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RESPOSTAS DE Bahá'u'lláh A MÁNIKCHÍ SÁHIB E OUTROS ESCRITOS

COMPILADO PELO CENTRO MUNDIAL BAHÁ'Í

Título original em inglês: The Tabernacle of Unity

(c) 2007
Todos os direitos reservados:
Editora Bahá'í do Brasil
C.P. 1085
13800-973 - Mogi Mirim - SP
www.editorabahaibrasil.com.br
ISBN: 978-85320-0154-2
1a EDIÇÃO: 2007
Tradução: Osmar Mendes
Revisão: Stella Bueno Nikobin
Capa: Gustavo Pallone de Figueiredo

Impressão: Tecla Tipo Gráfica e Editora Ltda, Campinas - SP

CONTEÚDO
Introdução

1. Epístola a Mánikchí Sáhib (Lawh-i-Mánikchí Sáhib)

2. Respostas às perguntas de Mánikchí Sáhib em uma Epístola a Mirza Abu'l-Fadl

3. Epístola das Sete Perguntas (Lawh-i-Haft Pursish)

4-5 Duas Outras Epístolas
Notas
INTRODUÇÃO

Desde o nascimento da Revelação Bahá'í em um calabouço subterrâneo em Teerã, onde Seu Autor esteve confinado em 1852, a Fé de Bahá'u'lláh vem crescendo rapidamente, em círculos cada vez maiores, muito além do ambiente social e religioso de seu nascedouro. Entre os primeiros indivíduos fora da comunidade islâmica a serem atraídos aos Seus ensinamentos, pressagiando o grande fluxo de pessoas de todas as fés e origens à sua universal guarida, estavam zoroastrianos da Pérsia e da Índia. A esse grupo Bahá'u'lláh dirigiu diversas Epístolas, algumas delas são aqui apresentadas pela primeira vez em tradução oficialmente autorizada.

Proeminente entre esses trabalhos está a Epístola de Bahá'u'lláh a Mánikchí Sáhib. Mánikchí Limjí Hataria (1813-1890), também conhecido como Mánikchí Sáhib, nasceu na Índia de pais zoroastrianos. Um hábil diplomata e devotado adepto de sua religião ancestral, Mánikchí Sáhib foi designado, em 1854, emissário em nome dos persas zoroastrianos da Índia para ajudar seus correligionários no Irã, os quais estavam passando por repressivas medidas governamentais dos monarcas Qájár. Naquele mesmo ano conseguiu encontrar-se com Bahá'u'lláh em Bagdá. Embora se mantendo fiel até o fim da vida à fé de Zoroastro, foi atraído pelos ensinamentos da nova religião e, emocionado pelos sacrifícios de seus primeiros mártires, tornou-se admirador da Fé pelo resto da vida. De 1876 a 1882, contratou o eminente erudito bahá'í, Mirza Abu'l-Fadl, como seu secretário particular, e este, mais tarde, atuou como inter-mediário entre Sáhib e Bahá'u'lláh, transmitindo as perguntas que levaram à revelação de duas Epístolas de enorme significado.

A primeira Epístola, conhecida como Lawh-i-Mánikchí Sáhib, é reconhecida por suas impressionantes e notáveis passagens sintetizando a universalidade das reivindicações proféticas de Bahá'u'lláh. Reveladas por insistentes pedidos de Mánikchí Sáhib, em puro idioma persa, a Epístola responde às perguntas por ele levantadas e proclama alguns dos temas centrais da Fé de Bahá'u'lláh: "Cuidai zelosamente das necessidades da era em que viveis, e concentrai vossas deliberações em suas exigências e seus requisitos." "Volvei vossas faces da escuridão da alienação para a luz fulgente do alvorecer da unidade." "Sois os frutos de uma só árvore e as folhas do mesmo ramo." "Tudo o que leve ao declínio da ignorância e ao aumento do conhecimento sempre teve e para sempre terá aprovação aos olhos do Senhor da criação."

Como se infere do conteúdo de uma segunda Epístola, Mánikchí Sáhib não ficou inteiramente satisfeito com as respostas recebidas, tendo levantado uma discussão mais ampla sobre suas perguntas específicas. As respostas adicionais de Bahá'u'lláh constam de uma Epístola mais extensa, revelada em 14 Sha'bán 1299 (1º de julho de 1882) na voz de Seu amanuense, Mirza Áqá Ján. A Epístola é dirigida a Mirza Abu'l-Fadl, mas grande parte dela trata das perguntas feitas por Mánikchí Sáhib. Bahá'u'lláh afirma de início, que Sáhib "não havia considerado o assunto em profundidade, pois de outra forma teria prontamente admitido que nenhum ponto fora omitido", e explica que, por sabedoria, suas perguntas não haviam sido respondidas diretamente, mas que mesmo assim, "as respostas foram dadas em uma linguagem de maravilhosa concisão e clareza". Em todo o restante da Epístola, o texto de cada uma das perguntas de Mánikchí Sáhib é sucessivamente citado e respostas detalhadas são dadas a cada uma delas, em alguns casos ligadas às questões dos princípios universais enunciados na primeira Epístola.

A Epístola é singularmente notável ao tratar de inúmeras questões relacionadas às doutrinas tanto das religiões abraâmicas como não-abraâmicas, no entendimento de Mánikchí Sáhib, incluindo a natureza da criação, a relação entre fé e razão, a reconciliação das diferenças existentes entre as leis e mandamentos das diversas religiões, suas reivindicações de exclusividade e os diferentes graus de prontidão em aceitar outras pessoas em suas congregações. As respostas de Bahá'u'lláh enfatizam que se deve examinar o que é correto e verdadeiro nas várias doutrinas, em vez de descartá-las de imediato como incorretas ou incompletas.

Incluídas aqui juntamente com esses dois trabalhos principais encontram-se a Lawh-i-Haft Pursish (Epístola das Sete Perguntas), dirigida a Ustád Javán-Mard, um dos primeiros e proeminentes Bahá'ís de origem zoroastriana e antigo estudante de Mánikchí Sáhib, e duas outras Epístolas também reveladas a crentes da mesma origem religiosa. Juntas, essas cinco Epístolas oferecem um vislumbre do amor e do relaciona-mento especial de Bahá'u'lláh com os seguidores de uma religião que surgira, muitos séculos antes, na mesma terra que viu nascer Sua própria Fé.

Partes da Lawh-i-Mánikchí Sáhib e excertos de outras Epístolas foram previamente traduzidos por Shoghi Effendi*; estas foram incorporadas ao texto das traduções.

Espera-se que a publicação deste volume possibilite aos leitores um entendimento mais profundo do princípio fundamental da unidade da religião, provendo um novo ímpeto aos esforços daqueles que se empenham em promover seu entendimento em uma era que dele necessita intensamente a cada dia que passa.

Centro Mundial Bahá'í

*Do persa para o inglês. Para o português utilizamos as traduções de Leonora S. Armstrong.

1 - EPÍSTOLA A MÁNIKCHÍ SÁHIB (Lawh-i-Mánikchí Sáhib)

EM NOME DO ÚNICO DEUS VERDADEIRO!

Louvores ao onisciente e eterno Senhor, o Qual, de uma gota do oceano de Sua graça, criou o firmamento da existência, adornou-o com as estrelas do conhecimento, e admitiu o ser humano na elevada corte do discernimento e da compreensão. Essa gota, que é a Palavra Primordial de Deus, é algumas vezes chamada de Água da Vida, já que ela vivifica com as águas do conhecimento aqueles que se perderam nos desertos da ignorância. É também chamada Luz Primordial, uma luz nascida do Sol do conhecimento divino, através de cujo esplendor as primeiras manifestações da existência tornaram-se claras e manifestas. Tais manifestações são as expressões da graça dAquele que é o Incomparável, o Onisciente. Ele é Quem conhece e concede dádivas a todos. Ele é Aquele que transcende tudo o que foi dito ou ouvido. Seu conhecimento permanecerá para sempre acima do alcance da visão e do entendimento humano, e além do alcance das palavras e das realizações humanas. À veracidade desta elocução a própria existência e tudo dela decorrente são eloqüentes testemunhos.

É claro e evidente, portanto, que a primeira dádiva de Deus é a Palavra, e seu descobridor e recipiente é o poder do entendimento. Esta Palavra é o mais importante instrutor na escola da existência e o revelador dAquele que é o Todo-Poderoso. Tudo o que se pode ver é visível somente através da luz de seu conhecimento. Tudo o que é manifesto é apenas um sinal de seu conhecimento. Todos os nomes são apenas seu nome, e o início e o fim de todas as coisas são dependentes dela.

Tua carta chegou a este cativo do mundo em Sua prisão. Trouxe alegria, fortaleceu os laços de amizade e renovou a lembrança de dias passados. Louvado seja o Senhor da criação que nos concedeu o favor de encontrá-lo na terra da Arábia (1), onde visitamos e mantivemos conversação. É nossa esperança que nosso encontro jamais seja esquecido, nem apagado do coração com a passagem do tempo, mas que das sementes assim plantadas, as doces plantas da amizade possam florescer e permanecer para sempre frescas e verdejantes para todos contemplarem.

Quanto à tua pergunta concernente às Escrituras celestiais: O Médico Onisciente tem Seu dedo no pulso da humanidade. Ele percebe o mal e, com Sua infalível sabedoria, prescreve o remédio. Cada era tem seu próprio problema e cada alma sua especial aspiração. O remédio que o mundo necessita em suas aflições hodiernas não pode ser, jamais, o mesmo daquele requisitado por uma era subseqüente. Cuidai zelosamente das necessidades da era em que viveis e concentrai vossas deliberações em suas exigências e seus requisitos.

Bem podemos perceber como toda a raça humana está cercada de grandes aflições, de aflições incalculáveis. Nós a vemos languescer no leito da doença, angustiada, desiludida. Os que estão intoxicados pela arrogância interpuseram-se entre ela e o infalível Médico Divino. Vede como eles emaranharam todos os homens, inclusive a si mesmos, no enredo de suas maquinações. Não podem descobrir a causa da enfermidade, nem possuem conhecimento algum do remédio. Conceberam o direito como sendo torto e imaginaram que seu amigo fosse um inimigo.

Inclinai vossos ouvidos à suave melodia deste Prisioneiro. Levantai-vos e erguei vossas vozes para que talvez aqueles que se encontram profundamente adormecidos possam despertar. Dizei: Ó vós que sois como mortos! A Mão da Bondade Divina oferece-vos a Água da Vida. Apressai-vos e sorvei até vos saciardes. Quem tiver renascido neste Dia, não há de morrer jamais; quem permanecer morto, jamais viverá.

Tu escreveste sobre idiomas. Tanto o árabe como o persa são dignos. Aquilo que é desejado de um idioma é que transmita o pensamento de quem se expressa, e ambas as línguas servem a esse propósito. E desde que neste dia o Orbe do conhecimento divino ergueu-Se no firmamento da Pérsia, aquela língua merece todo louvor.

Ó amigo! Quando a Palavra Primordial surgiu entre os homens nestes últimos dias, inúmeras almas celestiais reconheceram a voz do Bem-Amado e deram sua anuência a ela, enquanto outros, achando os feitos de alguns contrários às suas palavras, permaneceram bem afastados dos raios fulgentes do Sol do conhecimento divino.

Dize: Ó filhos do pó! Aquele que é o Espírito da Pureza afirma: Neste Dia glorioso tudo o que puder livrar-vos do aviltamento e assegurar paz e tranqüilidade é, verdadeiramente, o Caminho Reto (2), o Caminho que conduz a Mim. Livrar-se do aviltamento é ficar limpo daquilo que é injurioso ao homem e o afasta de sua elevada condição - como gloriar-se em suas próprias palavras e ações, não obstante seu desmerecimento. A verdadeira paz e tranqüilidade somente serão alcançadas quando cada alma desejar sinceramente o bem-estar de toda a humanidade. Aquele que é o Onisciente é Minha testemunha: pudessem os povos do mundo alcançar o verdadeiro significado das Palavras de Deus, jamais seriam privados de sua porção do oceano de Sua misericórdia. No firmamento da verdade jamais houve, nem haverá, uma estrela mais brilhante que esta.

A primeira elocução dAquele que é o Onisciente é esta: Ó filhos do pó! Volvei vossas faces da escuridão da apatia para a fulgente luz do alvorecer da unidade. Isso é o que, mais que tudo, beneficiará os povos da Terra. Ó amigo! Na árvore da elocução jamais houve, nem haverá, uma folha mais formosa, e no oceano do conhecimento nenhuma pérola mais maravilhosa poderá ser encontrada.

Ó filhos do entendimento! Se a pálpebra, por mais delicada que seja, pode privar a visão externa do homem de contemplar o mundo e tudo o que nele existe, considere então o que pode ocorrer se o véu da cobiça cobrir sua visão interna. Dize: Ó povo! A escuridão da ganância e da inveja obscurece o resplendor da luz do Sol. Se alguém der atenção a esta elocução com discernimento, será capacitado a abrir as asas do desapego e voar tranqüilamente na atmosfera do verdadeiro entendimento.

Em um tempo de escuridão, envolvendo o mundo, surgiu o oceano da misericórdia divina e Sua Luz tornou-se manifesta, para que os feitos dos homens pudessem ser revelados. Esta, verdadeiramente, é a Luz que foi prevista nas escrituras divinas. Se for do agrado do Ser Misericordioso, os corações de todos os homens serão purgados e purificados através de Sua palavra bondosa, e a luz da unidade irradiará seu esplendor sobre toda alma e dará nova vida à Terra inteira.

Ó povo! As palavras devem ser confirmadas por ações, pois ações são o verdadeiro teste das palavras. Sem aquelas, estas não poderão saciar a sede da alma sedenta, nem abrir os portais da visão diante dos olhos de um cego. O Senhor de sabedoria celestial diz: Uma palavra áspera é como uma espada afiada; uma palavra gentil, como leite. Esta conduz os filhos dos homens ao conhecimento e confere a eles a verdadeira distinção.

A Língua da Sabedoria proclama: Aquele que não Me contém está privado de todas as coisas. Afastai-vos de tudo o que seja terreno e a ninguém busqueis senão a Mim. Sou o Sol da Sabedoria e o Oceano do Conhecimento. Desperto o desfalecido e revivo o morto. Sou a Luz-Guia que ilumina o caminho. Sou o Falcão real no braço do Todo-Poderoso. Reanimo as asas enfraquecidas de todo pássaro ferido e o ajudo a reiniciar seu vôo.

O Amigo incomparável disse: O caminho para a liberdade foi aberto; apressai-vos para alcançá-lo. A fonte da sabedoria está jorrando profusamente; sorvei dela à vontade. Diz o Grande Ser: Ó bem-amados! Ergueu-se o tabernáculo da unidade; não vos considereis uns aos outros como estranhos. Sois os frutos de uma só árvore e as folhas do mesmo ramo. Verdadeiramente, digo, tudo o que levar ao declínio da ignorância e aumentar o conhecimento tem sido e será para sempre aprovado aos olhos do Senhor da criação. Dize: Ó povo! Caminhai sob a sombra da justiça e da fidedignidade, e buscai abrigo dentro do tabernáculo da unidade.

Dize: Ó tu que tens olhos para ver! O passado é o espelho do futuro. Contemple-o atentamente e sê bem informado; talvez possas ser ajudado a reconhecer o Amigo e não ser causa de Seu desprazer. Assim, o fruto seleto da árvore do conhecimento é servir ao bem-estar da humanidade e salvaguardar seus interesses.

Dize: A língua foi criada para dar testemunho de Minha verdade; não a corrompas com a falsidade. O coração é o tesouro de Meu mistério; não o entregues nas mãos de desejos corruptos. É nossa esperança que neste dia esplendoroso, quando os fulgentes raios do Sol do conhecimento divino envolvem a Terra inteira, possam todos alcançar o beneplácito do Amigo e saciar-se inteiramente no oceano de Seu reconhecimento.

Ó amigo! Sendo raro encontrar ouvidos atentos, a pena permaneceu silente por algum tempo em seu alojamento. Na verdade, coisas aconteceram que o silêncio teve precedência sobre a elocução e foi considerado como preferível. Dize: Ó povo! Estas palavras são proferidas na proporção devida, para que o recém-nascido possa vicejar e desenvolver-se, e o tenro broto florescer. O leite deve ser dado na porção adequada para que as crianças do mundo possam alcançar o grau de maturidade e fixar residência na corte da unidade.

Ó amigo! Chegamos a um solo puro e nele plantamos as sementes do verdadeiro entendimento. Esperemos, agora, para ver o que os raios do Sol causarão - se farão com que essas sementes feneçam, ou brotem e cresçam. Dize: Pela ascendência de Deus, o Onisciente, o Incomparável, neste dia o Luminar do entendimento divino surgiu detrás do véu do espírito, e os pássaros de todo prado estão intoxicados com o vinho do conhecimento e exultantes com a lembrança do Amigo. Bem estarão aqueles que descobrem e se apressam para Ele!

2 - RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS DE MÁNIKCHÍ SÁHIB DE UMA EPÍSTOLA A Mirza ABU'L-FADL

Com relação ao que você escreveu concernente à sua senhoria o erudito Sáhib, sobre ele esteja a graça de Deus, seu estado mental e disposição são claros e evidentes, como se confirma pelo que adicionalmente enviou. Agora, quanto às perguntas que fez, não foi julgado aconselhável referir-se e responder a cada uma separadamente, pois as respostas iriam contra à sabedoria e seriam incompatíveis com aquilo que é corrente entre os homens. Mesmo assim, naquilo que foi revelado em sua honra do céu da graça divina, as respostas foram providas em uma linguagem de maravilhosa concisão e clareza. Mas parece que ele falhou em considerar o assunto mais profundamente, pois de outra forma teria admitido prontamente que nenhum único ponto foi omitido e teria exclamado: "Isso nada mais é do que uma clara e conclusiva elocução!"

Suas perguntas foram as seguintes.

Primeiro: "Os Profetas de Mahábád, juntamente com Zoroastro, foram vinte e oito em número. Cada um deles buscou exaltar, em vez de abolir, a fé e a religião dos outros. Cada um deles dá testemunho da verdade e da autenticidade das leis e das religiões anteriores, e nenhuma palavra menciona sobre aboli-las. Cada um deles declara: 'Somos os portadores de uma Revelação de Deus, a qual transmitimos a Seus servos.' Alguns dos Profetas hindus, porém, declararam: 'Nós somos o próprio Deus, e incumbe à inteira criação submeter-se a Nós. Sempre que alguma dissensão e conflito surgir entre os homens, Nós levantamo-Nos para debelá-los.' Cada um que se revelou anunciou: 'Eu sou O mesmo que Se revelou no início.' Os últimos Profetas, tais como Davi, Abraão, Moisés e Jesus confirmam a veracidade dos Profetas que os precederam, mas disseram: 'Tal foi a lei no passado, mas neste dia a lei é aquela que Eu proclamo.' O Profeta árabe, porém, disse: 'Com Meu surgimento toda lei se provou defeituosa e nenhuma lei permanecerá senão a Minha.' Qual desses credos é aceitável e qual desses líderes deve ser o preferido?"

Deve ser primeiramente observado que, em um sentido, os graus dos Profetas de Deus diferem um do outro. Por exemplo, considere Moisés. Ele revelou um Livro e estabeleceu mandamentos, enquanto que inúmeros Profetas e Mensageiros que surgiram depois dEle foram incumbidos de promulgar as Suas leis, enquanto elas permaneces- sem em consonância com as necessidades da época. Os livros e crônicas anexados à Tora são eloqüentes testemunhos desta verdade.

Com relação à afirmativa atribuída ao Autor do Alcorão: "Com Meu surgimento toda lei se provou defeituosa e nenhuma lei permanecerá senão a Minha", nenhuma dessas palavras, porém, jamais havia sido expressada por aquela Fonte e Origem de sabedoria divina. Mais ainda, Ele confirmou o que havia sido enviado do império da Vontade Divina aos Profetas e Mensageiros de Deus. Disse, exaltada seja Sua elocução: "Alif. Lám. Mím. Deus! Não existe outro Deus senão Ele, o Vivente, o Subsistente. Ele é Aquele que enviou a Ti o Livro através do poder da verdade, confirmando aqueles que o precederam. Ele revelou anteriormente a Tora e o Evangelho como guia aos homens, e agora revelou o Alcorão..."3 Ele, ainda mais, afirmou que todos os Profetas provieram de Deus e que a Ele retornaram. Visto sob esta luz, todos eles são um único e o mesmo Ser, visto não terem proferido uma palavra sequer, trazido uma mensagem ou revelado uma causa por vontade própria. Não somente isso, tudo o que disseram proveio do Deus verdadeiro, exaltada seja Sua glória. Convocaram todos os homens ao Horizonte Supremo e lhes concederam as boas-novas da vida eterna. Assim, as diversas afirmativas mencionadas por sua senhoria o Sáhib devem ser vistas como letras concordantes, isto é, letras de uma mesma palavra.

Concernente à pergunta: "Qual desses credos é aceitável e qual desses líderes deve ser o preferido?", este é o grau no qual as seguintes abençoadas palavras brilham resplandecentes como o Sol: "Nenhuma distinção fazemos nós entre quaisquer de Seus Mensageiros!"(4), enquanto que o verso: "A alguns dos Apóstolos Nós fizemos exceder a outros."(5) situa-se em outro grau do qual já fizemos menção. Na verdade, a resposta a tudo o que sua senhoria o Sáhib perguntou encontra-se entesourada dentro desta incomparável elocução, poderosa e toda-abrangente, santificada e exaltada seja Sua palavra: "Quanto a tua pergunta concernente às Escrituras divinas: O Médico Onisciente tem Seu dedo no pulso da humanidade. Ele percebe o mal e, com sua infalível sabedoria, prescreve o remédio. Cada era tem seu próprio problema e cada alma sua especial aspiração. O remédio que o mundo necessita em suas aflições hodiernas não pode ser, jamais, o mesmo daquele requisitado por uma era subseqüente. Cuidai zelosamente das necessidades da era em que viveis e concentrai vossas deliberações em suas exigências e seus requisitos."(6) Toda alma justa dará testemunho de que estas palavras devem ser vistas como um espelho do conhecimento de Deus, no qual tudo o que foi perguntado está refletido de forma clara e insofismável. Bem-aventurado é aquele que foi dotado por Deus com olhos que enxergam, o Onisciente, a Suprema Sabedoria.

Outra pergunta feita pelo distinguido Sáhib é a seguinte: "Existem quatro escolas de pensamento no mundo. Uma escola afirma que todos os mundos visíveis, dos átomos aos sóis, constituem o próprio Deus e que nada pode ser visto senão Ele. Outra escola declara que Deus é aquela Essência que necessariamente deve existir, que Seus Mensageiros são os intermediários entre Deus e Suas criaturas, e que sua missão é conduzir a humanidade até Ele. Ainda outra escola afirma que as estrelas foram criadas por um Ser Necessário(7), enquanto que as outras coisas são seu efeito e conseqüência. Essas coisas continuamente aparecem e desaparecem, mesmo as mais ínfimas criaturas geradas em uma poça de água. Uma outra escola mantém a afirmação que o Ser Necessário modelou a Natureza através do efeito e do intermédio sobre todas as coisas, desde os átomos até os sóis, aparecem e desaparecem sem começo nem fim. Que necessidade há, então, de um relato ou de uma avaliação? Assim como a grama cresce com a vinda da chuva e definha depois, assim é também com todas as coisas. Se os Profetas e os reis instituíram leis e mandamentos, os proponentes dessa escola afirmam ter sido apenas para preservar a ordem civil e organizar a sociedade humana. Os Profetas e os reis, porém, agiram de diferentes formas: os primeiros disseram "Deus assim falou" para que o povo possa submeter-se e obedecer, enquanto que os segundos recorreram à espada e ao canhão. Qual dessas quatro escolas tem aprovação aos olhos de Deus?

A resposta a tudo isso se encontra na primeira elocução procedente da língua do Todo-Misericordioso. Por Deus! Ela abrange e engloba tudo o que foi mencionado. Ele disse: "Cuidai zelosamente das necessidades da era em que viveis, e concentrai vossas deliberações em suas exigências e seus requisitos." Pois neste dia Aquele que é o Senhor da Revelação surgiu e falou no Sinai em altas vozes. O que quer que Ele ordene é a base mais sólida para as mansões edificadas nas cidades da sabedoria e do conhecimento humano. Aquele que se atém firmemente a ela será reconhecido aos olhos do Todo-Poderoso entre os que são dotados de percepção.

Essas palavras sublimes procederam da Pena do Altíssimo. Ele disse, exaltada seja Sua glória: "Este é o dia da visão, pois o semblante de Deus brilha com resplendor sobre o horizonte da Manifestação. Este é o dia de ouvir, pois o chamado de Deus foi proferido. Incumbe a todos neste dia apoiar e proclamar aquilo que foi revelado por Aquele que é o Autor de todas as escrituras, a Alvorada da revelação, a Fonte do conhecimento e a origem da sabedoria divina." Assim, é claro e evidente que a resposta à sua pergunta foi revelada no reino da elocução por Aquele que é o Expoente do conhecimento do Todo-Misericordioso. Felizes os que entendem.

Quanto às quatro escolas mencionadas acima, é claro e evidente que a segunda está mais próxima da eqüidade.(8) Pois os Apóstolos e Mensageiros de Deus sempre foram os canais de Sua graça abundante, e seja lá o que for que o ser humano tenha recebido de Deus foi sempre por intermédio dessas Incorporações da santidade e Essências da abnegação, aqueles Repositórios de Seu conhecimento e Manifestantes de Sua Causa. Alguém pode, porém, apresentar justificações decorrentes das doutrinas de outras escolas, pois em um sentido todas as coisas sempre foram e para sempre serão as manifestações dos nomes e atributos de Deus.

Quanto à referência do Sáhib aos reis, eles são, em verdade, as manifestações do nome de Deus "o Todo-Poderoso" e os reveladores de Seu nome "o Onipotente". O ornamento que melhor se adapta aos seus gloriosos templos é a justiça. Se forem adornados com ela, a humanidade usufruirá perfeita tranqüilidade e infinitas bênçãos.

Aquele que saciar sua sede com o vinho do conhecimento divino será em verdade capaz de responder tais perguntas com provas claras e insofismáveis do mundo externo e com manifestas e luminosas evidências do mundo interior. Uma Causa diferente, porém, surgiu neste dia e um discurso diferente se faz necessário. Na verdade, com o surgimento do ano nove o tempo para perguntas e respostas chegou ao fim. Assim, Ele, santificado e magnificado seja Seu nome, disse: "Este não é o dia para qualquer pessoa questionar seu Senhor. Quando ouvires o chamado de Deus, proferido por Ele que é a Alvorada da grandeza, responda em voz alta: 'Aqui estou, ó Senhor de todos os nomes! Aqui estou, ó Criador dos céus! Dou testemunho de que Te revelaste e revelaste tudo o que desejaste por Tua própria vontade. Tu, verdadeiramente, és o Senhor de força e poder.'"

A resposta a tudo o que o distinguido Sáhib perguntou é clara e evidente. A finalidade de tudo que foi exposto em sua honra, provindo do céu da providência divina, foi que ele deve dar ouvidos às maravilhosas melodias do Pombo da Eternidade e aos suaves murmúrios dos habitantes do mais excelso Paraíso, que ele possa perceber a doçura do chamado e pôr-se logo a caminho.

Um dia a Língua da Glória expressou uma palavra em relação ao Sáhib indicando que ele podia em breve ser ajudado a realizar um feito que iria imortalizar seu nome. Quando a carta dele foi recebida nesta sagrada e mais exaltada Corte, Ele disse: "Ó Servo em serviço! Embora sua senhoria Mánikchí tenha escrito somente para perguntar sobre os dizeres de outros, de Sua carta inalamos os doces aromas da afeição. Imploro ao Deus verdadeiro que generosamente o ajude a fazer o que for de Sua vontade e prazer. Seu poder, em verdade, é igual a todas as coisas." Desta elocução do Todo-Misericordioso pode-se sentir o exalar de uma aragem perfumada. Ele, verdadeiramente, é o Onisciente, O de tudo informado.

Um outro questionamento feito por ele é o seguinte: "As leis do Islã baseiam-se nos princípios e jurisprudência religiosos(9), mas nas religiões Mahábád e Hindu existem somente princípios, e todas as leis, mesmo aquelas a respeito de beber água ou dar e receber em casamento, são consideradas como parte destes princípios, tal como todos os assuntos da vida humana. Por favor, indique qual visão é aceitável aos olhos de Deus, exaltada seja Sua menção."

Os princípios religiosos têm vários graus e condições. A raiz de todos os princípios e a pedra angular de todos os alicerces foi sempre, e assim permanecerá, o reconhecimento de Deus. E estes dias são em verdade o período primaveril do reconhecimento do Todo-Misericordioso. Tudo o que procede, neste dia, do Repositório de Sua Causa e da Manifestação de Seu Ser é, em verdade, o princípio fundamental ao qual todos devem submissão.

A resposta a esta pergunta está também imbuída nestas abençoadas, nestas poderosas e exaltadas palavras: "Cuidai zelosamente das necessidades da era em que viveis, e concentrai vossas deliberações em suas exigências e seus requisitos." Pois este dia é o Senhor dos dias, e o que quer que seja que tenha sido e venha a ser revelado pela Fonte da Revelação divina é a verdade e a essência de todos os princípios. Este dia pode ser comparado com um mar e todos os outros dias como golfos e canais que dele surgem. O que é dito e revelado neste dia é a base fundamental e é considerado como o Livro-Mãe e a Origem de toda elocução. Embora todos os dias estejam associados com Deus, magnificada seja Sua glória, ainda assim estes dias foram destacados e adornados com o ornamento da íntima associação com Ele, pois foram exaltados nos livros Escolhidos de Deus, como também de alguns de Seus Profetas, como o "Dia de Deus". Em um sentido, este dia e tudo aquilo que nele surgiu devem ser considerados como os princípios fundamentais, enquanto que os outros dias são vistos como mandamentos secundários deles decorrentes, e que com eles estão relacionados e lhes são subordinados. Por exemplo, ir regularmente à mesquita é secundário quanto ao reconhecimento de Deus, pois aquele ato é dependente e condicionado a este último. Quanto aos princípios correntes entre os sacerdotes desta época, são meramente um conjunto de regras que eles mesmos criaram e dos quais inferem, cada qual de acordo com suas próprias opiniões e inclinações, quais devem ser os mandamentos de Deus.

Considere, por exemplo, a questão da aceitação imediata ou seu adiamento. Deus, exaltada seja Sua glória, diz: "Comei e bebei..."(10) Agora, não se sabe se este mandamento deve ser cumprido imediatamente ou se sua execução precisa ser adiada, justificadamente. Alguns crêem que pode ser decidido por circunstâncias externas. Certa vez um dos destacados sacerdotes de Najaf partiu em visita ao Santuário do Imame Husayn, a paz esteja com Ele, acompanhado de vários de seus discípulos. No curso da jornada foram atocaiados por um grupo de beduínos. O sacerdote em questão imediatamente entregou aos assaltantes todas as suas posses. Foi quando um de seus alunos exclamou: "Sua eminência sempre postergou decisões sobre assuntos como esse. O que vos levou a agir agora com tanta rapidez?" Apontando para as lanças dos beduínos, respondeu: "A força das circunstâncias externas, meus amigos!"

O fundador dos princípios da jurisprudência islâmica foi Abú-Hanífih, que era um proeminente líder dos sunitas. Tais princípios já existiam desde tempos remotos, como já foi mencionado. Neste dia, porém, a aprovação ou rejeição das coisas depende inteiramente da Palavra de Deus. Essas diferenças não precisam ser mencionadas. O olho da misericórdia divina lançou seu olhar sobre tudo o que é do passado. Incumbe a Nós mencioná-los somente em termos positivos, pois eles não contradizem o que é essencial. Este servo dá testemunho de sua ignorância e confirma que todo conhecimento está com Deus, o Amparo no Perigo, O que subsiste por Si próprio.

Neste dia, o que quer que seja contrário aos Ensinamentos deve ser rejeitado, pois o Sol da Verdade brilha com esplendor sobre o horizonte do conhecimento. Felizes aqueles que, com as águas da elocução divina, purificaram seus corações de todas as alusões, sussurros e sugestões, e que fixaram seu olhar na Alvorada da Glória. Esta, em verdade, é a maior misericórdia e a mais pura generosidade. Quem quer que a tenha alcançado conseguiu todo o bem possível, pois de outra forma o conhecimento de tudo o mais exceto Deus jamais provou ser, nem jamais poderá ser proveitoso aos homens.

Aquilo que foi mencionado em relação aos princípios religiosos e às determinações secundárias referem-se aos pronunciamentos que os sacerdotes de diversas religiões têm feito, cada qual de acordo com sua própria capacidade. No momento, porém, cabe a todos nós seguirmos Sua imposição de "deixá-los às suas próprias disputas".(11) Ele, verdadeira- mente, fala a verdade e indica o caminho. O decreto é de Deus, o Todo-Poderoso, o Todo-Misericordioso.

Outra de suas perguntas: "Alguns afirmam que tudo o que estiver de acordo com os ditames da natureza e do intelecto deve ser não só permitido como compulsório na lei divina, e certo está aquele que se abstém de observar o que é incompatível com esses padrões. Outros crêem que tudo o que foi aprovado pela lei divina e por seu abençoado Autor deve ser aceito sem prova racional ou evidência natural, e obedecido sem questionamento ou reserva, como a marcha entre Safa e Marwah, o apedrejamento do pilar de Jamrah (12), lavar os pés antes das abluções, e assim por diante. Por favor, indique quais dessas posições são aceitáveis."

O intelecto tem vários graus. Como a discussão dos pronunciamentos feitos pelos filósofos sobre este assunto estaria além do escopo de nosso discurso, contivemo-Nos de mencioná-los. É sem dúvida alguma indiscutivelmente claro e evidente que as mentes humanas jamais foram, nem jamais serão capazes de igual capacidade. Somente o Intelecto Perfeito pode prover a guia e a direção. Assim, fossem estas sublimes palavras reveladas pela Pena do Mais Elevado, exaltada seja Sua glória, em resposta a essa pergunta: "Quem de Mim se isolar, estará privado de todas as coisas. Evitai tudo o que está na terra e buscai a ninguém mais senão a Mim. Sou o Sol da Sabedoria e o Oceano do Conheci- mento. Reanimo o desfalecido e revivo o morto. Sou a Luz que guia e ilumina o caminho. Sou o Falcão real no braço do Todo-Poderoso. Desdobro as asas enfraquecidas de todo pássaro ferido e o desperto para seu vôo."(13)

Considere como a resposta foi claramente revelada do céu do conhecimento divino. Bem-aventurados aqueles que ponderam e refletem sobre ela e que apreendem seu significado! Por Intelecto, acima mencionado, queremos dizer a Mente divina universal. Quão freqüentemente tem sido observado que determinadas mentes humanas, longe de ser uma fonte de guia, tornaram-se como grilhões nos pés dos caminhantes, impedindo-os de trilharem o Caminho correto! O intelecto menor estando assim circunscrito, a pessoa deve voltar-se para Ele, Aquele que é a Fonte suprema do conhecimento e esforçar-se para reconhecê-Lo. E se alguém vier a reconhecer aquela Fonte em torno da Qual todas as mentes circulam, então qualquer coisa que Ele ordenar será a expressão das determinações de uma consumada sabedoria. Seu próprio Ser, assim como o sol, é distinto de tudo o mais exceto dEle próprio. O dever do homem é reconhecê-Lo; e uma vez tendo feito isso, saberá que o que Lhe agrade ordenar é obrigatório e estará em completa harmonia com as exigências da sabedoria divina. Desta forma, as determinações e proibições, quaisquer que sejam, foram reveladas pelos Profetas do passado, mesmo dos tempos mais antigos.

Determinadas ações realizadas neste dia têm o objetivo de exaltar o nome de Deus, e a Pena do Altíssimo fixou uma recompensa para aqueles que as realizam. Na verdade, se alguma alma expressar-se, mesmo de forma tênue, e mencionar o nome de Deus, sua recompensa tornar-se-á manifesta, como atesta este poderoso verso que foi enviado do firmamento da Vontade Divina do Senhor de Meca,(14) louvado e glorificado seja Ele: "Nós não apontamos o que Tu querias fosse o Qiblih, para somente assim conhecermos aquele que segue o Apóstolo e podermos distingui-lo daquele que tergiversa."(15)

Fosse alguém meditar sobre esta abençoada e transcendente Revelação, e ponderar sobre os versos que foram revelados, prontamente daria testemunho que o verdadeiro Deus está incomensuravelmente exaltado acima de Suas criaturas, e que o conhecimento de todas as coisas sempre esteve e para sempre estará unicamente com Ele. Toda alma justa, ainda mais, dará testemunho de que quem quer que deixe de reconhecer a verdade desta mais grandiosa Revelação ver-se-á impossibilitado e impotente para estabelecer a validade de qualquer outra causa ou crença. E quanto àqueles que se privaram do manto da justiça e se levantaram para promover a causa da iniqüidade, estarão dando ouvidos àquilo que os expositores do ódio e do fanatismo têm mencionado desde tempos imemoriais. O conhecimento de todas as coisas pertence a Deus, O de tudo informado, o Onisciente.

Certo dia, quando este servo encontrava-se em Sua presença, foi-me perguntado: "Ó servo em serviço! Com o que estás ocupado?" "Estou escrevendo uma resposta" respondi, "à sua senhoria Mirza Abu'l-Fadl." Foi-me ordenado: "Escreva para Mirza Abu'l-Fadl, que Minha glória esteja com ele, e diga: 'Assuntos ocorreram de tal forma que os povos do mundo ficaram acostumados à iniqüidade e fugiram da justiça e imparcialidade. Uma Manifestação divina que louva e magnifica o Deus verdadeiro, exaltada seja Sua glória, Aquele que deu testemunho de Seu conhecimento e confessou que Sua Essência está santificada acima de toda comparação - tal Manifestação foi chamada, várias vezes, de um adorador do Sol ou um adorador do fogo. Quão numerosos são aquelas sublimes Manifestações e Reveladores do Divino, cuja verdadeira posição o povo continua ignorando inteiramente, de cuja graça estão totalmente privados e ainda mais, que Deus os perdoe, a Quem amaldiçoam e maltratam!

"'Um dos grandes Profetas, a Quem os néscios da Pérsia neste dia rejeitam, proferiu as seguintes palavras: "O Sol é apenas uma massa densa e esférica. Não merece ser chamado de Deus ou de Todo-Poderoso. Pois o todo-poderoso Senhor, é Aquele que a compreensão humana jamais poderá conceber, que nenhum conhecimento terreno poderá circunscrever, e cuja Essência ninguém jamais pôde nem poderá sondar." Considere quão eloqüente- mente, quão solenemente Ele afirmou a verdade insofismável que Deus está proclamando neste dia. E ainda assim Ele não é considerado um crente por aqueles néscios e desprezíveis, e nem ao menos é visto como possuidor de uma condição sublime! Em outra conexão, Ele disse: "Toda existência surgiu de Sua existência, e se não fosse por Deus nenhuma criatura jamais existiria e seria ornada com a veste do ser humano." Que o Senhor nos proteja de toda a maldade desses que contestam a verdade de Deus e de Seus amados, e viram as costas para a Alvorada à qual todos os Livros de Deus, o Auxílio no Perigo, O que subsiste por Si próprio, dão testemunho.'"

Daquilo que foi mencionado, fica claro que nem todo intelecto pode ser o critério da verdade. Os verdadeiros sábios são, em primeiro lugar, os Escolhidos de Deus, magnificada seja Sua glória - Aqueles que Ele escolheu para serem os Tesouros de Seu Conhecimento, os Repositórios de Sua Revelação, as Alvoradas de Sua autoridade e as Auroras de Sua sabedoria, Aqueles que foram escolhidos como Seus representantes na Terra e através dos Quais revelou aquilo que era Seu propósito tornar conhecido aos homens. Quem se volta para Eles volta-se para Deus, e aquele que se afasta não será lembrado na presença de Deus, o Onisciente, a Suprema Sabedoria.

O critério universal é o que foi mencionado. Quem quer que o adote, isto é, que reconheça e aceite a Aurora da Revelação de Deus, será mencionado no Livro de Deus entre aqueles que são dotados de entendimento. De outra forma, a pessoa seria apenas uma alma ignorante, embora crendo ser possuidora de toda sabedoria. Agora, pudesse alguém encontrar-se na presença de Deus, santificar sua alma dos apegos terrenos e das más intenções, e refletir sobre aquilo que foi revelado nesta maior Revelação desde seu início até os dias atuais, ele prontamente reconheceria que toda alma abnegada, toda mente perfeita, ser santificado, ouvido atento, olho penetrante, língua eloqüente e coração alegre e radiante circundaria e se curvaria, melhor, se prostraria em submissão diante do poderoso trono de Deus.

Outra de suas perguntas é esta: "Entre os Manifestantes do passado um deles, em Seu tempo, permitiu que se comesse carne, enquanto outro o proibiu; um permitiu comer carne de porco enquanto outro o proibiu. Assim, seus mandamentos diferem. Imploro ao Ser Verdadeiro, exaltado seja Seu nome, que, por generosidade especifique as proibições religiosas apropriadas."

Uma resposta direta e uma explanação detalhada deste assunto ultrapassaria os limites da sabedoria, tendo em vista também que pessoas de diversas fés estão juntas com o distinguido Sáhib, e uma reposta direta seria contrária às leis do Islã. A resposta, portanto, foi enviada do céu da Vontade Divina de uma forma implícita. Na verdade, a declaração na primeira passagem, onde Ele diz: "O Médico Onisciente tem Seu dedo no pulso da humanidade" foi e será a resposta à sua inquirição. Mais adiante, disse também: "Cuidai zelosamente das necessidades da era em que viveis e concentrai vossas deliberações em suas exigências e seus requisitos." Isto é, fixai vosso olhar nos mandamentos de Deus, pois tudo o que Ele ordena neste dia e define como lícito representa a verdade legítima. Incumbe a todos voltarem seus olhos para a Causa de Deus e observarem tudo o que tenha sido revelado do horizonte de Sua Vontade, já que é através da potência de Seu nome que a bandeira de "Ele faz o que deseja" será desfraldada e o estandarte de "Ele ordena o que Lhe apraz" foi levantado nas alturas. Por exemplo, afirmasse Ele que a própria água estava proibida, seu uso, em verdade, tornar-se-ia ilícito, e o contrário seria também verdadeiro. Pois, sobre coisa alguma foi inscrito que "isto é lícito" ou "isto é ilícito"; ou, melhor dizendo, tudo o que tem sido ou será revelado ocorre em virtude da Palavra de Deus, exaltada seja a Sua glória.

Estes assuntos são suficientemente claros e não precisam de explicações adicionais. Mesmo assim, alguns grupos acreditam que todos os mandamentos correntes entre eles são inalteráveis, que foram sempre válidos e que assim permanecerão para sempre. Considere uma passagem adicional, glorificado e exaltado seja Ele: "Estas palavras estão sendo proferidas na medida adequada, para que os recém-nascidos possam se desenvolver e para que floresçam novos e delicados renovos. O leite deve ser dado na proporção devida, para que as crianças do mundo possam alcançar a condição de maturidade e habitem na mesma corte da unicidade."(16) Por exemplo, alguns crêem que o vinho foi sempre proibido e assim será para sempre. Agora, se alguém informasse a eles que algum dia poderá ser lícito, levantar-se-iam em protesto e oposição. Na verdade, os povos do mundo ainda não entenderam o significado de "Ele faz tudo aquilo que deseja", nem compreenderam o significado de Suprema Infalibilidade. A criança lactente deve ser alimentada com leite. Se lhe for dado carne certamente perecerá, e isso nada mais seria que manifesta injustiça e falta de inteligência. Bem-aventurados são aqueles que entendem. Suprema Infalibilidade, como ouvi uma vez de Seus abençoados lábios, está restrita exclusivamente aos Manifestantes da Causa de Deus e aos Expoentes de Sua Revelação. Este assunto é mencionado apenas resumidamente pois o tempo é curto e raro como a fênix legendária.

Ainda outra pergunta: "De acordo com os ensinamentos de Mahábád e das religiões hindus, se uma pessoa, qualquer que seja a sua fé ou nação, de qualquer cor, aparência, caráter ou condição, se dispuser a se associar com você, receberia toda a atenção e tratamento bondoso como é dado a um irmão. Mas em outras religiões isso não ocorre: seus seguidores maltratam e oprimem os membros de outras fés, consideram perseguição a eles um ato de adoração, e aceitam seus companheiros de fé e suas possessões como lícitos. Qual enfoque é aceitável aos olhos de Deus?"

A primeira declaração sempre foi e continuará sendo verdadeira. Não é permissível entrar em contenda com quem quer que seja, nem é aceitável, aos olhos de Deus, maltratar ou oprimir qualquer alma. Repetidamente, estas sublimes palavras fluíram da Pena do Altíssimo, abençoado e exaltado seja Ele: "Ó vós filhos dos homens! O desígnio fundamental que anima a Fé de Deus e Sua Religião é a proteção dos interesses e a promoção da unidade da raça humana; consiste em nutrir o espírito de amor e amizade entre os seres humanos. Não permitais que se torne fonte de dissensão e discórdia, de ódio e inimizade." Este assunto já foi definido e explicado em várias Epístolas.

Incumbe a ele que expõe a Palavra de Deus expressá-la com a maior boa vontade, bondade e compaixão. Quanto àquele que aceita esta verdade e teve a honra de reconhecê-Lo, seu nome será registrado no Livro Carmesim entre os habitantes do altíssimo Paraíso. Se uma alma, porém, deixar de aceitar esta verdade, não é permitido de forma alguma contender com ela. Em outra conexão, Ele disse: "Bem-aventurado e feliz é aquele que se levanta para promover os melhores interesses dos povos e raças da Terra." Igualmente disse: "O povo de Bahá deve pairar bem alto acima dos povos do mundo." Em assuntos de religião, toda forma de fanatismo, ódio, dissensão e contenda é estritamente proibida.

Neste dia, um Luminar surgiu no horizonte da providência divina, sobre cuja fronte a Pena de Glória inscreveu estas exaltadas palavras: "Nós vos criamos para expressar amor e fidelidade, não animosidade e ódio." Da mesma forma, em outra ocasião, Ele - exaltado e glorificado seja Seu nome - revelou as seguintes palavras na língua persa, palavras que enriquecem os corações dos favorecidos e dos sinceros entre Seus servos, que harmonizam os diferentes empreendimentos dos seres humanos, a humanidade é iluminada pela luz da unidade divina e os seres humanos capacitados a volverem-se em direção da Aurora do conhecimento divino: "O incomparável Amigo disse: O caminho para a liberdade foi estendido; apressai-vos para ele. A fonte da sabedoria está transbordante; saciai nela vossa sede. Dize: Ó bem-amados! Ergueu-se o tabernáculo da unidade; não vos considereis uns aos outros como estranhos. Sois os frutos de uma só árvore e as folhas do mesmo ramo."(17)

A justiça, que consiste em conceder a cada um o que lhe é devido, depende e está condicionada a duas palavras: recompensa e punição. Do ponto de vista da justiça, toda alma deve receber recompensa por suas ações, ainda mais que a paz e a prosperidade do mundo delas depende, como Ele mesmo afirmou, exaltada seja Sua glória: "A estrutura da estabilidade e ordem do mundo se erigiu sobre os pilares gêmeos da recompensa e da punição, e por estes continuará a ser sustentada." Em resumo, toda circunstância exige uma diferente elocução, e toda ocasião pede um curso diferente de ação. Abençoados são aqueles que se levantam para servir a Deus, expressam-se inteiramente por Sua causa, e que a Ele retornam.

Outra de suas perguntas: "Hindus e zoroastrianos não admitem ou dão boas-vindas a estranhos que desejam unir-se às suas fileiras. Os cristãos recebem bem os que decidem, por vontade própria, abraçar a sua religião, mas não se esforçam nem exercem qualquer pressão nesse sentido. Muçulmanos e judeus, porém, insistem nesse ponto, compartilham sua fé com os outros e, se alguém recusar, tornam-se hostis e consideram lícito prender seus semelhantes e apoderar-se de seus bens. Qual o tratamento é aceitável aos olhos de Deus?"

Os filhos dos homens são todos irmãos, e os pré-requisitos da fraternidade são muitos. Entre eles está aquele que determina que se deseje aos semelhantes aquilo que a pessoa deseja para si mesma. Portanto, cabe àquele que recebe qualquer dádiva divina, interna ou externa, ou que compartilha do pão celestial, informar e convidar seus amigos com o mais profundo amor e bondade. Se estes responderem favoravelmente, seu objetivo terá sido alcançado; se não, deve-se deixá-los aos seus próprios cuidados, sem contender com eles ou expressar qualquer palavra que possa lhes causar qualquer tristeza. Esta é indubitavelmente a verdade e tudo o mais será indigno e não apropriado.

O distinguido Sáhib, que Deus generosamente o ajude, escreveu que os hindus e os zoroastrianos não permitem nem acolhem com boas-vindas os estranhos que desejam unir-se às suas fileiras. Isso é contrário ao propósito básico do advento dos Mensageiros de Deus e a tudo o que revelaram em seus Livros. Pois Aqueles que Se manifestaram em nome de Deus receberam a incumbência de guiar e educar a todas as pessoas. Como poderiam impedir que quem busque alcance o objeto de sua busca, ou proibir ao caminhante realizar o desejo de seu coração? Os Templos-de-Fogo do mundo permanecem como um eloqüente testemunho desta verdade. Em Seu tempo, convocavam, com ardoroso zelo, todos os habitantes da Terra para Aquele que é o Espírito da pureza.

Ele escreveu também que os cristãos recebem com boas-vindas aqueles que decidem, por vontade própria, abraçar sua religião, mas não se esforçam nem exercem qualquer pressão nesse sentido. Isso, porém, é um mal-entendido. Pois os cristãos sempre exerceram e continuam exercendo grandes esforços para o ensino de sua fé. Suas organizações eclesiásticas têm uma despesa de cerca de trinta milhões. Seus missionários estão espalhados por todas as partes do mundo e estão assiduamente engajados em ensinar o cristianismo. Desta forma espalharam-se pelo mundo inteiro. Quão numerosas são as escolas e as igrejas que fundaram para educar as crianças, embora seu alvo maior seja que essas crianças tornem-se conhecedoras, desde tenra infância, do Evangelho de Jesus Cristo, e que os espelhos polidos de seus corações possam, desta forma, refletir o que seus professores fundamentalmente desejam. Na verdade, os seguidores de nenhuma outra religião têm tão firme intenção de propagar sua fé como os cristãos.

Em síntese, o que é correto e verdadeiro neste dia e aceitável diante de Seu Trono é aquilo que foi mencionado no início. Todos os homens foram criados para a melhoria do mundo. Incumbe a cada alma levantar-se e servir aos seus irmãos em nome de Deus. Se alguém deseja abraçar a verdade, deve regozijar-se com isso, pois seu irmão alcançou a graça eterna. Isso não ocorrendo, deve implorar a Deus para guiá-lo, não manifestar o mínimo traço de animosidade ou mal-estar para com seu irmão. As rédeas do comando estão nas mãos de Deus. Ele faz o que deseja e ordena como Lhe apraz. Ele, em verdade, é o Todo-Poderoso, por todos louvado.

Pedimos ao Deus verdadeiro, magnificada seja Sua glória, para nos capacitar a reconhecer Aquele cuja infalível sabedoria permeia todas as coisas e que possamos reconhecer Sua verdade. Pois, tendo alguém reconhecido a Ele e dado testemunho de Sua Realidade, não mais será abalado pelas inúteis fantasias e vãs imaginações dos homens. O Médico divino tem o pulso da humanidade em Suas poderosas mãos. É possível que algumas vezes possa desejar cortar alguns membros infectados, para que o mal não se espalhe para outras partes do corpo. Isso seria a verdadeira essência da misericórdia e compaixão, e a ninguém é dado o direito de objetar, pois Ele, em verdade, é Onisciente e Onividente.

Outra de suas perguntas: "Nas religiões de Mahábád e Zoroastro está dito: 'Nossa fé e religião são superiores a qualquer outra. Os outros Profetas e as religiões que instituíram são verdadeiras, mas ocupam diferentes graus perante Deus, como ocorre na corte de um rei, onde existem diferentes graus, desde o primeiro-ministro até um soldado comum. Quem quiser que observe os preceitos de sua religião.' Nada impõem também contra qualquer alma. Os hindus afirmam que quem deseje comer carne, por qualquer razão ou qualquer que seja a circunstância, jamais terá sequer um vislumbre do Paraíso. Os seguidores de Muhammad, Jesus e Moisés afirmam que um destino similar espera aqueles que falham em manterem-se fiéis. Qual crença tem a aprovação de Deus, glorificado seja Sua menção?"

Com relação à afirmação de que "nossa fé e nossa religião são superiores a qualquer outra", com isso referem-Se aos Profetas que surgiram antes dos Seus. Consideradas de uma perspectiva realista, essas santas Almas são uma só: a primeira entre Elas é a mesma que a última, e a última é a mesma que a primeira. Todas procedem de Deus e a Elas têm convocado todos os homens, e a Ele todas também retornarão. Este tema já foi tratado no Livro da Certeza, o qual é na verdade a estrela-guia de todos os livros, e que proveio da Pena da Glória nos primeiros anos desta Mais Grandiosa Revelação. Abençoado é aquele que o contemplou e refletiu sobre seu conteúdo por amor a Deus, o Senhor da criação.

Quanto à referência feita aos hindus que qualquer pessoa que consuma carne jamais terá sequer um vislumbre do Paraíso, tal afirmativa é contrária a suas outras asserções de que todos os Profetas são verdadeiros. Pois se sua verdade for confirmada, então seria absurdo afirmar que seus seguidores não ascenderiam ao Paraíso. Poder-se-ia perguntar o que eles querem dizer com Paraíso e o que entenderam a respeito. Neste dia, quem quer que alcance o beneplácito do verdadeiro Deus, magnificada seja Sua glória, será lembrado e contado entre os habitantes do mais elevado Céu e do mais exaltado Paraíso, e compartilhará de Seus benefícios em todos os mundos de Deus. Por Aquele que é o Desejo de todos os homens! A pena é impotente para retratar esta condição, ou expor este tema. Quão grande é a bênção daquele que alcançou o beneplácito de Deus, e ai do negligente! Estabelecida a validade de um Profeta divinamente designado, a ninguém é dado o direito de perguntar os porquês e motivos. Melhor dizendo, incumbe a todos aceitarem e obedecerem tudo o que Ele tenha dito. Isso é o que Deus decretou em todos os Seus Livros, Escrituras e Epístolas.

Uma pergunta adicional que ele fez: "Os hindus afirmam que Deus moldou o intelecto na forma de um homem chamado Brahma, o Qual veio a este mundo e foi causa de seu progresso e desenvolvimento, e que os hindus são Seus descendentes. Os seguidores de Zoroastro dizem: 'Deus, através da ação do Intelecto Primário, criou um homem cujo nome é Mahábád, que é nosso ancestral.' Eles crêem que as formas de criação são seis em número. Dois foram mencionados acima; os outros são criações da água, terra, fogo, e dos ursos e macacos. Os hindus e os zoroastrianos ambos afirmam que foram criados do Intelecto, e assim não admitem outros em seus apriscos. São essas afirmativas verdadeiras ou não? Aquele sábio Mestre é solicitado a indicar o que julgar apropriado."

Toda a criação foi chamada à existência através da Vontade de Deus, magnificada seja Sua glória, e o incomparável Adão foi moldado através de Sua Palavra criativa, uma Palavra que é a fonte, a origem, o repositório e a alvorada do intelecto. Dela toda a criação procede e é o canal da graça primordial de Deus. Ninguém pode apreender a realidade da origem da criação, salvo Deus, exaltada seja Sua glória, cujo conhecimento abarca todas as coisas tanto antes como depois de terem sido criadas. A criação não teve início nem terá fim, e ninguém jamais desvelou seu mistério. Seu conhecimento sempre esteve, e permanecerá para sempre oculto e preservado com Aqueles que são os Repositórios do conhecimento divino.

O mundo da existência é contingente, visto ser precedido de uma causa, enquanto que a pré-existência sempre esteve e para sempre estará confinada a Deus, magnificada seja Sua glória. Esta afirmativa está sendo feita para que ninguém seja inclinado a concluir da asserção anterior - que a criação não teve início nem terá fim - que ela é pré-existente. A verdadeira e essencial pré-existência está exclusivamente reservada a Deus, enquanto que a pré-existência do mundo é secundária e relativa. Tudo o que se infere sobre o primeiro e o último é, em verdade, decorrente das palavras dos Profetas, Apóstolos e Escolhidos de Deus.

Quanto ao "reino das entidades sutis"(18) que é freqüentemente referido, pertence à Revelação dos Profetas, e tudo o mais é mera superstição e vãs fantasias. Quando surge uma nova Revelação, todos os homens são iguais em grau. Em decorrência, porém, de sua aceitação ou rejeição, subida ou queda, movimento ou inação, reconhecimento ou negação, eles chegam às diferenciações conhecidas. Por exemplo, o verdadeiro Deus, magnificada seja Sua glória, falando por intermédio de Seu Manifestante, afirma: "Não sou Eu teu Senhor?" Toda alma que responde: "Sim, verdadeiramente!" é contada entre os mais distinguidos de todos os homens aos olhos de Deus. Nossa explicação é que antes da Palavra de Deus ser revelada, todos os homens são iguais em grau e sua condição é uma e a mesma. É somente mais tarde que as diferenças aparecem, como tu tens observado.

Está claramente estabelecido que a menção feita de que ninguém jamais poderá afirmar: "Fomos criados do Intelecto, enquanto que todos os outros têm outras raízes." A verdade que brilha forte e resplendente como o Sol é esta: que todos foram criados pela operação da Vontade Divina e pro- cedem de uma mesma fonte, que todos provêm de Deus e a Ele todos retornarão. Este é o significado daquele verso abençoado do Alcorão que foi escrito pela Pena do Mais Misericordioso: "Verdadeiramente, somos de Deus e a Ele haveremos de regressar."(19)

Como é claro e evidente a você, a resposta a todas as perguntas acima mencionadas foi incorporada em apenas uma das passagens reveladas pela Pena do Altíssimo. Abençoado quem, livre dos assuntos mundanos e santificado das idéias fúteis e das vãs imaginações, discerne em todas as coisas os sinais de Sua glória.

Numerosas passagens foram reveladas em nome de sua senhoria o Sáhib. Fosse ele apreciar seu valor e aproveitar para si mesmo de seus frutos, sentiria tal alegria que todas as tristezas do mundo seriam impotentes para afligi-lo. Permita Deus que ele possa sinceramente expressar e agir em conformidade com as seguintes palavras: "Dize: É Deus; deixa, então, que eles se entretenham a si mesmos com suas cavilações."(20) Que ele se esforce para guiar aquelas almas carentes que permanecem reclusas na obscuridade e levá-las à luz do Sol. Possa segurar nas mãos, através do poder do Máximo Nome, a bandeira que indica nada mais que Sua Revelação e marche à frente dos povos das antigas religiões, para que talvez a escuridão do mundo possa ser eliminada e os raios refulgentes do Sol da Verdade possam brilhar sobre toda a humanidade. Isso, em verdade, é a mais perfeita misericórdia e o chamado mais elevado. Se o homem falhar em alcançar este grau sublime, onde irá encontrar conforto e alegria? O que irá sustentá-lo e animá-lo? Com quem irá comungar à hora do descanso e que nome irá invocar quando acordar de seu sono? Novamente: "Verdadeiramente, somos de Deus e a Ele retornaremos."

Sua última pergunta: "Muitas das Epístolas que vimos são em árabe. Porém, já que o Bem-Amado nesta era é de origem persa, a língua árabe deve ser abandonada e descartada. Na verdade, ainda neste dia os próprios árabes não entenderam o significado do Alcorão, enquanto que a língua persa é altamente louvada e admirada entre os moradores das regiões habitadas do globo. E sendo o persa neste dia superior ao árabe, assim também é o antigo persa, que é grandemente apreciado pelo povo da Índia, e outros. Seria, portanto, preferível que as palavras de Deus, magnificada seja Sua menção, fossem principalmente expressadas em persa puro, já que atrai os corações em um grau bem elevado. É, ainda mais, exigido que a resposta a essas perguntas sejam generosamente escritas em persa puro."

A língua persa é em verdade, incomparavelmente doce e agradável, e já que este pedido foi submetido à Sua mais abençoada e exaltada corte, numerosas Epístolas foram reveladas naquele idioma. Quanto à declaração concernente ao Alcorão, implicando que seu significado externo não foi entendido, na realidade foi interpretado de diversas formas e traduzido em inúmeros idiomas. Aquilo que os homens foram incapazes de compreender são seus mistérios ocultos e íntimos significados. E tudo o que disseram ou irão dizer está restrito aos seus objetivos particulares e devem ser vistos como comensuráveis com seu grau e posição. Pois ninguém pode compreender seu verdadeiro significado a não ser o próprio Deus, o Único, o Incomparável, o Onisciente.

Neste dia, apareceu Aquele que é o Senhor, o Governante, o Criador e o Refúgio do mundo. Que todos os ouvidos estejam ansiosos para ouvir aquilo que será revelado do reino de Sua vontade; que todos os olhos estejam alertas para contemplar aquilo que se irradiará da Estrela d'Alva do conhecimento e da sabedoria. Por Ele que é o Desejo do mundo! Este é o dia para os olhos verem e os ouvidos ouvirem, para os corações perceberem e as línguas expressarem. Abençoados os que chegaram a esta condição; abençoados os que buscaram e reconheceram! Este é o dia no qual todo homem deve aquiescer à honra imperecível, pois tudo o que proveio da Pena de Glória, em relação a toda alma, é adornado com o ornamento da imortalidade. Novamente, abençoados são todos os que atingiram esta condição!

O distinguido Sáhib escreveu: "Já que o Bem-Amado nesta era é de origem persa, a língua árabe deve ser abandonada e descartada." Neste sentido, essas palavras sublimes decorrentes da Pena do Altíssimo, magnificada seja Sua glória: "Tanto o árabe como o persa são louváveis. Aquilo que é desejado de um idioma é que expresse a intenção do orador, e qualquer idioma pode servir a esse propósito. E já que neste dia o Orbe do conheci mento surgiu no firmamento da Pérsia, esta língua merece todo louvor."

A luz da verdade está realmente brilhando esplendorosa sobre o horizonte da elocução divina, e por isso não é necessária uma elaboração mais detalhada para esta alma evanescente e para outros como ele. Embora não haja pergunta ou dúvida quanto a delicadeza da língua persa, o árabe não é descartado. Existem muitas coisas que não foram expressadas em persa, isto é, palavras que se referem a coisas que não foram definidas, enquanto que em árabe existem muitas palavras descrevendo a mesma coisa. Na verdade, não existe idioma no mundo tão vasto e abrangente como o árabe. Esta afirmação tem base na verdade e na justiça; de outra forma é claro que neste dia o mundo está sendo iluminado pelo esplendor daquele Sol que despontou no horizonte da Pérsia, e que os méritos desta linguagem suave e delicada não podem ser subestimados.

Todas as perguntas de sua senhoria o Sáhib foram aqui mencionadas e respondidas devidamente. Se for julgado apropriado e aconselhável, não há mal algum que ele mesmo faça a leitura destas respostas, e da mesma forma elas podem ser lidas pelos amados amigos naquela terra, tais como Jináb-i-'Alí-Akbar, sobre ele esteja a glória de Deus, o Ordenador Supremo, e Jináb-i-Áqá Mirza Asadu'lláh, sobre quem esteja a Glória das Glórias.

Este servo implora que o Verdadeiro Deus - exaltada seja Sua glória - generosamente adorne o mundo da humanidade com justiça e eqüidade, embora em verdade esta última seja apenas uma expressão da primeira. Verdadeiramente, a justiça é uma lâmpada que guia o ser humano no caminho da retidão em plena escuridão do mundo e o protege de todo perigo. É na verdade uma lâmpada iluminada. Deus permita que os governantes da Terra possam ser iluminados por sua luz. Este servo implora a Deus, ainda mais, que misericordiosamente ajude a todos os homens a fazerem o que for de Sua vontade e agrado. Ele, em verdade, é o Senhor deste mundo e do próximo. Nenhum Deus há senão Ele, a Onipotência, o Mais-Poderoso.

3 - A EPÍSTOLA DAS SETE PERGUNTAS (Lawh-i-Haft Pursish)

EM NOME DO SENHOR DA REVELAÇÃO, O ONISCIENTE

Todo louvor ao santificado Senhor que iluminou o mundo através dos esplendores da Aurora de Sua graça. Da letra "B" Ele fez surgir o Mais Grandioso Oceano, e da letra "H" tornou manifesta Sua mais íntima Essência. Ele é o Todo-Poderoso, cujo propósito nenhum poder humano jamais poderá frustrar, e a fluência de cuja revelação mesmo as hostes dos reis são incapazes de sustá-la.

Tua carta foi recebida e lida por Nós, e teu chamado foi ouvido. Dentro dela estão entesou- radas pérolas de amor e os mistérios ocultos da afeição. Imploramos ao incomparável Senhor para te capacitar a ajudar Sua Causa e prover a água da vida aos sequiosos perdidos nos desertos da ignorância. Seu poder, em verdade, é igual a todas as coisas. Aquilo que tu perguntaste sobre o Oceano do Conhecimento e o Orbe do Discernimento teve a Sua aceitação.

A primeira pergunta: "Em que língua nos expressarmos e em que direção nos voltarmos para adorar o verdadeiro Deus?"

O início de toda elocução é a adoração a Deus, e isso após o Seu reconhecimento. Santificados precisam ser os olhos se verdadeiramente desejam reconhecê-Lo, e santificada deve ser a língua se quer expressar-se em Seu louvor de forma adequada. Neste dia, as faces das pessoas de discernimento e entendimento estão voltadas em Sua direção; ou melhor, toda direção volta-se para Ele. Ó coração leonino! Suplico a Deus para que possas tornar-te um campeão nesta arena, levantar-te com poder celestial e dizer: "Ó sumo-sacerdotes! Ouvidos vos foram dados a fim de escutarem o mistério dAquele que é o Independente, e olhos para que O contemplassem. Por que fugis? O Amigo Incomparável está manifesto, e profere aquilo em que repousa a salvação. Fosseis vós, ó sumo-sacerdotes, descobrir o perfume do roseiral da compreensão, a ninguém buscaríeis senão a Ele e haveríeis de reconhecer, em Suas vestes novas, o Onisciente, o Incomparável, e de apartar vossos olhos do mundo e de todos os que a este procuram, e vos levantar em Seu apoio."

A segunda pergunta diz respeito à fé e à religião. A Fé de Deus tornou-se manifesta neste dia. Aquele que é o Senhor do mundo já veio e mostrou o caminho. Sua fé é a fé da benevolência, e Sua religião a religião da indulgência. Esta fé concede a vida eterna e capacita a humanidade a dispensar tudo o mais. Verdadeiramente abarca todas as fés e todas as religiões. Apega-te a ela e guarda-a bem.

A terceira pergunta: "De que forma devemos lidar com as pessoas desta era, que escolheram uma religião diferente e cada qual considera a sua própria fé e religião como superiores a todas as outras, para que possamos nos defender do ataque violento de suas palavras a ações?"

Ó coração leonino entre os homens! Considera as aflições suportadas no caminho de Deus como o próprio conforto. Toda aflição sofrida por Sua causa é um poderoso remédio, toda amargura nada mais é que doçura, e todo rebaixamento uma exaltação. Fossem os homens entender e reconhecer esta verdade, prontamente dariam a vida por tal aflição. Pois ela é a chave de inestimáveis tesouros, e não importa quão externamente seja abominada, internamente tem sido e continuará sendo louvada. Aceitamos e afirmamos o que tu disseste, pois o povo do mundo está realmente privado da luz do Orbe da justiça e a considera como inimiga.

Se desejas livrar-te da aflição, recita esta oração que foi revelada pela Pena do Mais-Misericordioso: "Ó Deus, meu Deus! Dou testemunho de Tua unidade e Tua unicidade. Suplico-Te, ó Tu Possuidor de títulos e Criador dos céus, pela influência penetrante de Tua exaltada Palavra e pela potência de Tua Pena suprema, que me ajudes com as insígnias de Tua força e poder, e me proteja da maldade de Teus inimigos que violaram Teu Convênio e Teu Testamento. Tu és verdadeiramente, o Onipotente, o Mais Poderoso." Esta invocação é uma fortaleza inexpugnável e um exército invencível. Confere proteção e assegura libertação.

A quarta pergunta: "Nossos Livros anunciaram que o Sháh Bahrám virá, investido de muitos sinais, para guiar o povo ao caminho reto..."

Ó amigo! Já se revelou e tornou claro tudo o que foi anunciado nos Livros. De todos os lados, os sinais se têm manifestado. O Onipotente chama, neste Dia, e anuncia o aparecimento do Céu Supremo. O mundo foi iluminado com os esplendores de Sua Revelação, embora sejam poucos os olhos que podem contemplá-los! Que o incomparável e inigualável Senhor conceda agudo discernimento aos Seus servos, pois o discernimento leva ao verdadeiro conhecimento e conduz à salvação. Na verdade, as realizações do entendimento humano dependem da agudeza de sua visão. Fossem os filhos dos homens fitar com os olhos do entendimento, veriam o mundo iluminado com uma nova luz neste dia. Dize: A Estrela Matutina do conhecimento está manifesta e o Luminar do discernimento já surgiu. Felizardo, em verdade, é aquele que alcançou, que testemunhou e que reconheceu.

A quinta pergunta diz respeito à Ponte de Sirát, ao Paraíso e ao Inferno. Os Profetas de Deus vieram em nome da verdade e falaram a verdade. Tudo o que o Mensageiro de Deus anunciou tem sido e tornar-se-á manifesto. Recompensa e punição são os fundamentos que dão sustento ao mundo. O conhecimento e o entendimento sempre afirmaram e continuarão afirmando a realidade do Paraíso e do Inferno, pois a recompensa e a punição exigem sua existência. Paraíso significa, primeiro e mais importante que tudo, fazer o que for da vontade e do agrado de Deus. Quem alcançar tal condição será reconhecido e mencionado entre os habitantes do mais exaltado paraíso e atingirá, após a ascensão de sua alma, aquilo que a pena e a tinta são impotentes para descrever. Para aqueles dotados de discernimento e que fixaram seu olhar na Mais Sublime Visão, a Ponte, o Equilíbrio, o Paraíso, o Fogo do Inferno e tudo o que foi mencionado e registrado nas Sagradas Escrituras, são claros e manifestos. No momento do aparecimento e expressão dos raios da Sol da Verdade, todos se encontram numa mesma condição. Deus então proclama aquilo que Ele deseja, e aquele que ouve Seu chamado e reconhece Sua verdade é reconhecido entre os habitantes do Paraíso. Tal alma atravessará a Ponte, alcançará o Equilíbrio e tudo o que foi registrado concernente ao Dia da Ressurreição, e chegará ao seu destino. O Dia da Revelação de Deus é o Dia da maior Ressurreição. Esperamos que, bebendo do vinho escolhido da divina inspiração e das águas puras da graça celestial, tu alcances a condição na qual descobrirás, darás testemunho e contemplarás, tanto externa como internamente, tudo aquilo que tu mencionaste.

A sexta pergunta: "Depois de deixar o corpo, isto é, após ter a alma se separado do corpo, ela se apressa para a sua habitação do além..."

Com referência a este tema, foi revelado há algum tempo pela Pena do conhecimento divino aquilo que satisfaz os homens de discernimento e traz a maior alegria ao povo do entendimento. Verdadeiramente, dizemos: A alma se regozija pelos bons atos cometidos e é recompensada pelas contribuições feitas no caminho de Deus.

A sétima pergunta refere-se ao nome, a linhagem e a ancestralidade do Ser Sagrado. Abu'l-Fadl-i-Gulpáygání, sobre ele esteja Minha glória, escreveu sobre isso, baseado nas Escrituras Sagradas, algo que traz conhecimento e aumenta o entendimento.

A Fé de Deus é dotada de incomensurável força e poder. Em breve, aquilo que fluiu de Nossa língua tornar-se-á realidade no mundo externo. Suplicamos a Deus que te conceda a força necessária para ajudá-Lo. Ele, verdadeiramente, é o Onisciente, o Onipotente. Fosses tu obter e ler atentamente o Súriy-i-Ra'ís e o Súriy-i-Mulúk, verias como és capaz de dispensar tuas perguntas, levantando-te para servir a Causa de Deus de tal forma que a opressão do mundo e a violência de seus povos não poderão te impedir de ajudar Aquele que é o antigo e soberano Senhor de todos.

Suplicamos a Deus para confirmar-te naquilo que irá exaltar e imortalizar teu nome. Esforça-te para que possas, talvez, obter as Epístolas mencionadas e encontrar nelas as pérolas de sabedoria e confirmação que provieram do tesouro da Pena do Todo-Misericordioso. A glória de Deus esteja contigo e com todos os corações firmes e resolutos, e com as almas fiéis e constantes.

DUAS OUTRAS EPÍSTOLAS
4 - O INÍCIO DE TODA ELOCUÇÃO É O LOUVOR A DEUS

Ó servos! As fontes divinas estão jorrando. Saciai nelas vossa sede, para que com a ajuda do Amigo incomparável possais ser santificados deste mundo obscuro do pó e entrar em Seu recinto. Renunciai ao mundo e dirigi vossos passos rumo à cidade do Bem-Amado.

Ó servos! O fogo que consome todos os véus foi aceso por Minha mão; não o apagueis com as águas da ignorância. Os céus são símbolos de Minha grandeza; olhai para eles com olhos puros. As estrelas dão testemunho de Minha verdade; sede igualmente testemunhos dela.

Ó servos! Os olhos são necessários para se poder ver, e os ouvidos, para ouvir. Aquele que neste Dia abençoado não dá ouvidos para o chamado divino não tem, em verdade, ouvido algum. Este não é o ouvido físico que é visto pelos olhos. Abre vossos olhos internos para que possais contemplar o Fogo celestial, e é necessário o ouvido do entendimento interno para que possais ouvir as palavras encantadoras do Bem-Amado.

Ó servos! Se vosso coração anseia pelo Bem-Amado, então o remédio já chegou! Se tendes olhos para ver, contemplai - o semblante iluminado do Amigo já apareceu! Acendei o fogo do conhecimento e fugi do ignorante. Tais são as palavras do Senhor do mundo.

Ó servos! Sem vida estará um corpo sem alma, e desolado o coração sem a lembrança de seu Senhor. Comungai com a lembrança do Amigo e evitai o inimigo. Vosso inimigo são aquelas coisas que tendes adquirido através de vossos desejos, às quais vos apegastes firmemente e com as quais maculastes vossas almas. A alma foi criada para lembrar do Amigo; mantende-a pura. A língua foi criada para dar testemunho de Deus; não a poluais com a menção dos desatentos.

Ó servos! Verdadeiramente digo, é contado entre os fiéis aquele que se mantém no Caminho estreito. Esse Caminho é um só, e Deus o escolheu e o preparou. Brilha resplandecente entre todos os caminhos como o sol entre as estrelas. Quem não o alcançar terá falhado em apreender a verdade e terá se desviado. Tais são os conselhos do Senhor incomparável e único.

Ó servos! Este mundo terreno é a habitação dos demônios: Cuidai para não vos aproximardes deles. Por demônios queremos dizer aquelas almas desviadas que, com o peso de seus atos maldosos, estão adormecidas nos aposentos do esquecimento. Seu sono é preferível à sua vigília, e sua morte melhor que a vida.

Ó servos! Nem todo corpo mortal possui espírito ou está imbuído de vida. Neste dia, é dotado de espírito aquele que de todo coração busca o refúgio do Bem-Amado. O fim de todos os começos será encontrado neste Dia: Volvei-vos para ele, mas não com olhos cegos. O Amigo incomparável está próximo: Não vos afasteis dEle.

Ó servos! Sois como os rebentos em um jardim que estão a ponto de perecer por falta de água. Portanto, vivificai vossas almas com a água celestial que desce das nuvens da misericórdia divina. As palavras devem ser seguidas de atos. Quem aceita as palavras do Amigo é, em verdade, um homem de ações; de outra forma, uma carcaça é realmente digna de maior louvor.

Ó servos! Agradável é a elocução do Amigo: Onde está a alma que irá provar de sua doçura e o ouvido que irá lhe dar atenção? Bem estará quem neste dia comunga com o Amigo e em Seu caminho renuncia e esquece tudo o mais, salvo a Ele; pois irá contemplar um novo mundo e ser admitido no paraíso duradouro.

O Senhor do mundo diz: Ó servos! Deixai de lado vossos próprios anseios e buscai aquilo que desejo para vós. Não caminheis sem um guia para vos orientar e não aceiteis as palavras de qualquer um deles. Quão numerosos foram aqueles guias que se desviaram e não conseguiram descobrir a Senda correta! É guia, apenas aquele que estiver livre do cativeiro deste mundo, e que absolutamente nada, o impedirá de dizer a verdade.

Ó servos! Segui o caminho da veracidade e não vireis as costas aos necessitados. Fazei menção de Mim diante dos grandes da Terra e nada temais.

Ó servos! Sede puros em vossas ações e que vossa conduta se espelhe nas palavras de Deus. Tais são os conselhos do Senhor incomparável.

5 - O INÍCIO DE TODO RELATO É O NOME DE DEUS

Ó Amigos de Deus! Inclinai vossos ouvidos à voz do incomparável e todo-suficiente Senhor, para que Ele possa vos livrar dos grilhões dos embaraços e das profundezas da escuridão, possibilitando-vos alcançar a luz eterna. Ascensão e queda, estagnação e atividade, vieram à existência pela vontade do Senhor de tudo o que existiu, existe e virá a existir. A causa da ascensão é a luz, e a causa da luz, o calor. Assim foi determinado por Deus. A causa da estagnação é o peso e a densidade, os quais por sua vez decorrem da frieza. Assim foi determinado por Deus.

E tendo ordenado o calor como a fonte do movimento e da ascensão e o que leva à obtenção da meta desejada, Ele, então, acendeu com a mão mística aquele Fogo inapagável e o enviou ao mundo para que este Fogo divino pudesse, pelo calor do amor de Deus, guiar e atrair toda a humanidade ao abrigo do Amigo incomparável. Este é o mistério entesourado em seu Livro, o qual foi enviado conforme acima mencionado, um mistério que até agora permaneceu oculto dos olhos e corações dos homens. O Fogo primordial neste Dia apareceu com um novo brilho e com imensurável calor. O Fogo divino queima por si mesmo, sem óleo ou gás, para que possa eliminar os excessos de umidade e frio que são a causa do torpor e indolência, da letargia e desalento, levando a inteira criação à corte da presença do Todo-Misericordioso. Aquele que se aproxima desse Fogo inflama-se e alcança a meta desejada, e aquele que dele se afasta continuará privado de seu calor e luz.

Ó servo de Deus! Não vos afeiçoeis ao estranho, para que possais reconhecer o Amigo. Estranho, em verdade, é todo aquele que vos afasta do Amigo. Este não é o dia em que os sumo-sacerdotes poderão exercer seu domínio e autoridade. Diz vosso Livro que naquele Dia, eles desencaminharão os homens e os impedirão de se aproximar dEle. Em verdade, é sumo-sacerdote quem viu a luz e se apressou ao caminho que conduz ao Amado. Tal homem é um sacerdote benevolente e uma fonte de luz para o mundo inteiro.

Ó servo de Deus! Qualquer sacerdote que vos afaste deste Fogo, que é a realidade da Luz e o mistério da Revelação divina é, na realidade, vosso inimigo. Que as palavras do hostil não vos afastem do Amigo, e que as insinuações do inimigo não vos façam esquecer o Bem-Amado.

Ó servo de Deus! O dia das ações é chegado: Agora não é o tempo para meras palavras. O Mensageiro de Deus já veio: Não é hora de hesitação. Abri vossos olhos internos para que possais contemplar a face do Bem-Amado, e buscai ouvir com vossos ouvidos internos o doce murmúrio de Sua voz celestial.

Ó servo de Deus! As vestes da graça divina estão prontas para serem usadas. Apanhai-as e com elas vestis-vos. Renunciai e esquecei os povos do mundo. Ó sábio! Se seguirdes os conselhos de vosso Senhor, sereis libertado da dependência de Seus servos e vos vereis elevado acima de todos os homens.

Ó servo de Deus! Concedemos-vos uma gota do oceano da graça divina; que os homens dela bebam! Revelamos um acorde das doces melodias do Bem-Amado; os homens devem ouvi-las com seus ouvidos internos! Elevai-vos com as asas da alegria à atmosfera do amor de Deus. Considerai os povos do mundo como mortos e buscai a companhia dos vivos. Aquele que não buscou sentir a doce fragrância do Bem-Amado neste alvorecer, em verdade é considerado entre os mortos. Aquele que é o Todo-Suficiente proclama em voz alta: "O reino da alegria foi revelado; não vos entristeçais! O mistério oculto tornou-se manifesto, não vos desencorajeis!" Pudésseis vós apreender a insuperável grandeza deste Dia, renunciaríeis ao mundo e a tudo o que nele existe, e vos apressaríeis ao caminho que conduz ao Senhor.

Ó servos de Deus! Almas indiferentes negligenciam este Dia triunfante, e corações enregelados não compartilham do calor deste Fogo abrasador.

Ó servo de Deus! A árvore que plantamos com a Mão da Providência cresceu e deu frutos, e as boas-novas que transmitimos no Livro se fizeram presentes com toda a sua grandeza.

Ó servo de Deus! Nós Nos revelamos a vós em vosso sono, mas vos mantivestes desatentos. Lembrai-vos, agora, de que podeis perceber e apressar vosso coração e vossa alma rumo ao Amigo que vos espera.

Ó servo de Deus! Dize: Ó sumo-sacerdotes! A Mão da Onipotência estende-Se de trás das nuvens; vede-as com olhos novos. Desvelaram-se os sinais de Sua majestade e grandeza; fitai-os com olhos puros.

Ó servo de Deus! A Estrela matutina do reino eterno está brilhando resplandecente acima do horizonte de Sua vontade e os Oceanos da misericórdia divina estão em movimento. Carente, em verdade, quem deixou de contemplá-los, e inanimado estava quem não os alcançou. Fechai vossos olhos a este mundo terreno, abrindo-os para o semblante do Amigo incomparável, comungando intimamente com Seu Espírito.

Ó servo de Deus! Com um coração puro desatai vossa língua em louvor a vosso Senhor por ter Ele vos mencionado com Sua pena reveladora de preciosidades. Pudésseis vós compreender a grandeza desta dádiva, sentir-vos-íeis investido de vida eterna.

NOTAS
1- Iraque.

2- Do Lawh-i-Maqsúd. Epístolas de Bahá'u'lláh - reveladas após o Kitáb-i-Aqdas.

1. ed. Rio de Janeiro: Editora Bahá'í do Brasil, 1983, p. 177.

3- Alcorão 3:1.
4- Alcorão 2:285.
5- Alcorão 2:253.
6- Ver: 1.4.

7- O "Ser Necessário" (vájibu'l-vujúd) refere-se a Deus; este termo foi usado por filósofos muçulmanos como: al-Farabi, e pode remontar a Aristóteles.

8- Taqvá, traduzido aqui por "retidão", tem conotações adicionais como piedade, temor a Deus, conduta reta, que não podem ser todas transmitidas em uma simples palavra em inglês [ou português].

9- Na lei islâmica, os princípios religiosos (usúl; "raízes") dizem respeito às fontes da

lei que podem ser explicitamente derivadas do Alcorão e do Hadíth, enquanto que as leis e mandamentos secundários (furú'; "ramos") são originários do primeiro através da aplicação da jurisprudência (fiqh).

10- Possível referência ao Alcorão 2:187, que contém instruções com relação ao Jejum: "Comei e bebei até que possais discernir um fio branco de um fio preto com a chegada da alvorada."

11- Alcorão 6:91.

12- Entre os ritos usados por peregrinos muçulmanos durante o Hajj.

13- Ver: 1.14.
14- Muhammad.
15- Alcorão 2:143.
16- Ver: 1.18.
17- Ver: 1.15.

18- O "reino das entidades sutis" ('álam-i-dharr) é uma alusão ao Convênio entre Deus e Adão mencionada no Alcorão 7:172. Em uma Epístola, 'Abdu'l-Bahá escreveu: "O reino das entidades sutis que é mencionado refere-se às realidades, especificações, individualizações, capacidades e potencialidades do homem no espelho do conhecimento divino. Como essas potencialidades e capacidades diferem, cada uma delas tem sua própria exigência particular. Aquela exigência

consiste em aquiescência e súplica." (Má'idiy-i-Ásmání, vol. 2, p. 30.)

19- Alcorão 2:156.
20- Alcorão 6:91.

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