puro Ramo contemplavam Bahá'u'lláh não meramente como seu pai, mas como seu Senhor. E por terem realmente reconhecido Sua posição, sempre agiam como os mais humildes servos de Seu limiar. 'Abdu'l-Bahá sempre chegava à presença de Bahá'u'lláh com humildade e reverência tão genuínas que nenhum de Seus seguidores podia igualá-Lo em espírito de humildade e abnegação. A humildade de 'Abdu'l-Bahá quando Se inclinava em reverência diante de Seu Pai ou Se prostrava aos Seus pés, ou quando desmontava de Seu cavalo ao Se aproximar da Mansão em que Bahá'u'lláh residia, demonstra este relacionamento singular que existia entre este Pai e Seus filhos fiéis.

Diante de tudo isto podemos ter um vislumbre de como o Mais Puro Ramo deve ter se sentido quando seu Pai chegou ao seu lado. Que expressões de devoção e gratidão devem ter saído de seus lábios naquela ocasião, não podemos imaginar. Tudo que sabemos é que Bahá'u'lláh, tendo o poder da vida e da morte nas mãos, perguntou ao seu moribundo filho se ele desejava viver. Ele assegurou-lhe que se esta fosse a sua vontade, Deus o capacitaria a se recuperar e lhe concederia restabelecimento. Mas o Mais Puro Ramo suplicou a Bahá'u'lláh que aceitasse sua vida em resgate pela abertura dos portões da prisão à multidão de crentes ansiosos para chegar à presença de seu Senhor. Bahá'u'lláh aceitou seu sacrifício e ele morreu aos 23 dias do mês de junho de 1870, vinte e duas horas depois de cair.

Assim terminou a vida daquele que, segundo Bahá'u'lláh, "foi criado da luz de Bahá", cujo nascimento ocorreu durante algumas das mais tenebrosas horas da história da Fé, cuja infância foi vivida no berço da adversidade, cuja alma ardeu com o fogo da provação e da separação, cujos dias de alegria foram passados no exílio e dentro dos muros de uma prisão, e cuja trágica morte adornou-o com a roupagem carmesim do sacrifício, irradiando, assim, um imperecível esplendor sobre a Causa de seu glorioso Pai.

A morte do Mais Puro Ramo dentro dos confins da prisão criou uma amarga comoção entre os companheiros, que lamentaram a perda de um dos mais ilustres membros da família de Bahá'u'lláh. Segue um resumo dos relatos de Husayn-i-Áshchí:

Quando o Mais Puro Ramo faleceu, Shaykh Mahmúd4 suplicou a 'Abdu'l-Bahá que lhe concedesse a honra de lavar o corpo e não permitisse que nenhuma outra pessoa* da cidade de 'Akká fizesse o serviço. O Mestre lhe deu permissão. Foi armada uma tenda em meio aos alojamentos do quartel. Colocamos seu abençoado corpo sobre uma mesa no interior da tenda e Shaykh Mahmúd começou a lavá-lo.† Os amados de Deus lamentavam e pranteavam, com lágrimas nos olhos, como mariposas em volta daquela vela que as mãos de Deus haviam acendido. Eu levei água e estava envolvido na lavagem do corpo. O Mestre caminhava de um lado para o outro do lado de fora da tenda. Sua face deixava transparecer sinais de profundo pesar...

*Nos países islâmicos o corpo de um morto é lavado antes de ser coberto por um véu. Há pessoas em cada cidade cuja profissão é lavar os mortos.

†Outra pessoa que ajudou a lavar o corpo foi Mirza Hasan-i-Mázindarání, primo de Bahá'u'lláh.

O corpo, depois de ser lavado e encoberto, foi colocado num novo caixão. Nesse momento a voz de choro e pranto e o lamento de dor ergueram-se aos céus. O caixão foi carregado sobre os ombros de homens para fora dos alojamentos, com a máxima serenidade e majestade. Foi sepultado nos arredores de 'Akká no cemitério de Nabí Sálih... Na volta aos alojamentos um tremor de terra sacudiu as redondezas e nós todos soubemos que era o efeito do sepultamento daquele sagrado ser.5

Nabíl-i-A'zam conta que ele mesmo, Siyyid Mihdíy-i-Dahají6 e Nabíl-i-Qá'iní7 estavam em Nazaré quando houve o tremor de terra. Durou cerca de três minutos e as pessoas ficaram apavoradas. Depois, quando eles souberam da notícia da morte do Mais Puro Ramo, perceberam que o tremor de terra havia coincidido com o momento de seu sepultamento e então souberam o motivo. Bahá'u'lláh, em uma de Suas Epístolas, referindo-Se ao Mais Puro Ramo, confirma a causa do tremor de terra nas seguintes palavras:

Bem-aventurado és tu e bem-aventurado aquele que se volve a ti e visita teu sepulcro, e por teu intermédio se aproxima de Deus, o Senhor de tudo o que foi e será... Testifico que com humildade retornaste à tua morada. Grande é a tua bem-aventurança e a bem-aventurança daqueles que se seguram firmemente à orla de tua vestimenta estendida... Tu, verdadeiramente, és o bem de Deus e Seu tesouro nesta terra. Deus em breve haverá de revelar, através de ti, o que Ele desejar. Ele, veramente, é a Verdade, o Conhecedor do invisível. Ao seres entregue ao teu descanso na terra, a própria terra tremeu em seu anseio de te encontrar. Assim foi decretado, e ainda assim o povo não percebe... Fôssemos Nós relatar os mistérios de tua ascensão os adormecidos despertariam e todos os seres se incendiariam com o fogo da lembrança de Meu Nome, o Forte, o Amoroso.8

Depois de sua trágica morte a piedosa mãe do Mais Puro Ramo pranteava o passamento de seu amado filho e chorava quase incessantemente. Quando Bahá'u'lláh assegurou-lhe que Deus aceitou seu filho como um resgate para que os crentes pudessem chegar à presença de seu Bem-Amado e a humanidade como um todo fosse vivificada, aquela nobre mãe foi consolada e seu pranto cessou.

As roupas ensangüentadas do Mais Puro Ramo estão entre as preciosas relíquias reunidas pelas mãos de sua devotada irmã, a Folha Mais Sagrada, e legada à posteridade como um testemunho silencioso de seu grandioso sacrifício.

Logo depois do martírio do Mais Puro Ramo, muitas das restrições nos alojamentos do quartel foram relaxadas e vários crentes, ansiosos por chegar à presença de Bahá'u'lláh, realizaram seu desejo. E, quatro meses depois desse trágico evento, Bahá'u'lláh e Seus companheiros deixaram a prisão e os alojamentos do quartel para sempre. Conforme poderemos ver depois, Bahá'u'lláh residiu numa casa em 'Akká e logo muitos peregrinos vieram da Pérsia e chegaram à Sua presença.

Em dezembro de 1939, Shoghi Effendi, o Guardião da Fé, face a grandes perigos e dificuldades, e em companhia de alguns amigos, removeu cuidadosamente, com as próprias mãos, os restos do Mais Puro Ramo juntamente com os de sua ilustre mãe, de dois diferentes cemitérios em 'Akká, e numa cerimônia profundamente comovente, realizada no dia do Natal, na presença de alguns crentes, carregou os ataúdes sobre seus próprios ombros e sepultou aqueles sagrados restos nas encostas do Monte Carmelo, adjacentes ao túmulo da Folha Mais Sagrada e nas proximidades do Santuário do Báb.9

A morte do Mais Puro Ramo deve ser vista como o sacrifício do próprio Bahá'u'lláh, um sacrifício equivalente à crucificação de Cristo e o martírio do Báb. Shoghi Effendi, o Guardião da Fé, afirma que Bahá'u'lláh enalteceu a morte do Mais Puro Ramo ao mesmo "nível dos grandes sacrifícios, comparando-a à voluntária imolação de Isaac por seu pai Abraão, à crucificação de Jesus Cristo e ao martírio do Imame Husayn..."10 Em outra instância, Shoghi Effendi afirma11 que na Dispensação Bábí foi o próprio Báb que sacrificou a vida para a redenção e purificação da humanidade. Na Dispensação de Bahá'u'lláh foi o Mais Puro Ramo que deu sua vida, liberando, assim, todas as forças necessárias para a realização da unidade do gênero humano.

Embora não sejamos capazes de entender totalmente o mistério do sacrifício neste mundo, das Escrituras podemos inferir que um tremendo poder é liberado quando o homem sacrifica algo no caminho de Deus. (...) Numa de Suas Epístolas, 'Abdu'l-Bahá explica que uma semente não pode gerar uma árvore sem que antes se desintegre completamente debaixo do solo. Só então é que algo tão insignificante quanto uma semente, sacrificando completamente a si mesma, transformar-se-á numa vigorosa árvore com ramos, frutos e flores. O mesmo ocorre quando o homem sacrifica algo de si mesmo.

Um ser humano possui duas forças opostas atuando dentro de si, a animal e a espiritual. A natureza animal inclina o homem para o mundo material. Os Manifestantes de Deus exortaram Seus seguidores a se desprenderem das inclinações materiais para que sua natureza espiritual exercesse domínio sobre a física. Conforme já dissemos neste volume e nos anteriores, por desprendimento não se quer dizer renúncia ao mundo, mendicância ou ascetismo. Numa palavra, desprendimento é submeter a própria vontade à vontade de Deus e buscar Seu prazer acima do prazer pessoal. Por isso, para todo crente o desafio nesta vida é o desprendimento de tudo o mais a não ser de Deus. Desprender-se de algo deste mundo é muitas vezes doloroso e é aí que o sacrifício se torna necessário, pois o homem, pela própria natureza, é atraído ao mundo material e a si mesmo. Quando o crente sacrifica algo deste mundo, um ato que implica dor e sofrimento ou privação de benefícios materiais, ele atinge uma posição espiritual mais elevada, dependendo do grau do sacrifício.

E quando renuncia a algo que lhe é precioso em favor da Causa de Deus, segundo atesta Bahá'u'lláh em Seus escritos, serão liberadas forças misteriosas que propiciarão o desenvolvimento da Fé. Oferecer o tempo, trabalhar em prol do estabelecimento da Fé em uma localidade, deixar o conforto do lar e sair como pioneiro Bahá'í para uma terra estrangeira, oferecer os recursos para a promoção da Causa, ser perseguido por ter fé, todas estes sacrifícios são meritórios aos olhos de Deus e sem sombra de dúvida trarão vitória à Causa de Bahá'u'lláh, uma vez que os motivos da pessoa sejam sinceros. Mas dar a própria vida no caminho de Deus, quando as circunstâncias exigem, é o grau mais elevado no reino do sacrifício. É como uma semente que sacrifica todo o seu ser para o solo. Milhares de mártires da Pérsia, que enfrentaram o desafio de renegar sua Fé ou morrer, liberaram, através de seu sacrifício, imensa força espiritual para a promoção e consolidação da Causa de Bahá'u'lláh. Pois duas coisas são primariamente responsáveis pela difusão da Fé e sua penetração nos corações dos homens. Uma é a emanação das energias vivificadoras e estimulantes da Revelação de Bahá'u'lláh que, como os raios do sol na primavera, concedem nova vida a todas as coisas criadas; a outra é o sangue do mártir que irriga a árvore de Sua Causa. Em uma de suas cartas12 aos crentes do oriente, Shoghi Effendi atribui todas as grandes vitórias da Causa no mundo ocidental, incluindo a conversão da Rainha Maria da Romênia,13 às misteriosas forças liberadas pelo sangue de incontáveis mártires da Pérsia. No entanto, nesta Dispensação, Bahá'u'lláh exortou Seus seguidores a não buscarem o martírio. Em vez disso decretou que os crentes vivessem e ensinassem a Fé e equiparou os méritos do ensino aos do martírio.14

O Mais Puro Ramo, sendo o sacrifício do próprio Bahá'u'lláh, ao oferecer sua vida como um resgate para a abertura dos portões da prisão liberou incalculável quantidade de energia espiritual no seio da sociedade humana, energias essas que, segundo Bahá'u'lláh, na plenitude do tempo tornarão realidade a unidade da raça humana. Numa oração, revelada no dia do falecimento do Mais Puro Ramo, Bahá'u'lláh faz uma declaração que Shoghi Effendi considera "estarrecedora":

Glorificado és Tu, ó Senhor meu Deus! Tu Me vês nas mãos de Meus inimigos e Meu filho ensangüentado ante Tua face, ó Tu em Cujas mãos está o reino de todos os nomes. Ofereci, ó Meu Senhor, aquilo que Tu Me concedeste, para que Teus servos pudessem ser vivificados e todos os que habitam na terra fossem unidos.15

Sem essas declarações de Bahá'u'lláh, revelando as tremendas potencialidades deste sacrifício, provavelmente nenhum de Seus seguidores poderia ter imaginado o real significado da morte deste nobre filho. Numa carta dirigida aos crentes do oriente16 por ocasião da transferência dos restos do Mais Puro Ramo e de sua ilustre mãe para o seu lugar de descanso eterno no Monte Carmelo, Shoghi Effendi, ao citar as passagens acima, deixou claro que a vivificação dos povos do mundo, a unidade das nações deste planeta e a unidade do gênero humano - os objetivos fundamentais desta Revelação - serão todos realizados por intermédio de misteriosas forças liberadas pelo sacrifício do Mais Puro Ramo. (...)

A Pena do Altíssimo não cessou de revelar as palavras de Deus por causa daquele doloroso acontecimento - a morte do Mais Puro Ramo. O Manifestante de Deus nunca está ocupado apenas com um assunto e nada deste mundo pode afastá-Lo de Sua visão toda-abrangente. Ele não é limitado, como os seres humanos, aos Seus afazeres. Já vimos esta característica do Manifestante de Deus nos volumes anteriores.17 No mesmo dia em que o espírito do Mais Puro Ramo ascendeu ao reino no alto, Bahá'u'lláh revelou uma Epístola em honra dos crentes em Qazvín. Nessa Epístola Ele presta caloroso tributo ao Seu filho e derrama Suas bênçãos sobre ele. Eis uma parte dessa Epístola:

Neste exato momento Meu filho está sendo lavado diante de Meus olhos, depois de o termos sacrificado na Suprema Prisão. Diante disso os habitantes do Tabernáculo de Abhá choraram com grande pranto, e aqueles que foram aprisionados com este Jovem no caminho de Deus, o Senhor do Dia Prometido, lamentaram. Sob tais condições, Minha Pena não foi impedida de lembrar de seu Senhor, o Senhor de todas as nações. Ela convoca os povos a Deus, o Potentíssimo, o Todo-Generoso. Este é o dia em que aquele que foi criado pela luz de Bahá sofreu martírio numa época em que estava preso nas mãos de seus inimigos.

Sobre ti esteja, ó Ramo de Deus, a lembrança de Deus e Seu louvor, e o louvor de todos os que residem no Domínio da Imortalidade, e de todos os habitantes do Reino dos Nomes. Bem-aventurado és por teres permanecido fiel ao Convênio de Deus e Seu Testamento, até te sacrificares perante teu Senhor, o Todo-Poderoso, o Predominante. Tu, em verdade, foste injuriado, e disso dá testemunho a Sua Beleza, o Subsistente por Si Próprio. Tu, no primeiro dia de tua vida, suportaste aquilo que fez todas as coisas gemerem e todos os pilares tremerem. Bem-aventurado aquele que se lembra de ti, e por teu intermédio se aproxima de Deus, o Criador do Alvorecer.18

Epílogo

Para que o querido leitor possa avaliar a magnani-midade de 'Abdu'l-Bahá, Seu espírito de amor infinito por todos os seres humanos, até mesmo por aqueles que mais O fizeram sofrer, como Seu próprio irmão Mirza Muhammad-'Alí e muitos de Seus parentes, conforme Shoghi Effendi explica na passagem acima transcrita, gostaríamos de apresentar alguns trechos da Última Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá, documento publicado integralmente em um livro da Editora Bahá'í do Brasil.

Muitas pessoas perdoam aqueles que lhes fazem mal. Uma pessoa, sincera em sua fé, com espírito de pureza e santidade, pode até perdoar sinceramente. Quer deixar este plano de vida sem nenhuma mancha em sua alma, e qualquer resquício de ódio é sempre uma mácula que é levada para o outro plano de vida. Deve o verdadeiro crente estar desapegado de tudo desta vida terrena, inclusive da lembrança dos sofrimentos e injustiças pelos quais tenha passado, a fim de passar tranqüilamente para o Reino de Abhá, quando sua hora chegar.

Perdoar, até que não é tão difícil. Mas o que 'Abdu'l-Bahá fez, declarando tal decisão do fundo de Seu coração no documento que representa Sua palavra final e oficial como ser humano pronto para ascender ao Reino de Abhá - Sua Última Vontade e Testamento - talvez só Ele, o Exemplar Perfeito das virtudes Bahá'ís, poderia fazer.

Não só perdoa, mas pede que Deus "não os castigue pela sua crueldade, pelas suas más ações e perversidades..." e implora: "e permite que todas as provações e dificuldades" - que a eles caberiam - "sejam destinadas a este Teu servo, caído nesta cova escura. Torna-me o alvo de todas as penas, e faze de mim um sacrifício por todos os Teus amados! Ó Senhor, Altíssimo! Seja minh'alma, minha vida, meu ser, meu espírito - tudo, oferecido em holocausto por eles."

A seguir, alguns trechos da Segunda Parte do citado documento - A Última Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá - para reflexão de todos, diante de um exemplo de vida que, mais que tudo, retrata bem Quem foi o Bem-Amado Mestre, o Centro do Convênio de Bahá´u´lláh, o Servo de Deus, 'Abdu'l-Bahá:

"Ó meu Senhor, o Anelo de meu coração, Tu a Quem sempre invoco, Tu que és meu Auxiliador e meu Amparo, meu Sustentáculo e meu Refúgio! Vês que estou submerso num oceano de calamidades que me acabrunham a alma, de aflições que me oprimem o coração, de tribulações que estão dispersando aqueles que Tu reuniste, de vicissitudes e dores que põem em debandada Teu rebanho. Cercam-me lastimáveis provações, enquanto que de todos os lados perigos me assediam. Vês que estou imerso num mar de tribulações inexcedíveis, afundando-me num abismo insondável, perseguido pelos meus inimigos e consumido pela chama de seu ódio. Chama esta acesa por meus parentes, com quem fizeste Teu poderoso Convênio e firme Testamento, no qual ordenas que eles volvam os corações para este injuriado, que afastem de mim os insensatos e injustos, e que consultem este solitário a respeito de tudo em Teu Sagrado Livro que possa causar divergência, para que a Verdade se lhes revele, as dúvidas se desvaneçam e Teus Sinais manifestos sejam largamente difundidos.

Agora, no entanto, ó Senhor, meu Deus! - com Teus olhos que não dormem - vês que viraram as costas para Teu Convênio e o romperam, desviando-se de Teu Testamento, com ódio e deslealdade, e que se levantaram, intentando malícia.

Ainda mais severas se tornaram as adversidades à medida que tentavam, com crueldade insuportável, derrotar-me e esmagar-me, enquanto difundiam por toda parte seus pergaminhos de dúvidas, lançando sobre mim calúnias inteiramente falsas. ...

... Ó meu Deus! Poderia haver uma injustiça mais lamentável? ...

... Assim, causaram grande ansiedade e motivaram muitos distúrbios, perturbando as almas e ateando nos peitos o fogo da tristeza e angústia...

... Senhor! Vês todas as coisas se lamentarem por mim, enquanto parentes meus se rejubilam com as minhas tribulações..."

E, então, a invocação que faz a Deus, perdoando e pedindo pela redenção dos pecados de todos aqueles que O prejudicaram tão maldosa e injustamente:

"Invoco-Te, ó Senhor meu Deus, com minha língua e de todo coração. Não os castigues pela sua crueldade, pelas suas más ações, malícias e perversidades, pois são insensatos e ignóbeis, não sabendo o que fazem. Não discernem o bem do mal, o certo do errado, nem distinguem entre a justiça e a injustiça. Seguem seus próprios desejos e andam nas pegadas dos mais imperfeitos e insensatos em seu meio. Ó meu Senhor! Tem piedade deles, protege-os de qualquer aflição, neste tempo de distúrbios, e permite que todas as provações e dificuldades sejam destinadas a este Teu servo, caído nesta cova escura. Torna-me o alvo de todas as penas, e faze de mim um sacrifício por todos os Teus amados! Ó Senhor, Altíssimo! Seja minh´alma, minha vida, meu ser, meu tudo - oferecido em holocausto por eles! Ó Deus, meu Deus! Humilde, suplicante e prostrado diante de Ti, imploro-Te, com todo o ardor da minha invocação, que perdoes a quem quer que me haja injuriado ou contra mim conspirado e meu espírito ofendido, e que apagues as más ações daqueles que foram injustos para comigo. Concede-lhes Tuas boas dádivas, torna-os alegres, alivia-os de sua dor, concede-lhes paz e prosperidade, dá-lhes Tua bênção e graças transbordantes! És o Poderoso, o Benévolo, o Amparo no Perigo, O que subsiste por Si próprio!"

Apêndice 1: O Poder do Convênio

Há um poder nesta Causa - um poder misterioso - muito, muito além do conhecimento dos homens e dos anjos; este poder invisível é a causa de todas essas atividades exteriores. Move os corações. Racha as montanhas. Administra os assuntos complicados da Causa. Inspira os amigos. Esmaga em mil pedaços todas as forças da oposição. Cria novos mundos espirituais. Eis o mistério do Reino de Abha!

Tão firme e poderoso é este Convênio que, desde o princípio dos tempos até o dia presente, nenhuma Dispensação produziu outro igual.

O espírito desta era é o Convênio e o Testamento de Deus. É como a artéria que pulsa no corpo do mundo.

O mundo do Convênio assemelha-se à Árvore Abençoada que cresce, na maior delicadeza e formosura, na margem do rio da Água da Vida, desenvolvendo-se dia a dia e aumentando seu verdor.

Hoje, o poder vibrante que se manifesta por todas as regiões é o poder do Convênio que, feito uma artéria, bate e pulsa no corpo do mundo. Quem permanece mais firme no Convênio recebe maior ajuda, assim como testemunhais claramente que as almas firmes se tornam iluminadas, são atraídas e confirmadas.

O Convênio de Deus assemelha-se a um oceano vasto e insondável, do qual há de surgir uma onda que lance à terra toda a espuma acumulada. Hoje, toda pessoa sábia, vigilante e dotada de previsão desperta, e os mistérios do futuro lhe são desvendados. Nada, senão o poder do Convênio, pode inspirar e impulsar os corações humanos.

Sabe tu, em verdade, o Convênio é um Orbe que brilha e cintila pelo universo. Em verdade, sua luz dissipará as trevas, seu mar lançará a densa espuma das suspeitas na praia da perdição. Em verdade, nada no mundo jamais será capaz de resistir ao poder do Reino. Se toda a humanidade se reunisse não poderia impedir o sol de luzir, os ventos de soprar, as nuvens de emitir suas chuvas, nem poderia privar as montanhas de sua firmeza e as estrelas de sua irradiação. Não! Por teu Senhor, o Clemente! Tudo está sujeito à corrupção, mas o Convênio de teu Senhor continuará a predominar sobre todas as regiões.

Este Convênio é o Convênio Antigo, o Iluminador dos horizontes... É o Testamento e o Convênio, e é mencionado em todos os Livros anteriores e nas Epístolas ulteriores... É a santa fragrância de Sua Santidade, o Criador, o Sopro de Vida de Seu Jardim. É a forte cidadela e, portanto, um abrigo seguro para todos os seres criados. É, numa palavra, a soma de todos os Escritos Sagrados, antigos e modernos!

Agora, no mundo da existência, a Mão do poder divino lançou firmemente o alicerce desta suprema graça e desta dádiva maravilhosa. Tudo o que estiver latente no âmago deste sagrado ciclo aparecerá gradativamente, tornando-se manifesto, pois agora é apenas o começo de seu crescimento e o alvorecer da revelação de seus sinais. Antes do término deste século e desta era, se fará claro e evidente como foi maravilhosa essa primavera, e celestial esta dádiva!

Ó vós amados de Deus, sabei que a constância e firmeza neste novo e maravilhoso Convênio são, em verdade, o espírito vivificador dos corações que transbordam do amor do Senhor Glorioso! Em verdade, é o poder que penetra nos corações dos povos do mundo! Vosso Senhor prometeu, seguramente, aos Seus servos firmes e constantes, que os faria bem sucedidos em todos os tempos, lhes exaltando a palavra e propagando o poder, difundindo a luz, fortalecendo os corações, elevando os estandartes, auxiliando as hostes, fazendo brilhar suas estrelas e crescer a abundância das chuvas da misericórdia que sobre eles caem, habilitando os leões corajosos a ganharem a vitória.

Apressai-vos, apressai-vos, ó vós crentes firmes!
Apressai-vos, apressai-vos, ó vós constantes!

Abandonai o desatento, afastai-vos do ignorante, segurai à corda forte, sede firmes nesta Grande Causa, iluminando-vos com esta Luz Manifesta e sendo pacientes e fiéis nesta sábia Religião!

Havereis de ver as hostes da inspiração descerem sucessivamente do Mundo Supremo, a incessante força de atração proceder das alturas do céu, a abundância continuar a manar do Reino de El -Abhá, e os ensinamentos de Deus penetrarem com o máximo poder, enquanto os que não atendem se encontram, de fato, em prejuízo visível.

Apêndice 2
"Ó Filho da Glória!

Sê veloz no caminho da santidade e entra no céu da comunhão Comigo. Purifica teu coração com o polimento do espírito e apressa-te em alcançar a corte do Altíssimo."1

"Deve-se sorver o vinho da renúncia, atingir as sublimes alturas do desprendimento..."2

Duas importantes virtudes Bahá'ís, quando praticadas na vida diária, são uma garantia para a firmeza no Convênio e para proteção contra todos os perigos que possam ameaçar a fidelidade integral de um Bahá'í ao Convênio de Bahá'u'lláh - veracidade e humildade. A seguir, alguns textos sobre as mesmas.

1. VERACIDADE

"A veracidade é a base de todas as virtudes humanas."3

"O desígnio do Deus Uno e Verdadeiro ao manifestar-Se é convocar todos os homens à veracidade e sinceridade, para serem piedosos e fidedignos, resignados e submissos à Vontade de Deus, para mostrarem tolerância e bondade, retidão e sabedoria. Seu objetivo é adornar todo homem com o manto de um caráter pio, com o ornamento de belas e santas ações."4

"Dize: Sejam a veracidade e a cortesia vossos adornos. Não vos deixeis ser privados do manto da tolerância e justiça, para que os doces sabores da santidade possam manar de vossos corações sobre todas as coisas criadas. Dize: Guardai-vos, ó povo de Bahá, de andar nos caminhos daqueles cujas palavras diferem das ações. Esforçai-vos para que possais manifestar aos povos da terra os sinais de Deus e espelhar Seus mandamentos. Que vossos atos sirvam de guia para toda a humanidade, pois o que é professado pela maioria dos homens, sejam de alto grau ou humildes, difere de sua conduta. É pelas vossas ações que vos podeis distinguir dos outros. Por meio delas, pode o brilho de vossa luz irradiar-se sobre toda a terra. Feliz o homem que atende a Meu conselhos e observa os preceitos dAquele que é o Onisciente, a Suma Sabedoria."5

"Boas palavras e veracidade são, em virtude de seu elevado grau e posição, semelhantes ao sol que se levantou no horizonte do céu do conhecimento."6

"Os que são o povo de Deus nenhuma ambição têm a não ser a de ressuscitar o mundo, enobrecer sua vida e regenerar seus povos. A veracidade e a benevolência, em todos os tempos, têm distinguido suas relações com todos os homens. Sua conduta exterior é apenas um reflexo de sua vida interior, e sua vida interior, um espelho de sua conduta exterior."7

"A veracidade é a base de todas as virtudes humanas. Sem a veracidade, o progresso e o êxito em todos os mundos de Deus são impossíveis para qualquer alma. Quando este santo atributo for estabelecido no homem, todas as qualidades divinas também serão adquiridas."8

2. HUMILDADE

"Suplicai ao Deus Uno e Verdadeiro que vos permita provar o sabor de tais ações que sejam realizadas em Seu caminho e experimentar a doçura de tal humildade e submissão que sejam mostradas por amor a Ele. Esquecei-vos de vós próprios e volvei os olhos para vosso semelhante. Devotai as energias àquilo que possa promover a educação dos homens. Nada é, nem poderá jamais ser, ocultado de Deus. Se seguirdes Seu caminho, Suas bênçãos incalculáveis e imperecíveis manarão sobre vós. Esta é a Epístola luminosa, cujos versículos fluíram com o movimento da Pena dAquele que é o Senhor de todos os mundos. Ponderai isto em vossos corações e sede vós daqueles que observam seus preceitos."9

"A humildade exalta o homem ao céu da glória e do poder, enquanto o orgulho o rebaixa às profundezas da miséria e degradação.

Todo homem de discernimento, enquanto caminha sobre a terra, sente-se de fato envergonhado, visto estar plenamente consciente de que a fonte de sua prosperidade, sua riqueza, sua força, sua exaltação, seu progresso e seu poder é, conforme ordenado por Deus, a própria terra que é pisada pelos pés de todos os homens. Não pode haver dúvida de que quem tem conhecimento desta verdade está purificado e santificado de todo orgulho, arrogância e vaidade."10

"Se algumas diferenças surgirem entre vós, vede-Me diante de vossa face e não olheis as faltas uns dos outros, por consideração a Meu nome e em sinal de vosso amor à Minha manifesta e resplandecente Causa."11

"As confirmações do Espírito são todos aqueles poderes e dons com os quais alguns nascem e que os homens algumas vezes chamam de gênio, enquanto outros têm de envidar infinitos esforços a fim de consegui-los. Estas confirmações vêm para aquele homem ou mulher que aceita sua vida com aquiescência radiante."12

Apêndice 3:

Um Exemplo de Humildade: O Grande Erudito Bahá'í - Abu'l-Fadl

Abu'l-Fadl foi uma das pessoas raras na história da Fé Bahá'í. Ele, que era um servidor exemplar, excelente escritor, renomado erudito, instrutor e educador de primeira categoria, desempenhou um papel ímpar na história da Fé Bahá'í no Irã, em diversas regiões do Turquistão e também nos Estados Unidos. Seus serviços à Causa mereceram menção destacada tanto nos Escritos de Bahá'u'lláh como de 'Abdu'l-Bahá - isso durante os quarenta anos de sua vida espiritual, pois tornou-se Bahá'í já na idade adulta.

A extensão e a diversidade de seus serviços, o número de comunidades Bahá'ís por ele visitadas e, finalmente, a correspondência ininterrupta que mantinha, principalmente com 'Abdu'l-Bahá, foram as razões das inúmeras Epístolas e cartas escritas em sua honra, nas quais são tratados os mais variados assuntos, relacionados com suas ações e idéias. Seus serviços e desafios pessoais oferecem vasto material para análise e estudo dos futuros estudiosos da Fé.

Não se pode descrever em um único artigo os vários atributos deste homem ímpar que, segundo 'Abdu'l-Bahá, deve ser considerado como um exemplo para todos. Mas algumas referências à sua pessoa, em particular sobre um de seus principais atributos - a humildade - mostrarão um pouco da grandiosidade espiritual de sua pessoa, da humildade que tinha perante Deus, perante o Manifestante de Deus e também perante os servos de Deus.

Pessoas sinceras, conhecendo bem a si mesmas e compreendendo a natureza e a forma de ser de outras pessoas, reconhecem que não apenas a riqueza e a posição social, mas também a servidão e a espiritualidade poderão ser motivo de orgulho e vanglória do homem. Isto é, uma pessoa que vê todo mundo atraído por sua erudição poderá ficar tão orgulhosa de si mesma, considerando-se alguém que, no terreno da espiritualidade e servidão, tenha alcançado a mais elevada posição. Abu'l-Fadl alcançou elevadas posições terrenas, mas nunca lhes deu valor, mantendo, desta forma, uma condição de verdadeiro homem.

Quando falamos de humildade perante Deus devemos lembrar que o relacionamento do homem com o Rei da Criação - Deus - mesmo ocorrendo por intermédio da revelação dos Manifestantes de Deus, é alcançado mediante a oração e a servidão, pois, devido à sua incapacidade absoluta, como criatura que é, nada tem a oferecer ao Todo-Poderoso a não ser a súplica e a confissão de sua incapacidade. Sua Santidade, o Báb, explicou que quando desejamos levar um presente a um amigo, procuramos levar-lhe algo que ele não possua. E as únicas coisas que Deus não possui são incapacidade e indigência, necessidades essas que podem ser oferecidas pelo verdadeiro servo através de orações.

A atitude de Abu'l-Fadl perante o Manifestante de Deus é outra lição de humildade. Quando aquela jóia brilhante, após longo tempo, alcançou o oceano da fé e da certeza, os amigos de Deus, seguindo o costume da época, pediram-lhe que escrevesse uma carta para a Terra Santa expressando o grau de servidão de um crente. Mas Abu'l-Fadl, não obstante ser um exímio escritor, não se achou capaz de se aventurar a tal iniciativa. Escreveu apenas um verso do Alcorão e enviou a um dos residentes na Terra Santa para que o entregasse à Sua Santidade. O verso dizia: "Ó Deus, ouvimos alguém que nos convidou a aceitar a Fé, e nós aceitamos. Ó Deus, perdoa nossos pecados, esquece nossas transgressões e associa-nos à assembléia dos bons no mundo vindouro."

Ele continuou agindo desta forma durante toda a vida terrena do Prometido das Nações (Bahá'u'lláh) e, embora tivesse a honra de receber dezenas de Epístolas reveladas em seu nome e fosse alvo de atenções especiais da Pena Suprema, nunca esqueceu de sua condição de servo. A maioria de suas cartas consistia de orações, que enviava a um dos residentes para serem entregues à presença de Deus. Em uma das cartas enviadas de Isfahán, escreveu: "Quando alguém quer enviar uma carta, procura a mim. Nunca mandei carta à Terra Santa à presença do Bem Amado, enaltecido seja o Seu Nome, e, mesmo assim, pedem-me a toda hora para lhes escrever um rascunho." E em outra carta escreve: "Não é do meu feitio, e de outros como eu, escrever diretamente à presença da Abençoada Beleza, pois não nos sentimos dignos de tal ação. E, se for necessário escrever, escolhemos uma das orações reveladas para que seja lida em Sua presença."

Nos primeiros tempos, depois de sua aceitação da Fé, desejava de todo coração, como qualquer outro crente, visitar seu Bem-Amado, mas à medida que aprofundava o seu conhecimento nos Escritos de Bahá'u'lláh, sentia-se menos digno de tal honra. Em uma carta, escreve: "Ó amigo de meu coração. Durante algum tempo este coração apaixonado desejava tanto visitar o semblante do Prometido que nem sequer descansava por um segundo; até que um dia encontrei este versículo do Alcorão, que dizia: "Quem deseja encontrar o semblante de Deus deverá praticar uma ação louvável... Aí encontrei o meu caminho."

Em relação à sua humildade perante os amados de Deus, há inúmeras histórias. Ele não se julgava digno de servir os que haviam alcançado o grau de reconhecimento do Bem-Amado. Certa vez, nos Estados Unidos, ouviu um amigo falando mal de outro amigo. Esperou até o final e então pediu ao tradutor que traduzisse, palavra por palavra, a sua fala. Primeiramente perguntou à pessoa se reconhecia Bahá'u'lláh, segundo as profecias, como o Senhor dos Exércitos. E, quando o que reclamava do amigo concordou, Abu'l-Fadl lhe disse: "Se Bahá'u'lláh é o Senhor dos Exércitos, os que nEle acreditam são Seu exército. Como tem coragem de falar mal do exército de Deus?"

Eis aqui outra história sobre ele, contada pelos amigos: Quando aumentou o número de buscadores da Verdade em Beirute, Abu'l-Fadl foi também para essa cidade, residindo inicialmente em uma casa bem modesta, mudando-se, posteriormente, para um hotel. Naquela época, era muito grande o vaivém dos Bahá'ís e cada um que ficava sabendo que Abu'l-Fadl se encontrava na cidade queria logo visitá-lo. Aquele homem, exemplo de erudição e renomado filósofo, com o corpo encurvado e as mãos trêmulas, já idoso, punha-se a servi-los e fazia questão de fazer tudo sozinho, não permitindo que outros o ajudassem. Se quisesse, por exemplo, servir chá, ele mesmo ia buscar a água, colocava a chaleira em cima do fogareiro a álcool, lavava as xícaras e as enxugava com pano de seda, servindo o chá a todos, um por um. Por mais que lhe pedissem para permitir que outros ajudassem, ele não aceitava. Passavam-se, assim, duas ou três horas para servir o chá. Não queria que outros lhe servissem, ele é que devia servir aos outros.

Certa vez, uma senhora americana que o considerava incomparável em conhecimento, iluminação espiritual e benevolência, perguntou-lhe a razão de tanta devoção e inexistência absoluta no limiar de 'Abdu'l-Bahá, e ele respondeu: "Minha senhora, antes de atingir a presença de 'Abdu'l-Bahá não poderá saber o que se passa. Deus queira que consiga, algum dia, ter esse privilégio. Então perceberá que Abu'l-Fadl não merece nem a servidão de 'Abdu'l-Bahá."

Sempre que se elogiava seu conhecimento profundo e seu extraordinário domínio sobre os livros e tratados da história, da filosofia e da religião, e lhe perguntavam a razão de toda a sua erudição, respondia:

"Meus conhecimentos foram e são da Escola da Causa de Deus, e isso é apenas uma pequena porção da turbulência do mar das graças do Centro do Convênio. Pessoalmente, não possuo poder algum. A farta mesa de Deus está estendida para todos. Cada um pode, sob a bandeira do Convênio, tornar-se o mestre de Abu'l-Fadl. Tudo o que possuo provém da Causa de Deus e do Centro do Convênio. Se não existisse a graça de Deus eu seria hoje um simples mullá (sacerdote) em um cantinho de uma mesquita em Gulpáygán (sua cidade natal), trabalhando de aprendiz."

Orações Especiais de Proteção pelo Convênio

Para finalizar, transcrevemos uma oração de Bahá'u'lláh e cinco orações de 'Abdu'l-Bahá. Sua leitura, todas as manhãs, será um bálsamo para a alma, alegria para o coração e uma luz de guia e poder para uma vida correta e digna nos assuntos humanos; e uma graça divina de luz espiritual para o progresso eterno do ser humano.

Levantei-me esta manhã por Tua graça, ó meu Deus, e parti de minha casa com toda a confiança em Ti e entregando-me a Teus cuidados. Faze descer sobre mim, pois, do céu de Tua misericórdia, uma bênção de Tuas mãos, e deixa-me voltar para casa em segurança, assim como me permitiste sair, sob Tua proteção, com meus pensamentos dirigidos constantemente a Ti.

Não há outro Deus senão Tu - Uno, Incomparável, Onisciente, a Absoluta Sabedoria.

Bahá'u'lláh

Ó Deus, refresca e alegra meu espírito. Purifica meu coração. Ilumina meus poderes. Em Tuas mãos confio todos os meus interesses. És meu Guia e meu Refúgio. Não mais se apossarão de mim a tristeza e a ansiedade, e sim, o contentamento e a alegria. Ó Deus, jamais me entregarei à aflição, nem permitirei que os desgostos me atormentem ou as coisas desagradáveis da vida me inquietem.

Ó Deus, és mais meu Amigo do que eu o sou de mim mesmo. Dedico-me a Ti, ó Senhor.

'Abdu'l-Bahá

Ó meu Deus! Ó meu Deus! Glória a Ti por me haveres confirmado na confissão de que és Uno, e me atraído para a palavra de Tua unicidade; por me haveres feito arder com o fogo do Teu amor e me ocupado em Te mencionar e em servir a Teus amigos e a Tuas servas.

Ó Senhor, ajuda-me a ser humilde e submisso; fortalece-me para que eu possa de tudo me desprender e segurar-me á fímbria das vestes da Tua glória, a fim de que meu coração se torne pleno de Teu amor, não deixando espaço para o amor ao mundo e o apego às suas qualidades.

Ó Deus! Santifica-me de tudo, menos de Ti; purifica-me da escória dos pecados e das transgressões, e faze-me possuir coração e consciência espirituais.

Verdadeiramente, Tu és misericordioso; em verdade, Teu é o auxílio e Tua, a dádiva.

'Abdu'l-Bahá

Ó meu Senhor e minha Esperança! Ajuda Teus amados a serem firmes em Teu poderoso Convênio, a permanecerem fiéis à Tua Causa manifesta e a cumprirem os mandamentos que lhes prescreveste em Teu Livro de Esplendores; para que se tornem estandartes de guia, lâmpadas da Assembléia no Alto, mananciais da Tua infinita sabedoria e estrelas que guiam à senda reta reluzindo do céu superno. Tu, em verdade, és o Invencível, o Onipotente, o Todo-Poderoso.

'Abdu'l-Bahá

Ó Deus compassivo! Dou-Te graças por me haveres despertado e tornado consciente. Tu me deste olhos que vêem e me favoreceste com ouvidos que ouvem; conduziste-me a Teu Reino e guiaste-me à Tua Senda. Tu me mostraste o caminho certo e me fizeste entrar na Arca da Salvação. Ó Deus! Faze-me continuar constante e torna-me firme e inabalável. Protege-me das provações violentas e preserva e abriga-me na fortaleza inexpugnável de Teu Convênio e Testamento. Tu és o Poderoso! És Quem vê! És Quem ouve! Ó Tu, o Deus compassivo! Concede-me um coração que, feito um espelho, possa ser iluminado com a luz de Teu amor, e confere-me um pensamento que possa transformar este mundo em um jardim de rosas através da graça espiritual. Tu és o Compassivo, o Misericordioso! És o Deus Grande e Benévolo!

'Abdu'l-Bahá

Ó Deus, meu Deus! Tu vês como este Teu servo injuriado está preso às garras de leões ferozes, de lobos vorazes, de feras sanguinárias. Ajuda-me, pelas Tuas graças e por meu amor a Ti, a fim de que eu possa sorver profundamente do cálice que transborda de fidelidade a Ti e que está repleto de Tuas generosas dádivas; para que eu, caído sobre o pó, fique prostado, esvaído, enquanto as vestes se tinjam de carmesim com meu sangue. É esse meu desejo, o anseio de meu coração, minha esperança, meu orgulho, minha glória.

Permite, Ó Senhor, meu Deus, meu Refúgio, que, em minha hora final, meu fim, semelhante ao almíscar possa emitir sua fragrância de glória! Haverá alguma dádiva maior que essa? Não, por Tua glória! Invoco-Te como Testemunha de que não passa dia algum sem que eu beba abundantemente desse cálice - tão lastimosas são as más ações praticadas pelos rompedores do Convênio, aqueles que provocaram discórdias e demonstraram sua malícia, instigando sedição na Terra e desonrando-Te entre Teus servos.

Senhor! Defende desses rompedores do Convênio a poderosíssima Fortaleza de Tua Fé e protege Teu Santuário secreto contra a investida dos ímpios.

Tu és, em verdade, o Grandioso, o Potente, o Misericordioso, o Forte.

'Abdu'l-Bahá
Referências
APRESENTAÇÃO
1- As Palavras Ocultas, do árabe, n. 7.
2- Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh, CLI.
3- Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh, CLIII.
4- Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh, VIII.
5- Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh, LXVI.
6- Os Sete Vales, p. 56.
7- Orações e Meditações Bahá'ís, p. 157.
8- Orações e Meditações Bahá'ís, p. 266.
9- As Palavras Ocultas, do persa, n. 56.
10- As Palavras Ocultas, do persa, n. 57.
11- Bahá'í World Faith, p. 357.
12- Tablets of 'Abdu'l-Bahá, p. 145.
PRIMEIRA PARTE: O CONVÊNIO DE Bahá'u'lláh

Fontes: Adib Taherzadeh. The Covenant of Bahá'u'lláh, pp. 1-4 e pp. 261-268.

1- As Palavras Ocultas, do persa, n. 29

2- A Dispensação de Bahá'u'lláh, 2ª edição, p. 10.

3- As Palavras Ocultas, do árabe, n. 59
4- As Palavras Ocultas, do persa, n. 27
5- As Palavras Ocultas, do persa, n. 26
6- As Palavras Ocultas, do persa, n. 11
7- Orações Bahá'ís
8- O Dia Prometido Chegou, 2ª ed., p. 111.
9- Kitáb-i-Íqán, 2ª ed., 1977, p. 14.
10- Kitáb-i-Íqán, 2ª ed., 1977, p. 102.
11- Kitáb-i-Aqdás, 1ª ed.,1995, p. 17.
12- A Dispensação de Bahá'u'lláh, 2ª ed., p. 54.
13- Kitáb-i-Aqdas, 1ª ed., 1995, p. 62.
'Abdu'l-Bahá

Fonte: Shoghi Effendi. A Dispensação de Bahá'u'lláh, capítulo sobre 'Abdu'l-Bahá.

SEGUNDA PARTE
Mirza ÁQÁ JÁN-I-KÁSHANÍ

Fonte do primeiro texto: Adib Taherzadeh, A Revelação de Bahá'u'lláh, vol.I, Apêndice I, pp. 365-370.

Fonte do terceiro texto: Adib Taherzadeh, The Covenant of Bahá'u'lláh, pp.181-183:

1- Dr Yúnis Khán, Khátirát-i-Nuh-Sáliy-i-'Akká, pp. 89-90.

2- Idem, pp. 54-56.
3- Idem, pp. 84-85.
4- pp. 109 a 112.
5- pp. 170-171.
6- Número 14, páginas 181-192.
7- pp.403-405.
8- Má'idiy-i-Ásamání, vol. 1, pp. 59-60.
9- Makátib-i-'Abdu'l-Bahá, vol. 4, p. 14.
10- A Revelação de Bahá'u'lláh, vol. I, cap. 3.
Mirza MUHAMMAD-JAVÁD-I-QAZVÍNÍ

Fonte: Adib Taherzadeh, The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. II, pp. 275-280.

1- The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. II, pp. 277-278.

2- As Palavras Ocultas, do árabe, n. 55.
3- As Palavras Ocultas, do persa, n. 80.
SIYYID MIHDÍY-I-DAHAJÍ

Fonte do segundo texto: Adib Taherzadeh, The Covenant of Bahá'u'lláh, pp.216-217.

1- Adib Taherzadeh, The Covenant of Bahá'u'lláh, pp. 166.

MAJDU'D-DÍN

1- Adib Taherzadeh, The Covenant of Bahá'u'lláh, p. 148.

2- idem, p. 164.
3- idem, p. 180.
4- idem, pp. 226-228.
5- idem, p. 356.
Mirza MUHAMMAD-'ALÍ

Fonte do primeiro texto: Adib Taherzadeh, A Revelação de Bahá'u'lláh, vol.I, pp. 152-163.

Fonte do segundo texto: Shoghi Effendi, A Presença de Deus, pp. 334-341.

1- The Bahá'í World, vol. IX, p. 624-625, artigo sobre Hájí 'Alí Yazdí.

2- Memórias não publicadas de Hájí Muhammad Táhir-i-Málmírí.

3- Shoghi Effendi, A Presença de Deus, pp. 337-339, para as palavras citadas.

4- Shoghi Effendi, A Dispensação de Bahá'u'lláh, 1985, pp. 53-54.

5- Idem, p. 54.
TERCEIRA PARTE
Mirza MUHAMMAD-'ALÍY-I-NAHRÍ

Fonte: Adib Taherzadeh, The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. II, pp. 202-209.

1- Vide Os Rompedores da Alvorada.

2- Nabíl-i-A'zam, The Dawn-Breakers, pp. 208-209 (edição americana).

3- Para maiores detalhes, vide Os Rompedores da Alvorada.

4- Vide A Revelação de Bahá'u'lláh, vol. I, p. 20.

5- Vide A Revelação de Bahá'u'lláh, vol. I, p. 60-61.

6- Epístola ao Filho do Lobo, p. 149-150.
7- The Bahá'í World, vol. VIII, pp. 261-262.
8- Idem.
Mirza NASRU'LLÁH-I-TAFRISHÍ

Fonte do primeiro texto: Adib Taherzadeh, The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. III, pp. 22-24.

Fonte do segundo texto: 'Abdu'l-Bahá, Memorials of the Faithful, pp. 154-155.

MULLÁ MUHAMMAD-I-ZARANDÍ

Fonte do primeiro texto: 'Abdu'l-Bahá, Memorials of the Faithful, pp. 32-36.

Fonte do segundo texto: Adib Taherzadeh, A Revelação de Bahá'u'lláh, vol.I, pp. 238-245.

ÁQÁ HUSAYN-I-ISFAHÁNÍ

Fonte: 'Abdu'l-Bahá, Memorials of the Faithful, pp. 97-101.

Mirza 'ALÍY-I-SAYYÁH

Fonte: Adib Taherzadeh, The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. II, pp. 209-221.

1- Vide Os Rompedores da Alvorada.

2- Nabil-i-A´zam, The Dawn-Breakers, 315-16 (ed. britânica), 431-33 (ed. americana).

3- Vide The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. II, p. 328 e seguintes.

4- Vide A Revelação de Bahá'u'lláh, vol. I, p. 31-33.

5- Vide A Revelação de Bahá'u'lláh, vol. I, p. 222-225.

6- Bahá´u´lláh, citado por Shoghi Effendi em A Presença de Deus, p. 257.

7- Nabil-i-A´zam, citado por Shoghi Effendi em A Presença de Deus, p. 198.

8- Bahá´u´lláh, As Palavras Ocultas, nº 59, do árabe.

9- Idem, nº 27, do persa.
10- Idem, nº 26, do persa.
11- Idem, nº11, do persa.
12- Idem, nº 41, do árabe.
13- Idem, nº 7, do árabe.
ÁQÁ HUSAYN-I-ÁSHCHÍ

Fonte do primeiro texto: H. M. Balyuzi, Bahá'u'lláh - The King of Glory, pp. 473-474.

Fonte do segundo texto: Adib Taherzadeh, The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. III, pp. 12-13.

Fonte do terceiro texto: Adib Taherzadeh, The Revelation of Bahá'u'lláh, vol.III, pp. 55-56.

Fonte do quarto texto: Adib Taherzadeh, The Revelation of Bahá'u'lláh, vol.III, pp. 69-72.

ÁQÁ 'ABDU'L-GHAFFÁR-I-ISFAHÁNÍ

Fonte do primeiro texto: H. M. Balyuzi, Bahá'u'lláh - The King of Glory, p.467.

Fonte do segundo texto: 'Abdu'l-Bahá, Memorials of the Faithful, pp. 59-61.

Mirza MUHAMMAD-QULÍ

Fonte: 'Abdu'l-Bahá, Memorials of the Faithful, pp. 70-71.

1- Vide A Presença de Deus, p. 161.
Mirza MIHDÍ

Fonte: Adib Taherzadeh, The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. III, pp. 204-216.

1- Vide A Revelação de Bahá'u'lláh, vol. I, p. 18-19.

2- Vide A Revelação de Bahá'u'lláh, vol. I, p. 73-75.

3- Memórias, não publicadas.

4- Vide The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. III, p. 65-67.

5- Memórias, não publicadas.
6- Vide The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. II.

7- Vide The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. III, p. 57-58.

8- Citado por Shoghi Effendi, em sua mensagem "A Potência Espiritual daquele Local Consagrado" de 21 de dezembro de 1939, Messages to America, p. 34.

9- Vide The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. III, Apêndice III.

10- Shoghi Effendi, A Presença de Deus, p. 262.

11- Carta aos crentes no Oriente, 25 de dezembro de 1939.

12- Carta aos crentes no Oriente, Ridvan de 1989 (abril de 1933).

13- Para mais informações vide A Presença de Deus.

14- Vide The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. II, p. 94.

15- Citado em Messages to America, p. 34.
16- 25 de dezembro de 1939.

17- Vide A Revelação de Bahá'u'lláh, vol. I, p. 307-308, e vol. II, p. 416-417.

18- Citado em Messages to America, pp. 33-34.
EPÍLOGO

Fonte: A Última Vontade e Testamento de 'Abdu'l-Bahá, pp. 21-24.

APÊNDICE 1

Fonte: 'Abdu'l-Bahá, A Revelação Bahá'í. Editora Bahá´í do Brasil, 1976, pp. 175-178.

APÊNDICE 2
1- As Palavras Ocultas, do persa, n. 8.
2- Kitáb-i-Íqán, p. 145.

3- 'Abdu'l-Bahá, em Bahá'u'lláh e a Nova Era, p. 84.

4- Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh, CXXVII.
5- Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh, CXXXIX.
6- Bahá'u'lláh, em Padrão de Vida Bahá'í, p. 52.

7- Bahá'u'lláh, em Padrão de Vida Bahá'í, pp. 52-53.

8- 'Abdu'l-Bahá, em Padrão de Vida Bahá'í, p. 53.

9- Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh, pp. 18-19.

10- Bahá'u'lláh, em Padrão de Vida Bahá'í, p. 16.
11- Bahá'u'lláh, em Padrão de Vida Bahá'í, p. 45.

12- 'Abdu'l-Bahá, em Padrão de Vida Bahá'í, p. 45.

APÊNDICE 3

Fonte: Adib Taherzadeh, The Covenant of Bahá'u'lláh.

Bibliografia

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Kitáb-i-Íqán, Bahá'u'lláh. Rio de Janeiro, RJ, Editora Bahá'í do Brasil, 1977.

Kitáb-i-Aqdas. Bahá'u'lláh. Mogi Mirim SP, Editora Bahá'í do Brasil, 1995.


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