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Shoghi Effendi : O Advento da Justiça Divina
O ADVENTO DA JUSTIÇA DIVINA
POR SHOGHI EFFENDI
Tradução de LEONORA STERLING ARMSTRONG
EDITORA BAHÁ’Í DO BRASIL

Tradução do original inglês“THE ADVENT OF DIVINE JUSTICE”

Aos bem-amados de Deus e às servas do Misericordioso em toda parte dos Estados Unidos e do Canadá

Meus mais amados irmãos e irmãs no amor de Bahá’u’lláh:

Seria difícil, em verdade, expressar adequadamente os sentimentos de irreprimível alegria e júbilo que me inundam o coração todas as vezes que faço pausa para contemplar as incessantes evidências da energia dinâmica que anima os destemidos pioneiros da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh ao executarem o Plano do qual foram incumbidos. A fidelidade, o vigor e a minuciosidade com que vós estais realizando as múltiplas operações que a evolução do Plano Setenial há necessariamente de implicar, são atestados, além da mais ligeira sombra de dúvida, pelo fato de haverem vossos eleitos representantes nacionais assinado o contrato, o que assinala o começo da fase final do maior empreendimento jamais iniciado por aqueles que seguem no Ocidente a Fé instituída por Bahá’u’lláh, e outrossim pelo progresso extremamente animador registrado nos sucessivos relatórios de seu Comitê Nacional de Ensino. Em ambos os seus aspectos e em todos os seus detalhes, o Plano está sendo levado a efeito com regularidade e precisão exemplares, sem diminuição em eficiência e com louvável prontidão.

O expediente demonstrado pelos representantes nacionais dos crentes americanos, de uma maneira tão impressionante, nos meses recentes, como evidenciado pelas medidas sucessivas por eles adotadas, foi igualado pelo apoio leal, inquestionável e generoso que todos aqueles a quem representam lhes têm outorgado, a cada etapa crítica, e com todo novo avanço, no desempenho de seus deveres sagrados. Tão estreita interação, tão completa coesão, com harmonia e camaradagem tão contínuas entre os vários agentes que contribuem para a vida orgânica de cada comunidade bahá’í em pleno funcionamento, constituindo-lhe a estrutura básica – é fenômeno que apresenta um contraste frisante às tendências rompedoras que os elementos discordantes da sociedade hodierna tão tragicamente manifestam. Enquanto cada aparente provação com a qual a insondável sabedoria do Todo-Poderoso julga necessário afligir Sua comunidade eleita, serve apenas para demonstrar novamente sua solidariedade essencial e firmar sua força interior, por outro lado, cada uma das sucessivas crises nos destinos de uma era decadente expõe, de um modo mais convincente do que fez sua antecessora, as influências corrosivas que rapidamente solapam a vitalidade e minam a base de suas instituições declinantes.

Por tais provas da intervenção de uma Providência sempre-vigilante, os que se identificam com a Comunidade do Nome Supremo devem sentir-se eternamente gratos. De cada novo sinal de Sua infalível graça, por um lado, e da revelação de Sua cólera por outro, não podem senão derivar imensa esperança e coragem. Atentos para aproveitarem toda oportunidade que as revoluções da roda do destino dentro de sua Fé lhes oferecem, e intrépidos perante a perspectiva de convulsões espasmódicas que haverão, cedo ou tarde, de afetar fatalmente aqueles que recusaram abraçar sua luz, eles, bem como seus sucessores nessa tarefa, deverão ir avante até que os processos já postos em movimento tenham despendido, cada um, sua força e contribuído seu quinhão para o nascimento da Ordem agora movendo-se na matriz de uma era que sente as dores de parto.

Crises que se Repetem

Essas crises que se repetem e que, com ominosa freqüência e uma força irresistível, afligem uma sempre-crescente porção da espécie humana, haverão necessariamente de continuar a exercer sua influência nociva, até certo ponto e, embora não seja permanentemente, sobre uma comunidade mundial que já estendeu suas ramificações até os mais remotos confins da Terra. Como podem os primórdios de um cataclismo mundial, desenfreando forças que estão perturbando tão gravemente o equilíbrio social, religioso, político e econômica de uma sociedade organizada, levando ao caos e à confusão os sistemas políticos, as doutrinas raciais, os conceitos sociais, os padrões culturais, as associações religiosas e relações comerciais – como podem tais agitações, em tão vasta escala, tão sem precedentes, deixar de produzir qualquer repercussão sobre as instituições de uma Fé de tão terna idade e cujos ensinamentos têm uma relação direta e vital com cada uma dessas esferas de vida e conduta humanas?

Não é de se admirar, pois, se aqueles que estão erguendo a bandeira de uma Fé tão difundida, de uma Causa tão desafiadora, se vêem afetados pelo impacto dessas forças que abalam o mundo. Não é de se admirar se, em meio a esse redemoinho de paixões em contenda, sua liberdade tem sido reduzida, seus princípios desprezados, suas instituições atacadas, seus motivos difamados, sua autoridade posta em perigo, sua pretensão rejeitada.

No coração do continente europeu, uma comunidade que, em virtude de suas potencialidades espirituais e sua situação geográfica, é destinada, segundo predisse ‘Abdu’l-Bahá, a irradiar o esplendor da luz da Fé sobre os países circunvizinhos, está momentaneamente eclipsada por causa das restrições que um regime lamentavelmente errado quanto a seu propósito e sua função, se dignou de lhe impor. Silenciada está agora, infelizmente, a sua voz; dissolvidas estão as suas instituições, proscrita a sua literatura, confiscados os seus arquivos e suspensas as suas reuniões.

Na Ásia central, na cidade que goza de incomparável distinção de ter sido escolhida por ‘Abdu’l-Bahá como sede do primeiro Mashriqu’l-Adhkar do mundo bahá’í, bem como nas cidades e aldeias da província à qual pertence, a Fé tão penosamente oprimida de Bahá’u’lláh, em conseqüência da vitalidade extraordinária, inigualável, que ela tem manifestado consistentemente no decorrer de várias décadas, vê-se à mercê de forças, as quais, alarmadas diante de seu crescente poder, se empenham a reduzi-la à impotência absoluta. Seu Templo, embora usado ainda para fins de adoração bahá’í, foi desapropriado, sendo dissolvidos seus comitês e Assembléias, embaraçadas suas atividades de ensino, deportados seus principais propagadores e presos seus mais entusiásticos defensores, tanto mulheres como homens.

Em sua terra natal, onde reside a imensa maioria de seus adeptos – país cuja capital foi saudada por Bahá’u’lláh como a “mãe do mundo” e “o alvorecer do júbilo da humanidade” – uma autoridade civil ainda não separada oficialmente das influências paralisantes de um clero antiquado, fanático, excessivamente corrupto, prossegue implacavelmente sua campanha de repressão contra os aderentes de uma Fé que, há bem perto de um século, em vão se esforça por suprimir. Indiferente para o fato de que os membros desta comunidade inocente, proscrita, podem com justeza pretender contar-se entre os mais desinteressados, os mais capazes e os mais ardentemente dedicados amigos de sua terra natal, desdenhosa de seu alto senso de cidadania mundial que os defensores de um excessivo e estreito nacionalismo jamais podem esperar apreciar – tal autoridade recusa conceder a uma Fé que estende sua jurisdição espiritual sobre quase seiscentas comunidades locais e cujos aderentes excedem em número aos da Fé Cristã ou da judaica ou da zoroastriana naquela terra, o necessário direito legal de executar suas leis, administrar seus assuntos, dirigir suas escolas, celebrar suas festas, circular sua literatura, solenizar seus ritos, erigir seus prédios e salvaguardar suas doações.

E agora, recentemente na própria Terra Santa, coração e centro de uma Fé que abrange o mundo, os fogos da animosidade racial, da luta fratricida, do desavergonhado terrorismo, atearam uma conflagração que, por um lado, afeta gravemente aquele fluxo de peregrinos que constitui o sangue vital desse centro e, por outro, suspende os vários projetos que haviam sido iniciados com referência à preservação e extensão das áreas adjacentes aos sagrados lugares que entesoura. A segurança da pequena comunidade de adeptos residentes, em face da crescente maré de desordem, periclita, sendo indiretamente desafiada sua condição de comunidade neutra e distinta, e restrita sua liberdade para observar algumas de suas cerimônias. Uma série de assaltos homicidas, alternando com explosões de fanatismo amargo, tanto racial como religioso – envolvendo os líderes bem como os seguidores das três Fés principais naquele país agitado – tem, em algumas ocasiões, ameaçado cortar todas as comunicações normais, não só dentro de seus confins mas também com o mundo de fora. Por perigosa que tenha sido a situação, os Lugares Sagrados Bahá’ís, objeto da adoração de uma Fé mundial – não obstante seu número e sua posição exposta e embora, aparentemente, privados de qualquer meio de proteção – têm sido preservados de uma maneira nada menos que milagrosa.

Um mundo lacerado por paixões em choque, desintegrando-se perigosamente de dentro, vê-se, numa época tão crucial de sua história, face à face com o sempre crescente êxito de uma Fé nascente – Fé essa que parece, algumas vezes, ser envolvida em suas controvérsias, emaranhada pelos seus conflitos, eclipsada por suas sombras que se acumulam e sobrepujada pela maré crescente de suas paixões. Em seu próprio coração, dentro de seu berço, na sede de seu primeiro e venerável Templo, num de seus centros outrora florescentes e potencialmente fortes, a Fé, ainda não emancipada, de Bahá’u’lláh, parece realmente haver recuado perante as forças impetuosas da violência e da desordem às quais a humanidade está consistentemente caindo vítima. As cidadelas dessa Fé, uma por uma e dia após dia, ao que parece, estão sendo sucessivamente isoladas, atacadas e capturadas. Enquanto as luzes da liberdade bruxuleiam e se extinguem, enquanto o ruído da discórdia se torna cada dia mais intenso, enquanto os fogos do fanatismo flamejam com crescente ferocidade nos peitos dos homens e o frio da irreligião se alastra furtiva mas inexoravelmente sobre a alma da humanidade, parece que os membros e órgãos que constituem o corpo da Fé de Bahá’u’lláh tenham vindo a sofrer, em grau variável, as influências mutiladoras que atualmente se apoderam do mundo civilizado em sua totalidade.

De que modo claro e impressionante estão sendo demonstradas, nesta hora, as seguintes palavras de ‘Abdu’l-Bahá: “A escuridão do erro que envolveu o Oriente e o Ocidente está, neste mais grandioso ciclo, batalhando contra a luz da Guia Divina. Suas espadas e lanças estão muito agudas e afiadas; seu exército, veementemente sanguinário. “Neste dia”, escreve Ele em outra passagem, “os poderes de todos os líderes da religião têm em mira dispersar a congregação do Todo-Misericordioso e demolir a Estrutura Divina. As hostes do mundo, quer sejam materiais, culturais ou políticas, dão assalto de todos os lados, pois a Causa é grande, muito grande. Sua grandeza está, neste dia, clara e manifesta aos olhos dos homens.”

Principal Cidadela que Ainda Permanece

A principal cidadela que ainda permanece, o poderoso braço que persiste em erguer altamente o estandarte de uma Fé invencível, não é outra que a bem-aventurada comunidade dos seguidores do Nome Supremo no continente norte-americano. Com suas obras e através da infalível proteção que lhe é outorgada por uma Providência toda-poderosa, esse distinto membro do corpo das comunidades bahá’ís de Oriente e Ocidente, promete vir a ser considerada universalmente como o berço bem como a cidadela da Nova Ordem Mundial do futuro, que é a um tempo a promessa e a glória da Dispensação associada ao nome de Bahá’u’lláh.

Se alguém se inclina a menosprezar a dignidade incomparável conferida a essa comunidade, ou duvidar do papel que lhe incumbirá a desempenhar nos dias vindouros, que pondere a implicação destas palavras prenhes de significação e altamente iluminadoras, que foram proferidas por ‘Abdu’l-Bahá e dirigidas a ela num tempo em que os destinos de um mundo gemendo sob o peso de uma guerra assoladora haviam alcançado seu nadir. “O continente da América”, escreveu Ele tão significativamente, “é, aos olhos do Deus único, verdadeiro, a terra onde os esplendores de Sua luz haverão de se revelar, onde os mistérios de Sua Fé se desvelarão, onde os justos haverão de habitar e os livres se reunirem.”

A comunidade dos bahá’ís do continente norte-americano – a um tempo a iniciadora primaz e o padrão das futuras comunidades que a Fé de Bahá’u’lláh é destinada a erguer por toda a extensão do Hemisfério Ocidental – essa comunidade, a despeito da negrura predominante, já mostrou sua capacidade de ser reconhecida como porta-tocha daquela luz, o repositório daqueles mistérios, o exponente daquela justiça e o santuário daquela liberdade. A que outra luz seria possível que estas palavras supracitadas aludissem, senão à luz da glória da Idade Áurea da Fé instituída por Bahá’u’lláh? Quais mistérios poderia ‘Abdu’l-Bahá ter contemplado, a não ser os mistérios daquela Ordem Mundial embrionária que agora evolui dentro da matriz de Sua Administração? Qual a justiça senão aquela cujo reinado essa Era e essa Ordem tão somente poderão estabelecer? Qual a liberdade, a não ser a liberdade que a proclamação de Sua soberania, na plenitude dos tempos, haverá de conceder?

A comunidade dos organizados promotores da Fé de Bahá’u’lláh no continente americano – descendentes espirituais dos rompedores da aurora de uma Era heróica, que com sua morte proclamaram o nascimento dessa Fé – deverá, por sua vez, inaugurar, não pela sua morte, mas sim, através do sacrifício, em vida, a prometida Ordem Mundial, a concha destinada a entesourar aquela jóia de inestimável valor, a civilização mundial que a própria Fé, tão somente, poderá gerar. Enquanto suas comunidades irmãs se arqueam sob os ventos tempestuosos que lhes batem de todos os lados, essa comunidade, preservada pelos imutáveis decretos do onipotente Ordenador e derivando sustento contínuo do mandato do qual as Epístolas do Plano Divino a investiram, ocupa-se diligentemente em lançar os alicerces e em promover o crescimento daquelas instituições que haverão de prenunciar a aproximação da Era destinada a testemunhar o nascer e o surgir da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh.

Uma comunidade, relativamente insignificante a respeito de força numérica; separada por distâncias vastas, tanto do centro focal de sua Fé como da terra onde reside a massa preponderante de seus companheiros de crença; pela maior parte, destituída de recursos materiais e sem experiência ou proeminência; desconhecendo as crenças, os conceitos e os hábitos daqueles povos e raças das quais descenderam seus Fundadores espirituais; sem familiaridade alguma com os idiomas nos quais foram revelados originariamente seus Livros Sagrados; constrangida a depender unicamente de uma tradução inadequada de apenas uma porção fragmentária da literatura que incorpora suas leis, seus princípios e sua história; sujeita, desde a infância, a provações de severidade extrema, envolvendo, algumas vezes, a apostasia de alguns de seus membros mais proeminentes; tendo de enfrentar sempre, desde seu início, num grau crescente, as forças da corrupção, da lassidão moral, e do preconceito arraigado – uma comunidade como essa, em menos de meio século, e sem o auxílio de qualquer de suas comunidades irmãs, quer do Oriente ou do Ocidente, em virtude da potência celestial, da qual um Mestre misericordioso tão abundantemente a dotou, tem prestado um ímpeto ao progresso da Causa por ela abraçada que as realizações em conjunto de seus correligionários do Ocidente não conseguiram rivalizar.

Que outra comunidade – podemos perguntar em confiança – tem sido o meio de fixar o padrão e de fornecer o impulso inicial àquelas instituições administrativas que constituem a vanguarda da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh? Que outra comunidade foi capaz de demonstrar, com tamanha consistência, o expediente, a disciplina, a determinação férrea, o zelo e a perseverança, a devoção e a fidelidade, tão indispensáveis à ereção e à contínua extensão da estrutura dentro da qual, tão somente, aquelas instituições nascentes possam multiplicar e madurar? Qual a outra comunidade que se haja provado incendiada por tão nobre visão, ou disposta a elevar-se a tão grandes alturas de abnegação, ou preparada para atingir tão avançado grau de solidariedade, que pudesse erguer, em tão pouco tempo e no curso de anos tão cruciais, uma estrutura que em merecesse ser considerada a maior contribuição jamais feita pelo Ocidente à Causa de Bahá’u’lláh? Qual a outra comunidade que possa pretender com justeza haver conseguido, através dos esforços de um de seus membros mais humildes, sem apoio algum, ganhar a espontânea lealdade de Realeza à sua Causa e obter tão maravilhosos testemunhos, por escrito, à sua verdade? Que outra comunidade mostrou a previsão, a capacidade de organização, o fervor entusiasta, que levaram ao estabelecimento e à multiplicação, em todo o seu território, daquelas escolas iniciais que, com o decorrer do tempo, haverão por um lado de evoluir em poderosos centros de conhecimentos bahá’ís e, por outro, de prover terreno fértil de recrutamento para o enriquecimento e consolidação de sua equipe de ensino? Que outra comunidade produziu pioneiros que a tal ponto reunissem as qualidades essenciais de audácia, consagração, tenacidade, abnegação e devoção incondicional que os levaram a abandonar seus lares, renunciar tudo e espalhar-se sobre a superfície do globo, e a içar nos mais remotos confins da Terra a bandeira triunfante de Bahá’u’lláh? Quem senão os membros dessa comunidade ganharam a distinção eterna de serem os primeiros a erguer a chamada de Yá Bahá’u’l-Abhá em territórios e centros de tão alta importância e espalhados sobre tão vasta área como não só o coração do Império Britânico mas também do Francês, a Alemanha, o Extremo Oriente, os Estados Balcânicos, os países escandinavos, a América Latina, as Ilhas do Pacífico, a África do Sul, a Austrália e a Nova Zelândia, e agora, mais recentemente, os Estados Bálticos? Quem senão esses mesmos pioneiros têm se mostrado prontos para empreender a tarefa, exercer a paciência e providenciar os fundos necessários para a tradução e a publicação, em nada menos de quarenta idiomas, de sua literatura sagrada, cuja disseminação é requisito essencial a qualquer campanha de ensino efetivamente organizada? Que outra comunidade pode asseverar ter exercito um papel decisivo nos esforços mundiais feitos para salvaguardar e estender as cercanias imediatas de seus sagrados túmulos, como também para a aquisição preliminar das futuras sedes de suas instituições internacionais em seu centro mundial? Qual a outra comunidade que possa, para seu crédito eterno, dizer-se a primeira a redigir suas constituições, nacional bem como local, estabelecendo assim as linhas fundamentais dos documentos gêmeos designados para regular as atividades, definir as funções e salvaguardar os direitos de suas instituições? Qual a outra comunidade que se possa ufanar de haver ao mesmo tempo adquirido e segurado legalmente a base de suas doações nacionais, assim pavimentando o caminho para uma ação semelhante da parte de suas comunidades locais? Qual a outra comunidade que tenha atingido a suprema distinção de obter, muito antes de haver qualquer de suas comunidades irmãs ideado tal possibilidade, a documentação necessária para assegurar o reconhecimento, pelas autoridades, tanto federais como estaduais, de suas Assembléias Espirituais e doações nacionais? E, finalmente, à qual outra comunidade foi dado o privilégio, ou foram concedidos os meios, de socorrer os necessitados, de pleitear a causa dos espezinhados e de intervir tão energicamente para salvaguardar os edifícios e instituições bahá’ís em tais países como a Pérsia, o Egito, o Iraque, a Rússia e a Alemanha, onde, em várias ocasiões, seus companheiros de crença têm tido de sofrer os rigores da perseguição, tanto religiosa como racial?

Tão brilhante e incomparável registro de serviços que se estendem por um período de bem perto de vinte anos, estando estreitamente entretecidos com os interesses e destinos de tão grande parte da comunidade bahá’í mundial, merece ser incluído como capítulo memorável na história do Período Formativo da Fé de Bahá’u’lláh. Reforçado e enriquecido como é, pela memória das primeiras realizações dos bahá’ís americanos, tal registro é em si, um testemunho convincente de sua capacidade para arcar dignamente com as responsabilidades que qualquer tarefa lhes possa impor no futuro. Exagerar o que significam esses múltiplos serviços, seria praticamente impossível. Julgar corretamente seu valor e dilatar-se com seus méritos e suas conseqüências imediatas é tarefa que somente um futuro historiador bahá’í poderá executar devidamente. Posso por enquanto apenas apresentar para documentação minha profunda convicção de que uma comunidade capaz de patentear tais ações, de manifestar tal espírito, de se erguer a tais alturas, não pode deixar de já possuir as devidas potencialidades para que possa, na plenitude dos tempos, vindicar seu direito de ser aclamada principal autora e campeã da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh.

Por magníficas que sejam essas realizações, fazendo lembrar, em alguns de seus respeitos, as façanhas com as quais os rompedores da aurora de uma Era heróica proclamaram o nascimento da própria Fé, a tarefa associada com o nome dessa comunidade privilegiada, longe de se aproximar de seu clímax, está apenas começando a desdobrar-se. O que os bahá’ís americanos têm realizado num período de quase cinqüenta anos, é infinitésimo em comparação com a magnitude das tarefas à sua frente. Os ruídos daquele desastre catastrófico que há de proclamar, a um e ao mesmo tempo, a agonia de morte da velha ordem e as dores de parto da nova, indicam a constante aproximação bem como o caráter espantoso dessas tarefas.

Uma Cruzada de Magnitude Ainda Maior

O estabelecimento virtual da Ordem Administrativa de sua Fé, a ereção de sua estrutura, a formação de seus instrumentos e a consolidação de suas instituições subsidiárias, foi a primeira tarefa da qual foram incumbidos, como comunidade organizada que veio a existir em virtude do Testamento de ‘Abdu’l-Bahá e sob Suas instruções. Cumpriram essa tarefa inicial com maravilhosa prontidão, fidelidade e vigor. Mal haviam eles criado e correlacionado as várias agências necessárias para o prosseguimento eficiente de quaisquer medidas que pudessem, subseqüentemente, querer iniciar, quando se dirigiram, com o mesmo zelo e dedicação, à próxima tarefa, ainda mais árdua, a de erigir a superestrutura cuja pedra fundamental o próprio ‘Abdu’l-Bahá lançara. E ao realizar-se esta façanha, essa comunidade, consciente dos apaixonados pedidos, exortações e promessas registrados nas Epístolas do Plano Divino, resolveu empreender ainda outra tarefa, a qual, em seu âmbito e suas potencialidades espirituais, haverá seguramente de exceder em brilho todas as obras que já realizaram. Iniciando com inextinguível entusiasmo e intrépida coragem o Plano Setenial, como o passo primeiro e prático para o cumprimento da missão prescrita naquelas Epístolas históricas, empreenderam, com espírito de renovada dedicação, sua tarefa dual, cuja consumação, espera-se, será simultânea com a celebração do centenário do nascimento da Fé de Bahá’u’lláh. Bem cientes de que todo adiantamento conseguido na ornamentação exterior de seu majestoso edifício reagiria diretamente sobre o progresso da campanha do ensino iniciada por eles nos continentes americanos, tanto do sul como do norte, e, compreendendo que cada vitória ganha no campo do ensino viria, por sua vez, a facilitar o trabalho e apressar a terminação de seu Templo, eles agora estão envidando todos os esforços, com coragem e fé, para desempenharem, em ambas as suas fases, suas obrigações segundo o Plano à execução do qual se dedicaram.

Que não imaginem, entretanto, que a consumação do Plano Setenial, por coincidir com o término do primeiro século da era bahá’í, signifique o fim do trabalho ou mesmo uma interrupção nesse trabalho em cuja execução a infalível Mão do Todo-Poderoso os dirige. A inauguração do segundo século da era bahá’í há de desvelar, forçosamente, vistas mais amplas, introduzir etapas mais avançadas e testemunhar o início de planos de maior alcance do que qualquer um até agora concebido. O Plano em que a inteira comunidade dos bahá’ís americanos focaliza atualmente sua atenção, suas aspirações e seus recursos deve ser visto como apenas um começo, uma prova de fortaleza, um ponto de partida para uma cruzada de magnitude ainda maior, se as responsabilidades e os deveres dos quais o Autor do Plano Divino os investiu hão de ser honrados e inteiramente cumpridos.

Pois a consumação do presente Plano em nada mais resultará que a formação de, pelo menos, um centro em cada república do Hemisfério Ocidental, enquanto os deveres prescritos nessas Epístolas pedem uma difusão mais larga e implicam a disseminação de um número muito maior e mais representativo dos membros da comunidade bahá’í norte-americana sobre toda a superfície do mundo novo. É, sem dúvida, a missão dos bahá’ís americanos, pois, levar avante para o segundo século o glorioso trabalho iniciado nos últimos anos do primeiro. Quando tiverem desempenhado seu papel na orientação das atividades desses centros isolados e recém-nascidos, e na promoção de sua capacidade de, por sua vez, iniciar instituições, tanto locais como nacionais, usando como modelo as suas próprias, então, e não antes, poderão eles estar satisfeitos por haverem cumprido adequadamente suas obrigações imediatas de acordo com o Plano divinamente revelado de ‘Abdu’l-Bahá.

Nem por um momento se deveria supor que a consumação de uma tarefa que visa multiplicar os centros bahá’ís e prover a assistência e a orientação necessárias para se estabelecer a Ordem Administrativa da Fé Bahá’í nos países da América Latina seja a realização total do projeto concebido para eles por ‘Abdu’l-Bahá. Um exame, mesmo que seja perfunctório, daquelas Epístolas que incorporam Seu Plano, revelará instantaneamente um âmbito para suas atividades que se estende muito além dos confins do Hemisfério Ocidental. Estando virtualmente cumpridas suas tarefas e responsabilidades interamericanas, sua missão intercontinental entra em sua fase mais gloriosa e decisiva. “No momento em que esta Mensagem Divina”, escreveu o próprio ‘Abdu’l-Bahá, “for levada avante pelos crentes americanos, partindo das costas da América e sendo propagada em toda parte dos continentes da Europa, da Ásia, da África e da Australásia e até as ilhas do Pacífico, essa comunidade se verá estabelecida seguramente sobre o trono de um domínio imperecível.”

E quem sabe se, ao ser consumada essa tarefa colossal, não serão impelidos a cumprir uma missão maior, ainda mais grandiosa, incomparável em seu esplendor, que lhes fora predestinada por Bahá’u’lláh? As glórias de tal missão são de um brilho tão deslumbrante, as circunstâncias que a atendem são tão remotas e os acontecimentos contemporários, com a culminação dos quais estão tão estreitamente ligadas, se acham em tal estado de fluxo, que seria prematuro tentar, no momento atual, delinear acuradamente as suas feições. Basta dizer que nascerão do tumulto e das tribulações destes “últimos anos” oportunidades nem sonhadas, e serão criadas circunstâncias que se não pode prognosticar, as quais tornarão possíveis, ou melhor, necessário, que os vitoriosos prosseguidores do Plano de ‘Abdu’l-Bahá, através do papel que desempenharão no desdobramento da Nova Ordem Mundial, acrescentem novos lauréis à coroa de seu serviço ao limitar de Bahá’u’lláh.

As Potencialidades do Futuro

Nem se deveria deixar passar despercebida nenhuma das múltiplas oportunidades, de ordem totalmente diferente, que a evolução a própria Fé, quer seja em seu centro mundial ou no continente norte-americano, ou mesmo nas mais remotas regiões da Terra, há de criar, instando mais uma vez aos crentes americanos que desempenhem um papel não menos conspícuo do que a sua participação prévia, com suas contribuições coletivas para a propagação da Causa de Bahá’u’lláh. Só posso no momento citar, ao acaso, certas dessas oportunidades que sobressaem preeminentemente, em qualquer tentativa de examinar as possibilidades do futuro: A eleição da Casa Internacional de Justiça e seu estabelecimento na Terra Santa, o centro espiritual e administrativo do mundo bahá’í, inclusive a formação de suas sucursais auxiliares e instituições subsidiárias; a gradativa ereção das várias dependências do primeiro Mashriqu’l-Adhkar do Ocidente, e as intrincadas questões envolvendo o estabelecimento e a extensão da base estrutural da vida da comunidade bahá’í; a codificação e a disseminação das leis do Sacratíssimo Livro, necessitando a formação, em certos países do Oriente, de cortes de lei bahá’í devidamente constituídas e oficialmente reconhecidas; a construção do terceiro Mashriqu’l-Adhkar do mundo bahá’í nas cercanias da cidade de Teerã, devendo ser seguida pela ereção de uma Casa de Adoração semelhante na própria Terra Santa; a libertação das comunidades bahá’ís dos grilhões da ortodoxia religiosa em tais países islâmicos como a Pérsia, o Iraque e o Egito, e o conseqüente reconhecimento, pelas autoridades civis nesses estados, da condição independente e do caráter religioso das Assembléias Bahá’ís Nacionais e Locais; as medidas precautórias e defensivas a serem planejadas, coordenadas e executadas a fim de neutralizar a plena força dos inevitáveis ataques que os esforços organizados das organizações eclesiásticas das várias seitas desencadearão progressivamente e prosseguirão inexoravelmente; e, em último lugar, porém não da menor importância, as numerosas questões que devem ser enfrentadas, os obstáculos que devem ser vencidos, e as responsabilidades que hão de ser assumidas, para que uma Fé severamente opressa possa atravessar as sucessivas etapas da obscuridade completa, da repressão ativa, da emancipação total, conduzindo então ao seu reconhecimento como Fé independente, gozando da mesma condição de plena igualdade com as religiões irmãs, a ser seguida por seu estabelecimento e reconhecimento como religião de Estado, a qual, por sua vez, deverá ceder à sua assunção dos direitos e prerrogativas associadas ao Estado Bahá’í, funcionando na plenitude de seus poderes – etapa essa que há de culminar, finalmente, na emergência do Estado Bahá’í mundial, animado inteiramente pelo espírito e operando unicamente de conformidade direta com as leis e os princípios de Bahá’u’lláh.

Tenho confiança de que os bahá’ís americanos, além de sua resposta ao chamado ao ensino, expresso por ‘Abdu’l-Bahá em Suas Epístolas, aceitarão sem hesitação o desafio oferecido por estas oportunidades e, com sua tradicional intrepidez, tenacidade e eficiência, de tal modo lhe responderão que, perante o mundo inteiro, confirmarão seu título e grau como os construtores campeões das mais poderosas instituições da Fé instituída por Bahá’u’lláh.

Sua Luz Infalível

Bem-amados amigos! Embora a tarefa seja longa e árdua, o prêmio que o Todo-Generoso se dignou de vos conferir é tão precioso que nem língua nem pena pode avaliá-lo de um modo digno. Embora seja distante a meta para a qual agora vos esforçais tão ardentemente, não havendo sido revelada ainda aos olhos dos homens, sua promessa, no entanto, se encontra firmemente implantada nas pronunciações autorizadas e inalteráveis de Bahá’u’lláh. Embora o curso que Ele vos tem traçado pareça, algumas vezes, perdido nas sombras ameaçadoras que agora envolvem uma humanidade atribulada, a infalível luz, entretanto, que Ele fez brilhar sobre vós continuamente, é de tal intensidade que nenhum crepúsculo terreno jamais lhe eclipsará o esplendor. Não obstante ser pequeno vosso número e circunscritas vossas experiências, vossos poderes e recursos, a Força, entretanto, que vigora vossa missão é de âmbito ilimitado e de potência incalculável. Apesar de serem ferozes, numerosos e inexoráveis os inimigos que cada aumento no progresso de vossa missão fará surgirem, as Hostes invisíveis, porém, as quais, se vós perseverardes, haverão de se apressar a auxiliar-vos segundo prometeram, capacitar-vos-ão, finalmente, a frustrar suas esperanças e aniquilar suas forças. Embora sejam indubitáveis as bênçãos que hão de coroar, afinal, a consumação de vossa missão, e firmes e irrevogáveis as promessas Divinas que vos foram dadas, a medida, no entanto, da boa recompensa que cada um de vós é destinado a colher, deverá depender do grau de vossos esforços diários em prol da expansão dessa missão e da aceleração de seu triunfo.

Bem-amados amigos! Por grandes que sejam meu amor e admiração por vós e por mais convencido que eu esteja da eminente participação que podereis ter e, sem dúvida, tereis em ambas as esferas, continental e internacional, do futuro serviço e atividade bahá’ís, sinto, porém, que me incumbe, nesta altura, proferir uma palavra de advertência. Os calorosos tributos, tão repetida e meritoriamente prestados à capacidade, ao espírito, à conduta e ao alto grau dos bahá’ís americanos, individualmente e também como comunidade orgânica, não se referem, em hipótese alguma, às características e natureza do povo do qual Deus os ergueu. Uma nítida distinção deve ser feita entre essa comunidade e aquele povo, e mantida resoluta e destemidamente, se quisermos dar o devido reconhecimento ao poder de transmutação possuído pela Fé de Bahá’u’lláh, em seu impacto sobre as vidas e os padrões daqueles que desejaram alistar-se sob Sua bandeira. De outro modo, a função suprema e distinta de Sua Revelação, que outra não é senão a de fazer surgir uma nova raça de homens, permanecerá totalmente desconhecida, em completa obscuridade.

A Função Suprema de Sua Revelação

Quantas vezes os Profetas de Deus, não excetuando o próprio Bahá’u’lláh, se têm dignado de aparecer e apresentar Sua Mensagem em países e entre povos e raças num tempo em que estes ou estavam em rápido declínio ou já haviam tocado nas ínfimas profundidades da degradação moral e espiritual. A espantosa miséria e aflição em que os israelitas se haviam afundado, sob o governo tirânico e humilhante dos faraós nos dias precedentes a seu êxodo do Egito, guiados por Moisés; o declínio que se iniciara na vida religiosa, espiritual, cultural e moral do povo judaico, no tempo do aparecimento de Jesus Cristo; a crueldade bárbara, a vergonhosa idolatria e imoralidade, que desde tanto tempo eram as características mais angustiantes das tribos da Arábia, expondo-as a tanto opróbrio, quando Maomé se levantou para proclamar Sua Mensagem em seu meio; o estado indescritível de decadência, com seu séqüito de corrupção, confusão, intolerância e opressão na vida civil, bem como religiosa, da Pérsia, tão graficamente mostradas pela pena de um número considerável de letrados, diplomatas e visitantes, na hora da Revelação de Bahá’u’lláh – tudo demonstra este fato básico e irrefutável. Afirmar que o merecimento inato, o elevado padrão moral, a aptidão política e as realizações sociais de qualquer raça ou nação sejam a razão por que apareça em seu meio algum destes Luminares Divinos, seria uma absoluta perversão dos fatos históricos e equivaleria a um repúdio completo à indubitável interpretação que tanto Bahá’u’lláh como ‘Abdu’l-Bahá tão clara e enfaticamente lhes deram.

Como deve ser grande, pois, o desafio àqueles que pertencem a tais raças e nações e responderam ao chamado erguido por esses Profetas, para reconhecerem, sem reservas, e corajosamente darem testemunho desta verdade inquestionável de que não por causa de superioridade racial, capacidade política ou virtude espiritual possuídas por qualquer raça ou nação, mas, antes, como conseqüência direta de suas prementes necessidades, sua lamentável degeneração e irremediável perversidade foi que o Profeta de Deus se dignou de aparecer em seu meio e, com essa alavanca, elevou a inteira espécie humana a um mais alto e nobre plano de vida e conduta. Pois é precisamente sob tais circunstâncias e por tais meios que os Profetas, desde os tempos imemoriais, têm querido e podido demonstrar Seu poder redentor para erguer das profundidades da abjeção e da miséria o povo de Sua própria raça e nação, capacitando-o para transmitir, por sua vez, a outras raças e nações a graça salvadora e a influência vitalizadora de Sua Revelação.

À luz deste princípio fundamental, deve-se ter sempre em mente – nem é possível frisar isto suficientemente – que a razão primária por que o Báb e Bahá’u’lláh se dignaram de aparecer na Pérsia e fazê-la o primeiro repositório de Sua Revelação foi que, dentre todos os povos e nações do mundo civilizado, essa raça e nação – como tantas vezes ‘Abdu’l-Bahá lhe representava a situação – se afundara até profundidades tão ignominiosas e manifestara tão grande perversidade que não se encontrava paralelo entre seus contemporâneos. Pois não se poderia aduzir uma prova mais convincente para demonstrar o espírito regenerador que anima as Revelações proclamadas pelo Báb e por Bahá’u’lláh do que seu poder de transformar o que pode ser considerado, verdadeiramente, um dos povos mais atrasados, mais covardes e perversos, em uma raça de heróis apta para efetuar, por sua vez, uma revolução semelhante na vida da humanidade. Se tivesse aparecido entre uma raça ou nação que por seu valor intrínseco e suas altas realizações parecesse fazer jus ao inestimável privilégio de ser escolhida como receptáculo de tal Revelação, isso reduziria muito, aos olhos de um mundo descrente, a eficácia dessa Mensagem e detrairia da auto-suficiência de seu supremo poder. O contraste que nos é apresentado, de um modo tão impressionante, nas páginas da Narrativa de Nabíl, entre o heroísmo que imortalizou a vida e as façanhas dos Rompedores da Aurora, e a degeneração e covardia de seus difamadores e perseguidores, é, em si, um testemunho muito frisante à verdade da Mensagem Daquele que instilara tal espírito nos peitos de Seus discípulos. Se qualquer crente daquela raça alegasse serem a excelência de seu país e a nobreza inata de seu povo as razões fundamentais por sua escolha como receptáculo primaz das Revelações do Báb e de Bahá’u’lláh, isto seria insustentável à face da irresistível evidência apresentada de um modo tão concludente por essa Narrativa.

Em grau menor deve este princípio, necessariamente, ser aplicável ao país que vindicou seu direito de ser considerado o berço da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh. Tão grande função, tão nobre papel, pode ser considerado como não inferior àquele desempenhado por aquelas almas imortais que, através de sua renúncia sublime e façanhas sem paralelo foram responsáveis pelo nascimento da própria Fé. Que aqueles, pois, destinados a exercer um cargo tão predominante no nascimento dessa civilização mundial – que é de descendência direta de sua Fé – não imaginem, nem por um momento, que, para algum fim misterioso ou por qualquer motivo de excelência inerente ou mérito especial, Bahá’u’lláh se tenha dignado de conferir a seu país e seu povo tão grande e durável distinção. É precisamente por causa dos males patentes os quais, não obstante suas outras características e realizações inegavelmente grandes, tem sido engendrados em seu seio, infelizmente, por um materialismo excessivo e repressor, que o Autor de sua Fé e o Centro de Seu Convênio lhe concederam a distinção única de se tornar o porta-estandarte da Nova Ordem Mundial ideado em Seus escritos. É por este meio que Bahá’u’lláh melhor pode demonstrar, a uma geração desatenta, Sua onipotência para erguer do próprio seio de um povo imerso num mar de materialismo, vítima de uma das formas mais virulentas e arraigadas de preconceito racial e notório por sua corrupção política, sua licenciosidade e seu relaxamento em padrões morais – homens e mulheres que, com o decorrer do temperamento, exemplificarão cada vez mais aquelas virtudes essenciais da abnegação, da retidão moral, da castidade, da camaradagem sem discriminação, da santa disciplina e da percepção espiritual, que os prepararão para o papel preponderante que terão de desempenhar na criação dessa Ordem Mundial e dessa Civilização Mundial das quais seu país, não menos que a inteira espécie humana, necessita desesperadamente. Seu será o dever e seu o privilégio, em sua capacidade, primeiro, como estabelecedores de um dos mais poderosos pilares que sustentam o edifício da Casa Universal de Justiça e, depois, como os construtores-campeões da Nova Ordem Mundial da qual esta Casa há de ser o núcleo e o precursor – inculcar, demonstrar e aplicar aqueles princípios gêmeos, tão urgentemente necessários, princípios aos quais a corrupção política e a licença moral, maculando cada vez mais a sociedade à qual pertencem, apresentam tão triste e chocante contraste.

Advertências como estas, por desagradáveis e deprimentes que sejam, não nos devem cegar, no mínimo grau, àquelas virtudes, àquelas qualidades de alta inteligência, vigor juvenil, ilimitada iniciativa e espírito empreendedor, as quais a nação como um todo mostra tão conspicuamente e a comunidade dos bahá’ís dentro dela reflete cada vez mais. Destas virtudes e qualidades, não menos do que da eliminação dos males mencionados, há de depender, em grande parte, a capacidade dessa comunidade para lançar um alicerce firme para a futura participação do país em inaugurar a Idade Áurea da Causa de Bahá’u’lláh.

Quão Espantosa a Responsabilidade

Como é grande, pois, como é espantosa, a responsabilidade que há de pesar sobre a presente geração dos bahá’ís americanos nessa etapa incipiente de sua evolução espiritual e administrativa – a responsabilidade de extirpar, por todos os meios ao seu alcance, aqueles defeitos, hábitos e tendências que herdaram de sua própria nação, e cultivar, com paciência e prece, essas qualidades e características distintivas, tão indispensáveis à sua efetiva participação na grande obra redentora de sua Fé. Desde que, em vista do tamanho restrito de sua comunidade e da influência limitada que ela atualmente exerce, eles não tenham ainda capacidade para produzirem uma influência notável na grande massa de seus conterrâneos, cumpre, pois, que focalizem sua atenção, por enquanto, em si mesmos, em suas necessidades individuais, suas próprias deficiências e fraquezas pessoais, sempre lembrados de que cada intensificação de esforço de sua parte melhor os preparará para o tempo em que eles, por sua vez, terão de extirpar semelhantes tendências más das vidas e dos corações da inteira massa de seus concidadãos. Nem devem desatender o fato de que a Ordem Mundial, a base da qual eles, como vanguarda das futuras gerações bahá’ís de seus conterrâneos, lidam atualmente para estabelecer, jamais será erigida, a não ser, e até que, a generalidade do povo ao qual pertencem tenha sido purificada dos diversos males que agora tão severamente a afligem.

Ao examinar em geral as mais prementes necessidades dessa comunidade, ao tentar avaliar as mais sérias deficiências que a estorvam no desempenho de sua tarefa, e sempre lembrado da natureza daquela tarefa ainda maior com a qual ela será forçada a lutar no futuro, sinto que é meu dever frisar especialmente, e chamar a especial e urgente atenção do inteiro corpo dos bahá’ís americanos – quer sejam jovens ou velhos, brancos ou de cor, instrutores ou administradores, veteranos ou recém-vindos – ao que eu creio serem os requisitos essenciais ao êxito das tarefas que atualmente exigem sua inteira atenção. Por grande que seja a importância de amoldar os instrumentos exteriores e de aperfeiçoar as agências administrativas, que eles poderão utilizar para a prossecução de sua tarefa dual, segundo o Plano Setenial; por mais vitais e urgentes as campanhas que estão sendo iniciadas, os planos e projetos que estão sendo delineados e os fundos que estão sendo levantados, para o prosseguimento eficiente do trabalho, tanto do ensino como do Templo – não menos urgentes e vitais, entretanto, são os fatores imponderáveis, os espirituais, ligados estreitamente às suas próprias vidas interiores individuais e com os quais estão associadas suas relações humanas e sociais. Estes fatores exigem deles constante perscrutação, contínua auto-análise e minucioso exame de seus próprios corações, para que não seja diminuído seu valor, nem obscurecida ou esquecida sua necessidade vital.

Requisitos Espirituais Preliminares

Dentre estes requisitos espirituais indispensáveis ao êxito, os quais constituem o leito de rocha do qual há de depender, afinal, a segurança de todos os planos de ensino, projetos para o Templo e esquemas financeiros, os seguintes sobressaem como preeminentes e vitais, merecendo ser ponderados pelos membros da comunidade bahá’í americana. Do grau em que estes requisitos básicos forem preenchidos e da maneira como os bahá’ís americanos os cumprirem em suas vidas individuais, suas atividades administrativas e relações sociais, haverá de depender a medida das múltiplas bênçãos que o Todo-Generoso Possuidor poderá conceder a eles todos. Estes requisitos outros não são que um alto senso de retidão moral em suas atividades sociais e administrativas, castidade absoluta em suas vidas individuais e completa isenção de preconceito em suas relações com pessoas de diferentes raças, classes, crenças ou cores.

O primeiro é dirigido, especialmente, embora não exclusivamente, aos seus representantes eleitos, quer sejam locais, regionais ou nacionais, os quais, em sua capacidade de custódios e membros das nascentes instituições da Fé de Bahá’u’lláh, estão arcando com a responsabilidade principal na construção de um alicerce inatacável para aquela Casa Universal de Justiça que, assim como seu título implica, há de ser o expoente e a guardiã daquela Justiça Divina que tão somente pode trazer segurança e estabelecer o predomínio da lei e da ordem num mundo onde prevalece uma estranha desordem. O segundo se refere principal e diretamente a juventude bahá’í, a qual pode contribuir de um modo tão decisivo à virilidade, a pureza e a força motriz da vida da comunidade bahá’í e de quem deverá depender a futura orientação de seu destino bem como o desenvolvimento completo das potencialidades de que Deus a dotou. O terceiro deve ser a incumbência imediata, universal e principal de todos os diversos membros da comunidade bahá’í, de qualquer idade, categoria, experiência, classe ou cor que sejam, pois todos, sem nenhuma exceção, terão de enfrentar suas implicações desafiadoras, e ninguém, não importa quanto tenha progredido neste respeito, pode afirmar que haja desempenhado completamente as graves responsabilidades que este requisito inculca.

Uma retidão de conduta, um senso permanente de infalível justiça, não obscurecido pelas influências desmoralizadoras que uma vida política dominada pela corrupção demonstra de um modo tão impressionante; uma vida casta, pura e santa, não maculada e anuviada pelas indecências, pelos vícios, pelos padrões falsos que um código moral inerentemente deficiente tolera, perpetua e alimenta; uma fraternidade livrada daquele cancro de preconceito racial, que está corroendo os órgãos vitais de uma sociedade já debilitada – são estes os ideais que os bahá’ís americanos doravante, individualmente e através de ação em conjunto, deverão empenhar-se em promover, tanto na vida particular como na pública – ideais que são as principais forças impulsoras que podem mais efetivamente acelerar a marcha de suas instituições, seus planos e empreendimentos, que podem guardar a honra e a integridade de sua Fé e vencer quaisquer obstáculos que ela tenha de enfrentar no futuro.

Esta retidão de conduta, com suas implicações de justiça, eqüidade, veracidade, honestidade, imparcialidade e fidedignidade, deve distinguir toda fase da vida da comunidade bahá’í. “Os companheiros de Deus”, declarou o próprio Bahá’u’lláh, “são, neste dia, o fermento que há de levedar os povos do mundo. Devem manifestar tal fidedignidade, tal veracidade e perseverança, tais ações e tal caráter, que todo o gênero humano possa ser beneficiado pelo seu exemplo.” “Aquele que é o Mais Grandioso Oceano Me dá testemunho!” afirma Ele outra vez, “No próprio alento de tais almas que sejam puras e santificadas, se ocultam potencialidades de vasto alcance. Tão grandes são estas potencialidades que exercem sua influência sobre todas as coisas criadas.” “Aquele que é o verdadeiro servo de Deus”, escreveu Ele em outra passagem, “que, neste dia, ainda que passasse por cidades de prata e ouro, não se dignaria de olhar para elas, e cujo coração permaneceria puro, sem ser contaminado por quaisquer coisas que possam ser vistas neste mundo, sejam seus bens ou seus tesouros. Invoco o testemunho do Sol da Verdade! O sopro de tal homem é dotado de potência e suas palavras de atração.” “Por Aquele que brilha acima da aurora da santidade!” Ele, ainda mais enfaticamente revelou, “Se toda a Terra fosse convertida em prata e ouro, nenhum homem que se pode dizer tenha ascendido ao céu da fé e certeza se dignaria de lhe dar atenção, muito menos de apanhar e guardá-lo... Os que habitam no Tabernáculo de Deus e estão estabelecidos nos assentos da glória imperecível recusar-se-ão, ainda que estejam morrendo de fome, a estender as mãos e tomar ilicitamente a propriedade de seu próximo, por mais abjeto e desprezível que este seja. O propósito de Deus, Uno e Verdadeiro, em se manifestar, é convocar todo o gênero humano à veracidade e sinceridade, à piedade e fidedignidade, à resignação e submissão à vontade de Deus, à tolerância e bondade, à integridade e sabedoria. É Seu objetivo adornar todo homem com o manto de um caráter santo e embelezá-lo com o ornamento de boas e santas ações.” “Temos advertido a todos os bem-amados de Deus”, insiste Ele, “que usem de cautela para que a orla das Nossas vestes sagradas não seja maculada por ações ilícitas ou manchada pelo pó da conduta repreensível.” “Aderi à retidão, ó povo de Bahá”, Ele assim os exorta, “É este, verdadeiramente, o mandamento que este Injuriado vos tem dado, e é a primeira escolha de Sua irrestrita vontade para cada um de vós.”. “Um bom caráter”, explica Ele, “é, em verdade, o melhor manto que Deus concede aos homens. Ele o usa para adornar os templos de Seus bem-amados. Por Minha vida! A luz do bom caráter ultrapassa a luz do sol e seu fulgor.” “Um ato íntegro”, escreveu Ele ainda, “é dotado de tal potência que eleva o pó até fazê-lo passar além do céus dos céus. Tem o poder de romper todo vínculo e de restaurar a força que se desgastou e esvaeceu... Sê puro, ó povo de Deus, sê puro; sê justo... Dize: ó povo de Deus! O que pode assegurar a vitória Daquele que é a Verdade Eterna, Suas hostes e auxiliadores na Terra, foi inscrito nos Livros Sagrados e Escrituras e está tão claro e manifesto como o sol. O que constitui estas hostes são as ações íntegras, a conduta e o caráter que sejam aceitáveis aos Seus olhos. Se alguém se levantar, neste Dia, para dar seu apoio à Nossa Causa, chamando ao seu auxílio as hostes de um caráter louvável e conduta reta, a influência de tal ação haverá, com a máxima certeza, de ser difundida pelo mundo inteiro.” “A melhora do mundo” – é ainda outra afirmação – “pode ser realizada através de ações puras e boas, de conduta louvável e digna.” “Sede justos a vós mesmos e aos outros” – assim Ele os aconselha – “para que as evidências da justiça sejam reveladas através de vossas ações entre os Nossos servos fiéis”. “A eqüidade”, escreveu Ele também, “é a mais fundamental entre as virtudes humanas. A avaliação de todas as coisas há, forçosamente, de depender dela.” E outra vez, “Observai eqüidade em vosso julgamento, ó vós, homens de coração compreensível! Quem julga com injustiça é destituído das características que distinguem a condição do homem.” “Embelezai vossas línguas com veracidade, ó povo.” Ele ainda os admoesta, “e adornai vossas almas com o ornamento da honestidade. Acautelai-vos, ó povo, para que não trateis ninguém de um modo traiçoeiro. Sede os fidedignos de Deus entre Suas criaturas e os emblemas de Sua generosidade entre Seu povo.” “Que seja casta vossa vista” – é ainda outro conselho – “fiel vossa mão, veraz vossa língua e esclarecido vosso coração.” “Sê um ornamento para o semblante da verdade” – é ainda outra admoestação – “uma coroa para a fronte da fidelidade, um pilar para o templo da retidão, um sopro de vida para o corpo da humanidade, uma insígnia das hostes da justiça, um luminar acima do horizonte da virtude.” “Que a veracidade e a cortesia sejam vosso adorno” - admoesta Ele ainda – “não permitais que vos sejam negadas as vestes da tolerância e da justiça, para que os doces aromas da santidade oriundos de vossos corações se difundam sobre todas as coisas criadas. Dizei: Acautelai-vos, ó povo de Bahá, para que não andeis nos caminhos daqueles cujas palavras diferem de seus atos. Esforçai-vos a fim de serdes capacitados a manifestar os sinais de Deus aos povos da Terra e a espelhar Seus mandamentos. Que vossos atos sirvam para guiar toda a humanidade, pois as profissões da maioria dos homens, sejam de alta ou de baixa categoria, diferem de sua conduta. É por meio de vossas ações que vos podeis distinguir de outrem. Através delas poderá o resplendor de vossa luz ser difundido sobre toda a Terra. Feliz o homem que atende a Meu conselho e guarda os preceitos estabelecidos por Aquele que é o Onisciente, a Suma Sabedoria.”

“Ó exército de Deus!” escreve ‘Abdu’l-Bahá, “Através da proteção e ajuda concedidas pela Abençoada Beleza – seja minha vida um sacrifício aos Seus bem-amados deveis vos comportar de tal maneira que sobressaís, distintos e brilhantes como o sol entre as outras almas. Fosse qualquer um de vós entrar numa cidade, ele se deveria tornar um centro de atração por causa de sua sinceridade, sua fidelidade e seu amor, sua honestidade, veracidade e benevolência para com todos os povos do mundo, de modo que os habitantes dessa cidade exclamem, dizendo: - Esse homem é bahá’í, inquestionavelmente, pois seus modos, sua conduta, sua moral, sua natureza e temperamento refletem os atributos dos bahá’ís. – Antes de atingirdes este grau, não podereis ser considerados fiéis ao Convênio e Testamento de Deus.” “O dever mais vital, neste dia”, escreveu Ele, além disso, “é a purificação de vossos caráteres, a correção de vossos modos e a melhora de vossa conduta. Os bem-amados do Misericordioso devem manifestar tal caráter e conduta entre Suas criaturas que a fragrância de sua santidade se difunda sobre o mundo inteiro e ressuscite os mortos, desde que o propósito do Manifestante de Deus e do alvorecer das luzes ilimitadas do Invisível seja a educação das almas dos homens e a refinação do caráter de todo homem vivente...” “A veracidade” afirma Ele, “é o fundamento de todas as virtudes humanas. Sem a veracidade, o progresso e o êxito em todos os mundos de Deus são impossíveis para qualquer alma. Quando este santo atributo for estabelecido no homem, todas as qualidades divinas também serão adquiridas.”

Tal retidão de conduta deve manifestar-se, com potência cada vez maior, em todos os veredictos que os representantes eleitos da Comunidade Bahá’í, em qualquer capacidade em que se encontrem, possam ter de pronunciar. Deve ser constantemente refletida nas transações comerciais de todos os seus membros, em suas vidas domésticas, em toda espécie de emprego e em qualquer serviço que possam prestar futuramente a seu governo ou seu povo. Deve ser exemplificada na conduta de todos os eleitores bahá’ís quando caracterizar a atitude de todo seguidor leal da Fé no que diz respeito à sua obrigação de não aceitar encargos políticos, nem se identificar com qualquer partido político, nem participar de controvérsias políticas, e de não se afiliar a organizações políticas ou instituições eclesiásticas. Deve revelar-se na aderência incondicional de todos, sejam moços ou velhos, aos princípios fundamentais claramente enunciados e estabelecidos por ‘Abdu’l-Bahá em Seus discursos, e às leis e preceitos revelados por Bahá’u’lláh em Seu Sacratíssimo Livro. E essa retidão deve ser demonstrada pela imparcialidade de qualquer um que defenda a Fé contra seus inimigos, pela sua eqüidade em reconhecer quaisquer méritos que o inimigo talvez possua e pela sua honradez em cumprir qualquer obrigação que possa ter para com ele. Deve constituir o mais brilhante ornamento da vida, das atividades, dos esforços e das palavras de todo instrutor bahá’í, esteja ele trabalhando em sua terra natal ou no estrangeiro, quer na vanguarda das fileiras de instrutores, ou ocupando um posto de menos ação e responsabilidade. Deve-se fazê-la o distintivo daquele corpo dos representantes eleitos de cada comunidade bahá’í, numericamente pequeno mas intensamente dinâmico e altamente responsável, o qual constitui o sustentáculo e o instrumento único, em cada comunidade, para a eleição daquela Casa Universal cujo próprio nome e título, segundo determinação de Bahá’u’lláh, simbolizam aquela retidão de conduta que é sua mais alta missão salvaguardar e executar.

Tão grande e transcendental é este princípio da Justiça Divina – princípio que deve ser considerado a distinção culminante de todas as Assembléias Locais e Nacionais, em sua qualidade de precursores da Casa Universal de Justiça – que o próprio Bahá’u’lláh subordina Sua vontade e inclinação pessoal à força predominante das implicações e exigências deste princípio. “Deus é Minha Testemunha!” exclama Ele e assim explica: “Se não fosse contrário à Lei de Deus, Eu teria beijado a mão daquele que Me quis assassinar e permitido que herdasse Meus bens terrenos. Restringe-Me, porém, a Lei inexorável estabelecida no Livro, e estou, Eu Mesmo, despojado de todas as possessões terrenas.” “Sabe tu, em verdade”, afirma Ele significativamente, “essas grandes opressões que sobrevieram ao mundo estão preparando-o para o advento da Suprema Justiça.” “Dize”, assevera ainda, “Ele apareceu com aquela justiça com a qual a humanidade foi adornada e, no entanto, o povo, pela maior parte, está adormecido.” “A luz dos homens é a Justiça” declara Ele, além disso, “Não a apagueis com os ventos contrários da opressão e tirania. O desígnio da justiça é o aparecimento da unidade entre os homens.” “Nenhum resplendor”, declara ainda, “pode comparar com o da justiça. Dela dependem a organização do mundo e a tranqüilidade do gênero humano.” “Ó povo de Deus!” Ele exclama, “O que treina o mundo é a Justiça, pois é sustentada por dois pilares, recompensa e punição. Esses dois pilares são as fontes de vida para o mundo.” “A justiça e a eqüidade”, é ainda outra afirmação, “são duas guardiãs para a proteção do homem. Apareceram adornadas com seus poderosos e sagrados nomes a fim de manterem o mundo em retidão e protegerem as nações.” “Despertai-vos, ó povo”, é Sua advertência enfática, “em antecipação dos dias da Justiça Divina, pois já chegou a hora prometida. Acautelai-vos, para que não deixeis de apreender o que significa e assim sejais contados entre aqueles que erram.” “Aproxima-se o dia” escreveu Ele outrossim, “quando os fiéis contemplarão a estrela-d’alva da justiça enquanto se irradia em pleno esplendor do amanhecer da glória.” “A ignomínia que fui forçado a suportar”, é Sua observação significativa, “desvelou a glória da qual a criação inteira fora investida e, através das crueldades que tenho sofrido, a estrela-d’alva da justiça manifestou-se e irradiou sobre os homens seu esplendor.” “O mundo”, escreveu outra vez, “está em grande turbulência e as mentes de seus povos se acham em confusão completa. Suplicamos ao Todo-poderoso que por Sua graça os ilumine com a glória de Sua Justiça e os capacite a descobrir o que lhes for proveitoso em todos os tempos e sob todas as condições.” E outra vez, “Não pode haver a mínima dúvida de que, se a estrela-d’alva da justiça, atualmente encoberta pelas nuvens da tirania, fosse irradiar sua luz sobre os homens, a face da Terra seria completamente transformada.”

“Louvado seja Deus!” ‘Abdu’l-Bahá, por Sua vez, exclama. “O sol da justiça surgiu do horizonte de Bahá’u’lláh, pois em Suas Epístolas os fundamentos de tal justiça foram estabelecidos como nenhuma mente, desde o começo da criação, jamais concebeu”. “O pálio da existência”, expõe Ele ainda, “descansa sobre o pólo da justiça e não da clemência, e a vida da humanidade depende da justiça e não da clemência”.

Não é de se admirar, pois, haver o Autor da Revelação Bahá’í elegido associar o nome e título daquela Casa – destinada a ser a glória culminante de Suas instituições administrativas - não com a clemência, mas sim, com a justiça; haver Ele feito a justiça a base única e o alicerce permanente de Sua Suprema Paz e de havê-la proclamado, em Suas Palavras Ocultas “a mais amada de todas as coisas” a Seu ver. É aos bahá’ís americanos em particular que me sinto impelido a dirigir este apelo fervoroso, para que ponderem em seus corações o que essa retidão moral implica e apóiem de coração e alma, com firmeza absoluta, tanto individual como coletivamente, este padrão sublime – este padrão do qual a justiça é elemento tão essencial e potente.

Quanto a uma vida casta e santa, deve ser considerada um fator não menos essencial – um que há de contribuir devidamente para fortalecer e vitalizar a Comunidade Bahá’í, sendo que disso dependerá, por sua vez, o êxito de qualquer plano ou empreendimento bahá’í. Nestes dias, quando as forças da irreligião estão enfraquecendo a fibra moral e solapando os fundamentos da moralidade individual, a obrigação da castidade e santidade deve exigir cada vez mais da atenção dos bahá’ís americanos, tanto em suas capacidades individuais como em sua qualidade de custódios responsáveis pelos interesses da Fé instituída por Bahá’u’lláh. No desempenho de tal obrigação, tornada peculiarmente significativa pelas circunstâncias especiais resultantes de um materialismo excessivo e enervante que atualmente predomina em seu país, deve seu papel ser conspícuo e de suma importância. Todos, sejam homens ou mulheres – nesta hora agourenta em que as luzes da religião minguam e suas restrições, uma por uma, estão sendo abolidas – devem fazer uma pausa a fim de se examinarem, averiguarem sua conduta e, com característica resolução, se levantarem para expurgar a vida de sua comunidade de todo traço de lassidão moral que pudesse macular o nome ou diminuir a integridade de uma Fé tão santa e preciosa.

Uma vida casta e santa deve vir a ser o princípio que guie a conduta de todos os bahá’ís, tanto em suas relações com os membros de sua própria comunidade, como em seu contato com o mundo afora. Deve adorar e reforçar a incessante faina e os esforços meritórios daqueles cuja invejável missão é difundir a Mensagem da Fé instituída por Bahá’u’lláh e administrar os seus assuntos. Deve ser mantida, em toda a sua integridade e todas as suas implicações, em cada fase da vida dos que preenchem as fileiras desta Fé, quer seja em seus lares ou suas viagens, em seus clubes, sociedades, diversões, escolas ou universidades. Devemos dar a isto especial consideração ao dirigirmos as atividades sociais de todas as escolas de verão bahá’ís e em qualquer outra ocasião em que a vida de comunidade bahá’í seja organizada e promovida. Isto deve ser íntima e continuamente identificado com a missão da Juventude Bahá’í, quer seja como elemento na vida da Comunidade Bahá’í ou como fator no futuro progresso e orientação da juventude de seu próprio país.

Tal vida casta e santa, implicando modéstia, pureza, temperança, decoro e uma mente sadia, exige nada menos que o exercício de moderação em tudo o que diz respeito ao vestuário, à linguagem, aos divertimentos e a todas as atividades artísticas e literárias. Requer uma vigilância diária no controle dos desejos carnais e das inclinações corruptas. Não admite conduta frívola, com seu excessivo apego a prazeres triviais e, muitas vezes, mal orientados. Exige abstenção total de bebidas alcoólicas, do ópio e de outras drogas semelhantes, formadoras do vício. Condena a prostituição da arte e da literatura, a prática do nudismo e da coabitação, a infidelidade em relações maritais e toda espécie de promiscuidade, de excessiva liberdade e de vício sexual. Não pode tolerar nenhuma complacência para com as teorias, os padrões, os hábitos e excessos de uma era decadente. Não, antes, procura demonstrar, pela força dinâmica de seu exemplo, o caráter pernicioso de tais teorias, a falsidade de tais padrões, a vacuidade dessas pretensões, a perversidade desses hábitos e o caráter sacrílego desses excessos.

“Pela justiça de Deus!” escreve Bahá’u’lláh, “O mundo, suas vaidades e sua glória, e quaisquer deleites que possa oferecer, são todos, aos olhos de Deus, de tão pouco valor como pó e cinzas – antes, são ainda mais desprezíveis. Oxalá pudessem os corações dos homens compreender isto! Limpai-vos completamente, ó povo de Bahá, da corrupção do mundo e de tudo o que lhe pertence. Deus Mesmo dá-Me testemunho! As coisas da Terra mal vos convêm. Rejeitai-as, deixando-as para aqueles que as possam desejar e fixai vossos olhos nesta mais santa e esplendorosa Visão”. “Ó vós, Meus bem-amados!” Ele assim exorta Seus seguidores, “Não permitais que a orla das Minhas sagradas vestes seja manchada e enlodada com as coisas deste mundo, e não sigais as insinuações de vossos desejos maus e corruptos”. E ainda, “Ó vós os bem-amados de Deus, Uno e Verdadeiro! Passai além do estreito refúgio de vossos desejos maus e corruptos e avançai até entrardes na vasta imensidão do reino de Deus e permanecei nos prados da santidade e do desprendimento, para que a fragrância de vossas ações possa conduzir a humanidade inteira ao oceano da infindável glória de Deus”. “Desembaraçai-vos”, Ele assim lhes manda, “de todo apego a este mundo e às suas vaidades. Acautelai-vos, para não vos aproximardes delas, desde que vos incitem a seguir nos caminhos de vossa própria lascívia e vossos desejos cobiçosos e vos impeçam de entrar na Senda reta e gloriosa”. “Evitai toda espécie de maldade” é Seu mandamento, “pois tais coisas vos são vedadas no Livro que ninguém pode tocar salvo aquele que Deus purificou de toda mancha de culpa e incluiu no número dos purificados”. “Uma raça de homens,” é Sua promessa escrita, “incomparável em caráter, será erguida e, com os pés do desprendimento, passará por cima de todos os que estão no céu e na Terra e lançará a manga da santidade sobre tudo o que tem sido criado de água e de barro”. “A civilização” é Sua grave advertência, “tantas vezes alardeada pelos eruditos expoentes das ciências e letras, se lhe for permitido ultrapassar os limites da moderação, trará grande mal aos homens... Se for levada a um extremo, a civilização virá a ser tão prolífica causa de mal como fora fonte de bem enquanto restrita dentre dos confins da moderação”. “Ele escolheu do mundo inteiro os corações de Seus servos”, explica Ele, “e de cada um fez uma sede para a revelação de Sua glória. Santificai-os, pois, de toda corrupção, a fim de que sejam gravadas sobre eles as coisas para que foram criados. É, em verdade, sinal do generoso favor de Deus”. “Dizei”, proclama Ele, “não há de ser contado entre o povo de Bahá aquele que seguir seus desejos terrenos ou fixar seu coração nas coisas da Terra. Meu verdadeiro seguidor é aquele que, se vier a um vale de puro ouro, o atravessará diretamente, tão de parte como uma nuvem e nem se virará para trás nem fará pausa. Tal homem, seguramente, a Mim pertence. De suas vestes, a Assembléia no alto pode inalar a fragrância da santidade... E se ele encontrasse a mais bela e formosa das mulheres, não sentiria seu coração seduzido pela mais tênue sombra de desejo da sua beleza. Tal pessoa é, em verdade, a criação da imaculada castidade. Assim vos instruí a Pena do Ancião dos Dias, segundo ordenado por vosso Senhor, o Onipotente, o Todo-Generoso”. “Os que seguem seus desejos lascivos e suas inclinações corruptas”, é ainda outra admoestação, “erram e dissipam seus esforços. Estão, em verdade, entre os perdidos”. “Cumpre ao povo de Bahá”, escreveu Ele também, “morrer para o mundo é tudo o que nele existe, estar tão desprendido de todas as coisas terrenas, que os habitantes do Paraíso possam inalar de suas vestes os suaves aromas da santidade... Os que têm deslustrado o belo nome da Causa de Deus, seguindo as coisas carnais – estes estão em erro palpável!” “A pureza e a castidade”, admoesta Ele especialmente, “têm sido, e ainda o são, os ornamentos supremos para as servas de Deus. Deus é Minha Testemunha! O esplendor da luz da castidade difunde sua iluminação sobre os mundos do espírito e sua fragrância é levada até o Mais Excelso Paraíso”. “Deus”, afirma Ele outra vez, “fez da castidade, verdadeiramente, um diadema para as cabeças de Suas servas. Grande é a bem-aventurança daquela serva que tiver alcançado tão elevado grau”. “Nós, em verdade, temos decretado em Nosso Livro”, assegura-nos Ele, “uma boa e generosa recompensa para quem quer que se afastar da maldade e levar uma vida casta e piedosa. Em verdade, Ele é o Generosíssimo, Deus de toda bondade”. “Temos suportado o peso de todas as calamidades”, Ele testifica, “a fim de vos santificar de toda corrupção terrena e, no entanto, sois indiferentes... Nós, em verdade, observamos vossas ações. Se percebermos delas os suaves aromas da pureza e santidade, Nós com toda a certeza vos abençoaremos. Então as línguas dos habitantes do Paraíso louvar-vos-ão e glorificarão vossos nomes entre aqueles que se aproximaram de Deus”.

“O uso do vinho”, escreve ‘Abdu’l-Bahá, “é proibido, segundo o texto do Sacratíssimo Livro, porque é causa de enfermidades crônicas, enfraquece os nervos e consome a mente”. “Bebei, ó servas de Deus”, o próprio Bahá’u’lláh afirmou, “o Vinho Místico do cálice de Minhas palavras. Rejeitai de vós, pois, o que vossas mentes abominam, pois isso vos foi proibido em Suas Epístolas e Suas Escrituras. Guardai-vos de trocardes o Rio que é a vida verdadeira por aquilo que as almas dos puros de coração detestam. Inebriai-vos com o vinho do amor de Deus e não com aquilo que vos amortece as mentes, ó vós que O adorais! Verdadeiramente, isto foi proibido a todo crente, quer homem ou mulher. Assim brilhou o sol de Meu mandamento acima do horizonte das Minhas palavras, para que as servas que crêem em Mim possam ser iluminadas”.

Temos de lembrar, entretanto, que a manutenção de tão elevadas normas de conduta moral não deve ser associada ou confundida com qualquer forma de ascetismo ou de puritanismo excessivo, fanático. A norma inculcada por Bahá’u’lláh não visa, sob quaisquer circunstâncias, negar a pessoa alguma o legítimo direito e privilégio de derivar ao máximo as vantagens e os benefícios dos múltiplos encantos, belezas e prazeres com os quais um amoroso Criador tão abundantemente enriqueceu o mundo. “Se um homem”, assegura-nos o próprio Bahá’u’lláh, “deseja adornar-se com os ornamentos da Terra, usar as vestes ou participar dos benefícios que ela pode conceder, nenhum mal lhe pode sobrevir, contato que não permita que coisa alguma intervenha entre si e Deus, pois Deus ordenou cada coisa boa, quer criada no céu ou na Terra, para aqueles de Seus servos que Nele, verdadeiramente, crêem. Alimentai-vos, ó povo, com as boas coisas que Deus vos concedeu e não vos priveis de Suas maravilhosas dádivas. Agradecei e louvai a Ele e sede dos sinceramente gratos”.

A Questão Mais Desafiadora

Quanto ao preconceito racial, que há bem perto de um século vem corroendo a fibra da sociedade americana e lhe atacando a inteira estrutura social, este deve ser visto como constituindo a questão mais vital e desafiadora com que a comunidade defronta na presente etapa de sua evolução. Os incessantes esforços exigidos por este problema de suma importância, os sacrifícios que impõe, o cuidado e a vigilância que demanda, a coragem e fortaleza moral que requer, o tato e a simpatia de que necessita, tudo isso investe esse problema – longe ainda de ter sido resolvido satisfatoriamente pelos bahá’ís americanos – de uma urgência e uma importância que não podem ser exageradas. Os brancos e os de cor, os de alta e os de baixa categoria, jovens e velhos, quer recém-convertidos para a Fé ou não – todos os que com ela se identificam, devem participar e prestar seu auxílio, cada um de acordo com sua capacidade, sua experiência e suas oportunidades, à tarefa comum de cumprir as instruções, realizar as esperanças e seguir o exemplo de ‘Abdu’l-Bahá. Quer de cor ou não, nenhuma raça tem o direito, nem pode, conscientemente, ter a pretensão de se considerar absolvida de tal obrigação, ou de haver realizado tais esperanças ou seguido fielmente tal exemplo. Uma estrada longa e espinhosa, assediada de armadilhas, ainda tem de ser percorrida, tanto pelos expoentes brancos da Fé redentora de Bahá’u’lláh, como também pelos de cor. Da distância que eles conseguirem galgar e da maneira como caminharem nessa estrada, deverá depender, a um ponto que poucos entre eles podem imaginar, a operação daquelas influências intangíveis que são indispensáveis ao triunfo espiritual dos bahá’ís americanos e ao êxito material de seu empreendimento recém-iniciado.

Que recordem, destemida e resolutamente, o exemplo e a conduta de ‘Abdu’l-Bahá enquanto esteve entre eles. Lembrem-se de Sua coragem, Seu amor genuíno, Sua camaradagem informal e sem discriminação, Sua atitude de desdém e de impaciência para com a crítica, temperada por Seu tato e Sua sabedoria. Que reavivem e perpetuem a memória daqueles inesquecíveis e históricos episódios e ocasiões em que Ele demonstrou de um modo tão impressionante Seu senso agudo de justiça, Sua simpatia espontânea pelos espezinhados, Seu infalível senso da unidade do gênero humano, Seu transbordante amor pelos seus membros e Seu desagrado com aqueles que ousaram zombar de Seus desejos, ridicularizar Seus métodos, desafiar-Lhe os princípios ou invalidar-Lhe os atos.

Discriminar contra qualquer raça por estar ela atrasada socialmente, imatura politicamente e numa minoria numericamente, é violação flagrante do espírito que anima a Fé de Bahá’u’lláh. O reconhecimento de qualquer divisão ou partição em suas fileiras é alheio a seu próprio propósito, seus próprios princípios e ideais. Uma vez que seus membros hajam reconhecido plenamente a pretensão de seu Autor e, identificando-se com sua Ordem Administrativa, tenham aceito sem reservas os princípios e leis incorporados em seus ensinamentos, deve ser automaticamente obliterada toda diferenciação de classe, credo ou cor, jamais sendo permitido, sob pretexto algum, por maior que seja a pressão de acontecimentos ou de opinião pública, que ela ressurja. Se há alguma discriminação que deva ser tolerada, não deveria ser contra, mas sim, a favor da minoria, seja racial ou outra. Diferente das nações e povos da Terra – quer sejam do Oriente ou do Ocidente, democráticos ou autoritários, comunistas ou capitalistas, pertencentes ao Velho Mundo ou ao Novo – os quais ou desatendem ou espezinham ou extirpam as minorias, quer racial, religiosa ou política, dentro da esfera de sua jurisdição, toda comunidade organizada alistada sob o estandarte de Bahá’u’lláh deve considerar que é sua primeira e inescapável obrigação nutrir, encorajar e salvaguardar toda minoria pertencente a qualquer fé, raça, classe ou nação em seu seio. Tão grande e vital é este princípio que, em tais circunstâncias, como no caso de um número igual de votos haver sido dado numa eleição, ou de as qualificações para qualquer posto estarem equilibradas entre as raças, fés ou nacionalidades dentro da comunidade, a prioridade deve ser concedida, sem hesitação, ao grupo que representa a minoria, e isto não por outro motivo senão o de estimulá-la e encorajá-la e dar-lhe uma oportunidade para promover os interesses da comunidade. À luz deste princípio, e tendo em mente que é extremamente desejável permitir aos elementos de minoria participarem e terem uma parte na direção da atividade bahá’í, seria o dever de cada comunidade bahá’í tomar tais providências que – em casos onde indivíduos pertencentes aos diversos elementos de minoria em seu seio já estão qualificados e preenchem os requisitos necessários – as instituições representativas bahá’ís, quer sejam Assembléias, convenções, conferências ou comitês, tenham representado nelas o maior número possível desses diversos elementos, racial ou outros. A adoção de tal curso e a fiel adesão a ele seria não somente uma fonte de inspiração e encorajamento para aqueles elementos numericamente pequenos e inadequadamente representados, mas também demonstraria ao mundo em geral a universalidade e o caráter representativo da Fé de Bahá’u’lláh e o fato de estarem Seus seguidores livres da mácula daqueles preconceitos que já causaram tanta devastação na vida doméstica das nações bem como em suas relações estrangeiras.

A eliminação do preconceito de raça, em qualquer de suas formas, numa época como esta, quando uma sempre-crescente seção da espécie humana está caindo vítima à sua ferocidade devastadora, deve ser adotada como o lema do inteiro corpo dos bahá’ís americanos, qualquer que seja o Estado em que residam, quaisquer os círculos que freqüentem, e nada importando sua idade, suas tradições, seus gostos e hábitos. Deve ser demonstrada consistentemente em todas as fases de sua atividade e vida, quer dentro da comunidade bahá’í ou fora dela, em público, ou particularmente, formal bem como informalmente, como indivíduos e também em sua capacidade oficial como grupos organizados, comitês e Assembléias. Deve ser cultivada deliberadamente, através das várias oportunidades de cada dia, por mais insignificantes que sejam, que se apresentam em seus lares, seus escritórios comerciais, suas escolas e faculdades, suas festas sociais e campos de recreio, suas reuniões bahá’ís, conferências, convenções, escolas de verão e Assembléias. E acima de tudo, deveria tornar-se a nota tônica do procedimento daquele corpo augusto que, em sua capacidade de representante nacional e de diretor e coordenador dos assuntos da comunidade, deve dar o exemplo e facilitar a aplicação de um princípio tão vital às vidas e atividades daqueles cujos interesses ele salva-guarda e representa.

“Ó vós que tendes discernimento!” escreveu Bahá’u’lláh, “Verdadeiramente, as palavras que desceram do céu da Vontade de Deus são a fonte de unidade e harmonia para o mundo. Fechai vossos olhos para diferenças de raça e daí boas vindas a todos, à luz da unidade”. “Desejamos somente o bem do mundo e a felicidade das nações”, proclama Ele, “... que todas as nações se tornem uma na fé e que todos os homens sejam como irmãos; que os laços de afeição e união entre os filhos dos homens sejam reforçados, a diversidade de religião cesse e as diferenças de raça sejam anuladas”. “Bahá’u’lláh disse”, escreve ‘Abdu’l-Bahá, “que as várias raças da humanidade contribuem ao todo, harmonia em seu conjunto e beleza de cor. Que todos se associem, pois, neste grande jardim humano, assim como as flores crescem e se harmonizam, lado a lado, sem discórdia ou dissensão entre elas”. “Bahá’u’lláh”, disse ‘Abdu’l-Bahá, ainda mais, “uma vez comparou a pessoa de cor à pupila preta do olho cercada pelo branco. Nessa pupila preta, se vê o reflexo daquilo que está em sua frente e, através dela, a luz do espírito se irradia”.

“Deus”, declara o próprio ‘Abdu’l-Bahá, “não faz distinção alguma entre branco e preto. Se os corações são puros, ambos Lhe são aceitáveis. Deus não discrimina entre pessoas por causa de cor ou raça. Todas as cores Lhe são aceitáveis, sejam brancos, pretos ou amarelos. Desde que todos foram criados à imagem de Deus, devemos vir a compreender que todos incorporam possibilidades divinas”. “Na estimação de Deus”, diz Ele, “todos os homens são iguais. Não há distinção ou preferência para qualquer alma no reino de Sua justiça e eqüidade”. “Deus não fez essas divisões”, afirma Ele, “essas divisões tiveram sua origem no próprio homem. Portanto, sendo contra o plano e o propósito de Deus, são falsas e imaginárias”. “Segundo a estimativa de Deus”, afirma Ele outra vez, “não há distinção de cor; são todos iguais na cor e beleza do serviço a Ele. A cor não é importante; o coração é de suma importância. Não importa o que seja o exterior, se o coração dentro é puro e alvo. Deus não vê as diferenças de tonalidade e pele. Ele olha para os corações. Aquele cuja moral e cujas virtudes são louváveis é preferido na presença de Deus; aquele que é devotado ao Reino é o mais amado. No domínio da gênese, da criação, a questão de cor é da mínima importância”. “Por todo o reino animal”, explica Ele, “não achamos as criaturas separadas por causa de cor. Elas reconhecem unidade de espécie, unidade de gênero. Se não encontrarmos distinção de cor feita num reino de inteligência e raciocínio inferior, como pode ser justificada entre seres humanos, especialmente quando sabemos que todos vieram da mesma origem e pertencem à mesma família? Em sua origem e segundo o plano da criação, a humanidade é uma só. Distinções de raça e cor surgiram depois”. “O homem é dotado de raciocínio superior e da faculdade da percepção”; explica Ele ainda, “ele é a manifestação das graças divinas. Será que idéias raciais devam predominar e obscurecer o desígnio criativo da unidade em seu reino?” “Uma das questões importantes”, comenta Ele significativamente, “que afetam a unidade e a solidariedade do gênero humano, é a da camaradagem e igualdade entre a raça branca e a de cor. Entre estas duas raças existem certos pontos comuns e pontos de distinção que justificam mútua e devida consideração. Os pontos de contato são muitos... Nesse país, os Estados Unidos da América, o patriotismo é comum às duas raças; todos têm direitos iguais de cidadania, falam o mesmo idioma, recebem as bênçãos da mesma civilização e seguem os preceitos da mesma religião. De fato, há numerosos pontos de união e harmonia entre as duas raças, ao passo que o único de distinção é o de cor. Será permitido que esta, a menor de todas as distinções, vos separe como raças e indivíduos?” “Essa variedade em formas e matizes”, acentua Ele, “que está manifesta em todos os reinos, está de acordo com a Sabedoria criativa e tem um propósito divino”. “A diversidade na família humana”, declara Ele, “deveria ser a causa de amor e harmonia, assim como o é na música, onde muitas notas diferentes se harmonizam a fim de produzirem um acorde perfeito”. “Se encontrardes”, adverte-nos Ele, “com aqueles de raça e cor diferentes das vossas, não desconfieis deles, retirando-vos para dentro de vossa casca de convencionalismo; antes, ficai alegres e mostrai-lhes bondade”. “No mundo da existência”, Ele testemunha, “quando a raça branca e a de cor se reúnem com infinito amor espiritual e harmonia sublime, é uma reunião abençoada. Quando tais reuniões são estabelecidas e os participantes associam-se um ao outro com perfeito amor, unidade e benevolência, os anjos do Reino tecem-lhes elogios e a Beleza de Abhá assim se lhes dirige, “Bem-aventurados sois! Bem-aventurados sois!” “Quando se realiza uma reunião dessas duas raças”, outrossim assevera Ele, “esse ajuntamento tornar-se-á o ímã para a Assembléia no alto, e a confirmação da Abençoada Beleza o envolverá”. “Esforçai-vos zelosamente”, Ele outra vez exorta ambas as raças, “e envidai-vos ao máximo em consumar essa camaradagem e em cimentar esse laço de fraternidade entre vós. Não será possível atingir isso sem vontade e esforço por parte de ambas; de uma, expressões de gratidão e apreciação; da outra, benevolência e reconhecimento de igualdade. Cada raça deve fazer esforços para desenvolver e ajudar a outra, a fim de que haja progresso mútuo... Amor e unidade serão promovidos entre vós, efetivando assim a unidade do gênero humano. Pois a consumação da unidade entre os homens de cor e os brancos haverá de assegurar a paz do mundo”. “É minha esperança”, assim Ele se dirige a membros da raça branca, “que façais com que aquela raça espezinhada se torne gloriosa e seja unida com a raça branca, servindo ao mundo humano com a máxima sinceridade, fidelidade, amor e pureza. Essa oposição, inimizade e preconceito entre a raça branca e a de cor não podem ser apagados, a não ser através da fé, da certeza e dos ensinamentos da Abençoada Beleza”. “Esta questão da unidade entre brancos e pretos é muito importante”, admoesta Ele, “pois, se não for realizada, grandes dificuldades, dentro em breve, surgirão, e resultados perniciosos seguirão...” “Se esta questão continuar sem modificação”, é ainda outra advertência, “a inimizade aumentará, dia a dia, e o resultado final será sofrimento, podendo acabar em carnificina”.

Urge um esforço tremendo por ambas as raças, se é que sua perspectiva, suas maneiras e conduta vão refletir, nesta era obscurecida, o espírito e os ensinamentos da Fé de Bahá’u’lláh. Rejeitando, uma vez por todas, a doutrina falaz da superioridade racial, com todos os males, a confusão e as misérias que a acompanham, e acolhendo e encorajando a mistura das raças, demolindo as barreiras que atualmente as dividem, cada uma deve esforçar-se, dia e noite, a fim de cumprir suas responsabilidades próprias na tarefa comum com a qual tão urgentemente defrontam. Enquanto ambas procuram contribuir com sua parte na solução desse problema intrincado, que lembrem as advertências de ‘Abdu’l-Bahá e tentem visualizar, enquanto ainda houver tempo, as horrendas conseqüências que haverão de suceder, se não for remediada, definitivamente, essa situação infeliz e desafiadora com a qual toda a nação americana defronta.

É mister que os brancos façam um esforço supremo, em sua resolução de contribuir com a sua parte na solução desse problema, para abandonarem, uma vez por todas, seu senso de superioridade – que é usualmente inerente e às vezes subconsciente – corrigirem sua tendência de mostrar uma atitude condescendente para com os membros de outra raça e, através de sua associação com eles – íntima, espontânea e informal – os persuadirem de que sua amizade é genuína e suas intenções são sinceras. Devem fazer um esforço, também, para dominarem sua impaciência por causa de qualquer falta de receptividade por parte de um povo, ao qual, durante um período tão longo, se tem infligido feridas tão severas e tão difíceis de serem sanadas. Que os pretos, com um esforço incomensurável da sua parte, mostrem, por todos os meios ao seu alcance, seu caloroso desejo de corresponder, sua disposição para esquecerem o passado e apagarem todo traço de suspeita que talvez persista ainda em seus corações e mentes. Que nenhuma das duas pense ser a solução de tão vasto problema uma questão que afete exclusivamente a outra. Que nenhuma delas pense que esse problema possa ser resolvido fácil ou imediatamente. Que nenhuma pense que possa aguardar tranqüilamente a solução desse problema até que outros, fora da órbita de sua Fé, tenham tomado a iniciativa e criado as circunstâncias propícias. Não pensem que qualquer outra coisa, que não seja amor genuíno, paciência extrema, humildade verdadeira, tato consumado, iniciativa sã, sabedoria madura e esforço deliberado e persistente, em atitude de prece, possa apagar a mancha que esse mal patente deixou no belo nome de sua pátria comum. Acreditem, antes, e fiquem firmemente convencidos de que dependerão de seu entendimento mútuo, sua amizade e sua constante cooperação – mais que de qualquer outra força ou organização que opera fora do âmbito de sua Fé – o desvio daquele curso perigoso, tão temido por ‘Abdu’l-Bahá, e a realização das esperanças, acariciadas por Ele, de que elas em conjunto contribuam para o cumprimento do destino glorioso desse país.

Sua Cruzada Dupla

Bem-amados amigos! Uma retidão de conduta que, em todas as suas manifestações, oferece um contraste notável à falsidade e corrupção que caracterizam a vida política da nação e dos partidos e facções que a compõem; uma santidade e uma castidade diametralmente opostas à lassidão moral e licenciosidade que mancham o caráter de uma considerável proporção de seus cidadãos; uma camaradagem inter-racial completamente expurgada do flagelo do preconceito racial que estigmatiza a vasta maioria de seu povo – são estas as armas que os bahá’ís americanos podem e devem levar em sua dupla cruzada, primeiro, para regenerarem a vida interior de sua própria comunidade e, segundo, para investirem contra os males de longa data que se acham arraigados na vida de sua nação. O aperfeiçoamento destas armas, a sábia e efetiva utilização de cada uma delas – mais do que a promoção de qualquer plano especial, ou a elaboração de qualquer projeto peculiar, ou a acumulação de qualquer quantidade de recursos materiais – pode prepará-los para o tempo em que a Mão do Destino os tenha dirigido a ajudar na criação e no início da operação daquela Ordem Mundial atualmente em fase de incubação dentro das instituições administrativas de Sua Fé.

Na prossecução desta dupla cruzada os guerreiros valorosos que lutam em nome de Bahá’u’lláh e em prol de Sua Causa haverão, forçosamente, de encontrar obstinada resistência e sofrer muitos reveses. Seus próprios instintos, não menos que a fúria das forças conservadoras, a oposição dos interesses consumados e as objeções de uma geração corrupta, em busca do prazer, devem ser levados em conta, resistidos resoluta e superados completamente. Enquanto suas medidas defensivas para a luta iminente forem organizadas e ampliadas, tempestades de abuso e de ridículo, bem como campanhas de condenação e deturpação serão, possivelmente, desenfreadas contra eles. Breve, talvez, verifiquem que sua Fé haja sido atacada, sendo mal interpretados seus motivos, difamados seus objetivos, ridicularizadas suas aspirações, zombadas suas instituições, menosprezada sua influência, e que, algumas vezes, sua Causa tenha sido abandonada por alguns poucos incapazes de apreciar a natureza de seus ideais, ou que não se dispunham a enfrentar o peso das sempre crescentes críticas envolvidas, seguramente, em tal contenda. “Por causa de ‘Abdu’l-Bahá”, predisse o bem-amado Mestre, “passareis por muitas provações. Tribulações haverão de vos sobrevir e sofrimento vos afligir”.

Que o exército invencível de Bahá’u’lláh, entretanto, que há de combater num dos epicentros potenciais do Ocidente, em Seu Nome e por Sua Causa, numa das batalhas mais ferozes e gloriosas, não tema qualquer crítica que lhe possa ser dirigida. Que não seja detido por qualquer condenação com que a língua do caluniador possa tentar deturpar-lhe os motivos. Que não recue diante do avanço ameaçador das forças do fanatismo, da ortodoxia, da corrupção e do preconceito que se possam aliar contra ele. A voz da crítica é uma voz que, indiretamente, reforça a proclamação de sua Causa. A impopularidade apenas serve para por em mais alto relevo o contraste entre ele e seus adversários; enquanto o desprezo é em si o poder magnético que haverá de atrair à sua causa, afinal, os mais vociferantes e inveterados dentre seus inimigos. Já na terra onde ocorreram as maiores batalhas da Fé e onde viveram os mais ferrenhos de seus inimigos, a marcha dos acontecimentos, a lenta mas constante infiltração de seus ideais e o cumprimento de suas profecias, tiveram o resultado de não só desarmar e transformar o caráter de alguns de seu mais temíveis perseguidores, mas também de conseguir sua lealdade firme e incondicional aos seus Fundadores. Tão completa transformação, tão espantosa inversão de atitude, será efetuada somente se aquele veículo escolhido – designado para levar a Mensagem de Bahá’u’lláh às multidões famintas, intranqüilas e sem pastor – estiver, ele mesmo, completamente expurgado da depravação que visa remover.

É em vós, pois, meus mais amados amigos, que desejo imprimir não só o senso da urgência e da imperativa necessidade de vossa sagrada tarefa, mas também as ilimitadas possibilidades que ela possui para elevar a tão exaltado nível a vida e as atividades de vossa própria comunidade e também os motivos e padrões que governam as relações existentes entre o povo ao qual pertenceis. Intrépidos perante a natureza formidável dessa tarefa, vós – estou confiante – enfrentareis de um modo digno o desafio destes tempos, tão repletos de perigo, tão cheios de corrupção e, contudo, tão prenhes da promessa de um futuro de tal brilho que nenhuma época anterior nos anais da humanidade lhe pode rivalizar a glória.

Bem-amados amigos! Tentei, no começo destas páginas, transmitir uma idéia das gloriosas oportunidades, bem como das tremendas responsabilidades com as quais – em conseqüência da perseguição da Fé de Bahá’u’lláh, tão largamente difundida – a comunidade dos crentes americanos agora defronta, em etapa tão crítica do Período da Formação de sua Fé e em época tão crucial, na história do mundo. Já me detive suficientemente sobre o caráter da missão que, em futuro não muito remoto, essa comunidade impelida pela força das circunstâncias, haverá de executar. Já pronunciei a advertência que achei necessária para uma compreensão mais nítida e um melhor desempenho das tarefas em sua frente. Já expus e frisei tanto quanto pude aquelas virtudes excelsas e dinâmicas, aqueles elevados padrões, que, por difíceis que sejam de ser atingidos, constituem, no entanto, os requisitos essenciais ao bom êxito daquelas tarefas. Deveríamos dizer uma palavra agora, creio, sobre o aspecto material de sua tarefa imediata, de cuja terminação, dentro do prazo marcado, deverá depender não só o desenvolvimento das subseqüentes etapas do Plano Divino previsto por ‘Abdu’l-Bahá, mas também a aquisição daquelas capacidades que os qualificarão para desempenharem, na plenitude dos tempos, os deveres e as responsabilidades envolvidas naquela missão maior, a qual será privilégio seu cumprir.

O Plano Setenial, com seus dois aspectos, a ornamentação do Templo, e a extensão da atividade de ensino, abrangendo ambos os continentes americanos, do Norte e do Sul, está atualmente bem adiantado em seu segundo ano e oferece a qualquer um que tenha observado seu progresso nestes meses recentes, sinais extremamente alentadores que agouram bem para a realização de seus objetivos dentro do tempo determinado. Os sucessivos passos designados a facilitar o trabalho inteiro a ser executado em relação à ornamentação exterior do Templo, já foram dados, pela maior parte. Já se entrou, afinal, na última fase, a qual deverá assinalar a triunfante conclusão de um empreendimento de trinta anos. Já foi assinado o contrato inicial referente ao primeiro e principal andar desse edifício histórico. O Fundo associado ao bem-amado nome da Mais Sagrada Folha, foi lançado. Está assegurada, agora, a ininterrupta continuação de tão louvável empreendimento até mesmo o fim. A viva memória de alguém cujo coração tanto se regozijava com a ereção da superestrutura dessa sagrada Casa, vigorará os esforços finais, necessários para completá-la, ao ponto de dissipar qualquer dúvida, ainda remanescente em alguma mente, quanto à capacidade de seus construtores para consumarem, de um modo digno, a sua tarefa.

Os Requisitos do Ensino

O aspecto do Plano que se refere ao ensino deve ser agora ponderado. Seu desafio deve ser enfrentado, e seus requisitos estudados, pesados e satisfeitos. Por mais sublime e irresistível que seja a beleza do primeiro Mashriqu’l-Adhkar do Ocidente, e majestosas as suas dimensões; por incomparável que seja sua arquitetura e de inestimável valor os ideais e as aspirações simbolizados, ele, contudo, deve ser considerado, presentemente, como nada mais que um instrumento para a mais efetiva propagação da Causa e a mais vasta difusão de seus ensinamentos. Neste respeito, deve ser visto à mesma luz que as instituições administrativas da Fé, as quais são designadas como veículos para a devida disseminação de seus ideais, princípios e verdades.

É, pois, aos requisitos do Plano Setenial relativos ao ensino, que a comunidade dos crentes americanos deve, doravante, dirigir sua atenção cuidadosa e constante. A comunidade inteira deve levantar-se, como se fosse um só homem, para satisfazer esses requisitos. Nunca se deve pensar que seja incumbência exclusiva, ou privilégio próprio, das instituições administrativas bahá’ís – quer sejam assembléias ou comitês – a tarefa de ensinar a Causa de Deus, proclamar suas verdades, defender seus interesses, mostrar por palavras, bem como por ações, o quanto ela é indispensável; provar sua potência e sua universalidade. Incumbe a todos participarem, por mais humilde que seja sua origem, por mais limitada sua experiência ou restritos seus recursos; ainda que seja deficiente sua educação, prementes suas responsabilidades e preocupações e desfavorável o ambiente em que vivem. “Deus”, revelou, inequivocamente, o próprio Bahá’u’lláh, “prescreveu a cada um o dever de ensinar Sua Causa”. “Dizei”, escreveu Ele ainda, “Ensinai a Causa de Deus, ó povo de Bahá, pois Deus prescreveu a cada um o dever de proclamar Sua Mensagem, e considera isto o mais meritório de todos os atos”.

Uma posição alta, prestigiosa, nas fileiras da comunidade, conferindo, de fato, aquele que a ocupa, certos privilégios e prerrogativas, investe-o, sem dúvida, de um cargo diante do qual ele não pode, com hora, recuar, em seu dever de ensinar e promover a Fé Divina. É possível que, em algumas ocasiões, embora não invariavelmente, tal posição crie maiores oportunidades e forneça melhores facilidades para difundir o conhecimento desta Fé e ganhar defensores para suas instituições. Não acarreta, necessariamente, porém, sob quaisquer circunstâncias, o poder de exercer maior influência sobre as mentes e os corações daqueles a quem é apresentada esta Fé. Quantas vezes – e a história dos primeiros anos da Fé em sua terra natal oferece muitos testemunhos impressionantes – os mais humildes adeptos da Fé, sem instrução ou experiência alguma, sem o mínimo prestígio e, em alguns casos, destituídos de inteligência, têm podido ganhar vitórias para sua Causa, diante das quais empalideceram as mais brilhantes realizações dos letrados, dos sábios e dos experientes.

“Pedro”, atestou ‘Abdu’l-Bahá, “segundo a história da Igreja, também não podia saber qual era o dia da semana. Sempre que ele decidia ir pescar, amarrava seu alimento para a semana em sete pacotes, e cada dia comia um deles e, ao chegar no sétimo, sabia que era o sábado e então o observava”. Se o Filho do Homem tinha o poder de infundir num instrumento aparentemente tão rude e incapaz tal potência que, nas palavras de Bahá’u’lláh, vez “os mistérios da sabedoria e da expressão manarem de seus lábios”, exaltando-o acima dos outros de Seus discípulos e tornando-o digno de ser Seu sucessor e o fundador de Sua Igreja, quanto mais não poderá o Pai, que é Bahá’u’lláh, capacitar o mais débil e insignificante dentre Seus seguidores para realizar, na execução de Seu desígnio, tais maravilhas que as mais poderosas façanhas de até o primeiro apóstolo de Jesus Cristo se afigurariam pequenas em comparação!

“O Báb” – escreveu ainda ‘Abdu’l-Bahá – “disse – Se uma pequenina formiga desejasse, neste dia, possuir tal poder que a capacitasse a desvendar as passagens mais abstratas e complexas do Corão, seu desejo, sem dúvida, seria satisfeito, já que o mistério do poder eterno vibra dentro do mais íntimo ser de todas as coisas criadas. – Se tão imponente criatura pode ser dotada de uma capacidade tão sutil, quanto mais eficaz não deve ser o poder libertado através das generosas efusões da graça de Bahá’u’lláh!”

O campo, em verdade, é de tal imensidão, o período é tão crítico, a Causa de tamanha grandeza, os trabalhadores tão poucos, o tempo tão curto e o privilégio de tão inestimável valor, que nenhum seguidor da Fé de Bahá’u’lláh, que seja digno de ser chamado por Seu Nome, pode hesitar por um momento. Aquela Força oriunda de Deus, irresistível em seu poder predominante, de incalculável potência, imprevisível quanto a seu curso, misteriosa em sua operação e aterradora em suas manifestações – uma Força que, segundo escreveu o Báb, “vibra dentro do mais íntimo ser de todas as coisas criadas”, e que, segundo Bahá’u’lláh, através de sua “influência vibrante”, “perturbou o equilíbrio do mundo e revolucionou sua vida ordenada” – tal Força, agindo mesmo como uma espada de dois gumes, está, diante de nossos próprios olhos, por um lado, cortando os laços antiqüíssimos que há séculos seguram a estrutura da sociedade civilizada e, por outro, soltando os grilhões que até agora prendem a Fé de Bahá’u’lláh recém-nascida e ainda não emancipada. Os crentes americanos, no momento atual, devem levantar-se e aproveitar plena e corajosamente as oportunidades, nem sonhadas, que lhes são oferecidas através da operação dessa Força. “As santas realidades da Assembléia no alto”, escreve ‘Abdu’l-Bahá, “ardentemente desejam neste dia, no mais excelso Paraíso, regressar a este mundo, para que sejam ajudados a prestar algum serviço ao limiar da Beleza de Abhá e demonstrar sua dedicação a Seu sagrado Limiar”.

Um mundo que obscurece à medida que a luz da religião persistentemente se esvai, intumescido com as forças explosivas de um nacionalismo cego e triunfante; chamuscado pelos fogos da impiedosa perseguição, quer racial ou religiosa; iludido pelas teorias e doutrinas falsas que ameaçam substituir a adoração a Deus e a santificação de Suas leis; enervado por um materialismo desenfreado, brutal; desintegrando-se através da influência corrosiva da decadência moral e espiritual; enredado na maranha da anarquia e lutas econômicas – tal é o espetáculo que se apresenta aos olhos dos homens, em conseqüência das mudanças de vasto alcance que esta Força transformadora, ainda na etapa inicial de sua operação, está produzindo na vida do planeta inteiro.

Tão triste e comovente espetáculo – que deve confundir todo observador inconsciente dos propósitos, das profecias e promessas de Bahá’u’lláh – longe de incutir consternação nos corações de Seus adeptos ou de lhes paralisar os esforços, só lhes pode aprofundar a fé, aumentar o entusiasmo e a ansiedade de se levantarem e demonstrarem no vasto campo que lhes foi delineado pela pena de ‘Abdu’l-Bahá, sua capacidade para desempenharem seu papel na tarefa da redenção universal proclamada por Bahá’u’lláh. Todo instrumento no maquinismo administrativo que eles, no decorrer de vários anos, tão laboriosamente erigiram, deve ser plenamente utilizado e subordinado ao fim para o qual foi criado. O Templo, aquela admirável personificação de tão raro espírito de abnegação, deve também ser obrigado a desempenhar o seu papel e contribuir com a sua parte na campanha de ensino planejada para abraçar todo o Hemisfério Ocidental.

As oportunidades que a turbulência da época atual apresenta – com todas as tristezas por ela causadas, os receios excitados, a desilusão produzida, as perplexidades criadas, a indignação que ela incita, a revolta que provoca, os agravos que engendra, o espírito de busca insaciável que desperta – devem, semelhantemente, ser aproveitadas a fim de difundir por toda parte o conhecimento do poder redentor da Fé de Bahá’u’lláh e alistar novos recrutas no sempre-crescente exército de Seus seguidores. É possível que nunca mais ocorra tão preciosa oportunidade, tão rara combinação de circunstâncias favoráveis. Agora é o tempo, o tempo determinado, para os crentes americanos, a vanguarda das hostes do Nome Supremo, proclamarem, através dos instrumentos e canais de uma Ordem Administrativa especialmente designada, sua capacidade e sua disposição para salvar uma geração caída e penosamente atribulada, que rebelou contra seu Deus e desatendeu as Suas advertências, e para lhe oferecer aquela segurança completa que somente as cidadelas de sua Fé podem prover.

A campanha de ensino, inaugurada em todos os Estados da República Norte-americana e em todo o Domínio do Canadá, adquire, pois, uma importância e se investe de uma urgência que não podem ser exageradas. Tendo sido iniciado seu curso através das energias liberadas pelo Testamento de ‘Abdu’l-Bahá, e passando rapidamente pelo Hemisfério Ocidental, mediante a força propulsora que ela está gerando, essa campanha deve prosseguir, eu sinto, de conformidade com certos princípios designados a assegurar-lhe eficiente direção e acelerar a realização de seu objetivo.

Os que participam de tal campanha – quer seja em capacidade de organizadores ou como trabalhadores a cujo cuidado foi entregue a execução da própria tarefa – devem, como preliminar essencial ao desempenho de seus deveres, familiarizar-se completamente com os vários aspectos da história e dos ensinamentos de sua Fé. Em seus esforços para realizarem este objetivo, devem estudar por si próprios, conscienciosa e meticulosamente, a literatura de sua Fé, aprofundarem-se em seus ensinamentos, assimilarem suas leis e seus princípios, ponderarem suas admoestações, doutrinas e finalidades, decorarem certas de suas exortações e preces, assenhorearem-se dos essenciais de sua administração e conservarem-se ao par de seus problemas correntes e de seus mais recentes desenvolvimentos. Devem tentar obter, de fontes autorizadas e imparciais, um conhecimento são da história e dos preceitos do islã – origem e antecedente de sua Fé – e, reverentemente e com espírito expurgado das idéias preconcebidas, aproximar-se do estudo do Corão, o qual, excetuando-se só as sagradas escrituras das Revelações Bábís e Bahá’í, constitui o único Livro que pode ser considerado um Repositório absolutamente autêntico da Palavra de Deus. Devem dedicar especial atenção ao exame daquelas instituições e circunstâncias diretamente ligadas à origem e nascimento de sua Fé, à posição que seu Precursor atribui a si próprio e às leis reveladas pelo seu Autor.

Tendo atingido, essencialmente, estes requisitos do sucesso no campo do ensino, eles devem – sempre que pensam em empreender alguma missão específica nos países da América Latina – esforçar-se, quando praticável, para adquirirem certa proficiência nos idiomas falados pelos habitantes daqueles países e algum conhecimento de seus costumes, hábitos e perspectiva. “Os instrutores que vão àquelas regiões”, ‘Abdu’l-Bahá, referindo-se às repúblicas da América Central, escreveu numa das Epístolas do Plano Divino, “devem conhecer a língua espanhola”. “Um grupo que fala seus idiomas...” escreveu Ele em outra Epístola, “deve volver-se em direção aos três grandes grupos de ilhas do Oceano Pacífico e viajar por toda parte delas”. “Os instrutores viajando em diversas direções”, declara Ele ainda, “devem conhecer a língua do país em que entrarão. Uma pessoa proficiente na língua japonesa, por exemplo, pode viajar ao Japão, ou uma conhecendo o idioma chinês pode apressar-se para a China, e assim por diante”.

Nenhum participante nessa campanha interamericana de ensino deve achar que a iniciativa para qualquer atividade especial relacionada com esse trabalho tenha de depender unicamente daquelas entidades, sejam Assembléias ou comitês cujo cargo peculiar é o de promover e facilitar a consumação desse objetivo vital do Plano Setenial. É o inescapável dever de todo crente americano, como leal fideicomissário do Plano Divino de ‘Abdu’l-Bahá, iniciar, promover e consolidar, dentro dos limites fixados pelos princípios administrativos da Fé, qualquer atividade que julgue conveniente iniciar para a promoção do Plano. Nem a situação mundial, tão ameaçadora, nem qualquer consideração de uma falta de recursos materiais, de preparo mental, de conhecimentos ou de experiência – por mais desejáveis que estes sejam – deveria impedir um prospectivo instrutor pioneiro de se levantar independentemente e por em movimento as forças que, uma vez libertadas – assegura-nos ‘Abdu’l-Bahá repetidas vezes – atrairão, assim como um ímã, a ajuda prometida e infalível de Bahá’u’lláh. Que ele não espere quaisquer instruções ou qualquer encorajamento especial por parte dos representantes eleitos de sua comunidade, nem seja detido por quaisquer obstáculos que parentes ou concidadãos possam querer por em seu caminho, nem se importe com a censura de seus críticos ou inimigos. “Sê irrestrito como o vento”, é o conselho de Bahá’u’lláh a cada um que deseja difundir a Sua Causa, “enquanto levares a Mensagem Daquele que fez despontar a aurora da Guia Divina. Considera como o vento, fiel àquilo que Deus ordenou, sopra sobre todas as regiões da Terra, estejam habitadas ou desoladas. Nem a aparência da desolação, nem as evidências da prosperidade, lhe podem causar dor ou prazer. Sopra em todas as direções, segundo mandado pelo seu Criador”. “E quando ele resolver partir de seu lar, em prol da Causa de seu Senhor”, Bahá’u’lláh, referindo-se a tal instrutor, revelou em outra passagem, “que ponha toda a sua confiança em Deus, como a melhor preparação para sua viagem, e se adorne com as vestes da virtude... Se ele estiver aceso com o fogo de Seu amor, se renunciar todas as coisas criadas, as palavras por ele pronunciadas incendiarão todos aqueles que o ouvirem”. Destemido diante de qualquer empecilho com o qual amigo ou inimigo lhe possa obstruir o caminho, quer incônscia ou deliberadamente, ele, tendo por sua própria iniciativa resolvido levantar-se em resposta ao chamado para o ensino, deve considerar cuidadosamente todos os meios de acesso que possa utilizar em suas tentativas pessoais de captar a atenção, manter o interesse e aprofundar a fé dos que ele procura levar para o aprisco de sua Fé. Que estude as possibilidades oferecidas pelas circunstâncias peculiares em que vive, avaliando-lhes as vantagens e vindo a utilizá-las inteligente e sistematicamente para a realização do objetivo que ele tem em mira. Que também tente desenvolver tais métodos como associação a clubes, exibições e sociedades, conferências sobre assuntos relacionados aos ensinamentos e ideais de sua Causa, tais como temperança, moralidade, assistência social, tolerância religiosa e racial, cooperação econômica, islã e religiões comparativas, ou participação em organizações e empreendimentos sociais, culturais, humanitárias e educacionais, que ele, enquanto salvaguardar a integridade de sua Fé, verá lhe abrirem uma multidão de caminhos e meios pelos quais poderá alistar sucessivamente a simpatia, o apoio e, finalmente, a lealdade daqueles com quem ele entra em contato. Enquanto está fazendo estes contatos, ele deve ter sempre em mente o que a Fé lhe exige constantemente, a saber: preservar a dignidade e posição da Fé, salvaguardar a integridade de suas leis e seus princípios, demonstrar sua amplitude e sua universalidade e defender destemidamente seus múltiplos interesses vitais. Que ele considere o grau de receptividade mostrado pelo seu ouvinte e decida para si qual é o método de ensino conveniente, o direto ou o indireto, para poder fazer o inquiridor perceber a importância vital da Mensagem Divina e persuadí-lo a partilhar do destino daqueles que já a abraçaram. Que ele se lembre do exemplo dado por ‘Abdu’l-Bahá e de Sua constante exortação a mostrar tanta bondade ao inquiridor, e a tal ponto exemplificar o espírito dos ensinamentos que espera lhe instilar, que esse inquiridor seja impelido, espontaneamente, a identificar-se com a Causa que incorpora tais ensinamentos. Que ele, de início, se abstenha de insistir sobre a importância de tais leis e práticas que pudessem impor uma pressão demasiado severa sobre a fé há pouco despertada no inquiridor, e se esforce para nutri-lo com paciência e tato, porém com determinação, até que atinja plena maturidade, e ajudá-lo a proclamar sua aquiescência incondicional em tudo o que haja sido ordenado por Bahá’u’lláh. Logo que esta etapa tenha sido atingida, que ele o apresente ao grupo de seus companheiros de crença e procure, mediante constante associação e viva participação nas atividades locais de sua comunidade, capacitá-lo a contribuir com sua parte no enriquecimento da vida dessa comunidade, lhe promovendo as tarefas, consolidando os interesses e coordenando as atividades com as de suas comunidades irmãs. Que não se contente antes de haver infundido em seu filho espiritual tão profundo desejo que o impele a levantar-se independentemente, por sua vez, e devotar suas energias à tarefa de ressuscitar as outras almas e sustentar as leis e os princípios estabelecidos pela sua Fé há pouco abraçada.

Que cada um que participar na campanha continental iniciada pelos crentes americanos – em particular, aqueles ocupados em trabalho de pioneiros em territórios virgens – tenha sempre em mente a necessidade do contato estreito e constante com aquelas entidades responsáveis, incumbidas de dirigir, coordenar e facilitar as atividades de ensino da comunidade inteira. Quer seja o corpo de seus representantes eleitos nacionais, ou sua principal instituição auxiliar, o Comitê Nacional de Ensino, ou seus órgãos subsidiários, os comitês regionais de ensino, ou as Assembléias Espirituais locais e seus respectivos comitês de ensino – àqueles que labutam pela difusão da Causa de Bahá’u’lláh compete, mediante o constante intercâmbio de idéias, por cartas, circulares, relatórios, boletins e outros meios de comunicação com esses instrumentos estabelecidos que foram designados para a propagação da Fé, assegurar o eficiente e rápido funcionamento do maquinismo de ensino instituído pela sua Ordem Administrativa. Assim serão evitadas, completamente, confusão, demora, duplicação de esforços, dissipação de energia, enquanto o poderoso fluxo da graça de Bahá’u’lláh, manando abundantemente e sem a mínima obstrução, através desses veículos essenciais, a tal ponto inundará os corações e as almas dos homens que os capacitará a produzir a colheita predita repetidamente por ‘Abdu’l-Bahá.

A cada um que participa nesse esforço em conjunto – esforço esse sem precedentes nos anais da comunidade bahá’í americana – cabe a obrigação espiritual de fazer do mandato do ensino, ao qual todos se vêem tão vitalmente comprometidos, a preocupação que a tudo supera em sua vida. Em suas atividades e contatos diários, em todas as suas viagens, quer de negócios ou para outros fins, em suas férias e passeios, e em qualquer missão que ele possa ser chamado para empreender, todo portador da Mensagem de Bahá’u’lláh deve considerar que não é somente uma obrigação, mas também um privilégio, espalhar por toda parte as sementes de Sua Fé, contentando-se com saber sempre que – não importa qual seja a resposta imediata àquela Mensagem, e por mais inadequado que seja o veículo que a transmitiu – o poder de seu Autor, segundo a Sua determinação, fará com que aquelas sementes germinem e, em circunstâncias que ninguém pode prever, enriqueçam a colheita que há de recompensar o labor de Seus seguidores. Se ele é membro de alguma Assembléia Espiritual, que anime a sua Assembléia a consagrar certa parte de seu tempo, em cada uma de suas sessões, à fervorosa consideração, em atitude de prece, de tais métodos e meios que possam promover a campanha do ensino ou fornecer quaisquer recursos que estejam disponíveis para seu progresso, sua extensão e sua consolidação. Se ele assistir sua escola de verão – e com cada um, sem exceção, se insta para que aproveite da oportunidade de assistí-la – deverá considerar essa ocasião uma grata e preciosa oportunidade para enriquecer, através de conferências, estudo e ventilação de idéias, seu conhecimento das bases de sua Fé de tal forma que possa transmitir com maior confiança e efetividade, a Mensagem que foi entregue a seu cuidado. Ainda mais, sempre que lhe for praticável, que procure por meio de visitas entre as comunidades, estimular o zelo pelo ensino e demonstrar aos não-bahá’ís o fervor e a vigilância daqueles que promovem sua Causa e a unidade orgânica de suas instituições.

Se algum dos participadores nessa cruzada – a qual abrange todas as raças, todas as repúblicas, classes e seitas de todo o Hemisfério Ocidental – se sentir impelido, que ele se levante e, de acordo com as circunstâncias, dirija sua especial atenção às raças negra, indígena, esquimó e judia e, finalmente, conquiste sua adesão incondicional à sua Fé. Não há serviço mais louvável e meritório que possa ser prestado à Causa de Deus, na hora atual, do que um esforço bem sucedido para realçar a diversidade dos membros da comunidade bahá’í americana pelo alistamento dos membros dessas raças, que viriam a aumentar as fileiras da Fé. A fusão desses altamente diferenciados elementos da espécie humana – harmoniosamente entretecidos na estrutura de uma fraternidade bahá’í que a tudo abrange, assimilados através dos processos dinâmicos de uma Ordem Administrativa divinamente instituída e contribuindo, cada qual, com seu quinhão, para o enriquecimento e a glória da vida da comunidade bahá’í – é, seguramente, uma realização que deve acalentar e extasiar todo coração bahá’í que a contemplar. “Considerai as flores de um jardim”, escreveu ‘Abdu’l-Bahá. “Embora difiram em espécie, em cor e formato, não obstante, desde que sejam refrescadas pelas águas de uma só nascente, ressuscitadas pelo sopro do mesmo sol, tal diversidade lhes realça o encanto e aumenta a beleza. Quanto desagradaria à vista, se todas as plantas, as folhas e frutos, os ramos e as árvores daquele jardim fossem do mesmo formato e da mesma cor! A diversidade de matizes e formato enriquece e adorna o jardim, realçando seu efeito. Outrossim, quando várias nuanças de pensamento, temperamento e caráter forem reunidas sob o poder e a influência de um agente central, a beleza e a glória da perfeição humana serão reveladas, tornar-se-ão manifestas. Nada senão a potência celestial da Palavra de Deus, a qual governa e transcende a realidade de todas as coisas, é capaz de harmonizar os pensamentos, sentimentos, idéias e convicções divergentes dos filhos dos homens”. “Espero” – assim expressa ‘Abdu’l-Bahá Seu desejo – “que possais tornar gloriosa aquela raça (negra) espezinhada, fazendo-a unir-se à raça branca em serviço ao mundo humano com a máxima sinceridade, fidelidade, amor e pureza”. “Uma das questões importantes”, escreve Ele também, “que afetam a unidade e a solidariedade do gênero humano, é a associação e igualdade entre as raças brancas e de cor.” “Deveis dar grande importância”, escreveu ‘Abdu’l-Bahá nas Epístolas do Plano Divino, “aos índios, os aborígines da América. Pois essas almas podem ser comparadas aos antigos habitantes da Península Árabe, os quais, antes da Revelação de Maomé, eram como selvagens. Ao irradiar-se em seu meio a Luz maometana, incendiaram-se a tal ponto que derramaram iluminação sobre o mundo. Do mesmo modo, fossem esses índios educados e devidamente orientados, eles, sem dúvida, se tornariam tão esclarecidos que toda a terra seria iluminada.” “Se for possível”, escreveu ‘Abdu’l-Bahá também, “mandai instrutores às outras partes do Canadá; semelhantemente, enviai instrutores à Groelândia e à terra dos esquimós”. “Deus permitindo”, escreveu Ele ainda, nessas mesmas Epístolas, “o chamado do Reino alcançará os ouvidos dos esquimós... Se fizerdes um esforço, para que as fragrâncias de Deus sejam difundidas entre os esquimós, seu efeito será muito grande e de vasto alcance”. “Louvado seja Deus”, escreve ‘Abdu’l-Bahá, “tudo o que foi anunciado nas Abençoadas Epístolas aos israelitas e explicitamente escrito nas cartas de ‘Abdu’l-Bahá está sendo cumprido. Algumas coisas já se realizaram; outras serão reveladas no futuro. A Beleza Antiga escreveu explicitamente em Suas sagradas Epístolas que o tempo de seu rebaixamento já terminou. Sua bondade abrigá-los-á; essa raça progredirá dia a dia e será livrada da obscuridade e degradação seculares.”

Àqueles que ocupam postos administrativos em sua capacidade de membros da Assembléia Espiritual Nacional, ou dos comitês de ensino nacionais, regionais ou locais, incumbe lembrarem-se continuamente da urgente e vital necessidade de assegurarem, dentro do mais breve período possível, a formação, nos poucos Estados restantes da República norte-americana e nas províncias do Canadá, de grupos, ainda que sejam pequenos e rudimentares, e de fornecerem toda facilidade dentro de seu alcance para capacitar esses núcleos recém-formados a evoluírem, rapidamente e sob diretrizes sãs, até se tornarem Assembléias funcionando devidamente, auto-suficientes e reconhecidas. Ao lançamento de tais alicerces, à ereção de tais postos avançados – uma tarefa que se admite ser árdua, embora de urgente necessidade a altamente inspiradora – os membros individuais da comunidade bahá’í americana devem prestar seu apoio irrestrito, contínuo e entusiástico. Por mais sábias que sejam as medidas que seus representantes eleitos possam planejar, e por mais práticos e bem-concebidos os planos que formulem, tais medidas e planos jamais produzirão resultados satisfatórios, a não ser que um número suficiente de pioneiros tenha resolvido fazer os sacrifícios necessários e se tenha oferecido como voluntários para executarem esses projetos. Implantar, uma vez por todas, a bandeira de Bahá’u’lláh no coração desses territórios virgens, erigir a base estrutural de Sua Ordem Administrativa nas cidades e aldeias desses territórios e estabelecer um ancoradouro firme e permanente para suas instituições nas mentes e nos corações dos habitantes – isto, creio firmemente, constitui o primeiro e o mais significativo passo nas etapas sucessivas pelas quais a campanha de ensino, inaugurada sob o Plano Setenial, há de passar. Enquanto a ornamentação externa do Mashriqu’l-Adhkar, segundo esse mesmo Plano, já entrou na fase final de seu desenvolvimento, a campanha de ensino está ainda em suas etapas iniciais, estando longe de haver estendido suas ramificações efetivamente ou a esses territórios virgens ou àquelas Repúblicas situadas no continente sul-americano. O esforço exigido é prodigioso, as condições nas quais esses passos preliminares devem ser dados são, muitas vezes, pouco atraentes, ou são desfavoráveis; é limitado o número dos que estejam em condições para empreender tias tarefas e são escassos e inadequados os recursos a seu dispor. E, no entanto, quantas vezes a pena de Bahá’u’lláh nos tem assegurado que “se um homem, completamente só, se levantar em nome de Bahá e vestir a armadura de Seu amor, o Todo-poderoso torná-lo-á vitorioso, ainda que as forças da terra e do céu se dispuserem contra ele”. E não escreveu Ele as seguintes palavras? – “Por Deus, além do qual não há outro Deus! Se alguém se levantar para o triunfo de Nossa Causa, Deus o fará vitorioso, embora dezenas de milhares de inimigos se aliarem contra ele. E se seu amor por mim se tornar mais forte, Deus estabelecerá sua ascendência sobre todos os poderes da Terra e do céu”. “Considerai o trabalho das gerações anteriores”, escreveu ‘Abdu’l-Bahá. “Durante o tempo de vida de Jesus Cristo, as almas crentes, firmes, eram poucas, de número limitado, mas as bênçãos celestiais desceram tão abundantemente que, dentro de alguns anos, almas em conta entraram na sombra do Evangelho. Deus disse no Corão: “Um grão produzirá sete feixes, e cada feixe conterá cem grãos”. Em outras palavras, um só grão tornar-se-á setecentos e, se Deus assim determinar, Ele dobrará estes, também. Muitas vezes tem acontecido que uma só alma abençoada se tornou a causa de ser guiada uma nação. Agora não devemos considerar nossa habilidade e capacidade, mas sim, nestes dias, fixar nosso olhar nos favores e graças de Deus, quem fez da gota, um mar e, do átomo, um sol”. Aqueles que resolverem ser os primeiros a içar o estandarte desta Causa, sob tais condições e em tais territórios, deverão nutrir suas almas com o poder sustentador destas palavras e, “vestindo a armadura de Seu amor”, um amor que há de “tornar-se mais forte” enquanto perseverarem em sua tarefa solitária, levantar-se para adornarem, com a relação de suas façanhas, as mais brilhantes páginas já escritas na história espiritual de seu país.

“Embora”, escreveu ‘Abdu’l-Bahá nas Epístolas do Plano Divino, “na maioria dos Estados e cidades dos Estados Unidos – louvado seja Deus – Suas fragrâncias tenham sido difundidas e inúmeras almas estejam volvendo as faces para o Reino de Deus e se aproximando Dele, o Estandarte da Unidade em alguns dos Estados, entretanto, não foi içado devidamente, nem foram desvendados os mistérios dos Livros Sagrados, como a Bíblia, o Evangelho e o Corão. Pelos esforços reunidos de todos os amigos, o Estandarte da Unidade há de ser desfraldado necessariamente, naqueles Estados, e os Ensinamentos Divinos devem ser promovidos, de modo que esses Estados, também, recebam sua parte das graças celestiais e um quinhão da Guia Suprema”. “O futuro do Domínio do Canadá”, declarou Ele, em outra Epístola do Plano Divino, “é muito grande e os acontecimentos que lhe serão relacionados, infinitamente gloriosos. O olhar da misericórdia de Deus lhe será dirigido e esse país há de se tornar a manifestação dos favores do Todo-Glorioso”. “Outra vez, repito”, diz Ele na mesma Epístola, corroborando Sua afirmação anterior, “que o futuro do Canadá, quer seja do ponto de vista material, ou espiritual, é muito grande”.

O Despertar da América Latina

Logo que for dado esse passo inicial, envolvendo a formação de pelo menos um núcleo em cada um desses Estados e províncias virgens do continente norte-americano, o maquinismo para uma tremenda intensificação dos esforços reunidos dos bahá’ís deverá ser posto em movimento, tendo em mira reforçar as nobres tentativas que apenas poucos crentes isolados estão fazendo atualmente para despertarem as nações da América Latina ao chamado de Bahá’u’lláh. Antes de se haver entrado nessa segunda fase da campanha de ensino, segundo o Plano Setenial, não se pode considerar que a campanha esteja em pleno desenvolvimento, nem que o próprio Plano tenha atingido a etapa mais decisiva de sua evolução. Tão poderosas serão as efusões de graça divina que emanarão sobre uma comunidade valorosa, que já na esfera administrativa erigiu seu Edifício principal, em toda a glória de sua ornamentação exterior, e, no campo de ensino, erguer a bandeira de sua Fé em todos os Estados e províncias do continente norte-americano – tão grandes serão essas efusões, que seus membros ficarão atônitos diante das evidências de seu poder regenerador.

O Comitê Interamericano, nesta etapa, ou, melhor, mesmo antes de entrar nela, deve elevar-se ao nível de suas oportunidades e exibir um vigor, uma dedicação e um espírito empreendedor que sejam proporcionais às responsabilidades que ombreou. Não se deve esquecer, nem por um momento, que a América Central e a América do Sul abrangem nada menos de vinte nações independentes, constituindo aproximadamente um terço do número total dos Estados soberanos do mundo, e que são destinadas a desempenhar um papel cada vez mais importante na determinação do futuro destino do mundo. À medida que o mundo se contrai, tornando-se uma só vizinhança, e os destinos de suas raças, nações e povos ficam inextricavelmente entretecidos, a distância desses Estados do Hemisfério Ocidental esvaece e as possibilidades latentes em cada um deles se torna cada vez mais evidente.

Quando tiver sido alcançada essa segunda etapa no desenvolvimento progressivo das atividades e dos empreendimentos de ensino, de acordo com o Plano Setenial, e o maquinismo necessário para seu prosseguimento tiver principiado a funcionar, os crentes americanos, os intrépidos pioneiros desse poderoso movimento, guiados pela infalível luz de Bahá’u’lláh e estritamente de acordo com o Plano elaborado por ‘Abdu’l-Bahá, seguindo as diretrizes de sua Assembléia Espiritual Nacional e confiantes de receberem o auxílio do Comitê Interamericano, deverão iniciar uma ofensiva contra os poderes das trevas, da corrupção e da ignorância – uma ofensiva que há de se estender até os mais remotos confins do continente sulino e abranger dentro de seu âmbito as vinte nações que o compõem.

Que alguns, neste momento, se preparem para envidar esforços, fujam de suas cidades e estados natais, abandonem seu país e, “pondo toda a sua confiança em Deus como a melhor preparação para sua viagem”, volvam suas faces e dirijam seus passos para aqueles climas distantes, aqueles campos virgens, aquelas cidades que ainda não se renderam, e devotem suas energias à conquista das cidadelas dos corações dos homens – corações que, como Bahá’u’lláh escreveu, “as hostes da Revelação e da expressão podem subjugar”. Que não demorem até que seus colaboradores tenham passado a primeira etapa em sua campanha de ensino, mas, antes, desde esta hora presente, se levantem para inaugurar a fase inicial daquilo que virá a ser considerado um dos mais gloriosos capítulos da história internacional de sua Fé. Devem, desde mesmo o princípio, “ensinar a si próprios, a fim de que suas palavras atraiam os corações de seus ouvintes”. Devem considerar o triunfo de sua Fé seu “objetivo supremo”. Não devem “considerar o tamanho, se é grande ou pequeno o receptáculo”, que transporta a medida de graça que Deus faz emanar nesta era. Que eles “se desembaracem de toda ligação a este mundo e suas vaidades” e, com aquele espírito de desprendimento que ‘Abdu’l-Bahá exemplificava e queria que eles emulassem, levem esses povos e países diversos à lembrança de Deus e de Seu Manifestante Supremo. Seja Seu amor um “depósito de tesouro para suas almas” no dia em que “todo pilar haverá de tremer, quando as próprias peles dos homens se arrepiarão, quando todos os olhos arregalar-se-ão de terror”. Que suas “almas ardam com a flama do Fogo imorredouro aceso no âmago do coração do mundo, de tal modo que as águas do universo não tenham o poder de lhe diminuir o ardor”. Que sejam “irrestritos como o vento”, ao qual “nem o espetáculo da desolação nem as evidências da prosperidade podem causar dor ou prazer”. Eles devem “libertar suas línguas e proclamar incessantemente a Sua Causa”. Devem “proclamar o que o Espírito Supremo os inspirará a pronunciar no serviço à Causa de seu Senhor”. Devem “guardar-se de contenda com qualquer pessoa; antes devem esforçar-se para torná-la consciente da verdade, com maneiras bondosas e a mais convincente exortação”. Que eles “inteiramente por amor a Deus, proclamem a Sua Mensagem e, nesse mesmo espírito, aceitem qualquer resposta que suas palavras possam evocar em seus ouvintes”. Que não se esqueçam, nem por um momento, de que o “Espírito Fiel os fortalecerá com seu poder” e que “uma companhia de Seus anjos eleitos sairá com eles, assim como ordenados por Aquele que é o Onipotente, Aquele que possui toda sabedoria”. Que tenham sempre em mente “como é grande a bem-aventurança que espera aqueles que tiverem atingido a honra de servir o Todo-poderoso”, e se lembrem que “esse serviço é, em verdade, o príncipe de todos os bons atos e o ornamento de cada boa ação”...

E, finalmente, que estas comovedoras palavras de Bahá’u’lláh estejam sempre em seus lábios enquanto prosseguirem seu curso por toda a vasta extensão do continente sul-americano – um consolo para seus corações, uma luz em seu caminho, acompanhando-os em sua solidão e dando-lhes um apoio diário em suas viagens: “Ó caminhante na senda de Deus! Toma tu teu quinhão do oceano de Sua graça e não te prives das coisas que jazem ocultas em suas profundezas... Uma gota de orvalho deste oceano, se fosse difundida sobre todos os que se acham nos céus e na Terra, seria suficiente para enriquecê-los com a graça de Deus, o Onipotente, o Onisciente, O que possui toda sabedoria. Com as mãos da renúncia, tira das suas águas vivificadoras e esparge-as sobre todas as coisas criadas, para que sejam purificadas de todas as limitações feitas pelo homem e se possam aproximar do poderoso assento de Deus, este Lugar sagrado e resplandecente. Não te entristeças se somente tu o fizeres. Que Deus te seja todo-suficiente... Proclama a Causa de teu Senhor a todos os que estão nos céus e sobre a Terra. Se algum homem responder a teu chamado, expõe diante dele as pérolas da sabedoria do Senhor, teu Deus, as quais seu Espírito fez descer sobre ti, e sê dos que verdadeiramente crêem. E se alguém rejeitar tua oferta, afasta-te dele e põe tu confiança no Senhor de todos os mundos. Pela retidão de Deus! Se alguém abrir os lábios neste dia e fizer menção do nome de seu Senhor, sobre ele as hostes da inspiração divina haverão de descer do céu de meu nome, o Onisciente, O que possui toda sabedoria. Sobre ele descerá também a Assembléia das alturas, cada um erguendo altamente um cálice de pura luz. Assim foi pré-destinado no domínio da Revelação de Deus, a mandado Daquele que é o Todo-Glorioso, o Poderosíssimo”.

Que também estas palavras de ‘Abdu’l-Bahá, colhidas das Epístolas do Plano Divino, ressoem em seus ouvidos quando eles, confiantes e intrépidos, partirem em Sua missão: “Ó vós, apóstolos de Bahá’u’lláh! Que minha vida vos seja oferecida em holocausto! Vede os portais que Bahá’u’lláh abriu diante de vós! Considerai que grau elevado, sublime, vos é destinado; de que incomparáveis graças fostes dotados”. “Meus pensamentos dirigem-se a vós e meu coração transporta-se com vossa menção. Pudésseis vós saber quanto minh’alma se extasia com vosso amor, tão grande felicidade vos inundaria os corações que ficaríeis enamorados uns dos outros”. “A plenitude de vosso sucesso não foi ainda revelada, nem se apreendeu sua significação. Dentro em breve, com vossos próprios olhos, vereis como cada um de vós irradiará brilhantemente, assim como uma estrela esplendorosa, no firmamento de vosso país, a luz da Guia Divina e concederá a seu povo a glória de uma vida eterna”. “É minha fervorosa esperança que, no futuro próximo, toda a Terra se comova e abale com os resultados de vossas realizações”. “O Onipotente conceder-vos-á, sem dúvida, o auxílio de Sua graça, investir-vos-á dos sinais de Sua grandeza e dotará vossas almas do poder sustentador de Seu Espírito Santo”. “Não vos preocupeis por ser pequeno vosso número, nem sejais oprimidos pela multidão de um mundo descrente... Esforçai-vos; vossa missão é indizivelmente gloriosa. Se o êxito coroar vosso empreendimento, a América, seguramente, evoluirá até tornar-se um centro do qual emanarão ondas de poder espiritual, e o trono do Reino de Deus, na plenitude de sua majestade e glória, será firmemente estabelecido”.

Deveria se lembrar de que a execução do Plano Setenial, no que diz respeito ao trabalho de ensino, só envolve a formação de pelo menos um centro em cada uma das Repúblicas da América Central e da América do Sul. O centenário do nascimento da Fé de Bahá’u’lláh deveria testemunhar – se o Plano já iniciado vai ter êxito – o estabelecimento, em cada um desses países, de uma base, ainda que rudimentar, sobre a qual a nascente geração de crentes americanos possa construir, nos primeiros anos do segundo século da era bahá’í. Sua será a tarefa de estender e reforças esses alicerces, no decorrer de sucessivas décadas, e fornecer a orientação, a assistência e o encorajamento necessários para que os grupos de crentes espalhados por toda parte desses países possam estabelecer Assembléias locais independentes, devidamente constituídas, e assim erigir a estrutura da Ordem Administrativa de sua Fé. A ereção de tal estrutura é primariamente a responsabilidade daqueles que, por intermédio da comunidade dos crentes norte-americanos, tenham aceito a Mensagem Divina. É uma tarefa que há de envolver – além da obrigação imediata de capacitar todo grupo a evoluir até tornar-se uma Assembléia local – a ereção do maquinismo inteiro da Ordem Administrativa, de conformidade com os princípios espirituais e administrativos que governam a vida e as atividades de toda comunidade bahá’í estabelecida no mundo inteiro. Em circunstâncias nenhumas poderá ser tolerada qualquer divergência destes princípios cardeais, claramente enunciados, incorporados e preservados nas constituições bahá’ís nacionais e locais, comuns a todas as comunidades bahá’ís. É uma tarefa, porém, que cabe àqueles que, num período posterior, deverão levantar-se para promover um trabalho que para todos os fins, ainda não foi começado efetivamente.

O Alicerce Necessário

A preparação mais sistemática para o lançamento do alicerce necessário, sobre o qual possam ser erigidas e seguramente estabelecidas as permanentes instituições nacionais e locais, é tarefa que há de exigir, muito breve, a atenção concentrada dos executores do Plano Setenial. Logo que tenham desempenhado sua obrigação imediata referente à abertura dos poucos territórios restantes nos Estados Unidos e no Canadá, deverá ser concebido um plano cuidadosamente elaborado, que visa a estabelecer esse alicerce. Como já foi exposto, as providências para esses vastos empreendimentos preliminares, cujo âmbito deverá incluir toda a área ocupada pelas Repúblicas da América Central e do Sul, constituem o próprio âmago da campanha de ensino que está sendo realizada de acordo com o Plano Setenial, e devem decidir, afinal, o seu destino. Desta campanha há de depender não só o desempenho efetivo das obrigações solenes assumidas com referência ao presente Plano, mas também o desdobramento progressivo das subseqüentes etapas essenciais à realização da visão de ‘Abdu’l-Bahá a respeito do papel que os crentes americanos são destinados a desempenhar na propagação mundial de sua Causa.

Esses empreendimentos – preliminares que são, ao trabalho árduo, organizado, pela qual futuras gerações de crentes nos países latinos deverão se distinguir – exigem, por sua vez e sem um momento de demora, da parte da Assembléia Espiritual Nacional e do Comitê Nacional de Ensino, bem como do Comitê Interamericano, investigações meticulosas preliminares à expedição de instrutores, residentes e itinerantes, que terão o privilégio de erguer o chamado do Novo Dia num continente novo.

Em meu desejo de ser útil àqueles que haverão de assumir tão tremendas responsabilidades e sofrer tão grande abnegação, só posso tentar oferecer algumas sugestões, as quais, estou confiante, serão de alguma ajuda, facilitando a execução da grande obra a ser realizada no futuro mais próximo. A esta obra – que há de constituir, quando consumada, um marco histórico de primeira importância – as energias da comunidade inteira devem ser resolutamente dedicadas. O número de instrutores bahá’ís, sejam residentes ou itinerantes, deve ser substancialmente aumentado. Os recursos materiais a serem colocados à sua disposição devem ser multiplicados e administrados eficientemente. A literatura para seu uso deve ser aumentada em vasta escala. A publicidade para lhes facilitar a distribuição dessa literatura, precisa ser estendida, ter uma organização central e prosseguir vigorosamente. Deve-se explorar com diligência as possibilidades latentes nesses países, desenvolvendo-as sistematicamente. Os vários obstáculos oriundos das condições políticas e sociais de tão grande divergência, que prevalecem nesses países, devem ser examinados atentamente e superados com determinação. Numa palavra, nenhuma oportunidade deve ser perdida, nenhum esforço poupado, para que seja lançado o alicerce mais largo e sólido possível para o progresso e desenvolvimento do maior empreendimento de ensino jamais iniciado pela comunidade bahá’í americana.

A medida principal e mais urgente a ser tomada, simultaneamente com a chegada dos trabalhadores pioneiros nessas regiões, pareceria ser a cuidadosa tradução dos importantes escritos bahá’ís referentes à história, aos ensinamentos ou à Ordem Administrativa da Fé e sua larga e sistemática disseminação, em quantidades vastas e por toda parte do maior número possível dessas Repúblicas, e nos idiomas mais convenientes e necessários. “Livros e panfletos”, escreve ‘Abdu’l-Bahá em uma das Epístolas do Plano Divino, “devem ser ou traduzidos ou compostos nos idiomas desses países e ilhas, para serem circulados em toda parte, por todos os lados”. Em países onde nenhuma objeção pode ser feita pelas autoridades civis ou em círculos influentes, essa medida deve ser reforçada pela publicação, em vários órgãos da Imprensa, de artigos e cartas cuidadosamente redigidos, com o fim de chamar a atenção do público em geral a certas feições da história comovente da Fé e ao âmbito e caráter de seus ensinamentos.

Todo trabalhador nessas regiões deve, ao meu ver – quer seja ele um instrutor itinerante ou residente – preocupar-se, principal e constantemente, em associar-se, de uma maneira amigável, com todos os setores da população, sem consideração à classe, credo, nacionalidade ou cor; em familiarizar-se com suas idéias, seus gostos e hábitos; em estudar o modo mais conveniente de se aproximar deles; em concentrar sua atenção, com paciência e tato, em alguns poucos que tenham mostrado especial capacidade e receptividade; e em esforçar-se, com bondade extrema, para implantar em seus corações tão grande amor, zelo e devoção que possam tornar-se, por sua vez, independentes e auto-suficientes promotores da Fé em suas respectivas localidades. “Associai-vos a todos os homens, ó povo de Bahá”, é a admoestação de Bahá’u’lláh, “em espírito de amizade e camaradagem. Se estais conscientes de certa verdade, se possuis uma jóia da qual outros são privados, reparti-a com eles, numa linguagem de absoluta bondade e benevolência. Se for aceita, se cumprir seu propósito, vosso objetivo será atingido. Se alguém a recusar, deixai-o e pedi a Deus que o guie. Guardai-vos de o tratardes de um modo pouco bondoso. Uma língua bondosa é o ímã dos corações dos homens. É o pão do espírito, veste de significado as palavras, é a fonte da luz da sabedoria e da compreensão”.

Um esforço, além disso, pode e deve ser feito – não só por entidades bahá’ís representativas, mas também por prospectivos instrutores e por outros crentes individuais que não tiveram o privilégio de visitar essas regiões ou de se estabelecer nesse continente – para aproveitarem toda oportunidade que se oferecer de conhecerem pessoas que sejam cidadãos desses países ou que estejam de qualquer modo relacionadas a eles, quaisquer que sejam seus empenhos ou suas profissões, e lhes despertarem um interesse genuíno. Mostrando-lhes bondade ou dando-lhes literatura ou estabelecendo com eles qualquer contato, os crentes americanos poderão lançar sementes em seus corações que talvez, futuramente, possam germinar e produzir os mais inesperados resultados. Devem ter cuidado, entretanto, em todas as ocasiões, para que, em seu zelo em promover os interesses internacionais da Fé, não frustrem seu desígnio e, por qualquer ato que pudesse ser interpretado como tentativa de fazer prosélitos ou lhes exercer indevida pressão, afastem aqueles cuja adesão à sua Causa desejam conquistar.

Apelo por Pioneiros

Eu desejaria dirigir meu apelo especialmente àqueles crentes americanos que – apesar da pressão aflitiva das múltiplas e sempre-crescentes questões de urgência com as quais eles defrontam na hora atual – achem possível estabelecer residência permanente em tais países que lhes ofereçam perspectiva razoável de ganharem a vida, qualquer que seja sua vocação ou emprego, quer seja no comércio, ou como professores, advogados, médicos, escritores, funcionários etc. Por essa ação, poderão aliviar a pressão – que sempre aumenta – sobre seu Fundo de Ensino, o qual, dentro de suas dimensões restritas, há de providenciar, quando não estiverem disponíveis de outra fonte, as despesas de viagem e outras quaisquer que o desenvolvimento desse vasto empreendimento possa acarretar. Caso não achem possível aproveitar de tão raro e sagrado privilégio, que então, lembrando-se das palavras de Bahá’u’lláh, resolvam, cada um de acordo com os meios ao seu dispor, deputar alguém a levantar-se em seu lugar e levar a efeito tão nobre empreendimento. “Concentrai vossas energias”, - são as palavras de Bahá’u’lláh – “na propagação da Fé de Deus. Quem é digno de tão alta vocação, que se levante e a promova. A quem não pode, cumpre nomear alguém que, em seu lugar, proclamará esta Revelação cujo poder fez com que os fundamentos das mais fortes estruturas tremessem, toda montanha fosse esmagada em pó e todas as almas se estarrecessem”.

Quanto àqueles que tenham podido partir de seus lares e de seu país e servir nessas regiões, quer temporária ou permanentemente, cabe-lhes um dever especial que tem de ser lembrado continuamente. Deve ser um de seus objetivos principais, por um lado, manter contato constante com o Comitê Nacional que é especificamente incumbido da promoção de seu trabalho e, por outro, cooperar por todos os meios possíveis e na maior harmonia, com seus companheiros de crença nesses países, qualquer que seja o campo em que labutem, qualquer sua posição, capacidade ou experiência. Cumprindo a primeira parte desse dever, derivarão o estímulo necessário e receberão orientação indispensável para que possam executar efetivamente a sua missão e também, através de seus relatórios enviados com regularidade a esse comitê, estarão participando à generalidade de seus companheiros de crença, as notícias dos mais recentes desenvolvimentos em suas atividades. Pelo cumprimento da segunda parte desse dever, assegurarão a eficiência uniforme, facilitarão o progresso e evitarão quaisquer incidentes que pudessem obstruir o desenvolvimento de seu empreendimento comum. A manutenção de contato estreito e relações harmoniosas entre o Comitê Interamericano, ao qual foi confiada a responsabilidade imediata de organizar uma atividade de tão vasto alcance, e os pioneiros privilegiados que estão realmente executando esse empreendimento e estendendo por toda parte as suas ramificações, bem como entre os próprios pioneiros, deveria, além de suas vantagens imediatas, dar um exemplo digno e inspirador às gerações ainda por nascerem, as quais haverão de levar avante o trabalho que está sendo iniciado presentemente, com todas as suas crescentes complexidades.

Neste tempo em que as várias restrições impostas nesses países tornam difícil que um número considerável de pioneiros bahá’ís lá estabeleça residência e ganhe a vida, seria, sem dúvida, de excepcional importância e valor se certos crentes cuja renda, embora pequena, lhes fornecesse o meio de ter uma existência independente, arranjassem as suas condições de tal forma que pudessem residir nesses países por um período indefinido. Os sacrifícios que isso acarreta, a coragem, a fé e a perseverança que exige, são, inquestionavelmente, muito grandes. Seu valor, porém, não pode ser calculado devidamente na época presente, e a recompensa a ser recebida por aqueles que manifestam tais qualidades, nunca poderá ser descrita de um modo adequado. “Os que abandonaram seu país”, – é mesmo o testemunho de Bahá’u’lláh – “a fim de ensinarem a Nossa Causa – a estes o Espírito Fiel fortalecerá através de seu poder... Por Minha vida! Nenhum ato, por grande que seja, pode se comparar com isso, a não ser tais feitos que hajam sido ordenados por Deus, o Onipotente, o Mais Poderoso. Tal serviço é, em verdade, o príncipe de todos os bons atos e o ornamento de toda boa ação”. Essa recompensa – devemos notar – não há de ser considerada uma benção puramente abstrata, reservada à vida futura, mas também um benefício tangível que tamanha coragem, fé e perseverança, tão somente, podem conferir neste mundo material. As façanhas sólidas, espirituais, bem como administrativas – realizadas no longínquo continente da Australásia e, mais recentemente, na Bulgária, por crentes representativos do Canadá e dos Estados Unidos – proclamam em termos inequívocos a natureza daqueles prêmios que, mesmo neste mundo, um heroísmo tão genuíno é destinado a ganhar. Numa passagem memorável, elogiando aqueles de Seus bem-amados que haviam “viajado através dos países em Seu Nome e para Seu louvor”, Bahá’u’lláh escreveu: “Quem tiver atingido a presença deles, ufanar-se-á de os haver conhecido, e todos os que residem em todas as terras serão Iluminados pela sua memória”.

A Parte Preponderante

Nesta altura, lembrando-me da parte tomada, desde o início da Fé no Ocidente, pelas servas de Bahá’u’lláh, em distinção aos homens, havendo elas, sozinhas, aberto tantos países, tão diversos e tão largamente espalhados sobre a superfície do globo, sinto-me impelido não somente a prestar uma homenagem a tão apostólico fervor que verdadeiramente traz à memória aqueles homens heróicos responsáveis pelo nascimento da Fé de Bahá’u’lláh, mas também a frisar a significação dessa parte tão preponderante que as mulheres do Ocidente tomaram, e estão tomando, na difusão de sua Fé no mundo inteiro. “Entre os milagres”, o próprio ‘Abdu’l-Bahá testemunhou: “que distinguem esta sagrada Era é este: que as mulheres têm manifestado uma audácia maior que a dos homens, ao alistarem-se nas fileiras da Fé”. Tão grande e esplêndido testemunho refere-se especialmente ao Ocidente e, embora tenha recebido até agora confirmação abundante e convincente, deverá, com o desenrolar dos anos, receber ainda mais reforço, enquanto os crentes americanos inaugurarem a fase mais gloriosa de suas atividades de ensino, segundo o Plano Setenial. A “audácia” que, nas palavras de ‘Abdu’l-Bahá, tem caracterizado suas façanhas no passado, não deve sofrer eclipse enquanto elas estiverem no limiar de realizações ainda maiores e mais nobres. Não, antes, no decorrer do tempo e por toda a extensão dos vastos territórios virgens da América Latina, deve ser demonstrada de um modo mais convincente e ganhar para a bem-amada Causa vitórias mais comoventes que qualquer uma já realizada.

A Juventude Bahá’í

À Juventude Bahá’í da América, além disso, sinto que deve ser dirigida uma palavra, especialmente, enquanto observo as possibilidades que uma campanha de tão gigantescas proporções pode oferecer ao espírito fervoroso e empreendedor que os anima tão poderosamente no serviço à Causa de Bahá’u’lláh. Embora inexperientes e enfrentados com escassez de recursos, seu espírito intrépido, entretanto, e o vigor, a vigilância e o otimismo que eles até agora têm mostrado tão consistentemente, os qualificam para desempenharem um papel ativo em despertar o interesse de seus jovens colegas nesses países e em conseguir sua lealdade. Para os povos de ambos os continentes, não pode haver maior demonstração da vitalidade juvenil e do poder vibrante que animam a vida e as instituições da Fé nascente instituída por Bahá’u’lláh, do que esta: a participação inteligente, persistente e efetiva da Juventude Bahá’í – oriunda de todas as raças, nacionalidades e classes – nas atividades bahá’ís, tanto no setor do ensino como no da administração. Tal participação há de impressionar os críticos e inimigos da Fé enquanto observam, com graus variáveis de cetismo e ressentimento, os processos evolucionários da Causa de Deus e suas instituições, e será este o melhor modo de convencê-los da verdade indubitável de que esta Causa está intensamente viva, está sã até o próprio âmago, e que seu destino está salvaguardado. Espero – e mais, rezo – que essa participação possa não só contribuir para a glória, o poder e o prestígio da Fé, mas também reagir tão poderosamente na vida espiritual dos membros jovens da Comunidade Bahá’í, e a tal ponto galvanizar suas energias, que lhes dê o poder de demonstrar mais completamente suas capacidades inerentes e desdobrar mais uma etapa em sua evolução espiritual, à sombra da Fé instituída por Bahá’u’lláh.

A Posição Especial do Panamá

Fiel às cláusulas da Carta assentadas pela pena de ‘Abdu’l-Bahá, sinto que é meu dever chamar a especial atenção, daqueles a quem foi confiada, às urgentes necessidades da República do Panamá e à posição peculiar que ela fruída, não só por causa de sua relativa proximidade do coração e centro da Fé na América do Norte, mas também em vista de sua posição geográfica como elo entre dois continentes. “Todos os países supracitados”, escreveu ‘Abdu’l-Bahá referindo-se aos Estados Latinos, numa das Epístolas do Plano Divino, “têm importância, mas especialmente a República do Panamá, onde o Oceano Atlântico e Pacífico se convergem através do Canal do Panamá. É um centro para viagens da América aos outros continentes do mundo e, no futuro, terá uma importância muito grande”. “Semelhantemente”, escreveu Ele ainda, “deveis dar grande atenção à República do Panamá, pois nesse ponto o Ocidente e o Oriente se unem pelo Canal do Panamá e, também, se acha situada entre os dois grandes oceanos. Esse lugar há de se tornar muito importante no futuro. Os ensinamentos, uma vez estabelecidos lá, unirão Oriente e Ocidente, Norte e Sul”. Em vista de tão privilegiada posição, a comunidade bahá’í americana deve-lhe, certamente, sua especial e pronta atenção. Com a República do México já aberta à Fé, havendo sido devidamente constituída em sua cidade capital uma Assembléia Espiritual, a penetração da Fé de Bahá’u’lláh para o sul, para um país vizinho, é apenas um passo natural e lógico, e é de se esperar que não se prove ser um passo difícil. Não se deve poupar esforços nem julgar demasiado grande qualquer sacrifício, a fim de estabelecer um grupo, ainda que seja muito pequeno, numa República que ocupa, tanto espiritual como geograficamente, tão estratégica posição – um grupo que, uma vez formado, não deixará de atrair para si, em vista da potência da qual as palavras de ‘Abdu’l-Bahá já o dotaram, as graças emanadas do Reino de Abhá, e de evoluir com tão maravilhosa celeridade que excitará a admiração e o espanto mesmo dos que já testemunharam tão comoventes evidências da força e do poder da Fé de Bahá’u’lláh. Todos aqueles que desejam ser pioneiros, bem como os membros do Comitê Interamericano, deveriam dar preferência, indiscutivelmente, às necessidades espirituais dessa República privilegiada, embora, ao mesmo tempo, se deva envidar todos os esforços para introduzir a Fé, ainda que seja tentativamente, às Repúblicas de Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica, as quais a ligariam, numa cadeia ininterrupta, com suas Assembléias-mães no continente norte-americano. Obstáculos, por intransponíveis que pareçam, devem ser superados; os recursos da tesouraria bahá’í devem ser despendidos liberalmente em seu benefício, e os esforços mais eficazes e valiosos devem ser dedicados à causa de seu despertar. A ereção de ainda outro posto avançado da Fé, em seu coração, constituirá, creio firmemente, um marco na história do Período de Formação da Fé de Bahá’u’lláh no Mundo Novo. Haverá de criar oportunidades ilimitadas, galvanizar os esforços e revigorar a vida daqueles que tenham realizado essa façanha; infundirá coragem imensa e alegria inefável nos corações dos indivíduos e grupos isolados nas Repúblicas vizinhas e nas mais distantes, e exercerá uma influência espiritual, intangível mas poderosa, sobre a vida e o futuro desenvolvimento de seu povo.

Uma Sabedoria Inescrutável, uma Vontade
Predominante

Tal, bem-amados amigos, é a vista que se estende diante dos olhos e desafia os recursos da comunidade bahá’í americana, nestes, os anos finais do primeiro século da Era Bahá’í. Tais são as qualidades e as qualificações que lhes são exigidas para o devido desempenho de seus deveres e suas responsabilidades. Tais são os requisitos, as possibilidades e os objetivos do Plano que pede cada grama de sua energia. Quem sabe se estes poucos anos restantes, tão fugazes, não estejam prenhes de acontecimentos de uma magnitude inimaginável, de provações mais severas do que qualquer uma pela qual a humanidade já passou, de conflitos tão devastadores como nunca houve em época anterior? Perigos, por sinistros que sejam, não devem jamais ofuscar o lustre de sua fé recém-nascida. Lutas e confusões, por mais desconcertantes que sejam, não devem jamais enublar sua visão. Tribulações, não importa quão aflitivas, nunca lhes devem esfrangalhar a resolução. Denúncias, ainda que sejam as mais clamorosas, jamais lhes devem solapar a lealdade. Tumultos, por mais cataclísmicos que sejam, não devem nunca desviar seu curso. O presente Plano, incorporando as nascentes esperanças de um Mestre falecido, eles o devem seguir – seguir inexoravelmente, nada importando o que lhes possa sobrevir no futuro, por mais vexantes que sejam as crises que venham a agitar seu país ou o mundo. Longe de cederem em sua resolução, longe de se tornarem negligentes de sua tarefa, eles nunca devem esquecer, por mais que sejam batidos pelas circunstâncias, que tais crises que abalam o mundo são sincronizadas com o progressivo desenvolvimento e fruição de sua tarefa determinada por Deus e que essa sincronização é, ela mesma, obra da Providência, desígnio de uma Sabedoria inescrutável e o objetivo de uma Vontade predominante – Vontade essa que dirige e controla, de seu próprio modo misterioso, tanto o destino da Fé como a sorte dos homens. Esses processos simultâneos – o surgir e o cair, a integração e a desintegração, a ordem e o caos, com a suas reações contínuas e recíprocas, são apenas aspectos de um Plano maior, um só e indivisível cuja Origem é Deus, cujo autor é Bahá’u’lláh, o teatro de cujas operações é o planeta inteiro e cujos propósitos finais são a unidade da espécie humana e a paz de toda a humanidade.

Reflexões como estas devem tornar firme a resolução da inteira comunidade bahá’í, devem dissipar seus maus agouros e despertá-los a rededicarem-se a cada uma das cláusulas daquela Carta Divina cujo esboço lhes foi delineado pela pena de ‘Abdu’l-Bahá. O Plano Setenial, como já foi dito, é apenas a etapa inicial, um ponto de partida para o desdobramento das implicações dessa Carta. O impulso, que, originariamente, foi gerado através do movimento daquela pena e que, agora, está impelindo para frente, com momento crescente, o maquinismo do Plano Setenial, deverá ser acelerado ainda mais, nos primeiros anos do próximo século, e levar a comunidade bahá’í americana a lançar etapas mais avançadas no desenvolvimento do Plano Divino – etapas que a levarão muito além das margens do Hemisfério Setentrional, para terras e entre povos onde hão de ser realizados os mais nobres atos de heroísmo por parte dessa comunidade.

O Advento do Reino

Se alguém se inclina a duvidar do curso que essa comunidade invejável é destinada a seguir, que procure estas palavras de ‘Abdu’l-Bahá, entesouradas para sempre nas Epístolas do Plano Divino e dirigidas à comunidade inteira dos crentes dos Estados Unidos e do Canadá: “A plenitude de vosso êxito”, Ele lhes informa, “ainda não foi revelada; sua significação não foi ainda apreendida. Dentro em breve, havereis de testemunhar, com vossos próprios olhos, quão brilhantemente cada um de vós, assim como uma estrela cintilante, irradiará a luz da Guia Divina no firmamento de vosso país e conferirá a seu povo a glória de uma vida eterna... O âmbito de vossas realizações futuras permanece ainda encoberto. É minha fervorosa esperança que, no futuro próximo, toda a terra se comova e abale com os resultados de vossas façanhas. A esperança, pois, que ‘Abdu’l-Bahá nutre para vós é que o mesmo êxito que acompanhou vossos esforços na América possa coroar vossas tentativas em outras partes do mundo, a fim de que , por vosso intermédio, a fama da Causa de Deus se difunda por toda parte do Oriente e do Ocidente, e o advento do Reino do Senhor dos Exércitos seja proclamado em todos os cinco continentes do globo”. “No momento em que os crentes americanos – acrescenta Ele significativamente – “levarem avante, das plagas da América, esta Mensagem Divina, propagando-a por toda parte dos continentes da Europa, da Ásia, da África e da Australásia, e até as ilhas do Pacífico, essa comunidade se verá seguramente estabelecida no trono de um domínio eterno. Então todos os povos do mundo testemunharão que essa comunidade é espiritualmente iluminada e guiada por Deus. Então toda a Terra ressoará com os elogios de sua majestade e grandeza”.

Ninguém que lê estas palavras, tão vibrantes de promessas que nem mesmo a triunfante consumação do Plano Setenial há de cumprir, pode esperar que uma comunidade elevada a tão alta posição e tão ricamente dotada, possa contentar-se com quaisquer louros que venham a ganhar no futuro imediato. Isso, em verdade, equivaleria a uma traição da confiança depositada nessa comunidade por ‘Abdu’l-Bahá. Cortar a corrente de vitórias que deve levá-la avante até que atinja aquele triunfo supremo – quando “toda a Terra se comova e abale”, com os resultados de suas realizações – abater-Lhe-ia as esperanças. Vacilar e deixar de “propagar por toda parte dos continentes da Europa, da Ásia, da África e da Australásia e até as ilhas do Pacífico” uma Mensagem tão nobremente proclamada por ela no continente americano – isso a privaria do privilégio de ser “seguramente estabelecida no trono de um domínio eterno”. Perder a honra de proclamar “o advento do Reino do Senhor dos Exércitos” em “todos os cinco continentes do globo” – isso haveria de silenciar aqueles “elogios de sua majestade e grandeza” que, de outro modo, teriam ecoado por “toda a Terra”.

Tal vacilação, falha ou negligência – estou firmemente convencido – os crentes americanos, embaixadores da Fé de Bahá’u’lláh, jamais permitirão. Aquela confiança jamais será traída, aquelas esperanças jamais serão abatidas, nem será perdido tão grande privilégio, nem tão altos elogios deixarão de ser pronunciados. Antes, a presente geração dessa comunidade abençoada, repetidamente abençoada, aumentará, dia a dia, as suas forças e, ao aproximar-se de seu fim o primeiro século, transmitirá às gerações que hão de sucedê-la no segundo, a tocha da Guia Divina, intacta apesar dos ventos tempestuosos que sobre ela haverão de soprar, para que estas, por sua vez, fiéis ao desejo e ao mandato de ‘Abdu’l-Bahá possam levar avante essa tocha, com o mesmíssimo vigor, fidelidade e entusiasmo, até os recantos mais escuros e remotos da Terra.

Bem-amados amigos! Ansioso que estou para prestar a cada um de vós qualquer assistência ao meu alcance que vos possa capacitar a desempenhar mais efetivamente vossos deveres sempre-crescentes, que vos foram designados por Deus, nada melhor posso fazer do que dirigir a vossa atenção especial, nesta hora decisiva, a estas passagens imortais, colhidas, em parte, da grande massa dos escritos de Bahá’u’lláh ainda não publicados nem traduzidos. Quer seja em Sua revelação do grau e das funções de Seus bem-amados, em Seus elogios da grandeza de Sua Causa, na ênfase que Ele dá à suprema importância do ensino, ou nos perigos que pressagia, nos conselhos que participa, nas advertências que pronuncia, nas vistas que descerra, em Sua certeza e nas promessas que faz – estes exemplos dinâmicos e típicos da linguagem sublime de Bahá’u’lláh, tendo cada um de Seus dizeres uma relação direta às tarefas com as quais a comunidade bahá’í americana atualmente defronta, não podem deixar de produzir, nas mentes e nos corações de qualquer um de seus membros que se aproxime deles com devida humildade e desprendimento, reações tão poderosas que iluminarão todo o seu ser, incentivando uma intensificação tremenda em seus esforços diários.

“Ó amigos! Não desestimeis as virtudes das quais fostes dotados, nem desprezeis vosso alto destino... Sois as estrelas do céu da compreensão, a brisa que se agita ao romper do dia, as águas que fluem suavemente, das quais deve depender a própria vida de todos os homens, as letras inscritas sobre Seu pergaminho sagrado”. “Ó povo de Bahá! Sois as brisas da primavera que flutuam sobre o mundo. Por vosso intermédio, temos embelezado o mundo do ser com o adorno do conhecimento do Mais Misericordioso. Por vosso intermédio, a face do mundo foi engrinaldada de sorrisos e o brilho de Sua luz se irradiou. Segurai-vos à Corda da constância, de tal modo que todas as vãs imaginações esvaneçam completamente. Apressai-vos a surgirdes do horizonte do poder, em nome de vosso Senhor, o Ilimitado, e a anunciardes a Seus servos, com sabedoria e eloqüência, as boas novas desta Causa, cujo esplendor se irradiou sobre o mundo do ser. Acautelai-vos para que nada vos impeça de observardes as coisas que a Pena da Glória vos prescreveu, enquanto se movia sobre Sua Epístola com majestade e poder soberanos. Grande é a bem-aventurança daquele que escutou sua voz penetrante, enquanto se erguia através do poder da verdade, perante todos os que estão no céu e todos os que estão na Terra... Ó povo de Bahá! O rio que é a Vida, verdadeiramente, fluiu por vossa causa. Sorvei vós, em Meu Nome, a despeito daqueles que desacreditaram em Deus, o Senhor da Revelação. Nós vos fizemos as mãos de Nossa Causa. Tornai vitorioso este Injuriado, que foi penosamente aflito nas mãos dos obreiros da iniqüidade. Ele, em verdade, auxiliará cada um que Lhe der apoio e se lembrará de cada um que Dele se lembrar. Disso dá testemunho esta Epístola que irradiou o esplendor da misericórdia de vosso Senhor, o Todo-Glorioso, o Predominante”. “Bem-aventurado é o povo de Bahá! Deus dá-me testemunho! São eles o consolo da vista da criação. Por eles os universos foram adornados e a Epístola Preservada foi embelezada. São eles quem navegaram na arca da independência completa, com suas faces volvidas para a Aurora da Beleza. Como é grande sua bem-aventurança por haverem atingido aquilo que seu Senhor, o Onisciente, Possuidor de toda sabedoria, tenha determinado. Sua luz adornou os céus e fez brilhar a face dos que Dele se aproximaram.” “Pelas tristezas que afligem a beleza do Todo-Glorioso! Tal é a posição que se destina ao verdadeiro crente que, se sua glória fosse revelada à humanidade, num grau menor que o fundo de uma agulha, todo crente seria consumido por seu desejo ardente de atingí-la. Por isso, foi decretado que, nesta vida terrena, a plenitude da glória de seu estado permanecesse oculta dos olhos do crente.” “Se levantasse o véu e tornasse manifesta a plena glória do estado dos que se volveram inteiramente para Deus e, por amor a Ele, renunciaram o mundo, a criação inteira ficaria estupefata.”

“Verdadeiramente digo! Ninguém apreendeu a raiz desta Causa. Incumbe a cada um, neste dia, perceber com os olhos de Deus e escutar com Seus ouvidos. Quem Me contemplar com outra vista senão a Minha própria, jamais Me poderá conhecer. Nenhum dos Manifestantes de antanho jamais apreendeu completamente a natureza desta Revelação, e sim, apenas num grau prescrito.” “Dou testemunho, perante Deus, da grandeza, da inconcebível grandeza desta Revelação. Repetidas vezes, na maior parte de Nossas Epístolas, temos testemunhado esta verdade, a fim de que a humanidade se despertasse de sua negligência.” “Como é grande esta Causa e preponderante sua Mensagem!” “Nesta mais poderosa Revelação, todas as Eras do passado atingiram sua consumação mais alta e final.” “O que se tornou manifesto nesta Revelação preeminente, excelsa, está sem paralelo nos anais do passado, nem as Eras futuras testemunharão igual.” “O intuito que baseia toda a criação é a revelação deste Dia sublime, o mais santo, Dia conhecido como o Dia de Deus, em Seus Livros e Escrituras – o Dia que todos os Profetas, os Eleitos, os seres santos, desejaram presenciar.” “A mais alta essência e a mais perfeita expressão de qualquer coisa que os povos de antanho tenham dito ou escrito foram enviadas, através desta potentíssima Revelação, vindo do céu da Vontade Daquele que tudo possui, de Deus, que sempre permanece.” “Este é o Dia em que os mais excelentes favores de Deus manaram sobre os homens, o Dia em que Sua graça toda-poderosa se infundiu em todas as coisas criadas.” “Este é o Dia em que o Oceano da misericórdia de Deus se manifestou aos homens, o Dia em que o Sol de Sua benevolência irradiou sobre eles o seu esplendor, o Dia em que as nuvens de Seu favor generoso têm amparado à sua sombra a humanidade inteira.” “Pela retidão de Meu próprio Ser! Grande, imensuravelmente grande é esta Causa! Poderoso, inconcebivelmente poderoso é este Dia! Cada Profeta anunciou a vinda deste Dia e todo Mensageiro gemeu em seu ardente desejo por esta Revelação – uma Revelação tão grande, que, mal aparecera, quando todas as coisas criadas exclamavam, dizendo: “A Terra pertence a Deus, o Excelso, o Supremo!” “O Dia da Promessa veio, e Aquele que é o Prometido proclama em altas vozes perante todos os que estão no céu e todos os que estão na Terra: - Verdadeiramente, não há outro Deus senão Ele, o Amparo no Perigo, O que subsiste por Si Próprio! – Invoco o testemunho de Deus! É revelado aquilo que, desde a eternidade, estivera entesourado no conhecimento de Deus, o Conhecedor do visível e do invisível. Felizes os olhos que vêem o Semblante de Deus, Senhor de toda a existência, e feliz a face que se lhe vira.” “Grande, em verdade, é este Dia! As alusões que lhe são feitas, em todas as sagradas Escrituras, como o Dia de Deus, testemunham sua grandeza. A alma de todo Profeta de Deus, de todo Mensageiro Divino, era sedenta deste Dia maravilhoso. Todas as várias raças da Terra, semelhantemente, muito desejavam atingí-lo.” “Neste Dia, uma porta está aberta com extensão maior que o céu e a terra. Os olhos da misericórdia Daquele que é o Desejo dos mundos volvem-se para todos os homens. Um ato, por infinitésimo que seja, quando visto no espelho do conhecimento de Deus, é mais poderoso que uma montanha. Cada gota oferecida em Seu caminho é como o mar, ao ser vista naquele espelho. Pois este é o dia que Deus, verdadeiro e único – glorificado seja Ele – anunciou em todos os Seus Livros a Seus Profetas e Seus Mensageiros.” “Esta é uma Revelação na qual, se um homem derramar por sua causa uma só gota de sangue, miríades de oceanos serão sua recompensa.” “Um momento fugaz, neste Dia, excede séculos de uma era passada... Nem sol nem lua tem testemunhado um dia como este Dia” “Este é o Dia em que o mundo invisível exclama: Grande é tua bem-aventurança, ó Terra, pois foste feita o escabelo de teu Deus, foste escolhida para ser o sítio de Seu poderoso Trono.” “O mundo da existência brilha, neste Dia, com o resplendor desta Revelação Divina. Todas as coisas criadas elogiam sua graça salvadora e lhe cantam louvores. O universo está envolvido num êxtase de júbilo e alegria. As Escrituras das Eras passadas celebram o grande Jubileu que há de saudar, forçosamente, este, o mais grandioso Dia de Deus. Feliz aquele que tenha vivido para ver este Dia e reconhecido seu grau.” “Neste Dia, nasceu um Sol diferente, e um céu diferente foi adornado com suas estrelas e seus planetas. O mundo é outro mundo, e a Causa, outra Causa.” “É este o Dia que épocas e séculos passados nunca podem rivalizar. Sabei isto, e não sejais dos que não entendem.” “É este o Dia em que os ouvidos humanos têm tido o privilégio de ouvir o que Aquele que conversou com Deus (Moisés) ouviu no Sinai, o que Aquele que é o Amigo de Deus (Maomé) ouviu quando foi elevado em direção a Ele, o que Aquele que é o Espírito de Deus (Jesus) ouviu enquanto ascendia a Ele, o Amparo no perigo, O que Subsiste por Si Próprio.” “Este Dia é o Dia de Deus, e esta Causa, Sua Causa. Feliz quem tiver renunciado este mundo e se segurado Àquele que é a Aurora da Revelação de Deus.” “Este é o Rei dos Dias, o Dia que presenciou a vinda do Mais Amado, Daquele que por toda a eternidade tem sido aclamado o Desejo do Mundo.” “Este é o Principal de todos os dias e o seu Rei. Grande é a bem-aventurança daquele que atingiu a vida eterna, através do doce aroma destes dias, e que, com a máxima constância, se levantou para auxiliar a Causa Daquele que é o Rei dos Nomes. Tal homem é como a vista para o corpo da humanidade.” “Incomparável é este Dia, pois é como olhos para passados séculos e eras, como uma luz para a escuridão dos tempos.” “Este Dia é diferente dos outros dias; esta Causa, diferente das outras causas. Suplicai a Deus, verdadeiro e único, que não prive os olhos dos homens de contemplarem Seus sinais, nem seus ouvidos de escutarem a voz penetrante da Pena da Glória.” “Pertencem a Deus, estes dias, um momento dos quais os séculos e eras jamais poderão rivalizar. Um átomo, nestes dias, é como o sol; uma gota, como o oceano. Um só sopro exalado em amor a Deus e em Seu serviço é anotado pela Pena da Glória como um ato principesco. Fossem relatadas as virtudes deste Dia, todos ficariam atônitos, exceto aqueles que teu Senhor tiver eximido.” “Pela retidão de Deus! São estes os dias em que Deus provou os corações da companhia inteira de Seus Mensageiros e Profetas e, além destes, dos que guardam Seu Santuário sagrado e inviolável, os habitantes do Pavilhão celestial e do Tabernáculo da Glória.” “Fosse a grandeza deste Dia revelada em sua plenitude, cada homem renunciaria miríades de vidas em seu ardente desejo de participar de sua grande glória, ainda que fosse por apenas um momento - quanto mais este mundo e seus tesouros corruptíveis!” “Deus, o Verdadeiro, é Minha Testemunha! Este é o Dia em que incumbe a cada um dotado de visão, contemplar; e a cada ouvido que ouve, escutar; e a cada coração que compreende, perceber; e a cada língua que fala, proclamar a todos os que estão no céu e na terra, este Nome santo, excelso, altíssimo.” “Dizei, ó homens! Este é um Dia inigualável. Inigualável, também, deve ser a língua que celebra o louvor do Desejo de todas as nações, e inigualável o ato que aspira a ser aceitável a Seus olhos. A humanidade inteira tem desejado ardentemente este Dia, para que possa talvez cumprir o que convém à sua posição e seja digno de seu destino.”

“Pelo movimento de Nossa Pena de Glória e a mando do Ordenador Onipotente, temos insuflado uma nova vida em cada corpo humano e instilado em cada palavra uma potência nova. Todas as coisas criadas proclamam as evidências desta regeneração mundial.” “Ó povo! Invoco o testemunho de Deus, verdadeiro e único! É este o Oceano do qual procederam todos os mares e com o qual, finalmente, cada um deles se unirá. Dele foram gerados todos os Sóis e a Ele, todos regressarão. Através de Sua potência, as Árvores da Revelação Divina produziram os seus frutos, cada um dos quais se fez descer na forma de um Profeta, levando uma Mensagem às criaturas de Deus em cada um dos mundos, cujo número Deus, tão somente, em Seu conhecimento que a tudo abrange, pode calcular. Isso Ele realizou por meio de apenas uma Letra de Sua Palavra, revelada pela Sua Pena – uma Pena movida pelo Seu Dedo que dirige – sendo Seu Dedo, ele mesmo, apoiado pelo poder da Verdade de Deus.” “Pela retidão de Deus, verdadeiro e único! Se uma partícula de uma jóia for perdida e enterrada debaixo de uma montanha de pedras, e jazer oculta além dos sete mares, a Mão da Onipotência haverá, seguramente, de revelá-la neste Dia, pura e isenta de escória.” “Cada uma das letras procedentes de Nossos lábios é dotada de tal poder regenerador que possa trazer à existência uma nova criação – uma criação cuja magnitude é inescrutável a todos menos a Deus. Ele, verdadeiramente, tem conhecimento de todas as coisas.” “Está em Nosso poder, se assim quiséssemos, capacitar uma partícula de pó flutuante a gerar, em menos de um piscar de olhos, sóis de infinito e inimaginável esplendor, a fazer uma gota de orvalho desenvolver-se em oceanos vastos e inumeráveis e a infundir em cada letra tamanha força que a torne capaz de desdobrar todo o conhecimento das eras passadas e futuras.” “Possuímos um poder tão grande que, se for trazido à luz, transmudará o veneno mais mortal em panacéia de eficácia infalível.”

“Os dias aproximam-se de seu fim e ainda os povos do mundo se vêem mergulhados em lastimável inadvertência, perdidos em erro manifesto.” “Grande, grande é a Causa! Aproxima-se a hora em que a maior convulsão terá aparecido. Invoco o testemunho Daquele que é a Verdade! Fará a separação afligir a todos, mesmo àqueles ao Meu redor.” “Dizei: Ó assembléia dos desatentos! Deus é Minha Testemunha! O Dia prometido chegou, o dia em que provações atormentadoras terão surgido por cima de vossas cabeças e debaixo de vossos pés, dizendo: - Provai o que vossas mãos cometeram!” “Chegou o tempo para a destruição do mundo e de seu povo. Aquele que é o Preexistente já veio, a fim de que possa conceder a vida eterna, outorgar a preservação infindável e conferir o que conduz ao verdadeiro modo de viver.” “Aproxima-se o dia em que sua chama (a da civilização) devorará as cidades, quando a Língua da Grandeza proclamará: - O Reino pertence a Deus, o Onipotente, Objeto de todo louvor!” “Ó vós que estais destituídos de compreensão! Uma tribulação severa persegue-vos e, subitamente, vos sobrevirá. Despertai-vos, para que ela possa talvez passar e não vos infligir dano.” “Ó vós, povos do mundo! Sabei, em verdade, uma calamidade imprevista segue-vos e penosa retribuição vos espera. Não penseis que os atos que cometestes fossem apagados de Minha vista.” “Ó desatentos! Embora as maravilhas de Minha misericórdia tenham envolvido todas as coisas, tanto visíveis como invisíveis, e se bem que as revelações de Minha graça e generosidade tenham penetrado todo átomo do universo, no entanto, a vara com a qual posso castigar os malfeitores é penosa, e é terrível a veemência de Minha ira contra eles.” “Não lamenteis por causa daqueles que se ocuparam com as coisas deste mundo e esqueceram a menção de Deus, o Mais Grandioso. Por Aquele que é a Verdade Eterna! Aproxima-se o dia em que a plena ira do Onipotente se terá apoderado deles. Em verdade, Ele é o Todo-poderoso, o Predominante, o Potentíssimo. Haverá de expurgar a Terra da mancha de sua corrupção e legá-la àqueles de Seus servos que estejam próximos Dele.” “Dentro em breve, se ouvirá exclamar de todas as terras: - Sim, sim, eis-me aqui, eis-me aqui. – Pois nunca houve nem pode haver, outro refúgio aonde se recorrer.” “E ao vir a hora predeterminada, haverá de aparecer subitamente o que fará tremerem os membros da humanidade. Então, e somente então, o Estandarte Divino se desfraldará e o Rouxinol do Paraíso cantará sua melodia.”

“No princípio de cada Revelação, prevaleceram adversidades, as quais, mais tarde, se transformaram em grande prosperidade.” “Dize: - Ó povo de Deus! Acautelai-vos para que os poderes da Terra não vos alarmem, a força das nações não vos enfraqueça, o tumulto do povo da discórdia não vos detenha, nem os expoentes da glória terrena vos entristeça. Sede como uma montanha na Causa de vosso Senhor, o Onipotente, o Todo-Glorioso, o Irrestrito.” “Dizei: Acautelai-vos, Ó povo de Bahá, para que os fortes da Terra não vos roubem a força, nem aqueles que governam o mundo vos encham de medo. Ponde vossa confiança em Deus e entregai a Seu cuidado vossos interesses. Verdadeiramente, Ele, através do poder da verdade, vos fará vitoriosos; Ele, em verdade, é poderoso para fazer o que Ele queira; em Suas mãos estão as rédeas da onipotência.” “Juro por Minha vida! Nada pode sobrevir aos Meus amados, salvo aquilo que lhes traga proveito. Testemunho disso é dado pela Pena de Deus, o Mais Poderoso, o Todo-Glorioso, o Mais Amado.” “Que os acontecimentos do mundo não vos entristeçam. Deus é Minha Testemunha! O mar do júbilo anela a atingir vossa presença, pois toda coisa boa foi criada para vós e, segundo as necessidades dos tempos, vos será revelada.” “Ó Meus servos! Não vos entristeçais se, nestes dias e neste plano terreno, coisas contrárias aos vossos desejos tiverem sido determinadas e manifestadas por Deus, pois seguramente vos esperam dias de extasiante felicidade, de deleite celestial. Mundos santos, espiritualmente gloriosos, desvendar-se-ão diante de vossos olhos. Sois destinados por Ele, neste mundo e no vindouro, a participar de seus benefícios, ter um quinhão de suas alegrias e receber uma porção de sua graça alentadora. A cada um destes, indubitavelmente, atingireis... ... “Este é o dia em que se deve falar. Incumbe ao povo de Bahá esforçar-se, com a máxima paciência e tolerância, a fim de guiar os povos do mundo ao Horizonte Mais Grandioso. Cada corpo reclama em altas vozes uma alma. As almas celestiais, através do sopro da Palavra de Deus, devem instilar nos corpos mortos um novo espírito. Dentro de cada palavra se oculta um espírito novo. Feliz o homem que a isso atinja e que se tenha levantado a fim de ensinar a Causa Daquele que é o Rei da Eternidade.” “Dizei: Ó servos! O triunfo desta Causa tem dependido e continuará a depender do aparecimento de almas santas, da manifestação de boas ações e da revelação de palavras de consumada sabedoria.” “Concentrai vossas energias na propagação da Fé de Deus. Quem for digno de tão alta vocação, que se levante e a promova. Quando alguém não pode, é seu dever designar quem possa, em seu lugar, proclamar esta Revelação, cujo poder fez com que os alicerces das mais imponentes estruturas tremessem, toda montanha fosse esmagada em pó, e todas as almas se tornassem atônitas.” “Que vosso interesse principal esteja em salvar do tremedal da extinção iminente aquele que caiu e ajudá-lo a abraçar a Fé antiga de Deus. Vossa conduta para com vosso próximo deve ser tal que manifeste claramente os sinais de Deus, verdadeiro e único, pois vós sois os primeiros entre os homens a serem criados novamente pelo Seu Espírito, os primeiros a adorarem e curvarem o joelho diante Dele, os primeiros a circularem Seu trono de glória.” “Ó vós bem-amados de Deus! Não repouseis em vossos leitos, mas sim, despertai-vos logo que reconheçais vosso Senhor, o Criador, e saibais das coisas que Lhe tenham sucedido, e apressai-vos a assistí-Lo. Libertai vossas línguas e proclamai incessantemente a Sua Causa. Isto vos há de ser melhor que todos os tesouros do passado e do futuro – se sois dos que compreendem esta verdade.” “Invoco o testemunho Daquele que é a Verdade! Dentro em breve Deus adornará o princípio do Livro da Existência com a menção de Seus bem-amados que sofreram tribulação em Seu caminho e viajaram pelos países em Seu Nome e Seu louvor. Quem tiver atingido sua presença, ufanar-se-á de tê-los conhecidos, e todos os que habitam em cada terra serão iluminados pela sua memória.” “Rivalizai uns com outros em serviço a Deus e à Sua Causa. É isto, em verdade, o que vos trará proveito neste mundo e no vindouro. Vosso Senhor, o Deus de Misericórdia, é O de tudo informado, o Onisciente. Não vos entristeçais com as coisas que vedes neste dia. Dia virá em que as línguas das nações proclamarão: - A Terra pertence a Deus, o Todo-poderoso, o Único, o Incomparável, o Onisciente!” “Bem-aventurado é o lugar, a casa ou o coração, e bem-aventurada a cidade, a montanha, o refúgio, a caverna ou o vale, a terra ou o mar, o prado ou a ilha, onde se haja feito menção de Deus e celebrado Seu louvor.” “O próprio movimento de lugar em lugar, quando empreendido por amor a Deus, tem sempre exercido, e pode agora exercer, sua influência no mundo. Nos Livros do passado, foi anotado e inscrito o grau daqueles que viajaram por toda parte a fim de guiarem os servos de Deus.” “Deus é Minha Testemunha! Tão grandes são as coisas destinadas àquelas que se mantêm constantes que, se fossem desveladas, nem sequer na extensão do fundo de uma agulha, todos os que estão no céu e na Terra ficariam atônitos, salvo aqueles que Deus, o Senhor de todos os mundos, quis eximir.” “Invoco o testemunho de Deus! O que se destina àquele que ajuda Minha Causa, excede os tesouros da Terra.” “A quem abrir seus lábios, neste dia, e fizer menção do Nome de seu Senhor, as hostes da inspiração divina descerão do céu de Meu Nome, o Onisciente, o Possuidor de toda sabedoria. A ele descerá também a Assembléia das alturas, erguendo cada um altamente um cálice de pura luz. Assim foi predestinado no reino da Revelação de Deus, a mando Daquele que é o Todo-Glorioso, o Poderosíssimo.” “Pela retidão Daquele que, neste dia, exclama no imo do coração de todas as coisas criadas: - Deus, não há outro Deus senão Eu! – Se qualquer homem se levantasse para defender, em seus escritos, a Causa de Deus contra seus agressores, tal homem, por inconsiderável que fosse seu quinhão, seria tão honrado no mundo vindouro que a Assembléia no alto lhe invejaria a glória. Nenhuma pena pode transmitir a sublimidade de seu grau, nem língua alguma descrever seu esplendor.” “Permita Deus sejais todos vós fortalecidos para executardes o que for a Vontade de Deus e, através de Sua graça, ajudados a apreciar o grau conferido àqueles de Seus bem-amados que se tenham levantado em Seu serviço e na glorificação de Seu Nome. Sobre eles esteja a glória de Deus, a glória de tudo o que está nos céus e tudo o que está na Terra, e a glória dos habitantes do excelso paraíso, do céu dos céus.” “Ó povo de Bahá! Que não há quem vos rivalize, é sinal de misericórdia. Do cálice da Generosidade, sorvei o vinho da imortalidade, a despeito daqueles que repudiaram Deus, Senhor dos nomes e Criador dos céus.”

“Deus, verdadeiro e único, é Minha Testemunha! É este o dia daqueles que se desprenderam de tudo menos Dele, o dia daqueles que reconheceram Sua unidade, o dia em que Deus criou com as mãos de Seu poder, seres divinos e essências imperecíveis, cada um dos quais jogará atrás de si o mundo e tudo o que nele se acha, e se tornará tão firme na Causa de Deus que cada coração sábio e compreensível se admirará.” “Jazia oculto dentro do Santo Véu e preparada para o serviço de Deus, uma companhia de Seus eleitos que se tornarão manifestos aos homens, que auxiliarão a Sua Causa, que de ninguém terão medo, ainda que a humanidade inteira se levante e trave guerra contra eles. São estes que, ante os olhos dos que residem na Terra e dos que habitam o céu, se levantarão e, exclamando em altas vozes, aclamarão o nome do Onipotente e convocarão os filhos dos homens para o caminho de Deus, o Todo-Glorioso, Objeto de todo louvor.” “Aproxima-se o dia em que Deus, por obra de Sua Vontade, terá erguido uma raça de homens cuja natureza é inescrutável a todos, menos a Deus, o Onipotente, O que subsiste por Si próprio.” “Dentro em breve, Ele tirará, do Regaço do Poder, as Mãos da Ascendência e Grandeza – Mãos que se levantarão a fim de ganharem a vitória para este Jovem, e que purificarão a humanidade da contaminação do réprobo e do ímpio. Essas Mãos farão os preparativos, fortalecendo-se para serem os campeões da Fé de Deus e, em Meu Nome, o subsistente por si próprio, o poderoso, dominarão os povos e as raças da Terra. Entrarão nas cidades e instilarão medo nos corações de todos os seus habitantes. Tais são as evidências do poder de Deus; como é temível, como é veemente Seu poder!”

Mais uma palavra em conclusão. Entre alguma das palavras mais momentosas e convidativas à reflexão, já proferidas por ‘Abdu’l-Bahá, no decurso de Suas viagens históricas no continente norte-americano, se acham as seguintes: “Seja essa democracia americana a primeira nação a estabelecer o alicerce da concórdia internacional. Que seja a primeira nação a proclamar a unidade do gênero humano. Seja ela a primeira a desfraldar o Estandarte da Maior Paz.” E outra vez: “O povo americano é realmente digno de ser o primeiro a construir o Tabernáculo da Maior Paz e a proclamar a unidade do gênero humano... Pois a América tem desenvolvido poderes e capacidades maiores, mais maravilhosos, do que fizeram as outras nações. ... A nação americana está aparelhada e capacitada para realizar aquilo que adornará as páginas da história, para tornar-se alvo da inveja do mundo e receber a graça do triunfo de seu povo, tanto no Oriente, como no Ocidente... O continente americana dá sinais e evidências de um progresso muito grande. Seu futuro é ainda mais promissor, pois sua influência e sua iluminação são de âmbito vasto. Guiará todas as nações espiritualmente.”

O Destino da América

As energias criativas, misteriosamente geradas pelos primeiros movimentos da Ordem Mundial embrionária de Bahá’u’lláh, logo que foram libertadas dentro de uma nação destinada a tornar-se seu berço e seu campeão, dotaram essa nação do merecimento, investiram-na dos poderes e capacidades e equiparam-na espiritualmente, para que desempenhasse o papel pressagiado nestas palavras proféticas. As potências que esta missão, conferida por Deus, infundiu em seu povo estão, por um lado, começando a manifestar-se através dos esforços conscientes e das realizações de âmbito nacional, tanto no setor do ensino, como no administrativo, da atividade bahá’í na comunidade organizada dos que seguem Bahá’u’lláh no continente norte-americano. Essas mesmas potências, em separado, porém colaterais com esses esforços e realizações, estão, por outro lado, amoldando, insensivelmente, sob o impacto de forças políticas e econômicas mundiais, o destino dessa nação, e exercendo uma influência sobre as vidas e as ações tanto de seu governo, com de seu povo.

Aos esforços e às realizações daqueles que, conscientes da Revelação de Bahá’u’lláh, labutam atualmente nesse continente, ao seu presente curso de atividade como ao futuro, já me tenho referido suficientemente nas páginas precedentes. Uma palavra – se o destino do povo americano, em sua totalidade, vai ser apreendido corretamente – deveria ser dita agora sobre a orientação dessa nação como um todo e a direção notada nas atividades de seu povo. Não importa quanto ela ignore a Fonte donde precedem essas energias orientadoras, não importa quão lento e laborioso seja o processo, torna-se cada vez mais evidente que a nação em sua totalidade, quer seja por meio de seu governo ou de outro modo, está gravitando, sob a influência de forças que não pode nem compreender nem controlar, para aquelas associações e aqueles programas nos quais, segundo ‘Abdu’l-Bahá indicou, deve ser encontrado seu verdadeiro destino. Tanto a comunidade dos crentes americanos, que estão conscientes daquela Fonte, como a grande massa de seus conterrâneos que não reconheceram ainda a Mão que lhes dirige o destino, estão contribuindo, cada qual de seu modo, para a realização das esperanças e o cumprimento das promessas, expressas nas palavras de ‘Abdu’l-Bahá acima-citadas.

O mundo está se movendo. Seus acontecimentos desdobram-se sinistramente e com uma rapidez caótica. O remoinho de suas paixões é célere e de uma violência alarmante. O Novo Mundo está sendo repuxado insensivelmente para se vórtice. Os epicentros potenciais da Terra já lançam suas sombras sobre sua costa. Perigos, nem sonhados e imprevisíveis, ameaçam-no de dentro bem como de fora. Seus governos e povos estão pouco a pouco sendo enredados nas repetidas crises e controvérsias renhidas do mundo. O Oceano Atlântico, bem como o Pacífico, com cada aceleração na marcha da ciência, encolhem, tornando-se meros canais. A Grande República do Ocidente, de um modo especial e cada vez mais, se acha envolvida. Estrépitos distantes ecoam funestamente nas ebulições de seu povo. De seus lados se enfileiram os epicentros potenciais do continente europeu e do Extremo Oriente. Em seu horizonte sulino assoma o que poderia, concebivelmente, tornar-se outro centro de agitação e perigo. O mundo está se contraindo, formando uma só vizinhança. A América, querendo ou não, há de enfrentar essa nova situação e lutar com ela. Para fins de segurança nacional, sem levar em conta qualquer motivo humanitário, ela tem de assumir as obrigações que essa vizinhança recém-criada lhe impõe. Por paradoxal que pareça, sua única esperança de se desenredar dos perigos que se agrupam ao seu redor está em se emaranhar na própria teia de associação internacional que a Mão de uma Providência inescrutável está tecendo. O conselho de ‘Abdu’l-Bahá, a um alto oficial em seu governo, vem à memória, como sendo especialmente apropriado e forte: “Podeis melhor servir a vosso país, se, em vossa capacidade de cidadão do mundo, envidardes vossos esforços para que o princípio do federalismo que baseia o governo de vosso próprio país seja aplicado futuramente às relações existentes agora entre os povos e nações do mundo.” Os ideais que incendiaram a imaginação daquele Presidente da América tão tragicamente desapreciado – cujos nobres esforços, apesar de nulificados por uma geração sem visão, ‘Abdu’l-Bahá aclamou, com a própria pena, como assinaladores do alvorecer da Maior Paz – se bem que jazam agora no pó, repreendem amargamente uma geração desatenta por havê-los abandonado tão cruelmente.

Que o mundo está assediado com riscos, que perigos agora se acumulam, constituindo uma ameaça real à nação americana, nenhum observador dotado de visão clara poderá negar. A Terra está transformada atualmente em acampamento armado. Até cinqüenta milhões de homens estão ou em prontidão ou em reserva. Está se gastando nada menos de três bilhões de libras, num ano, com armamentos. A luz da religião está ofuscada e a autoridade moral desintegra-se. As nações do mundo, pela maior parte, caíram vítimas de ideologias em conflito, que ameaçam solapar os próprios fundamentos de sua unidade política que foi ganha a tanto custo. Multidões agitadas nesses países olham para eles com desagrado, estão armadas até os dentes, em terror, pânico e gemem sob o jugo das tribulações engendradas por luta política, fanatismo racial, ódios nacionais e animosidades de religião. “Os ventos do desespero”, Bahá’u’lláh afirmou inequivocamente, “estão, lastimavelmente, soprando de todas as direções, e a luta que divide e aflige a raça humana aumenta dia a dia. Os sinais de caos e convulsões iminentes podem atualmente ser discernidos...” “Os males” – profetizou ‘Abdu’l-Bahá, escrevendo há duas décadas passadas – “dos quais o mundo presentemente padece, multiplicarão; o negrume que o envolve tornar-se-á mais profundo. Os Bálcãs continuarão descontentes. Sua inquietação aumentará. Os Poderes vencidos persistirão em provocar agitações. Recorrerão a todas as medidas que possam reacender a chama da guerra. Movimentos, recém-nascidos e de âmbito mundial, farão os máximos esforços para a promoção de seus desígnios. O Movimento do Esquerdo adquirirá grande importância. Sua influência estender-se-á.” Quanto à própria nação americana, a voz de seu Presidente, enfática e clara, adverte a seu povo que a possibilidade de ataque contra seu país aumentou infinitamente com o desenvolvimento da aviação e devido a outros fatores. Seu Ministro de Estado, dirigindo-se aos representantes de todas as repúblicas americanas, reunidas numa conferência, pronuncia uma advertência não menos sinistra: “Essas forças ressurgentes assomam, ameaçando toda parte do mundo – sua sombra ominosa lança-se através de nosso próprio Hemisfério.” Quanto à sua imprensa, soa a mesma nota de advertência e alarma perante um perigo que se aproxima: “Devemos estar preparados para nos defendermos, tanto de dentro como de fora... Nossa fronteira defensiva é longa. Estende de Point Barrow na Alaska até Cabo Horn, beirando o Atlântico e o Pacífico. Quando, ou onde, os agressores europeus e asiáticos nos podem atacar, ninguém pode dizer. Poderia ser em qualquer parte, a qualquer momento... Não temos opção; nós mesmos temos de nos manter armados... Devemos montar guarda vigilante sobre o Hemisfério Ocidental.”

A distância galgada pela nação americana desde sua repudiação formal e categórica do ideal wilsoniano, as modificações que, inesperadamente, a sobrevieram nos anos recentes, a direção em que se movem os acontecimentos mundiais, com seu impacto inevitável sobre os programas e a economia dessa nação, são extremamente significativas, bem como altamente instrutivas e animadoras, para todo observador bahá’í que examina os desenvolvimentos na situação internacional à luz das profecias, tanto de Bahá’u’lláh, como de ‘Abdu’l-Bahá. Traçar o curso exato que essa nação há de seguir, nesses tempos atribulados, nesses anos prenhes, seria impossível. Podemos apenas – julgando pela direção atual de acontecimentos – antecipar qual, provavelmente, será o curso escolhido por ela para ser seguido em suas relações não só com as repúblicas da América, mas também com os demais continentes.

Uma associação mais íntima com essas repúblicas, por um lado e, por outro, uma crescente participação, em graus variáveis, nos interesses do mundo inteiro como resultado das repetidas crises internacionais, parecem ser os desenvolvimentos mais prováveis que esperam esse país no futuro. Devem surgir motivos de demora, inevitavelmente, e reveses devem ser sofridos, no decurso da evolução desse país para seu destino final. Nada, entretanto, poderá vir a alterar esse curso que lhe foi determinado pela pena infalível de ‘Abdu’l-Bahá. Já havendo sido realizada sua unidade federal e consolidadas suas instituições internas – etapa essa que assinalou sua maturidade como entidade política – sua evolução, como membro da família das nações, deve continuar ininterruptamente, sob circunstâncias que não podem, no momento atual, ser visualizadas. Esta evolução deverá persistir até aquele tempo em que essa nação, através do papel ativo e decisivo que terá desempenhado na organização e na solução pacífica dos problemas da humanidade, tenha atingido a plenitude de seus poderes e funções como membro proeminente e parte integrante de um mundo federado.

O futuro imediato, em conseqüência dessa constante, gradativa e inevitável absorção nas múltiplas perplexidades e problemas que afligem a humanidade, deve ser obscuro e opressivo para essa nação. A tribulação que há de abalar o mundo, tão graficamente profetizado por Bahá’u’lláh – como citamos nas páginas precedentes – talvez a veja repuxada para seu vórtice, num grau sem precedentes. Do contrário de suas reações ao último conflito mundial, emergirá – é provável – conscientemente determinada a aproveitar sua oportunidade de aplicar o pleno peso de sua influência aos problemas gigantescos que tamanha tribulação haverá de deixar em seu rasto e, em conjunto com suas nações irmãs, tanto do Oriente como do Ocidente, exorcismar para sempre a maior maldição que, desde os tempos imemoriais, aflige e degrada a espécie humana.

Então, e somente então, a nação americana, amoldada e purificada no crisol de uma guerra comum, habituada a seus rigores e disciplinada pelas suas lições, estará na posição de poder levantar sua voz no concílio das nações, lançar, ela mesma, a pedra angular de uma paz universal e duradoura, proclamar a solidariedade, a unidade e a maturidade do gênero humano e ajudar a estabelecer o prometido reinado da justiça na terra. Então, e somente então, a nação americana – enquanto a comunidade dos bahá’ís americanos em seu seio estiver consumando sua missão que Deus lhe determinou – poderá cumprir o destino indizivelmente glorioso que lhe foi designado pelo Onipotente e que os escritos de ‘Abdu’l-Bahá consagraram imortalmente. Então, e somente então, a nação americana atingirá “aquilo que há de adornar as páginas da história,” e tornar-se-á “objeto da inveja do mundo, abençoada tanto no Oriente como no Ocidente.”

Shoghi
25 de dezembro de 1938

Impresso nos Estab. Gráficos Borsoi S.A. Indústria e Comércio,

à Rua Francisco Manuel, 55 – ZC-15, Benfica, Rio de Janeiro


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