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Política - Uma perspectiva bahá'í
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Mohiman Shafa : Política - Uma perspectiva bahá'í
POLÍTICA,UMA PERSPECTIVA BAHÁ'Í
Mohiman Shafa
Editora Bahá'í do Brasil
Revisão: Tiago Bassani Dantas
P R E F Á C I O

Os Bahá'ís não tomam parte em atividades político-partidárias, devido a uma proibição de inscrever-se e de atuar na militância partidária, como nós a conhecemos.

Essa atitude, não raro, causa estranheza - ou espanto - a muitas pessoas e, mesmo muitos Bahá'ís não têm, às vezes, como explicar o porquê desse posicionamento, que é quase sempre tomado como "omissão".

O autor deste livreto, atento observador das realidades sociais e profundo conhecedor dos Ensinamentos Bahá'ís que é, aponta uma nova e abrangente concepção da política sob o enfoque dos ensinamentos de Bahá'u'lláh, abrindo aos leitores uma clara perspectiva de situação válida e participativa na sociedade, demonstrando que as pessoas podem trabalhar em prol da construção de um mundo melhor, seguindo os Ensinamentos Bahá'ís, sem o risco de serem tomadas por "omissas" ou "indiferentes". Muito longe disso, serão tomadas por socialmente muito ativas.

Esta obra, além de constituir um manancial de visão Bahá'í para a sociedade, esclarece, aos que ainda não conhecem a Fé Bahá'í, a verdadeira conceituação da política, muito mais vasta do que a distorcida concepção corrente; elucida questões de premente atualidade, como os problemas raciais, a segurança coletiva, a conquista da paz, a atuação da mulher e a questão das minorias, entre outros; e o faz com visão de conjunto, com poder de concisão e com seqüência lógica, indispensáveis ao leitor que busca uma solução prática para os problemas que a vida em sociedade lhe coloca a cada dia.

O autor não apenas nos brinda com mais um livro. Preenche uma lacuna, tão válido e interessante é o seu trabalho.

Editora Bahá'í do Brasil
I N T R O D U Ç Ã O

Este trabalho é uma coletânea de alguns conceitos contemporâneos e universais sobre política, e a atitude dos membros da Comunidade Internacional Bahá'í* em relação aos eventos sociais e posições políticas nas aldeias, cidades ou metrópoles onde eles residem.

*A Fé Bahá'í tem representações acreditadas na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, em Genebra e no Programa de Meio Ambiente, em Nairóbi. Esta participação da Comunidade Internacional Bahá'í na ONU, como Organização Não-Governamental, data de 1948. A representação da Fé Bahá'í é independente e apolítica, não sendo subsidiada por nenhum governo e não aceitando qualquer contribuição financeira que não venha das próprias comunidades Bahá'ís.

Em 1970 a Comunidade Internacional Bahá'í foi distinguida, obtendo caráter consultivo no Conselho Econômico e Social (ECOSOC) e, em 1976, no Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Na sua contribuição mundial em prol da paz e da unidade, a comunidade Bahá'í publica, em mais de 800 línguas, ensinamentos promovendo os direitos humanos, a eliminação do racismo e dos preconceitos, a igualdade entre homens e mulheres, a proteção e a educação das crianças, o desenvolvimento social, a ciência e a tecnologia, entre outras questões. Também trabalha para solucionar problemas relacionados à violência, ao alcoolismo e ao uso de narcóticos, à degradação do meio ambiente, etc.

A Comunidade Internacional Bahá'í participa das Conferências Internacionais e dos Seminários da ONU, bem como dos fóruns das Organizações Não-Governamentais, submetendo apreciações, estudos e diretrizes relacionados à solução dos mais graves problemas mundiais.

Ao mesmo tempo, ante o estado lastimável em que se encontram as nações, quer no campo moral, social ou econômico - em virtude das violências e distorções generalizadas a que todo cidadão está exposto - não poderíamos deixar de apresentar algumas respostas que o Médico Divino nos trouxe, como remédio para toda a humanidade.

O indivíduo e a sociedade, tão cheios de problemas, perplexos e ansiosos, enfrentam hoje, uma etapa de transição até chegarem à maturidade e tomarem plena consciência que o bem-estar de um está necessariamente vinculado ao bem-estar de todos.

Nota do autor:

Os textos obtidos dos livros com título em inglês foram traduzidos pelo autor e, portanto, não podem ser considerados como traduções oficiais ou autorizadas.

"A verdadeira civilização içará sua bandeira no âmago do coração do mundo,

em qualquer época em que um determinado número de seus proeminentes e magnânimos soberanos - os dignos exemplos de devoção e perseverança - se levantarem pelo

bem e felicidade de todos os homens, com firme decisão e esclarecida visão

para estabelecer a causa da Paz Universal."
'Abdu'l-Bahá
1. A POLÍTICA

Na verdade, dentro de certa ótica, todo ser humano é político e terá sucesso em todos os campos, na medida em que dominar "a arte no trato das relações humanas com vistas a obter resultados desejados".

Desde o momento que nos penteamos de manhã frente ao espelho e cuidamos dos detalhes com a roupa, o brilho do sapato, o perfume, etc., estamos exercitando a política de vender uma imagem melhor e mais apropriada de nós mesmos. A maneira com que sorrimos ou cumprimentamos, nosso tom de voz quando solicitamos, informamos, determinamos ou mesmo quando silenciamos; o modo com que abordamos amigos, clientes, fornecedores, credores e patrões, faz parte do mesmo processo de obter resultados desejados com "civilidade" e "cortesia".

Contudo, com freqüência, os Bahá'ís têm evitado participar de conversas sobre questões sociais, até entre eles mesmos, em razão da orientação concernente ao caráter apolítico da Fé. Em muitos casos, o princípio de não-envolvimento em política partidária tem sido usado por alguns como justificativa de permanecerem indiferentes a eventos correntes, e até ignorá-los e/ou afastarem-se dos problemas sociais.

A política é um fato natural da convivência humana. Os mais antigos indícios da presença do homem na Terra já o mostram vivendo em grupos, em função de sua segurança. Mas, se desde os primórdios o homem vive em sociedade, se a vida solitária é uma exceção e a social um mandato imperioso da própria natureza humana, os problemas relativos à direção e liderança, no grupo social, impõem uma relativa especialização de funções, embrião de uma futura ordem social.

Se, no começo da vida humana, os fenômenos ocorriam natural e espontaneamente, logo que o homem começou a disciplinar o raciocínio e a investigar o mundo, buscando a lógica dos fatos, as causas primeiras e últimas, comparando suas idéias com a realidade circundante, enfim, logo que o homem começou a metodizar o conhecimento, tiveram início as primeiras especulações e reflexões filosóficas sobre os problemas decorrentes da convivência social.

No começo da Antigüidade Clássica, seus maiores filósofos, entre eles Platão e Aristóteles, dedicaram-se a estudos sobre o assunto. A Grécia antiga nos deu também a palavra para designá-los - política - derivada de polis, a cidade-estado. A partir de então, vem sendo constante o estudo dos fenômenos políticos, que só ganhou caráter científico após Maquiavel, com sua obra "O Príncipe" . Maquiavel retirou da política os aspectos éticos, dominantes em Platão e Aristóteles.

Atualmente, os estudos sobre Política abrangem todas as formas de conhecimento, desde a Filosofia até a Arte, passando pela Ciência e pela Técnica. Pode-se assim considerar uma Filosofia Política, uma Ciência Política, uma Técnica Política e uma Arte Política. Mas, como observa Themístocles Cavalcanti, quando se usa apenas a palavra "política", se está referindo mais propriamente à Arte Política, como expressão de uma atividade.

Outro aspecto a esclarecer, quanto aos estudos da Política, é em relação às suas múltiplas definições e diversas acepções, pois, conquanto experiência antiga e universal, não se chegou a um conceito para a Política que, sendo global e sintético, traduza os diferentes sentidos em que o termo é empregado.

É provável que a grande confusão entre os Bahá'ís a respeito desta questão derive do fato de que a palavra "política" tem uma vasta série de significados.

Inicialmente, para evitar confusões a respeito do uso polissêmico do termo "política", é preciso alertar-se para os três equívocos que Raymond Aron aponta para esse termo.

O primeiro resulta do fato de que o termo "política", em português, se emprega em duas acepções diferentes, que, em inglês, se expressam por palavras distintas: policy e politics.

A primeira designa a política como programa de ação, ou a ação de indivíduos, instituições ou governos. Por exemplo: política de investimentos de tal companhia ou a política do Marquês de Pombal. A palavra "política", em nosso língua, designa também outra realidade, a da política, isto é, a política-espaço ou domínio onde se enfrentam as diferentes políticas programadas pelos grupos ou partidos e, no plano internacional, pelos diferentes governos.

O segundo equívoco dá-se quando a palavra "política" designa a realidade e o conhecimento que dela se tem. Fala-se da política brasileira, onde se conflitam os programas dos partidos, e como sendo a história da política redigida por um especialista. A política pode ser também entendida como o desenvolvimento da consciência espontânea, indispensável para o funcionamento de um sistema político.

O terceiro e último equívoco, e o mais importante, é de novo o uso da palavra "política" para designar o sistema político e um aspecto da sociedade, do ponto de vista da coordenação e direção de suas atividades, para o fim que lhe é próprio. É a confusão entre política como sistema parcial e política como sistema global.

Explicados seus diversos significados, verifica-se que o termo "política", em sentido estrito, se refere a uma dimensão da sociedade. Falar em política dentro das Escolas de Pensamento e instituições é falar de uma realidade aparente, mas diversa, e para a qual não se devem transferir as ideologias e os conflitos existentes na política.

Num plano mais voltado à ação, cabe à Política congregar vontades em torno de objetivos, gerar consensos, suportes da ação administrativa, destinar os meios para os diferentes setores do Estado, definir orientações para os mesmos, em função de um projeto nacional ou internacional. (1)

Vamos agora situar-nos em algumas definições:
Política Econômica

Meio pelo qual um governo busca regular ou modificar as atividades econômicas de uma nação. Um complexo de relações que aglomera os membros da sociedade. A política, nesse sentido, é também chamada economia política ou política corporativa. (3)

Não se presume que os Bahá'ís se abstenham do planejamento, desenvolvimento e rumos da economia. É impossível agir assim, em qualquer caso, sem se afastarem inteiramente da sociedade. (2)

Processo de Tomada de Decisões do Governo

Visam-se mecanismos de eleições, deliberação, legislação etc. Os Bahá'ís têm liberdade de envolver-se, contanto que não se filiem a partidos políticos e não se engajem em campanhas eleitorais, mesmo em nível de candidatos individuais.

Os Bahá'ís votam em eleições; podem também procurar emprego como juizes, membros de conselhos de educação planejamento e outros cargos técnicos dentro dos órgãos governamentais. (2)

Luta pelo Poder Dentro do Governo

Dessa arena os Bahá'ís devem abster-se. Não podem se filiar a partidos políticos e não devem se aliar a nenhuma facção. A competição partidária pelo poder é, num sentido, a sublimação da guerra civil, e os partidos, dessa forma, agem como exércitos políticos.

Não obstante, nada há contra requerer-se uma ação urgente por meio de um deputado. As recentes advocacias no Senado e Câmara Federal em favor dos Bahá'ís perseguidos do Irã e a difusão dos princípios Bahá'ís é um exemplo de como isso pode ser feito dentro das leis da Fé. (2,3)

Política e Ética

Teoricamente, os ideais políticos baseiam-se em certos princípios éticos, ou julgamento de valores. Hoje em dia, no entanto, o pensamento político é dirigido pela sua própria ética. Alguns políticos sustentam que os valores morais são subjetivos e cada indivíduo deve julgá-los a seu modo. (4)

'Abdu'l-Bahá enfatizou: "... Os Bahá'ís não devem engajar-se em movimentos políticos que levem à sedição. Devem interessar-se por movimentos que conduzem à lei e à ordem..." (5)

Nesse campo, "política" pode ser definida de duas formas:

A - Civilidade, Cortesia, Cerimônia, Reverência;
B - astúcia, ardil, artifício, esperteza. (3)

É óbvio qual a postura dos amantes da Beleza Antiga.

A Arte de Governar os Estados e Regular as Relações que Existem Entre Eles

Aristóteles, filósofo grego, chamava a ciência política de "a ciência mestra". Achava que a ciência política era a mais importante de todas, porque dela dependiam todas as outras ciências; que sua principal tarefa era elaborar um modelo de organização política que, por sua vez, deveria estabelecer o máximo de justiça, mantendo-se ela inteiramente estável.

Os cientistas de hoje, face à ameaça de uma guerra nuclear, concluem que saber controlar politicamente os resultados do trabalho científico - em outras palavras, saber como manter a paz - é provavelmente a maior de todas as tarefas humanas. (6)

'Abdu'l-Bahá situa a posição dos governantes (reis) justos, logo e apenas abaixo da dos Profetas de Deus e enfatiza que seus nomes têm ecoado através da criação, como campeões dos direitos dos homens. (7)

Partido Político

É um grupo que tenta promover a eleição de seus candidatos a cargos públicos e dessa forma controlar ou influenciar as ações do governo. (4)

Teoricamente, tal grupo tem como meta a justiça social e o bem-estar da comunidade ou nação a que pertence. Julga-se detentor da competência e da solução mais adequada para os problemas nacionais e, a menos que efetivamente controle o governo, estará em permanente disputa eleitoral com outros partidos que têm os mesmos pensamentos e metas. Shoghi Effendi, guardião da Fé Bahá'í , esclarece:

"Nós Bahá'ís somos os mesmos em todas as parte do mundo; estamos procurando construir uma nova Ordem Mundial, divina em sua origem. Como podemos fazer isto se cada Bahá'í for membro de um partido político diferente - alguns deles diametralmente opostos uns aos outros? Onde, então , está a nossa unidade? Seríamos divididos, em virtude da política, contra nós mesmos e isto seria o oposto do nosso propósito.

Obviamente, se um Bahá'í na Áustria tem a liberdade de escolher um partido político e se filiar a ele, por melhor que sejam seus objetivos, outro Bahá'í no Japão ou na América, ou Índia, tem o direito de fazer a mesma coisa e poderá pertencer a um partido, o qual seja em principio totalmente oposto àquele a que pertence o Bahá'í na Áustria. Onde, então, estaria a unidade da Fé? Estes dois irmãos espirituais estariam trabalhando um contra o outro em virtude de suas afiliações políticas (como os cristãos da Europa estiveram fazendo em tantas guerras fratricidas)". (8)

E encontramos uma declaração da Casa Universal de Justiça no mesmo sentido:

"Se um Bahá'í fosse insistir em seu direito de apoiar um determinado partido político, não poderia negar o mesmo grau de liberdade a outros crentes. Isto significaria que dentro das fileiras da Fé, cuja missão primária é a de unir todos os homens como uma grande família à sombra de Deus, haveria Bahá'ís uns contra os outros. Onde, então, estaria o exemplo de unidade e harmonia que o mundo está procurando". (9)

Político (politician)

O dicionário de ciências sociais da Fundação Getúlio Vargas define o termo "político" como usado para indicar uma pessoa ativamente empenhada na luta pelo poder ou por algum cargo governamental, luta cujo sucesso em grande parte depende dos favores de outros. Em qualquer contexto social, o vocábulo poderá, ou não, ser aplicado em sentido pejorativo, dependendo dos meios utilizados nessa luta e/ou do modo pelo qual é exercido o poder.

Basicamente, "político" designa "uma pessoa que, seja qual for o objetivo, está ativamente empenhada na luta pelo poder governamental ou por algum cargo".

Poder Político

O conceito do poder político tradicional, poder de algum homem sobre os demais, fora da comunidade bahá'í, não é algo mau.

Contudo, nós cremos que, na Fé Bahá'í, um dos conceitos mais revolucionários que existe é abolir o conceito de poder político. Ele não é válido. Deve desaparecer do dicionário, da mente e do vocabulário. Não é legitimo na Fé que um indivíduo ou um grupo tenha poder sobre os demais.

O poder político deve ser substituído pelo poder da unidade, poder do convênio, beleza, alegria, algo que penetra os corações, mas que também se expresse com serviço.

Na velha ordem há a pirâmide do poder. Na Nova Ordem há a pirâmide do serviço.

2. O PROCESSO ELEITORAL ATUAL E A PROPOSTA BAHÁ'Í: UMA ANALOGIA

"... Mas todo aquele que for grande entre vós, deverá ser vosso servo; e o que de vós for o supremo chefe, será o servo de todos. Pois mesmo o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir..."

Marcos X, 35-45

Todo partido político, além da sua ideologia e plataforma sócio-econômica, deve possuir um líder, isto é, eleger um líder. Os fatores que influem na sua eleição são: carisma, bom passado, aparência, competência política e, decididamente, a conquista individual dos delegados da convenção por meios, em certos casos, mesmo não convencionais. Portanto, cada candidato a líder representa uma facção dentro do corpo dos delegados na convenção e, uma vez eleito, terá como principal tarefa o restabelecimento da unidade dentro do partido, antes de exercer o poder.

O líder eleito e os membros de seu partido devem agora competir com outros partidos através de eleições, se desejam subir ao poder. E os eleitores devem ser seduzidos por todo tipo de promessa. Visando uma coligação, necessária para obter uma maioria ou controle de parlamento, a plataforma eleitoral será muito generalizada, a fim de satisfazer diferentes grupos, o que acabará tendo semelhança com os partidos de oposição. Como conseqüência dessa luta feroz pelo poder, a dinâmica da confrontação mantém idéias possivelmente válidas à margem de qualquer consideração objetiva. São automaticamente recebidas com indiferença, quando não rejeitadas. Permitir que a opinião do adversário seja considerada construtiva ou justa, seria equivalente a suicídio político.

Uma campanha eleitoral é também caracterizada pela manipulação da máquina administrativa para ganhar votos, as guerrilhas de pressão, táticas e negociações inescrupulosas, insultos em público, ataques publicitários, fraudes e bocas-de-urna. Cada centavo gasto em campanha eleitoral tenta tolher o livre arbítrio do eleitor, sujeitando-o à opinião do grupo que está patrocinando a campanha.

Chamamos isso de democracia? Serão os verdadeiros interesses dos cidadãos que realmente movem essas campanhas?

Na ordem administrativa bahá'í, somente as Instituições estão investidas de autoridade e desaparece a autoridade individual. O sistema não permite que a causa gire ao redor de qualquer personalidade bahá'í; e as Assembléias (colegiados), e não os indivíduos, constituem a pedra fundamental sobre a qual a administração está baseada.

Os membros das Assembléias Locais e Nacionais são eleitos anualmente numa data fixa, e os membros da Casa Universal de Justiça são eleitos a cada cinco anos. Para essas eleições, as leis Bahá'ís proíbem nomeação de candidatos e qualquer tipo de propaganda, pois todos são automaticamente candidatos.. Conseqüentemente, não existem campanhas eleitorais.

O eleitor é chamado para votar somente naqueles em quem a oração e meditação o inspirem, considerando as qualidades necessárias de lealdade inquestionável, abnegada devoção, de uma mente bem treinada, capacidade reconhecida e experiência madura.

Para cumprir essa responsabilidade, ele, por sua própria iniciativa, deve procurar conhecer os membros da sua comunidade e saber quem são, como pensam, suas qualidades, caráter, senso de ética; pois ele sabe que em data marcada, terá que votar em nove nomes para compor o conselho administrativo ou a Assembléia Espiritual da sua cidade.

Neste ato, o eleitor contribui com desprendimento dos seus interesses pessoais, sincera investigação da verdade e senso de justiça, à qual Bahá'u'lláh se refere como "A mais amada de todas as coisas... Nela te apoiando, verás com teus próprios olhos e não com os alheios; saberás pela tua própria compreensão e não pela compreensão de teu semelhante..."

O segundo objetivo básico de um partido político, depois de chegar ao poder, é permanecer no poder. Importantes decisões administrativas, nomeações, propaganda governamental, orçamento, gabinete, projetos públicos, todos têm conotações políticas de interesses pessoais, de facções, de eleitores, ou grupos que apoiaram os candidatos do partido. Chega-se até o ponto de eficazes e experientes técnicos nos campos de educação, saúde e outros serviços públicos vitais e estratégicos, serem substituídos por "elementos de confiança" políticos ou meros cabos eleitorais. Novamente os interesses públicos são, na realidade, desprezados.

De outro lado, os membros da oposição assumem uma postura específica e uma meta compreensível - o de provar a incompetência da equipe que exerce o poder. Querendo subir ao poder para demonstrar a sua visão de uma sociedade viável, eles estarão mais inclinados a acentuar as falhas do governo, em detrimento de suas realizações. O resultado é uma atmosfera de farsa, angústia, desconfiança, medo, tensão, conflito e confrontação.

Na Ordem Administrativa Bahá'í, os eleitores não votam por um programa, mas sim por indivíduos. E os membros eleitos para as instituições não estão ligados a uma ideologia particular, uma classe social ou grupo de pressão, pela óbvia razão de que eles não buscaram a posição que agora ocupam. Suas decisões estão assim livres de qualquer consideração partidária eleitoral ou de mandato. Isto, no entanto, não impede os membros da Comunidade Bahá'í de observarem e acompanharem o comportamento dos seus representantes.

Os membros das Assembléias Bahá'ís (colégios) não devem ser governados pelos sentimentos, pela opinião geral ou mesmo pelas convicções da maioria dos eleitores.

Eles devem seguir, em atitude de oração, as ordens e incitações de suas consciências. Eles podem e - de fato - devem familiarizar-se com as condições prevalecentes dentro da comunidade, devem pesar desapaixonadamente os méritos de qualquer caso ou projeto para sua consideração, mas devem reservar para si mesmos o direito de decidir irrestritamente.

A excessiva centralização do poder nas administrações atuais e a gigantesca escala de suas instituições, têm levado as pessoas eleitas a reclamarem da solidão do poder. Decisões tomadas revelam-se inadequadas para os cidadãos como um todo. A falta de comunicação e a frustração são sentidas por ambos os lados. Quanto aos objetivos governamentais que visam somente eficiência tecnológica, lucratividade e controle, os resultados são, de modo geral, uma enorme burocracia e uma desumanização dos serviços e da administração pública.

Em vista desse problema, a instituição da Festa De Dezenove Dias conduz os membros eleitos de várias instituições a familiarizarem-se com as condições prevalecentes na comunidade. Como o calendário Bahá'í é constituído de dezenove meses de dezenove dias cada um, há, portanto, dezenove ocasiões regulares e reconhecidas para consulta geral por parte da comunidade e para consulta com a Assembléia Local e os membros da comunidade. Além disso, as Convenções Bahá'ís nacionais e regionais representam oportunidades adicionais para consulta, tais como, entre votantes e delegados eleitos, e entre delegados e membros da Assembléia Espiritual Nacional.

Outro aspecto importante na eleição Bahá'í é que cada eleitor vota por uma Assembléia completa, isto é, ele vota em nove pessoas ao invés de uma. Esta característica protege a comunidade contra ênfase excessiva a determinados indivíduos. Isso também ajuda o eleitor a pensar sobre a Assembléia como um todo e a variedade de qualidades e diversidade de bases que ela precisa, para funcionar de forma mais eficaz. Além de escolher os mais leais, capazes e maduros, um Bahá'í estará também consciente da necessidade de ter na Assembléia uma seleção equilibrada e plenamente representativa da comunidade.

Segundo Shoghi Effendi, "a Assembléia deve ser representativa dos elementos mais seletos, mais variados e capazes em cada comunidade bahá'í".

Ao contrario do que acontece em todos as nações e povos, sejam eles do Leste ou do Oeste, democráticos ou autoritários, comunistas ou capitalistas, do Velho Mundo ou do Novo, que ignoram, espezinham ou mesmo exterminam as minorias raciais, religiosas ou políticas, as comunidades Bahá'ís devem considerar como sua primeira e inevitável obrigação nutrir, encorajar, e salvaguardar toda minoria pertencente a qualquer fé, raça, classe ou nação, no seio delas.

Tão grande e vital é este princípio que, em circunstâncias como o empate de votos numa eleição, ou quando as qualificações para um cargo estão equilibradas entre várias raças, fés ou nacionalidades dentro da comunidade, a prioridade deve então, sem hesitação, ser conferido ao participante que representa a minoria.

Conforme orientação de Shoghi Effendi, o que os amigos devem fazer é tornar-se bem informados uns a respeito dos outros, trocar idéias, integrar-se livremente e discutir entre si os requisitos e qualificações para ser membro (de uma Assembléia) sem propaganda ou pedido de votos para indivíduos em particular, mesmo se indiretamente.

Devemos abster-nos de influenciar a opinião dos outros e de pedir votos para um indivíduo em particular; em vez disso, salientar a necessidade de conhecermo-nos uns aos outros, mais através de contato direto e experiência pessoal do que através de relatórios e opiniões de nossos amigos.

"... Considerar sem o menor traço de paixão ou preconceito, independentemente de qualquer consideração material, os nomes daqueles que podem melhor combinar as qualidades necessárias de lealdade inquestionável, de abnegada devoção, de uma mente bem treinada, de reconhecida capacidade e madura experiência..."

Shoghi Effendi (10, 24)
3. OBEDIÊCIA AO GOVERNO

'Abdu'l-Bahá enfatiza que a essência do espírito Bahá'í é obediência às leis e princípios dos governos, para que se possa estabelecer uma ordem social e uma condição econômica melhor: "Devemos obedecer ao governo do país e desejar seu bem..."

Shoghi Effendi esclarece: "O que a declaração do Mestre realmente significa é obediência a um governo devidamente constituído, qualquer que seja a forma deste governo. Não compete a nós, como Bahá'ís individuais, julgar se o nosso governo é justo ou injusto - pois cada crente seguramente teria um ponto de vista diferente e, dentro do nosso próprio aprisco bahá'í, um ninho de dissensão surgiria e destruiria a nossa união". (11)

Ele afirma ainda: "A todos os regulamentos administrativos que, de tempos em tempos, as autoridades civis têm emitido, ou que no futuro emitirão, tanto nesse como nos demais países, a comunidade bahá'í, fiel às suas sagradas obrigações para com seu governo e consciente de seus deveres cívicos, tem prestado e continuará a prestar obediência implícita."

"Devemos obedecer em todos os casos, exceto onde um princípio espiritual está envolvido, por exemplo, negar nossa Fé. Por estes princípios espirituais devemos estar dispostos a dar nossa vida". (12)

A Casa Universal de Justiça orientou: "Os Bahá'ís obedecem à lei, Federal ou Estadual, a não ser que a submissão a estas leis equivalha a uma negação de sua Fé. Vivemos a vida bahá'í, total e continuamente, a menos que impedidos pelas autoridades. Isto implica, mesmo não declarado categoricamente, que a um Bahá'í não é requerido julgar a procedência da lei Federal ou Estadual - compete às cortes decidir isto". (13)

No tocante à interferência em assuntos políticos, Shoghi Effendi ressalta: "A atitude dos Bahá'ís deve ser dupla: completa obediência ao governo do país onde residem e nenhuma interferência, qualquer que seja, em assuntos ou questões políticas."

"O princípio cardeal que devemos seguir... é obediência ao governo reinante em qualquer país em que se resida..." (11)

Sobre a atitude dos Bahá'ís em relação a controvérsias resultantes dos Planos de Ação dos governos, Shoghi Effendi declarou:

"Em tais controvérsias eles não deveriam atribuir culpa, tomar partido, promover objetivos, e se identificarem com qualquer sistema prejudicial aos melhores interesses dessa Confraternidade mundial que é seu objetivo guardar e promover." (14)

Da mesma maneira, a Casa Universal de Justiça escreveu, que a Fé "Mantém-se distante de todas as controvérsias e transcende a todas, ao mesmo tempo em que prescreve a seus seguidores lealdade ao governo e um patriotismo saudável."

Com referência às apresentações públicas em conexão com a Causa, Shoghi Effendi orientou:

"Ao mesmo tempo em que nos empenhamos em sustentar lealmente e expor conscienciosamente nossos princípios sociais e morais em toda a sua essência e pureza, em todas as suas relações sobre as diversas fases da sociedade humana, deveríamos nas assegurar que nenhuma referência direta ou critica especial em nossa exposição dos princípios básicos de nossa Fé teria a tendência de antagonizar qualquer instituição existente, ou ajudar a identificar um movimento puramente espiritual com os clamores e as disputas desprezíveis de seitas, facções e nações antagônicas." (8)

Ele ainda orienta quanto às abordagens públicas, escritas ou verbais:

"Deveríamos nos empenhar para combinar em todas as nossas declarações, a discrição e nobre reticência do sábio, com a franqueza, e apaixonada lealdade do defensor ardente de uma Fé inspiradora. Ao mesmo tempo em que nos recusando a pronunciar a palavra que desnecessariamente alienaria ou afastaria qualquer indivíduo, governo, ou povos; deveríamos, sem medo e resolutamente, apoiar e afirmar em sua totalidade tais verdades cujo conhecimento cremos seja vital e urgentemente necessitado para o bem e o melhoramento da humanidade."

"Resta aos indivíduos usarem o seu direito ao voto de tal modo que se mantenham à parte da política partidária, e sempre ter em mente que estão votando nos méritos do indivíduo, em vez de porque ele pertence a um partido ou outro. O assunto deve ser perfeitamente esclarecido aos indivíduos que terão a liberdade de exercer sua discrição e discernimento." (8)

4. A ALIENAÇÃO

Bahá'u'lláh chamou a humanidade de "desatenta". Ele, o Médico Divino, na Sua remota prisão, prognosticou com precisão infalível as raízes e conseqüências dos males que nos envolvem.

Hoje, mesmo com uma visão superficial, detectamos dispositivos muito bem planejados e em funcionamento, destinados a manter desatentos o jovem, a mulher e o homem, de todas as camadas sociais e em todos os países, em proporção direta à corrupção do seu sistema político. Meios de comunicação, supervalorização de campeonatos, comercialização de datas e eventos de natureza sagrada e espiritual, promoção do consumo, luxo, status, álcool, fumo e uma tolerância disfarçada às drogas e condutas abusivas.

Nota-se um esforço enorme para massificar-nos, para tornar-nos seres insensíveis, desumanos, materialistas; e nossos filhos, mentalizados favoravelmente para atos de violência.

Shoomaker diz que as primeiras reações da sociedade humana foram estas:

a - A alienação do homem ao seu semelhante;
b - A alienação do homem ao seu trabalho;
c - A alienação do homem à natureza;

d - A alienação do homem ao seu verdadeiro ser interior, criativo - à sua potencial unidade de alma, corpo e espírito;

e - A alienação do homem ao seu Criador, na perda daquela transcendente visão, apreciação e amor que nos trazem do nada e concedem significado e propósito às nossas vidas. (15)

É assombrosa a abrangência da alienação global que invade a nossa civilização. Na verdade, a maioria absoluta de nós desconhece, ou simplesmente se omite, do fato de que 400 milhões de pessoas passam fome no planeta.

Dois terços da população do mundo vivem sob governos opressores ou incompetentes, onde uma minoria detém privilégios e a grande maioria, "perplexa, angustiada e impotente", caminha rumo à pobreza e miséria absolutas e, derivando disso, à desagregação de suas famílias.

A Revolução Industrial empurrou a pobreza às nações pobres e os países desenvolvidos enquadram, sujeitam e exploram as economias dos países em desenvolvimento. Por outro lado, estes são considerados, freqüentemente, peões políticos, na luta que "os poderosos" travam para manter a sua esfera de influência.

Nos países do terceiro mundo, salvo raras exceções, o desenvolvimento não atinge os pobres. Os sistemas de educação e saúde sofrem uma deterioração acelerada, em virtude dos orçamentos minguantes, salários deploráveis de professores, enfermeiros, médicos, assistentes sociais, pesquisadores; e verbas desviadas, sem a menor cerimônia, para outras finalidades, sem falar de armamentos e sistemas de defesa.

Como conseqüência desses desmandos, a renda per capita deficiente, que atinge também outras classes profissionais, como a área judicial, tributária e de segurança, engendra, por sua vez, prostituição e corrupção generalizadas e, gradativamente, tidas e aceitas como normais.

No nosso país, no mínimo uma em cada cinco famílias vive em estado de pobreza absoluta (renda per capita menor que um quarto do salário mínimo). Nas cidades, 40% dessas famílias são fortemente atingidas pelo desemprego e milhares delas lançam mão do trabalho das crianças nas ruas para sobreviver. Na maior parte dos casos, os menores das famílias pobres trabalham sem estudar, enfrentam jornadas de doze a catorze horas por dia e dedicam-se a trabalhos pesados como bóias-frias, ajudantes na construção civil, carregadores de feiras, etc.

Em cada dez menores nossos, seis são carentes e um é abandonado. Brincar, aliás, é um verbo raras vezes conjugado por um número muito grande de crianças, que têm de ganhar a vida nas ruas. Para algumas, não há sequer trabalho; resta a mendicância, o roubo, ou a prostituição no início da adolescência. (16)

É o chamado "quarto mundo", que cresce para o nosso pesar e angústia e, quem sabe, consciência.

Na década de 40, Mahatma Gandhi questionava:

"Como pode o indivíduo moderno manter sua paz interior e sua segurança exterior? Como pode conservar-se honesto, livre e autenticamente ele próprio, em face dos assaltos que se efetuam contra ele, por parte da força de governos poderosos, da força de poderosas organizações econômicas, da força do mal que reside nas maiorias cruéis e nas minorias militantes, e da força que agora se extrai do átomo?"

"Os ideais que regulam minha vida são representados pela aceitação da humanidade em geral... Não tenho a menor sombra de dúvida de que qualquer homem, ou qualquer mulher, possa conseguir o que consegui, se realizar o mesmo esforço, cultivando a mesma esperança e a mesma fé. Sou apenas uma pobre alma lutadora, ansiando por ser inteiramente boa... sei que ainda tenho diante de mim uma trajetória difícil a percorrer."

Referindo-se ao Seu cativeiro de quarenta anos, Bahá'u'lláh, a Figura mais extraordinária e sublime do século passado, declarava:

"A Beleza Antiga consentiu em ser confinada por grilhões, para que a humanidade fosse livrada de sua escravidão; aceitou o encarceramento nesta irredutível Cidadela, a fim de que o mundo inteiro atingisse a verdadeira liberdade. Até a última gota, sorveu Ele da taça da tristeza para que todos os povos da terra alcançassem a perene felicidade e se tornassem plenos de alegria..." (34)

Em 1932, Shoghi Effendi alertava a Comunidade Bahá'í, especialmente os jovens:

"A presente condição do mundo - sua instabilidade econômica, dissensões sociais, insatisfação política e desconfiança internacional - deve despertar os jovens da inércia e fazê-los inquirir o que o futuro vai trazer".

Certamente, são eles que mais sofrerão se alguma calamidade precipitar-se sobre o mundo. Devem, portanto, abrir os olhos às condições existentes, estudar as forças malignas que estão em atividade e, então, com esforço concentrado, erguer-se e levar a efeito as necessárias reformas - reformas que conterão no seu escopo os aspectos, tanto espirituais quanto sociais e políticos da vida humana." (17)

Conhecemos "a realidade das condições existentes"? Estudamos "as forças malignas"? Temos dado passos efetivos para reformas "tanto espirituais quanto sociais e políticas da vida humana"?

Pode cada sincero seguidor da Abençoada Beleza e portador do Seu nome permanecer omisso ao Seu apelo e alienado perante um mundo cuja penúria é um insulto à dignidade humana?

"O campo, em verdade, é de tal imensidão, o período é tão crítico, a Causa de tamanha grandeza, os trabalhadores tão poucos, o tempo tão curto e o privilégio de tão inestimável valor, que nenhum seguidor da Fé de Bahá'u'lláh, que seja digno de ser chamado por Seu nome, pode hesitar por um momento sequer." (26)

5. AÇÃO SOCIAL

Por mais que os Bahá'ís devam evitar identificar-se com qualquer partido político, devem também tomar o cuidado de não cair no outro extremo, de jamais tomar parte em outros grupos progressistas, em conferências ou comitês designados a promover alguma atividade totalmente de acordo com a doutrina bahá'í, tais como melhores relações raciais.

É dever inabalável de cada bahá'í, portanto, demonstrar a doutrina de sua Fé tanto em atos quanto em palavras. A exigência de fazer nossos atos dizerem o mesmo que nossas palavras, em relação aos princípios sociais, conduzirá inevitavelmente ao reino da ação social. Tal ação é uma extensão necessária do compromisso com os ensinamentos da Fé, especialmente quando outros grupos manifestam nossos próprios ideais Bahá'ís, publicamente.

Lee cita que, em certa ocasião, diversos estudantes da Universidade de Chicago juntaram-se a um protesto contra o preconceito racial e carregaram um cartaz contendo a palavra BAHÁ'Í. Ellsworth Blackwell perguntou a Shoghi Effendi se havia algo de errado no protesto do grupo de estudantes Bahá'ís contra o preconceito racial, reunindo-se a outras organizações estudantis. (2)

Em nome de Shoghi Effendi, respondeu sua secretária (jan. 1948): "O Guardião não vê objeção alguma a que estudantes Bahá'ís participem de protesto como o que foi publicado. Ao contrário, não vê como podiam permanecer indiferentes quando outros estudantes estavam enunciando nossa própria posição sobre assunto tão vital e a respeito do qual julgamo-nos tão zelosos". (35)

Lee diz que, apesar de os ensinamentos Bahá'ís oferecerem orientação ao crente e o induzirem a transformação, convocando-o aos mais elevados padrões de moralidade pessoal e desenvolvimento espiritual, está claramente enunciado nos escritos sagrados da Fé que nenhuma abundância de santidade individual conseguirá, por si, resultar na subjugação das injustas e opressivas condições sociais que hoje existem por toda parte.

Em todos os Seus escritos, o próprio Bahá'u'lláh propugna pela reforma política, econômica e social. Condena especificamente a tirania de governantes absolutos e a opressão das massas, deplora a guerra e a corrida aos armamentos, denuncia as altas verbas para gastos militares, aprova o modelo parlamentarista de governo, clama pela criação de uma ordem internacional, etc.

Estamos portanto diante do desafio de "erguer-se e levar a efeito as necessárias reformas" e não podemos dar-nos ao luxo da equivocada suposição de que, simplesmente por sermos Bahá'ís, estaremos isentos de toda responsabilidade de também trabalharmos para o aperfeiçoamento da sociedade, não apenas para encontrar oportunidade de difundir os princípios da Fé, mas também para "imbuir com o espírito de forma e de poder tais movimentos". (2)

Há, porém, um fato fundamental para termos em mente: o de que os males que causam a miséria e o sofrimento indescritíveis de milhões de seres humanos (com os mesmos sonhos e aspirações que nós) e as doenças que afligem o corpo inteiro da humanidade, não se limitam a uma enxaqueca ou dor de cabeça que possam ser curadas com "aspirinas" simplesmente. A natureza da enfermidade é muito mais grave e suas raízes muito mais profundas. A ação das sociedades filantrópicas e caridosas é apenas superficial, pois o que a humanidade oprimida, abandonada e desamparada necessita é de justiça e não de caridade. Justiça é um preceito moral e espiritual. Ao mesmo tempo, não se pode deixar um paciente perecer por falta de soro, "aspirina" ou mesmo cobertor. Os Bahá'ís são incentivados a colaborar com, e participar das fundações e sociedades filantrópicas (sem cunho político) como Rotary, Lions, Febem, Escotismo, etc.

Há um vasto campo de serviço social que não podemos abandonar por temor ao excesso de precaução, especialmente quando a Fé Bahá'í começa a emergir da obscuridade, se desejamos ser levados a sério pelas pessoas esclarecidas e progressistas.

A Casa Universal de Justiça orienta : "Porque o amor por nossos semelhantes e a angústia por sua difícil situação são partes essenciais de uma vida Bahá'í verdadeira, somos continuamente atraídos a fazer o que podemos para ajudá-los. É vitalmente importante que assim o façamos sempre que a ocasião se apresente, pois nossas ações devem dizer a mesma coisa que nossas palavras - porém, não devemos permitir que a compaixão por nossos semelhantes desvie nossas energias para canais que, em última análise, estão fadados ao fracasso, fazendo com que negligenciemos o trabalho mais importante e fundamental de todos. Há centenas de milhares de pessoas que desejam o bem da humanidade, que devotam suas vidas a trabalhos lenitivos e de caridade, mas, lamentavelmente, há poucos para fazer o trabalho que o próprio Deus mais deseja que seja feito: o despertar espiritual e a regeneração da humanidade." (19)

6. OS DESAFIOS DO NOSSO TEMPO

Não há duvida de que os desafios que a humanidade enfrenta nesta época são enormes. E são aqueles que vêm junto com a idade adulta. Se os enfrentarmos com sucesso, haverá a perspectiva de uma idade áurea, de beleza e intensidade inimagináveis, e jamais vislumbradas na história do homem. Se fracassarmos, teremos que atravessar uma fase de horrenda destruição antes de alcançarmos a Paz Máxima que é predestinada, uma certeza. Parece que não há meio caminho: ou nós amadurecemos na direção do nosso destino, ou afundamos por algum período nos maiores abismos. Huddleston enumera os seguintes desafios:

O primeiro é como estabelecer uma paz universal e permanente.

Bombas nucleares foram lançadas duas vezes, em 1945, no Japão; e sabemos que, pelo menos em algumas ocasiões, desde então, o seu uso tem sido seriamente considerado: 1951, 1955, 1962, 1968 - para citar datas de instâncias mais bem conhecidas. Cada nação que possui tais armas, evidentemente, tem planos para seu uso, caso contrário não as teria produzido, em primeiro lugar.

De outro lado, a paz não é apenas ausência da guerra ou da sua ameaça. Paz é o verdadeiro bem-estar de todos os indivíduos, é o livre e natural exercício dos direitos do homem e da mulher, da criança e do ancião; é a garantia de uma vida digna e serena para todos os indivíduos do nosso planeta.

O segundo maior desafio do nosso tempo poderia ser descrito como qual a melhor maneira de utilizar os recursos naturais disponíveis e limitados no nosso planeta. Há pelo menos três facetas interligadas com estes problemas:

A - A má distribuição de renda entre a população de mais de 6 bilhões no planeta. Mesmo nos países mais ricos há muitos que vivem na miséria.

Embora historicamente a existência dos extremos da riqueza e pobreza não fosse novidade, acontece que hoje a ciência moderna proporciona aos homens meios de escaparem do peso esmagador da pobreza e obter um grau básico de conforto material, mas somente se este objetivo for considerado de alta prioridade. Os pobres estão se tornando conscientes desta possibilidade e não aceitam mais a sua pobreza como um fato inevitável da vida.

Enquanto esta iniqüidade perdurar, não poderá surgir uma paz duradoura e de âmbito mundial.

B - O número de habitantes e o crescimento da população do mundo. A população da terra levou cem anos para crescer de um para dois bilhões, e somente trinta anos mais para alcançar três bilhões. Persistindo esse ritmo, existem evidências de que haverá crescente carência de recursos básicos, como terras férteis, água potável e combustíveis fósseis. A ONU prevê que seremos cerca de 10 a 14 bilhões até os meados do próximo século, antes que diversos fatores e programas em processo venham estabilizar o crescimento populacional.

C - O efeito dos processos atuais no meio ambiente. A crua, gananciosa e cega exploração dos recursos e hábitos sociais extravagantes são agora reconhecidos como causadores da maciça poluição do ar, da terra e do mar, alem do efeito estufa e da destruição da camada de ozônio.

Há meios técnicos de aliviar os piores efeitos colaterais dos processos industrial e social. Contudo, esses novos métodos são custosos e poderiam, portanto, diminuir o ritmo do crescimento econômico. Estando os países pobres na maior necessidade de crescimento econômico, serão provavelmente os que mais sofrerão.

Deve-se lembrar que a maior parte da poluição é causada pela minoria rica do mundo, à qual a maioria pobre deseja imitar.

O terceiro maior desafio da humanidade, e provavelmente o menos reconhecido como tal, é como curar o profundo mal-estar espiritual que tem contagiado todos os níveis da sociedade em quase todos os países do mundo.

Esse mal-estar, ou profunda sensação de perda de direção, tem aumentado durante varias décadas e, como era de se esperar, foi detectado primeiro pela comunidade artística. Houve uma mudança de direção a partir de um otimismo ou, pelo menos, aceitação dos fatos do mundo, para um crescente pessimismo e angústia.

A maioria dos pobres, em todos os países, sente que eles não têm uma escora na sociedade e que não há esperança para o futuro. Aqueles a quem os pobres invejam e consideram como seus opressores, mal parecem mais satisfeitos.

Muitos da classe média encontram a sua única satisfação no seu emprego e o resto de suas vidas é um deserto. Os aborrecimentos e frustrações de suas vidas privadas os levam a se apoiarem em sedativos, divã do psiquiatra, sexo frenético, álcool e drogas.

As crianças de ambos, ricos e pobres, estão na mesma forma, cada vez mais desgostosas com o materialismo vazio, hipocrisia, e sobretudo a vida sem afeto dos seus pais, e sentem-se completamente alienados da sociedade.

De outro lado, a debilitação da moral em todas as camadas da sociedade, é expressa no uso da droga que, por sua vez, é um dos agentes de crescimento do crime. O crime oficializado, como uma ponta do iceberg, é o lado mais óbvio do declínio da moralidade social que se manifesta nas desonestidades, qualidades de bens e serviços, meias-verdades e mentiras óbvias nas propagandas comerciais e na arena política.

Isso leva a outro mal-estar social do nosso tempo, que é o desrespeito a todas as formas de autoridade. O respeito aos governos, quer democráticos, quer autoritários, de direita ou esquerda, tem declinado vertiginosamente nos últimos anos. Em todo o mundo, os policiais são vistos como opressores, particularmente dos pobres, ao invés de protetores da sociedade; e os jovens, cada vez mais, desprezam e ignoram seus pais e professores.

Esses três desafios vistos aqui resumidamente: guerra e paz, distribuição racional dos recursos mundiais e o todo-predominante mal-estar espiritual, se relacionam ao homem, em conflito consigo mesmo, com seus colegas, com seu ambiente. Eles estão intimamente interligados, são de âmbito mundial no escopo e requerem respostas de âmbito mundial.

A questão é: que espécie de resposta pode o homem produzir agora para resolver esses conflitos, vencer os desafios e conquistar gloriosas oportunidades pela frente?

Embora haja atualmente uma inclinação natural, reforçada pela ignorância, e uma sensação de impotência, a dizer "O que é que eu posso fazer?", não há como se esconder. Cedo ou tarde as coisas chegarão a uma erupção e, quando isso acontecer, revoluções, guerras e bombas não respeitarão a classe alta ou média mais do que os subúrbios e favelas. Não há onde se esconder. Pensar que existe algum lugar seguro é ao mesmo tempo egoísmo e miopia. (24)

7. A NECESSIDADE DE MUDANÇAS

Um dos pensadores de nosso tempo, Roger Garaudy, questiona se os partidos políticos têm dado resposta aos problemas fundamentais da nossa época. Ele pergunta: por que os partidos, as sabedorias, as Igrejas, não trazem para o mundo aquilo de que tem tanta necessidade: um centro, uma meta, uma fé?

Crer, hoje, que a humanidade tem um futuro é fazer um ato de fé que não é uma aposta arbitrária; é um ato de amor, uma esperança, com todos as ações preventivas que suscita. (29)

Fromm diz que a necessidade de uma mudança humana profunda surge não apenas como um imperativo ético ou religioso, não apenas como uma exigência psicológica, decorrente da natureza patogênica de nosso caráter social de hoje, mas também como uma condição para a simples sobrevivência da espécie humana... Pela primeira vez na historia, a sobrevivência física da espécie humana depende de uma radical mudança do coração humano. (40)

Wells, historiador de renome, declara que a vida social e política é, e conservar-se-á, caótica e desastrosa, enquanto não se desenvolver, adequadamente, algum plano construtivo, ao tipo de esboços do socialismo, para a sua reconstrução; uma nova ordem para abrigar e unificar a humanidade em seu seio.

Ele vislumbra que, da perturbação e tragédia destes tempos e da confusão que nos defronta, poderá emergir uma renovação moral e intelectual, "uma renovação religiosa de tal simplicidade e amplidão, que reúna e unifique homens de raças estranhas e tradições agora afastadas em um só modo de vida, comum e firme, para o serviço do mundo". Não podemos prever a largueza e força de tal renovação. Os começos de tais coisas nunca são espetaculares. Os grandes movimentos da alma humana surgem primeiro "como um ladrão no meio da noite", e depois, repentinamente, revelam-se poderosos e universais. A emoção religiosa, despida de corrupções e liberta dos últimos laços sacerdotais - pode, dentro em pouco, explodir, de novo, através da vida, como um grande vento, arrebentando as portas e fazendo voar as vendas e cortinas da vida individual e tornando possíveis e fáceis muitas coisas que nos parecem, nos dias atuais de exaustão, demasiadamente difíceis para se poder sequer desejá-las.

Não podemos preparar o indivíduo para a comunidade quando as nossas próprias idéias de comunidade estão destruídas e em vias de reconstrução. As velhas lealdades e fidelidades, os velhos e demasiado estreitos postulados políticos e sociais, as velhas e demasiado complexas fórmulas religiosas perderam seu poder de convicção e as idéias maiores de um Estado Universal e de uma comunidade ou república econômica mundial, só muito lentamente é que vem abrindo o seu caminho e conquistando o reconhecimento geral.

A conquista e realização do Estado Universal podem ser impedidas e sofrer a oposição de muitas forças aparentemente vastas; mas há, por outro lado, a fazê-lo marchar, uma força muito mais poderosa - a livre e crescente inteligência comum da humanidade.(30)

Em seguida, Wells passa a traçar o que acredita vir a constituir os fundamentos do próximo Estado Universal, dos quais os dois primeiros seriam:

1 - Baseado em uma religião comum, muitíssimo simplificada e universalizada e melhor compreendida. Essa religião não será o cristianismo, nem o islamismo, nem o budismo, nem nenhuma forma assim especializada de religião, mas a religião em si mesma, pura e incorrupta.

2 - Tal Estado Mundial será sustentado por uma educação universal, organizada em escala e com poder de penetração e qualidade superiores a toda e qualquer experiência atual. Toda a espécie humana, e não apenas classes e povos, será educada. (30)

Hoje, segundo Shoghi Effendi, "Os princípios humanitários e espirituais enunciados décadas atrás, no Oriente, por Bahá'u'lláh, e por Ele modelados num sistema coerente, estão sendo, um a um, adotados por um mundo inconsciente de sua Fonte, como marcos de uma civilização progressista.

O perceber de que a humanidade rompeu com o passado e que as antigas diretrizes não a levarão através das emergências do presente, gerou incerteza e apreensão em todo homem que pensa, salvo naquele que encontrou na mensagem de Bahá'u'lláh o significado para todos os prodígios e portentos de nossos tempos.

É para essa meta - a meta de uma Nova Ordem Mundial, divina em origem, de âmbito irrestrito, eqüitativa em seus princípios e de características desafiadoras - que a humanidade atribulada deve dirigir seus esforços." (31)

8. NOSSA PROPOSTA

Em 1985 a Casa Universal de Justiça fez a seguinte observação:

"Chegou o momento em que aqueles que pregam os dogmas do materialismo, quer os do Leste, quer os do Oeste, tanto o do capitalismo quanto o do socialismo, terão de prestar contas da tutela moral que têm presumido exercer.

Onde está o 'novo mundo' prometido por essas ideologias? Onde está a paz internacional a cujos ideais proclamaram a sua devoção? Onde estão os avanços para novos domínios de progresso cultural produzidos pelo enaltecimento desta raça, daquela nação ou de determinada classe? Por que é que a vasta maioria dos povos do mundo está se afundando cada vez mais na fome e na miséria, quando os árbitros atuais das questões humanas têm à sua disposição riquezas incalculáveis, numa escala jamais concebida pelos faraós e pelos césares, nem mesmo pelas potências imperialistas do século passado?" (20)

Hofman ressalta que a proposta Bahá'í não oferece benefícios em troca de nada. Paz, prosperidade, cultura e descanso, sem o preço adiantado do esforço espiritual e intelectual. Essas coisas hoje são possíveis, mas têm de ser conquistadas.

Em primeiro lugar é preciso reconhecer que uma ordem social repousa sobre a conduta individual. O trabalho sério, a independência, o bom caráter, a autodisciplina, são os alicerces da civilização. Não podem ser impostos de cima, arbitrariamente, segundo o plano de quem quer que seja.

A ordem mundial de Bahá'u'lláh é um objetivo que podemos vislumbrar em esboço e pelo qual podemos trabalhar. Não é um milênio mágico, resultado de alguma ação especial política ou econômica. Está fundada no conceito espiritual da unidade do gênero humano e edifica uma estrutura na qual essa unidade pode ser preservada e desenvolvida. "A terra é um só país, e a humanidade seus cidadãos" - eis o princípio. (21)

Transformar Corações

Hudleston diz que a Doutrina Bahá'í, a exemplo de algumas ideologias existentes, observa um progresso na história e não apenas intermináveis ciclos de repetição, como acontece na natureza. O progresso ocorre em surtos periódicos em tempos de crise - eventos cataclísmicos, e não de forma linear crescente. A história alcançou agora uma etapa de outro cataclismo substancial. Surgirá uma nova sociedade no planeta que não terá a mesma dinâmica de ascensão e queda, como no passado. Haverá contudo, um período de transição entre o colapso do sistema antigo e essa nova sociedade.

Algumas correntes políticas encaram o cataclismo como a vitória de uma classe oprimida sobre os opressores que os exploram, após longo período de lutas, e o período de transição seria entre a revolução da classe que o protagonizou e o desaparecimento de todas as outras classes, para consumação de uma verdadeira sociedade planificada - sem classes.

Os Bahá'ís, embora reconheçam a importância das condições materiais, acreditam que a evolução cultural e espiritual é na verdade o elemento mais significativo da história. Há muita preocupação com os carentes (a maioria absoluta dos Bahá'ís hoje são pobres) e é reconhecido também que o preconceito de classe econômica pode ser útil para esclarecer certos aspectos da sociedade e da história. Contudo, luta de classe é totalmente alheia aos ensinamentos da Fé Bahá'í, que se destinam a prover o bem-estar de toda humanidade, independentemente de camada ou qualquer outra divisão.

Na verdade, uma sociedade justa não pode ser imposta por uma classe motivada por ódio pelas outras classes. Ela deve surgir como suporte de todo o povo, trabalhando de acordo com os mais elevados princípios de desapego pessoal, motivado pela verdadeira religião.

Para os Bahá'ís, os cataclismos acima mencionados são causados pelas aparições periódicas de "Manifestantes de Deus". (22)

Uma breve análise da história indica como cada Educador Divino impulsionou o progresso do homem e gerou uma nova civilização, a partir da Palavra Revelada, exclusivamente. O brilho das civilizações hebraica, persa e árabe, foi muito contrastante com o estado lamentável dos seus povos na época em que entre eles se manifestaram Moisés, Zoroastro e Maomé, respectivamente.

Todos os profetas são conhecidos como regeneradores espirituais e autores de reformas sociais. Impérios caíram, homens e sociedades se transformaram e senso de justiça renasceu, apenas por influência de Suas palavras nos corações dos homens.

Os Bahá'ís jamais se envolverão em lutas para conquista de uma sociedade justa. Deve ser criada uma atividade positiva de amor e empatia para todos, ao invés de ódio - mesmo para aqueles que são oponentes à Fé. Ponto pacífico: não haverá violência.

'Abdu'l-Bahá confirma que: "A luta e o emprego da força, ainda que sejam por uma causa justa, não produzirão bons resultados. Os oprimidos, que estão com o direito de seu lado, não devem conquistá-lo pela força; o mal continuaria. Os corações é que devem ser transformados." (23)

O conceito Bahá'í é o da comunidade com participação universal nos seus assuntos, planos de baixo para cima e incentivo à comunicação horizontal e à consulta. Todas as instituições são coletivas; os indivíduos não têm autoridade independente. A história ensina que líderes individuais têm sido vulneráveis ao ego, medo e corrupção.

Comunidade Mundial

A unidade da raça humana, como foi planejada por Bahá'u'lláh, implica no estabelecimento de uma comunidade mundial, na qual todas raças, nações, credos e classes estarão íntima e permanentemente unidas, e na qual a autonomia dos seus estados-membros e a liberdade pessoal dos indivíduos que a compõem estarão definitiva e completamente salvaguardadas.

Amadou Mahtar M'Bow, diretor geral da Unesco, declarou que: "Nossa época é de graves incertezas e de imensas esperanças: nela, pela primeira vez, todas as nações do mundo estão unidas num mesmo contexto de relações recíprocas. Portanto, têm destinos interdependentes, e os recursos científicos e tecnológicos de que dispõem podem capacitá-las a resolver a maior parte de seus mais urgentes problemas. Mas, para tanto, as nações devem manter-se unidas quanto a seus objetivos e conjugar esforços no que tange a enfrentar um futuro comum. Ou seja, a humanidade tem de provar que é capaz de passar da interdependência à solidariedade. Praticar a solidariedade, para cada um de nós, supõe estar sempre disponível àqueles que, por mais distantes que estejam, são e devem continuar sendo nossos semelhantes. A solidariedade não pode ser forçada; é vivida."

O editorial da mesma revista acrescenta:

"A interdependência é um fato, um aspecto cada vez mais importante da vida contemporânea, que se manifesta em todos os níveis: político, econômico e cultural. Mas trata-se de chegar a um tipo de interdependência que assegure a dignidade de todas as pessoas e de todos os povos. Efetivamente, está claro que a fome não resulta, no essencial, da pressão demográfica, da penúria de recursos ou da falta de tecnologia adaptada. Decorre, em princípio e antes de mais nada, de uma vontade política omissa, omissão esta que tem as suas raízes tanto nos abusos individuais ou sociais quanto no abaixamento do nível da cultura internacional, que fica assim privada de uma solidariedade efetiva (e não só afetiva) e, por isso, não oferece uma visão diretriz do desenvolvimento." (37)

São numerosas, hoje, as crises que se abatem sobre o mundo da economia internacional e do desenvolvimento. Sejam consideradas um mau funcionamento apenas, ou um defeito grave no sistema, nem por isso deixam de reclamar respostas da maior urgência.

Sobre a profundidade e abrangência da Mensagem de Bahá'u'lláh em resposta a essas crises, Shoghi Effendi esclarece:

"Não se iludam. O princípio da Unidade do Gênero Humano - em torno do qual giram todos os ensinamentos de Bahá'u'lláh - não é apenas uma exibição de emocionalismo pouco inteligente, nem a expressão de uma vaga e piedosa esperança. O seu apelo não é meramente para ser identificado com um renascimento do espírito de fraternidade e benevolência entre os homens, nem tampouco é o seu fim apenas a promoção da cooperação harmoniosa entre os diferentes povos e nações. Significa algo mais profundo, pretende algo mais do que qualquer dos profetas da antigüidade pôde avançar. Sua mensagem não só é aplicável ao indivíduo, mas também trata primariamente da natureza daquelas relações essenciais que hão de ligar todos os estados e todas as nações como membros de uma única família humana. Este princípio não constitui a simples enunciação de um ideal; está inseparavelmente associado a uma instituição capaz de incorporar sua verdade, demonstrar sua validez e perpetuar sua influência. Este principio compreende uma transformação orgânica na estrutura de nossa sociedade hodierna - transformação como o mundo jamais presenciou. Constituí um desafio, a um tempo audaz e universal, aos critérios obsoletos de credos nacionais - credos que já tiveram seu dia e devem, no curso usual dos acontecimentos, assim como a Providência os determina e controla, ceder seu lugar a um novo evangelho que difere fundamentalmente de qualquer conceito que já existe no mundo, e lhe é infinitamente superior. Exige nada menos que a reconstrução e a desmilitarização do inteiro mundo civilizado - um mundo organicamente unificado em todos os aspectos essenciais de sua vida - seu mecanismo político, sua aspiração espiritual, seu comércio e suas finanças, sua escrita e língua, e que é, no entanto, de uma diversidade infinita no que diz respeito às características de suas unidades federadas.

Este princípio representa a consumação da evolução humana - uma evolução que teve seus primórdios no despontar da vida de família, seu desenvolvimento posterior ao alcançar a solidariedade de tribo, a qual por sua vez levou à constituição da cidade-estado, cuja expansão subseqüente resultou na instituição das nações independentes e soberanas." (31)

Uma Casa Universal de Justiça

A comunidade mundial que Bahá'u'lláh delineou é governada por uma Casa Universal de Justiça, isto é, um Parlamento Mundial, eleito livremente pelos povos da terra. Deve possuir autoridade para impor suas decisões sobre qualquer membro da comunidade que seja negligente ou rebelde.

Os membros desse Parlamento ou Legislatura Mundial, serão os fideicomissários de toda humanidade e irão controlar os inteiros recursos de todas as nações componentes, decretar as leis necessárias para regular a vida, satisfazer as necessidades e ajustar o relacionamento entre todas as raças e povos. Um executivo mundial, apoiado por uma força internacional, irá executar as decisões tomadas e aplicar as leis decretadas por esta Legislatura Mundial, e irá salvaguardar a unidade orgânica de toda a comunidade.

Bahá'u'lláh, na Sua Epístola à Rainha Vitória, dirige-se ao conjunto de governantes da terra: "Tomai deliberações juntos e cuidai somente daquilo que seja em benefício da humanidade e lhe melhore o estado... Apaziguai-vos para que não mais necessiteis de armamentos senão na medida que for necessária para salvaguardar vossos territórios e domínios." (isso, segundo 'Abdu'l-Bahá, significa apenas a polícia interna, pois todo policiamento internacional deve ser feito pela Casa Universal de Justiça). Em seguida, Ele ordena: "Sede unidos, ó conjunto de soberanos da terra, para que deste modo sejam acalmadas as tempestades entre vós, e vossos povos encontrem o sossego." (38)

Uma Lealdade Mais Ampla

Ao expor as implicações deste princípio cardeal, Shoghi Effendi, o Guardião de Fé Bahá'í, comentou em 1931, que: "Longe de se fundamentar na subversão dos alicerces da sociedade existente, ele procura alargar a sua base e remodelar as suas instituições de maneira consoante com as necessidades de um mundo sempre em transição. Não pode estar em conflito com nenhuma obrigação legítima, nem minar qualquer lealdade essencial.

O seu fim não é abafar a chama de um patriotismo são e inteligente nos corações dos homens, nem abolir o sistema de autonomia nacional que é tão indispensável como freio dos males da centralização excessiva. Não desconsidera, tampouco tenta suprimir, a diversidade da origem étnica, do clima, da história, do idioma e da tradição, do pensamento e dos costumes, que diferenciam os povos e as nações do mundo. Ele exige uma lealdade mais ampla, uma aspiração maior que qualquer outra, que jamais animou a raça humana. Insiste em que os impulsos e os interesses nacionais sejam subordinados às necessidades de um mundo unificado. Repudia a centralização excessiva por um lado e, ao mesmo tempo, nega qualquer tentativa de uniformidade. O seu lema é a unidade na diversidade." (31)

O alcance de tais fins requer diversos estágios para o ajustamento das atitudes políticas nacionais, que agora se encontram à beira da anarquia, na ausência de leis claramente definidas ou de princípios universalmente aceitos e aplicáveis no trato das relações entre as nações. A Liga das Nações, a Organização das Nações Unidas, e os diversos organismos e acordos por elas produzidos, têm sido indubitavelmente úteis na atenuação de alguns dos efeitos negativos dos conflitos internacionais, mas têm-se revelado incapazes de evitar a guerra. Na verdade, têm havido dezenas de guerras desde o fim da II Guerra Mundial - e muitas delas continuam ainda a grassar.

Segurança Coletiva

Os aspectos dominantes deste problema já tinham emergido no século XIX, quando Bahá'u'lláh apresentou pela primeira vez as Suas propostas para o estabelecimento da paz mundial. O princípio da segurança coletiva foi por Ele exposto em declarações dirigidas aos governantes do mundo. Conforme Shoghi Effendi observou acerca do seu significado: "O que podem significar essas palavras profundas", escreveu ele, "senão a limitação inevitável da soberania nacional irrestrita, como prólogo indispensável à formação da futura união de todas as nações do mundo? Alguma forma de Super-Estado mundial há de evoluir, a cuja autoridade todas as nações do mundo cederão de boa vontade todo e qualquer direito de fazer guerra, certos direitos de cobrar impostos e todos os direitos de possuir armamentos, além do necessário para a manutenção da ordem interna nos seus respectivos domínios. Tal Estado incluiria dentro da sua órbita um Executivo Internacional, capaz de exercer autoridade suprema e indiscutível sobre qualquer membro recalcitrante da comunidade; um Parlamento Mundial, cujos membros seriam eleitos pelo povo nos seus respectivos países e cuja eleição seria confirmada pelos respectivos governos; e um Supremo Tribunal, cujas decisões teriam efeito compulsório, mesmo no caso de as partes envolvidas não concordarem em submeter voluntariamente as questões à sua consideração." (31)

Cidadania Mundial

A Casa Universal de Justiça pressagia a cidadania mundial através de "uma comunidade mundial em que fossem permanentemente demolidas todas as barreiras econômicas e definitivamente reconhecida a interdependência do Capital e Trabalho; em que o clamor do fanatismo religioso e das lutas religiosas houvesse sido silenciado para todo o sempre; em que a chama da animosidade racial se encontrasse finalmente extinta; em que um código único de direito internacional - produto do juízo ponderado dos representantes federados do mundo - tivesse como sanção a intervenção imediata e coercitiva das forças combinadas das unidades federadas; finalmente, uma comunidade mundial em que a fúria de um nacionalismo caprichoso e militante estivesse transmutada numa consciência permanente da cidadania mundial - assim é, em seus traços mais amplos, a Ordem prevista por Bahá'u'lláh, uma Ordem que virá a ser considerada como o mais belo fruto de uma era em lenta maturação" (20)

A Questão Racial e o Nacionalismo

Bahá'u'lláh expõe o falso fundamento dos preconceitos, explica como foram promovidos e os substitui por verdades universais. As diferenças nas criaturas humanas são fonte de beleza e enriquecimento para a humanidade. A Antropologia, a Física e a Psicologia reconhecem uma só espécie humana, embora infinitamente variada nos aspectos secundários da vida.

Os Bahá'ís procuram eliminar cada último vestígio de preconceito racial - juntamente com o preconceito fundamentado em distinções classistas, econômicas, nacionais ou religiosas, com base nas seguintes palavras de Bahá'u'lláh:

"Não sabeis porque Nós vos criamos a todos do mesmo pó? A fim de que ninguém se enaltecesse acima dos outros..." (39)

Cobb diz que o nacionalismo e os preconceitos raciais e religiosos, desenvolvidos e fomentados por alguns grupos políticos ou econômicos, têm sido instrumentos úteis na submissão de povos, manipulações de conflitos em regiões ou circunstâncias benéficas aos seus interesses. (27)

A um observador atento não escaparia alguns lamentáveis palcos de conflitos como Biafra, Índia, Irã, Sri Lanka, Irlanda, EUA, Leste europeu, Oriente Médio e África.

Shoghi Effendi, em 1941, referindo-se a racismo e nacionalismo, advertia:

"... Seus sacerdotes são os políticos e os experientes do mundo, os chamados sábios da época; seu sacrifício consiste na carne e sangue das multidões trucidadas; suas encantamentos, em slogans obsoletos e fórmulas indiciosas e irreverentes; seu incenso, na fumaça da angústia que se eleva dos corações dilacerados daqueles que perderam os entes queridos, daqueles feridos e dos sem-teto..." (25)

E segundo a Casa Universal de Justiça "O nacionalismo desenfreado, distinto de um patriotismo são e legitimo, deve ceder lugar a uma lealdade mais ampla - ao amor à humanidade como um todo." (20)

A solução do problema racial e do nacionalismo é, portanto, tarefa e responsabilidade de cada um de nós. A diversidade existirá sempre, pois a diversidade é legitima. A exemplo da biosfera, a diversidade é a maneira da continuidade da vida ser protegida; constitui um dos mais importantes ativos no balanço das relações humanas, dando cor, beleza e interesse a toda nossa vida cultural; é o que provê a gama de talentos necessários para o desempenho de todo trabalho do mundo. Desgostarmos de pessoas por serem "diferentes", por não seguirem o padrão dos nossos costumes sociais, é ridículo e trágico.

A Questão Mais Vital e Desafiadora

Shoghi Effendi, vigorosa e inequivocamente, refere-se ao problema racial como a questão mais vital e desafiadora. Segundo ele, cabe aos brancos "um esforço supremo, em sua resolução de contribuir com a sua parte na solução desse problema, para abandonarem, de uma vez por todas, seu senso de superioridade - que é usualmente inerente e às vezes subconsciente - corrigirem sua tendência de mostrar uma atitude condescendente para com os membros de outra raça e, através de sua associação com eles - íntima, espontânea e informal - os persuadirem de que sua amizade é genuína e suas intenções são sinceras. Devem fazer um esforço, também, para dominarem sua impaciência por causa de qualquer falta de receptividade por parte de um povo, ao qual, durante um período longo, tem-se infligido feridas severas e tão difíceis de serem sanadas."

Shoghi Effendi orientou os Bahá'ís negros a se manifestarem com um esforço incomensurável da sua parte, "por todos os meios ao seu alcance, seu caloroso desejo de corresponder, sua disposição para esquecer o passado e apagarem todo traço de suspeita que talvez persista ainda em seus corações e mentes".

Ao mesmo tempo, sabiamente incumbiu a cada raça, igual responsabilidade na solução: "Que nenhuma das duas pense", aconselhou, "ser a solução de tão vasto problema uma questão que afete exclusivamente a outra. Que nenhuma delas pense que esse problema possa ser resolvido fácil ou imediatamente. Que nenhuma pense que possa aguardar tranqüilamente a solução desse problema até que outros, fora da órbita de sua Fé, tenham tomado a iniciativa e criado as circunstâncias propícias."

Representação Minoritária

Thomas diz que a mensagem de Shoghi Effendi forneceu o catalisador que acionou o estágio seguinte de preocupações raciais dentro da comunidade Bahá'í norte-americana. A Assembléia Espiritual Nacional demonstrou sua disposição de assumir desempenho mais ativo na luta contra o preconceito, segundo orientara Shoghi Effendi, a preferir refletir simplesmente os valores mistos da comunidade. O espírito da mensagem impregnou a Convenção Nacional de 1939, assumindo, a questão racial, prioridade durante a consulta.

Louis Gregory foi reeleito para a Assembléia Espiritual Nacional. Segundo Morrison, "opiniões em relação à representação minoritária na Assembléia Espiritual Nacional parecem ter mudado permanentemente em 1939". Seu raciocínio é que desde 1939, salvo alguns anos nos meados da década de 50, pelo menos um negro serviu anualmente. Mais notável é sua indicação de que, durante a maior parte deste período, dois ou três negros foram membros da instituição nacional ao mesmo tempo, representando 20 a 30% da Assembléia Espiritual Nacional. Desde 1968, esta percentagem de negros no Assembléia Espiritual Nacional permaneceu estável.

A Pupila dos Olhos

Ao discutir o pronunciamento de Bahá'u'lláh descrevendo as pessoas negras como sendo semelhantes à pupila do olho, Rúhíyyih Khánum voltou a discorrer sobre um tema, caro aos corações dos jovens radicais: "Quando Bahá'u'lláh compara a raça negra à faculdade da vista no corpo humano - implica o ato de percepção total - é uma afirmação algo terrificante. Jamais disse isto de ninguém mais". Apontando para o laço cultural entre negros na América e na África, continuou Rúhíyyih Khánum: "Julguei que a humildade dos negros americanos, sua benevolência, amizade, cortesia e hospitalidade tivessem alguma conexão com sua opressão e origem de escravidão. Mas após fatigantes semanas, dia após dia, nas aldeias da África, visitando milhares de Bahá'ís e não-Bahá'ís, despertei para o fato de que o negro americano possui estas belas qualidades, não porque tenha sido escravo, mas porque tem as características de sua raça. Aprendi porque, tão constantemente, o Guardião falava do africano de coração puro". (36)

Problema Dinâmico

Os Bahá'ís devem deixar de agir como se os problemas raciais permanecessem estáticos. Os problemas raciais, como outros problemas sociais, tornam-se mais complexos ao passar do tempo. Métodos tradicionais são insuficientes.

Bahá'ís negros e brancos jamais devem cometer o erro de tornarem-se tão satisfeitos com a qualidade de camaradagem inter-racial dentro de sua própria comunidade, que deixem de trabalhar no sentido de um objetivo similar no mundo não-bahá'í. Os Bahá'ís brancos devem permanecer em guarda contra sentimentos de superioridade em conseqüência de sua conquista de camaradagem inter-racial e não devem, por outro lado, esconder sua luz dentro de um cesto. O fato é que, na sociedade americana contemporânea, a Comunidade Bahá'í tem conseguido um nível de amizade inter-racial sem paralelo na história da maioria das organizações religiosas ou seculares. Este é um dos maiores legados da comunidade. Jamais devemos esquecê-lo; o mundo necessita aprender com ele desesperadamente.

Pressionando-nos sob todos os aspectos da vida atual, compelindo-nos ao reconhecimento de sua verdade e à urgência de sua aplicação, estão as singelas e sublimes palavras de Bahá'u'lláh, pronunciadas há mais de cem anos:

"Não sabeis porque Nós vos criamos a todos do mesmo pó? A fim de que ninguém se enaltecesse acima dos outros. Ponderai no coração, em todos os tempos, de que modo fostes criados." (39)

Educação Obrigatória para Todos

Em várias das Suas declarações referentes à educação, Bahá'u'lláh sustenta fortemente o valor do intelecto - "a mais brilhante jóia na realidade do homem". Nossa capacidade intelectual nos ergueu ao ápice da existência, fisicamente falando. Não só nos libertamos das restrições impostas pela natureza; chegamos ao ponto mesmo de conquistá-la e sobre ela exercer domínio.

Contudo, como um dos subprodutos da civilização industrial que começou no século XVIII, fomos contemplados com a educação para acumular bens, para a competitividade, para exacerbar o individualismo e o egocentrismo. Em conseqüência disso, somos hoje gigantes científicos e pigmeus morais. A tudo dominamos salvo a nós próprios e às nossas inclinações animais. Somos monarcas, possuidores de poder imenso, mas desprovidos da realeza necessária para que o usemos de um modo digno. Construímos palácios, mas preparamos reis para habitá-los.

Ainda hoje, a educação em três quartos do mundo é usada mais para manter e cristalizar o tradicional regime de castas, do que para universalizar a alfabetização e o desenvolvimento da inteligência.

A aquisição do conhecimento (instrução) não deve ser privilégio de minorias abastadas e, na prática, dificultada para as massas, como acontece na maioria absoluta dos países do terceiro mundo. Cada indivíduo é um elemento de valor para a sociedade e somente através da educação será capaz de contribuir e participar da administração dos assuntos comunitários e das mudanças sociais necessárias ao bem-estar comum.

"O conhecimento é como asas para a vida do homem; é como uma escada pela qual ele possa ascender. Incumbe a cada um adquiri-lo. ... Na realidade, o conhecimento é um verdadeiro tesouro para o homem..." (28)

Portanto, os Bahá'ís têm um grande compromisso com os jovens do mundo: o de fazer com que a humanidade saia da escuridão da ignorância através da aquisição do conhecimento.

O próprio princípio da harmonia da religião com a ciência e a razão denota a importância vital da educação e da pesquisa como fatores de solidez de uma sociedade sadia e esclarecida. 'Abdu'l-Bahá diz que a religião que se opõe à ciência é mera superstição e ignorância. (7)

Outra orientação que confirma essa ótica é a prioridade da educação das filhas sobre filhos, em caso de uma limitação financeira, pois a mãe é a principal educadora da humanidade.

O desenvolvimento da mente e do espírito é de suma importância. A posição do professor na sociedade deve ser reconhecida e efetivamente elevada. A educação terá que ser equilibrada entre as ciências práticas, as artes e a educação espiritual. A integridade intelectual será essencial na pesquisa da verdade, qualquer que seja o assunto.

Portanto, a inclusão da ética acadêmica e desenvolvimento espiritual nos currículos e programas educacionais, são elementos indispensáveis para o renascimento do senso de justiça, harmonia e, conseqüentemente, entendimento e colaboração entre os indivíduos e governantes. Nossos problemas atuais - o da delinqüência juvenil, do divórcio, do crime - todos atestam a falta de ênfase à formação espiritual do caráter em nossos sistemas educacionais.

Nas Escrituras Sagradas Bahá'ís há grande ênfase ao estudo de ciências e letras: "Os eruditos do dia devem orientar o povo, para que adquira aqueles ramos de conhecimento que sejam úteis, de modo que tanto os eruditos como os homens em geral, possam disso derivar benefícios." Bahá'u'lláh enfatiza ainda "os estudos acadêmicos que com palavras principiam e com palavras, tão somente, terminam, nunca tiveram e jamais terão valor algum." (28)

Prosperidade de Uma Nação

'Abdu'l-Bahá diz ser inconcebível para qualquer nação alcançar prosperidade e sucesso a menos que leve a efeito a suprema e fundamental questão da educação. Segundo Ele, "o requisito primário, o mais urgente, é a promoção da educação... A principal razão do declínio dos povos é a ignorância. Hoje, o povo em geral está ignorante, mesmo em relação aos assuntos comuns, quão menos pode ele compreender o âmago dos importantes problemas e das complexas necessidades desta época."

"Observai atentamente como a educação e as artes da civilização trazem honra, prosperidade, independência e liberdade para um governo e seu povo." (7)

Economia Social

Bahá'u'lláh não estabelece nenhum sistema exatamente talhado e fixo de economia. Estabelece, sim, certos princípios básicos e nos lega a tarefa de edificar a estrutura.

Hofman diz que o problema econômico é insolúvel, exceto se tratado em escala mundial. Não se pode ter pobreza em um país e prosperidade nos demais; a Carta do Atlântico reconhece isso. Tampouco podemos curar a miséria e o desemprego em um único país; é um problema mundial.

À maioria dos economistas, pareceria despropositada a idéia de que valores espirituais pudessem figurar numa consideração do remédio para nossa aflitiva situação econômica. No entanto, nas milhares de greves que têm atormentado o mundo industrial, por que clamaram os grevistas? Por justiça. E o que é a justiça senão um princípio moral ou espiritual? Em economia, ela se expressa na devida distribuição das necessidades vitais em troca de trabalho ou serviços prestados. (21)

A ciência não tem pretensão alguma de haver incutido justiça na consciência humana. Mas a religião faz isto e sempre o fez.

Capital e Trabalho

Aceitos esses conceitos, uma abordagem sucinta do problema econômico passaria sem dúvida pela relação entre capital e trabalho, dois irreconciliáveis elementos que as velhas fórmulas e uma simples continuação da "política de vai e vem" não resolverão o seu enigma. As necessárias medidas corretivas devem ser tomadas em níveis mais fundamentais.

Contudo, segundo Hofman, isso não é possível na presente estrutura unilateral da sociedade. Será exeqüível somente quando os três aspectos primários da vida - o econômico, o político e o espiritual - estejam de tal modo constituídos que possam ter funcionamento autônomo, cada um deles de acordo com sua natureza inerente e, no entanto, coordenado numa atitude perfeita. (21)

Qual será a resposta? O comunismo faz lá as suas reivindicações. O socialismo, suas experiências. O capitalismo, com sua livre iniciativa, tenta manter-se nos padrões ancestrais de produção. E um sem fim de teorias variadas se encontram entre estes extremos.

É importante que se ache a resposta, pois não é apenas um problema acadêmico. É um problema, sim, que implica numa luta "a ferro e fogo" pelo mundo todo. O fator econômico é o verdadeiro pulso da humanidade. Um padrão estável e eficaz precisa ser encontrado, ou a civilização poderá ruir com a luta entre as classes.

Um modo de expressar reciprocidade e democracia em relações industriais foi incluído no padrão econômico geral que Bahá'u'lláh delineou. Seria um princípio obrigatório. Sua efetiva aplicação resolveria de uma vez por todas o problema do capital e trabalho, assegurando estabilidade e êxito econômico para o sistema de livre iniciativa; e viria, afinal, a incrementar o bem-estar geral e a prosperidade. E essa solução mágica do problema industrial, da questão entre capital e trabalho, é a repartição dos lucros.

No tempo em que Bahá'u'lláh enunciou este decreto econômico, a repartição dos lucros não era praticada em lugar algum, como princípio econômico definido e consciente. Na penúltima década do século dezenove, foi experimentada na França, e na última década passou à Inglaterra e à Bélgica; no início do século presente, atingiu êxito notável em algumas empresas industriais dos Estados Unidos.

Gostaríamos de sublinhar aqui, porém, que a repartição dos lucros, segundo o conceito de Bahá'u'lláh, não é simplesmente um plano econômico para harmonizar as relações entre o capital e o trabalho. É, isso sim, mais uma aplicação do grande princípio mundial da justiça. Visa assegurar, entre trabalho e capital, uma divisão socialmente eqüitativa dos lucros, auferidos que são, sob iniciativa e esforço mútuos. Tal como esboçado por Bahá'u'lláh, a repartição é medida obrigatória para a justiça industrial; e deve ser aplicada, quer tenha ou não o efeito de aumentar a produção a ponto de proteger os industriais e acionistas contra um eventual prejuízo.

Na terminologia moderna, o padrão econômico de Bahá'u'lláh pode ser considerado o de um sistema humanitário, de livre iniciativa capitalista, limitado e eqüitativo.

'Abdu'l-Bahá, em suas palestras públicas feitas nos Estados Unidos, frisou a impossibilidade de qualquer êxito para as tentativas que visavam estabelecer a igualdade econômica. Declarou ele: "Igualdade absoluta é impossível. Pois a igualdade absoluta em fortunas, honras, comércio, agricultura e indústria acabaria em falta de conforto, desânimo, desorganização dos meios de existência e em desapontamento geral. A ordem da comunidade seria totalmente destruída." (21)

Como está bem claro, em vista dos conflitos ideológicos e militares que se travam pelo mundo todo, o que se precisa é de uma unidade que substitua o caos prevalecente - unidade entre trabalho e produção. Os Bahá'ís afirmam, porém, que esta meta tão necessária, não poderá ser atingida sem motivação e orientação espirituais, pois todas as relações econômicas sobre o planeta devem ser permeadas por um senso agudo de justiça. E só uma desperta consciência espiritual conseguirá isso. Os líderes, tanto da produção como do trabalho, devem ser inspirados para almejarem a justiça em vez do interesse próprio.

"Os segredos da inteira questão econômica", declarou 'Abdu'l-Bahá, "são de natureza espiritual e se relacionam ao mundo do coração e do espírito."

"... A doença que aflige a sociedade é falta de amor e a ausência de altruísmo. Não se acha verdadeiro amor no coração do homem, e a condição é tal que, a menos que suas suscetibilidades sejam avivadas por alguma força, de modo a desenvolver a unidade, o amor e a harmonia, não poderá haver melhora ou tranqüilidade entre os seres humanos. O amor e a união são as necessidades do mundo de hoje." (27)

A Emancipação da Mulher

A emancipação feminina percorreu o mundo, de Leste a Oeste, e a mulher provou sua capacidade de exercer profissões, negócios e artes em igualdade de condições com o homem. Mas isto é apenas uma igualdade superficial - concessões extorquidas de um "mundo masculino" (o trabalho da mulher continua a ser menos remunerado do que o do homem). Ainda não há completa igualdade psíquica; os homens não a querem reconhecer, e a mulher, em conseqüência de milhares de anos de posição e educação inferiores, é incapaz de aceitá-la.

Homens e mulheres não são iguais; eles têm funções diferentes. Mas essas funções são complementares e devem ser exercidas em condições iguais, para que haja um resultado perfeito.

Os escritos Bahá'ís dizem que desde o momento que a sociedade humana consiste de dois fatores, o masculino e o feminino, cada um o complemento do outro, a felicidade e a estabilidade da humanidade não podem ser asseguradas a menos que os dois estejam aperfeiçoados. Portanto, o padrão e a condição do homem e da mulher devem igualar-se.

Em termos psicológicos, diz-se que há dois princípios: Logos, o masculino, e Eros, o feminino. Até aqui, Logos, o princípio ativo e executor, tem dominado nos negócios do mundo. Eros, o princípio que põe os homens em contato, uns com outros, e mantém a harmonia, ou não se destacou ou se restringiu à família. Mas seu poder e valor são inconscientemente reconhecidos no fato de que a mulher - a anfitriã - é a pessoa importante numa agremiação social, e a mãe, no lar. Quando esta força tiver sido aplicada em todos os empreendimentos humanos, ela completará seu trabalho entre as nações, na família humana.

Os excessos aos quais as mulheres foram levadas pela sua súbita e rápida emancipação - suas tentativas de adquirir igualdade através do sacrifício da feminilidade, ou excedendo os homens em atividades masculinas - não oferecem nenhum critério para o julgamento de um sexo verdadeiramente maduro. A igualdade da mulher não significa que ela deva fazer-se melhor varão que o homem, mas que deve atingir uma verdadeira maturidade de alma. A mesma obrigação se impõe aos homens.

Segundo a Casa Universal de Justiça, "a emancipação da mulher - a concretização da plena igualdade entre os sexos - é um dos requisitos mais importantes, embora dos menos reconhecidos, para o estabelecimento da paz. A negação dessa igualdade perpetra uma injustiça contra metade da população do mundo e promove entre os homens atitudes e hábitos nocivos que são transportados do ambiente familiar para o local de trabalho, para a vida política e, em última análise, para a esfera das relações internacionais. Não há fundamento algum - quer de natureza moral, prática ou biológica - que justifique essa privação. Só quando as mulheres forem bem recebidas em todos os campos de atividade humana, em condições de igualdade, é que se criará o clima moral e psicológico do qual poderá emergir a paz internacional." (20)

Em 1912, 'Abdu'l-Bahá falou repetidamente sobre o direito das mulheres: "... Quando for estabelecida perfeita igualdade entre os homens e mulheres, pode ser concretizada a paz pela simples razão de que as mulheres em geral nunca aprovarão a guerra. As mulheres jamais se disporão a permitir que aqueles dos quais cuidaram tão ternamente vão aos campos de batalha. Quando puderem opinar, opor-se-ão a qualquer causa de guerra." (5)

Recentes pesquisas de opinião mostram que as mulheres estão muito mais interessadas no desarmamento nuclear do que os homens, e os pesquisadores esperam que o voto das mulheres desempenhe importante papel em políticas futuras.

9. RESUMO

Embora hoje em dia o termo "política" esteja erroneamente associado somente a interesses de partidos e facções, nós Bahá'ís temos uma política universal clara, precisa e bem concatenada, na direção da meta de regenerar, desmilitarizar, harmonizar e unificar uma sociedade fragmentada e sofrida, através da educação, pelo poder criativo das Escrituras Sagradas, e acima das barreiras da ignorância, preconceito e nível social.

É necessário, portanto, deixar claros quatro pontos básicos:

1- Não participamos de partidos, facções ou qualquer instrumento capaz de segregar indivíduos;

2- Nossa tarefa é educar os povos, e não governá-los; pois povos educados sabem se administrar e ser felizes; povos ignorantes são sempre explorados e miseráveis;

3- O desenvolvimento sócio-econômico é diretamente proporcional ao desenvolvimento espiritual, de onde provém o senso de justiça, a consulta e conseqüente solução dos problemas;

4- O bem-estar social e a Paz Universal, uma necessidade premente, só serão alcançados mediante uma conscientização e um adiantado esforço intelectual e espiritual de pessoas em cada cidade no empenho de transformar a sua vida interior e a sociedade. E quando uma massa crítica de pessoas em qualquer cidade alcançar essa consciência, então um verdadeiro progresso começará a surgir.

Deus ama aqueles que trabalham em grupo.

Numa das suas obras sobre Psicoterapia Positiva, o Dr. N. Peseschkian menciona um conto que bem define a nossa política:

Um jovem sonhou que entrou numa loja e foi recebido por um senhor de idade por trás do balcão. Impetuosamente perguntou o jovem: "O que vocês vendem aqui?" O sábio homem respondeu amavelmente: "O que você quiser". O jovem puxou uma lista: "Nesse caso, eu gostaria de ter paz, direitos humanos, justiça social, liberdade, amor e unidade entre os povos e religiões, e...

Nesse ponto, o amoroso homem interrompeu: "Perdoe-me jovem, você deve ter entendido mal. Nós não vendamos frutos; nós só vendemos sementes."

As Figuras Centrais da Fé Bahá'í

O historiador Balyuzi diz que a excelsa grandeza, a majestade impulsora e a terna beleza da vida de um profeta não podem ser compreendidas pelos fatos comumente associados com uma vida santa. A abrangência de tal vida evidencia-se naquela misteriosa influência que não cooperava através de posição social e prestígio, riqueza, poder profano ou domínio material; na verdade, nem mesmo por meio de uma simples superioridade de conhecimento e alcance intelectual.

O Manifestante de Deus é o arquétipo, e Sua vida é o modelo supremo. Sua visão não limitada pelo tempo e espaço abrange tanto o futuro como o passado. Ele é o único e necessário elo entre um e outro ciclo da evolução social. Sem Ele, a história carece de sentido e a coordenação é impossível. Além disso, o Manifestante de DEUS libera enormes reservas de força espiritual. E desperta as forças latentes na humanidade. Através Dele, e só por Ele, pode o homem pode conhecer a Deus.

Mirza Husayn-'Alí Nurí, que a história conhece por Bahá'u'lláh - A Glória de Deus - nasceu na madrugada de 12 de novembro de 1817 em Teerã, a capital da Pérsia. (32)

A Fé Bahá'í gira em torno de três figuras centrais; a primeira, um jovem nativo de Shíráz, de nome Mirza'Alí Muhammad, conhecido como o Báb (Porta), Quem, em maio de 1844, com a idade de vinte e cinco anos, anunciou Sua pretensão de ser o Arauto que, segundo as Sagradas Escrituras das revelações anteriores, deveria prognosticar o advento de um Ser maior do que Ele próprio e Lhe preparar o caminho, Cuja missão seria - de acordo com aquelas mesmas Escrituras - a inauguração de uma era de retidão e paz, uma era que seria saudada como a consumação de todas as anteriores e a iniciação de um novo ciclo na história religiosa da humanidade.

Rápida e severa perseguição, ateada pelas forças organizadas da Igreja e do Estado e Sua terra natal, precipitou sucessivamente Sua apreensão, Seu exílio às montanhas do Azerbaijão, Seu encarceramento nas fortalezas de Máh-Kú e Chihriq, e Sua execução, em julho de 1850, por um pelotão de fuzilamento na praça pública de Tabríz. Nada menos de vinte mil de Seus seguidores foram trucidados com tão bárbara crueldade que evocou a fervorosa compaixão, bem como admiração incondicional de vários escritores diplomatas, viajantes e eruditos do Ocidente, alguns dos quais testemunharam esses abomináveis ultrajes e se sentiram constrangidos a anotá-los em seus livros e diários.

Mirza Husayn-'Alí, que a história conhece por Bahá'u'lláh - A Glória de Deus - nativo de Mázindarán, Cujo advento o Báb predissera, foi atacado por aquelas mesmas forças de ignorância e fanatismo; foi encarcerado em Teerã e exilado, em 1852, de Sua terra natal a Bagdá, daí a Constantinopla e Adrianópolis e, finalmente, à cidade-prisão de 'Akká, onde permaneceu encarcerado por nada menos de vinte e quatro anos. Nas circunvizinhanças dessa cidade, Ele faleceu, em 1982.

Durante Seu exílio, especialmente enquanto estava em Adrianópolis e 'Akká, formulou Ele as leis e preceitos de Sua Revelação, expôs, em mais de cem volumes, os princípios de Sua Fé, proclamou Sua mensagem aos reis e governantes do Oriente, como também do Ocidente, tanto cristãos como muçulmanos, dirigiu-se ao Papa, ao Califa do Islã, aos principais magistrados das repúblicas do continente americano, à inteira ordem sacerdotal cristã, aos chefes do Islã xiita e sunita, e aos sumos pontífices da religião zoroástrica. Nesses escritos, proclamou Sua Revelação, convocando aqueles aos quais e dirigia para atenderem a Seu chamado e esposar Sua Fé, advertindo-os das conseqüências caso recusassem e, em alguns casos, denunciando-lhes a arrogância e a tirania.

O filho mais velho de Bahá'u'lláh, Abbás Effendi, conhecido como 'Abdu'l-Bahá - O Servo de Bahá - por Ele nomeado Seu legítimo sucessor e autorizado intérprete de Seus ensinamentos, que desde a primeira infância havia estado intimamente associado com o Pai e que participou de Seu exílio e Suas tribulações, continuou preso até 1908, quando, em conseqüência da Revolução dos Jovens Turcos, foi posto em liberdade. Estabeleceu residência, então, em Haifa e, pouco depois embarcou em Sua viagem de três anos para o Egito, a Europa e a América do Norte, no decorrer de qual expôs, diante de vastos auditórios, os ensinamentos de Seu Pai, e predisse a aproximação daquela catástrofe que brevemente sobreviria à humanidade.

Ele regressou à Sua casa na véspera da Primeira Guerra Mundial, durante a qual esteve exposto a constante perigo, até a libertação da Palestina pelas forças sob o comando do General Allenby, quem mostrou a máxima consideração a Ele, como também ao pequeno grupo de Seus companheiros no exílio, em 'Akká e Haifa. Em 1921, faleceu e foi sepultado no mausoléu que fora erigido no Monte Carmelo.

Neto de 'Abdu'l-Bahá e por Ele indicado como Guardião da Causa, Shoghi Effendi (1896 - 1957) arcou com essa responsabilidade com apenas vinte e cinco anos, após a ascensão de Seu venerado avô.

Os esquemas pormenorizados que elaborou para o progresso da Fé no Ocidente e no Oriente, as inumeráveis cartas que escreveu, as volumosas traduções dos Escritos do Báb, de Bahá'u'lláh e de 'Abdu'l-Bahá, ao mesmo tempo que inúmeros e notáveis livros ele pessoalmente escreveu, são eternos tributos a colossal quantidade de trabalho que deixou.

Como pessoa, Shoghi Effendi reunia uma rara combinação de notáveis qualidades, que o diferenciava dos demais, e que inspiravam grande amor e admiração em todos aqueles que o conheceram; como Guardião da Causa, liderou os Bahá'ís através de provas que, freqüentemente, pareciam intransponíveis, de vitória em vitória, até que a Ordem Administrativa da Fé estivesse bem implantada no mundo inteiro, até que as instituições, através das quais suas forças puderam ser combinadas, a serviço de Deus e do próximo, estivessem erigidas, e a unidade dos seguidores de Bahá'u'lláh assegurada através da Dispensação Bahá'í.

O princípio fundamental enunciado por Bahá'u'lláh - crêem firmemente os seguidores de Sua Fé - é que a verdade religiosa não é absoluta, mas sim, relativa, que a Revelação Divina é um processo contínuo e progressivo, que todas as grandes religiões do mundo são divinas em origem, que Seus princípios básicos estão em completa harmonia e seus objetivos e propósitos são um mesmo sendo seus ensinamentos apenas facetas de uma única verdade que suas funções são complementares, suas doutrinas diferem somente nos aspectos não essenciais e que suas missões representam sucessivas etapas nas evolução espiritual da sociedade humana.

UMA ORAÇÃO
Ó Tu, Senhor Bondoso!

Criaste toda a humanidade dos mesmos pais. Desejaste que todos pertencessem ao mesmo lar. Em Tua santa Presença, todos são Teus servos e todo o gênero humano se abriga sob Teu Tabernáculo. Todos se têm reunido à Tua Mesa de graças e brilham pela luz da Tua providência.

Ó Deus! És bondoso para com todos, provês a todos, amparas a todos, e a todos concedes vida. De ti, todos os seres recebem faculdades e talentos. Todos estão submersos no oceano da Tua misericórdia.

Ó Tu, Senhor Bondoso! Une todos, faze as religiões concordarem e torna as nações uma só, para que considerem-se a todos como uma única família e tenham a terra como um só lar. Que se associem em união e acordo.

Ó Deus! Ergue o estandarte da unicidade do gênero humano!

Ó Deus! Estabelece a Suprema Paz!
Enlaça os corações, ó Deus!

Ó Tu, Pai Bondoso! Extasia os corações com a fragrância do Teu amor, ilumina os olhos com a Luz de Tua Guia; alegra os ouvidos com as melodias da Tua Palavra e abriga-nos no recinto da Tua Providência.

Tu és o Grande e o Poderoso! És o Clemente - Aquele que perdoa as faltas da humanidade.

'Abdu'l-Bahá
BIBLIOGRAFIA

1. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA: Manual Básico, 1988.

2. LEE, Anthony: Circle of Unity - Los Angeles, Kalimat, 1984.

3. HOLANDA, Aurélio Buarque: Novo Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro - Nova Fronteira.

4. Encyclopaedia Britânica.
5. 'Abdu'l-Bahá: Promulgation of Universal Peace.
6. Enciclopédia Delta Universal.

7. 'Abdu'l-Bahá: The Secrets of Divine Civilization. Wilmette - Bahá'í Publishing Trust, 1975.

8. SHOGHI EFFENDI: Principles of Bahá'í Administration - Norwich-UK, Fletcher and Son Ltd, 1976.

9. Messages from the Universal House of Justice, 1968-73. Wilmette - Bahá'í Publishing Trust, 1976.

10. Baseado na palestra do Prof. Richard Gagnon, de Ciências Políticas - Universidade Lavalle, Quebec.

11. Directrices del Guardian. Tarrasa, Editorial Bahá'í de España, 1976.

12. SHOGHI EFFENDI: A Presença de Deus. Rio de Janeiro - Bahá'í í Brasil, 1981.

13. U.S. National Bahá'í Review - N. 32 - August 1970.

14. SHOGHI EFFENDI: The World Order of Bahá'u'lláh.

15. SHOOMAKER, Ann: The Women's Movement - Circle of Unity. Los Angeles, Kalimat, 1984.

16. Retrato do Brasil - dezembro de 1985.
17. Bahá'í News - Wilmette, November 1932.

18. HORNBY, Helen: Lights of Guidance - New Delhi, Bahá'í Publishing Trust, 1983. REF. 847.

19. THE UNIVERSAL HOUSE OF JUSTICE: Wellspring of Guidance. Wilmette, Bahá'í Publishing Trust, 1969.

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