Nunca o caráter espiritual da verdadeira civilização foi revelado em circunstâncias tão extraordinárias por um autor tão qualificado como neste texto de ‘Abdu’l-Bahá.
Escrito em 1875, o texto original em persa foi litografado em 1882, em Bombaim. A primeira tradução inglesa foi publicada em Londres em 1910, e mais tarde em Chicago, em 1918, sob o título Mysterious Forces of Civilization. A presente tradução de Mirzaeh Gail, uma versão mais precisa, reflete o domínio de ambos idiomas por uma talentosa autora cujo pai era persa e cuja mãe era americana, e que viveu durante anos em ambos os países.
O nome de ‘Abdu’l-Bahá adquiriu uma notoriedade ímpar em todo o Ocidente e Oriente, como símbolo de sabedoria, nobreza, heroísmo e completa dedicação à causa da unidade espiritual e da paz universal. Seu nome é um título que significa “Servo de Bahá” (i.e., Servo de Bahá’u’lláh).
Nascido na Pérsia, em 23 de maio de 1844, filho mais velho de Bahá’u’lláh, ‘Abdu’l-Bahá veio ao mundo no mesmo dia em que ‘Alí Muhammad, agora conhecido como o Báb, declarou Sua missão de inaugurar uma nova Dispensação religiosa e preparar o caminho para Bahá’u’lláh, Autor da Revelação Bahá’í.
‘Abdu’l-Bahá tinha apenas seis anos de idade quando o Báb foi martirizado em Tabríz, oito anos de idade quando Bahá’u’lláh foi aprisionado em uma masmorra em Teerã por ordem do Xá, e alguns meses mais tarde acompanhou Bahá’u’lláh em Seu exílio a Bagdá. Isto iniciou um período de exílio e aprisionamento sofridos por ‘Abdu’l-Bahá até o ano de 1908. De Bagdá, Bahá’u’lláh, Sua família e criados foram levados para Constantinopla, de Constantinopla para Adrianópolis, e de Adrianópolis para a prisão-fortaleza de ‘Akká, na Terra Santa, onde Bahá’u’lláh ascendeu em 1892. Durante todo este período, ‘Abdu’l-Bahá fortalecido na adversidade, triunfante em espírito, manifestou de modo crescente aquelas qualidades e poderes sobre os quais Bahá’u’lláh estabeleceu o futuro de Sua Fé Mundial ao nomear ‘Abdu’l-Bahá, em Seu Testamento, o Exemplo da vida religiosa, o Intérprete de Sua Palavra e o Centro de Seu Convênio com a humanidade.
De 1892 a 1908, ‘Abdu’l-Bahá sofreu uma opressão violenta, sendo posto em liberdade pela revolução turca que libertou todos os prisioneiros políticos condenados pelo Sultão.
Foi o general Allenby, conquistador militar da Palestina durante a I Guerra Mundial que, seguindo as instruções de Lord Balfour, Secretário das Relações Exteriores Britânicas, tomou medidas para assegurar Sua proteção.
De 1911 a 1913, ‘Abdu’l-Bahá percorreu a Europa e a América do Norte visitando as comunidades Bahá'ís locais, realizando palestras públicas em associações pela paz, universidades, igrejas, conferências dos negros e sinagogas, reunindo-Se com personagens proeminentes do governo, do clero e da vida educacional, e promulgando, pelo exemplo e discursos eloqüentes, os princípios da paz universal. A lista destas distintas pessoas é extensa demais para ser incluída aqui, mas a qualidade da acolhida dada a ‘Abdu’l-Bahá no Ocidente pode ser demonstrada pela distinção de alguns nomes, dentre muitos outros, Arquidiácono Wilberforce, Reverendo R. J. Campbell, Lord Lamington, Sir Michael Sadler, os Marajás de Jalawar e Rajputana, Professor E. G. Browne e Professor Patrick Geddes, em Londres; o Ministro Persa, o Embaixador da Turquia, “dignitários da Igreja de diferentes ramos do Cristianismo”, em Paris; Professor Arminius Vambery, vários membros do Parlamento, Conde Albert Apponyi, Prelado Alexander Giesswein e Professor Ignatius Goldhizer, em Viena; e na América, o Dr. David Starr Jordan, o rabino Stephen Wise, Alexander Graham Bell, Hon. Franklin K. Lane, Sra. William Jennings Bryan, Andrew Carnegie, Hon. Franklin MacVeagh, Almirante Peary e Rabindranath Tagore.
As palestras registradas e os escritos de ‘Abdu’l-Bahá, que parecem preservar a essência de Sua mensagem ao Ocidente, incluem os discursos dirigidos em City Temple, Londres, na Universidade de Stanford, Califórnia, no Templo Emmanuel, São Francisco, Sua carta endereçada ao Comitê da Paz Duradoura, Haia, e Sua carta endereçada ao recentemente falecido Dr. Forel, cientista suíço. Em muitas palestras públicas nos Estados Unidos, Ele chamou a América para que liderasse as nações em direção à paz, à justiça e à ordem social.
Em Respostas a Algumas Perguntas, Laura Barney reproduziu com precisão as respostas de ‘Abdu’l-Bahá a perguntas relacionadas aos Profetas, ao destino da humanidade, seus atributos e poderes, à imortalidade e à vida após a morte, que há muito tempo têm sido apreciadas como uma perfeita introdução a esta nova era da religião universal.
A missão tão fielmente cumprida por ‘Abdu’l-Bahá entre 1892 e 1921 como Chefe da Comunidade Mundial Bahá’í, por providencial que tenha sido, não diz respeito diretamente ao texto apresentado neste volume.
O Segredo da Civilização Divina consiste de uma mensagem endereçada aos governantes e ao povo da Pérsia.
. . .O leitor do Ocidente não deixará de notar que ‘Abdu’l-Bahá empregou passagens do Alcorão sobre as quais estabelece os significados espirituais de Seu tema e imprime Seu apelo à nação islâmica da Pérsia. Visto que o Alcorão é pouco conhecido no Ocidente, estas passagens têm uma importância suplementar ao tornar o leitor ocidental mais familiar com o Livro Sagrado dos povos árabes e persas num momento em que uma compreensão do Oriente é terrivelmente necessária na Europa e nos Estados Unidos.
Horace HolleyLouvor e agradecimento à Providência, pois dentre todas as realidades existentes Ele escolheu a realidade do homem e a honrou com intelecto e sabedoria, as duas luzes mais brilhantes em ambos os mundos. Por intermédio deste grande dom, Ele, a cada época, tem lançado novas e maravilhosas formas no espelho da criação. Se olharmos objetivamente para o mundo dos seres, tornar-se-á aparente que, de tempos em tempos, o templo da existência tem sido continuamente embelezado com suave graça e distinguido por um esplendor sempre mutante, originados da sabedoria e do poder do pensamento.
Este supremo emblema de Deus está em primeiro lugar na ordem da criação, tendo primazia sobre todas as coisas criadas. Testemunha disso é a Santa Tradição, “Antes de tudo, Deus criou a mente.” Desde o alvorecer da criação, ela foi feita para ser revelada no templo do homem.
Santificado seja o Senhor, Quem através dos raios deslumbrantes deste poder estranho, celestial, fez de nosso mundo de trevas a inveja dos mundos de luz: “E a terra resplandecerá com a luz de seu Senhor.”1 Santo e excelso é Ele, Quem fez da natureza do homem a alvorada desta graça ilimitada: “O Clemente ensinou o Alcorão; criou o homem; e ensinou-lhe a eloqüência.”2
Ó vós que tendes mentes para saber! Levantai vossas mãos suplicantes ao paraíso do único Deus, e humilhai-vos e sede modestos diante dEle, e agradecei-Lhe por esta graça suprema, e Lhe implorai que nos socorra até que, na presente época, impulsos divinos possam irradiar da consciência da humanidade, e este fogo divinamente aceso, que foi confiado ao coração humano, nunca se possa extinguir.
Considerai cuidadosamente: todos estes fenômenos altamente variados, estes conceitos, este conhecimento, estes procedimentos técnicos e sistemas filosóficos, estas ciências, artes, indústrias e inventos – todos são emanações da mente humana. Qualquer pessoa que se aventurou mais profundamente neste ilimitado oceano conseguiu sobrepujar o restante. A felicidade e orgulho de uma nação consistem nisto, que ela deve brilhar como o sol no elevado paraíso do conhecimento. “ Poderão, acaso, equiparar-se os sábios com os insipientes?”3 E a honra e distinção do indivíduo consistem nisto, que dentre todas as multidões do mundo ele deve tornar-se uma fonte de bem-estar social. Existe alguma graça concebível maior do que esta para um indivíduo que, olhando para dentro de si mesmo, deve descobrir que pela graça confirmadora de Deus ele tornou-se a causa de paz e bem-estar, de alegria e favor ao seu semelhante? Não, pelo Deus único e verdadeiro, não existe maior bem-aventurança, nem mais completo deleite.
Por quanto tempo flutuaremos nas asas da paixão e do desejo vão; por quanto tempo despenderemos nossos dias como bárbaros nas profundezas da ignorância e da abominação? Deus nos deu olhos para podermos olhar o mundo ao nosso redor e nos segurarmos a tudo o que fará avançar a civilização e as artes. Ele nos deu ouvidos para podermos ouvir e aprender com a sabedoria dos eruditos e filósofos e nos levantarmos para promovê-la e praticá-la. Sentidos e faculdades nos foram concedidos para serem consagrados ao serviço do bem comum, para que nós, agraciados acima de todas as outras formas de vida pela perceptividade e razão, devamos labutar em todos os tempos e em toda a parte, seja grande ou pequena, comum ou extraordinária a ocasião, até que toda a humanidade esteja seguramente reunida na inexpugnável fortaleza do conhecimento. Nós devemos estar continuamente estabelecendo novos alicerces para a felicidade humana, e criando e promovendo novos instrumentos para este fim. Quão excelente, quão nobre é o homem que se levanta para cumprir suas obrigações; quão vil e desprezível é aquele que fecha seus olhos para o bem-estar da sociedade e desperdiça sua vida preciosa na procura de seus próprios interesses egoístas e vantagens pessoais. Suprema é a felicidade do homem, e ele observa os sinais de Deus no mundo e na alma humana, se ele se apressa sobre o corcel de elevados esforços na arena da civilização e justiça. “De pronto lhes mostraremos Nossos milagres em todas as regiões da terra, assim como em suas próprias pessoas.”4
E isto representa a suprema baixeza humana: que ele deva viver inerte, apático, obtuso, envolvido somente com seus próprios instintos mais baixos. Quando ele está nesta situação, ele tem seu ser na mais profunda ignorância e selvageria, tornando-se inferior às bestas selvagens. “São como as bestas, quiçá pior . . . São, aos olhos de Deus, piores que as bestas, pois são surdos e mudos, e não raciocinam.”5
Devemos agora nobremente decidir nos levantar e segurar firmemente todos aqueles instrumentos que promovam a paz e o bem-estar e a felicidade, o conhecimento, a cultura e a indústria, a dignidade, o valor e a posição da inteira raça humana. Assim, através das águas restauradoras da intenção pura e do esforço desprendido, a terra das potencialidades humanas desabrochará com sua própria excelência latente e florescerá em qualidades louváveis, e produzirá e vicejará até tornar-se rival aos roseirais de conhecimento que pertenceram aos nossos antepassados. Então esta terra sagrada da Pérsia tornar-se-á, em todos os sentidos, o centro focal das perfeições humanas, refletindo como se em um espelho a plena panóplia da civilização mundial.
Todo louvor e honra ao Alvorecer da Sabedoria Divina, a Aurora da Revelação (Maomé) e à santa linhagem de Seus descendentes, pois com os raios largamente difundidos de Sua consumada sabedoria, Seu conhecimento universal, aqueles selvagens habitantes de Yathrib (Medina) e Bathá (Meca) foram tirados, milagrosamente e em tão breve período, das profundezas da ignorância, elevados aos pináculos do conhecimento, e tornaram-se os centros das artes e das ciências e das perfeições humanas, e estrelas da felicidade e da verdadeira civilização, resplandecendo através dos horizontes do mundo.
Sua Majestade o Xá decidiu no presente momento [1875], trazer o progresso para o povo da Pérsia, seu bem-estar e segurança, e a prosperidade de seu país. Ele espontaneamente estendeu ajuda a seus súditos, demonstrando energia e imparcialidade, esperando que através da luz da justiça ele possa fazer do Irã a inveja do Oriente e do Ocidente, e fazer com que aquele puro fervor que caracterizou as grandes épocas primordiais da Pérsia flua novamente nas veias de seu povo. Como está claro àquele que discerne, o autor, por esta razão, sentiu a necessidade de narrar, por Deus somente e como um tributo a este elevado empenho, uma breve declaração sobre algumas questões urgentes. Para demonstrar que Seu único propósito é o de promover o bem-estar geral, Ele omitiu Seu nome.5b Uma vez que Ele acredita que a guia em direção à retidão é em si mesmo um ato honroso, Ele oferece estas poucas palavras de aconselhamento aos filhos de Seu país, palavras ditas somente por causa de Deus e em espírito de um fiel amigo. Nosso Senhor, Quem conhece todas as coisas, dá testemunho de que este Servo não pretende outra coisa a não ser o que é justo e bom; pois Ele, um viajante no deserto do amor de Deus, chegou a um reino onde a mão da negação ou do consentimento, do louvor ou da repreensão não podem tocá-Lo. “Certamente vos alimentamos por amor a Deus; não vos exigimos recompensa nem gratidão.” 6
A mão está velada, no entanto a pena escreve como ordenado.
O cavalo salta à frente, ainda que o cavaleiro esteja oculto.
Ó povo da Pérsia! Olhai aquelas páginas que florescem, que falam de um outro dia, passado há muito tempo. Lede-as e maravilhai-vos; contemplai a grande visão. Naqueles tempos, o Irã era o coração do mundo; era a tocha brilhante flamejando na assembléia da humanidade. Seu poder e glória brilhavam como o amanhecer acima dos horizontes do mundo, e o esplendor de seu conhecimento lançava seus raios sobre Oriente e Ocidente. A palavra do império largamente difundido, daqueles que cingiam sua coroa, alcançava até mesmo os habitantes do Círculo Ártico, e a fama da augusta presença de seu Rei dos Reis humilhava os governantes da Grécia e de Roma. Os maiores filósofos do mundo maravilhavam-se com a sabedoria de seu governo, e seu sistema político tornou-se o modelo para todos os soberanos dos quatro continentes então conhecidos. Ele foi distinguido, entre todos os povos, pela abrangência de seu domínio, foi reverenciado por todos pelas suas louváveis cultura e civilização. Ele era o pivô do mundo, ele era a fonte e o centro de ciências e artes, a nascente das grandes invenções e descobertas, a rica mina de virtudes e perfeições humanas. O intelecto, a sabedoria dos membros individuais desta excelente nação fascinavam as mentes das outras pessoas, o brilhantismo e o gênio perceptivo que caracterizavam esta nobre raça incitavam a inveja do mundo inteiro.
Além daquilo que é objeto de registro nas histórias persas, afirma-se no Antigo Testamento – estabelecido hoje entre todos os povos europeus como um Texto sagrado e canônico – que no tempo de Ciro, conhecido nas obras iranianas como Bahman, filho da Isfandíyár, as trezentas e sessenta divisões do Império Persa estendiam-se dos confins do interior da Índia e da China aos mais remotos recantos do Iêmen e da Etiópia.7 Os contos gregos relatam também como este orgulhoso soberano avançou contra eles com um exército incalculável e deixou seus domínios, até então vitoriosos, reduzidos ao pó. Ele fez estremecer os pilares de todos os governos; de acordo com aquela autorizada obra árabe, a história de Abu’l-Fidá, ele conquistou o inteiro mundo conhecido. Está também registrado neste mesmo texto e em outros, que Firaydún, um rei da dinastia Píshdádíyán – quem, de fato, em virtude de suas perfeições inerentes, seu poder de julgamento, a abrangência de seu conhecimento e sua longa série de contínuas vitórias, foi único entre todos os que o procederam e o seguiram – dividiu o inteiro mundo conhecido entre seus três filhos.
Como comprovado pelos anais das pessoas mais ilustres do mundo, o primeiro governo a ser estabelecido na terra, o mais notável império organizado entre as nações, foi o trono e o diadema da Pérsia.
Ó povo da Pérsia! Acordai de vosso sono embriagador! Levantai de vossa letargia! Sede justos em vosso julgamento: permitirão os ditames da honra que esta terra sagrada, outrora a fonte da civilização mundial, a origem de glória e felicidade para toda humanidade, a inveja do Oriente e do Ocidente, permaneça um objeto de piedade, deplorado por todas as nações? Ela foi outrora o mais nobre dos povos: deixareis a história contemporânea registrar para as eras o seu atual estado de decadência? Aceitareis complacentemente sua desgraça atual, quando ela já foi a terra de todos os desejos da humanidade? Deve ela agora, por causa desta desprezível indolência, desta incapacidade de lutar, desta completa ignorância, ser considerada a mais retrógrada das nações?
Não foi o povo da Pérsia, em tempos distantes, a cabeça e o rosto do intelecto e da sabedoria? Não brilharam eles, pela graça de Deus, como a estrela d’alva nos horizontes do conhecimento Divino? Como é que estamos hoje satisfeitos com esta miserável condição, estamos atraídos às nossas paixões licenciosas, nos cegamos à suprema felicidade, àquela que é agradável aos olhos de Deus, e tenhamos todos ficado absorvidos em nossas preocupações egoístas e na busca de vantagem ignóbil e pessoal?
Esta mais formosa das terras foi outrora uma lâmpada, deixando fluir os raios do conhecimento Divino, de ciência e arte, de nobreza e conquistas elevadas, de sabedoria e valor. Hoje, por causa do ócio e da letargia de seu povo, seu torpor, seu indisciplinado modo de vida, sua falta de orgulho, falta de ambição – sua brilhante prosperidade foi totalmente eclipsada, sua luz tornou-se escuridão. “Os sete céus e as sete terras choram pelo poderoso quando ele é derrotado.”
Não se deve imaginar que o povo da Pérsia é inerentemente deficiente em inteligência, ou que, em perceptividade e compreensão essenciais, sagacidade inata, intuição e sabedoria, ou capacidade ingênita, ele seja inferior aos outros. Deus o proíba! Pelo contrário, eles sempre sobrepujaram todos os outros povos em talentos concedidos de nascença. Além disso, a própria Pérsia, do ponto de vista de seu clima temperado e belezas naturais, suas vantagens geográficas e seu rico solo, é abençoada em um grau supremo. O que ela urgentemente necessita, no entanto, é de profunda reflexão, ação resoluta, educação, inspiração e encorajamento. Seu povo deve fazer um esforço massivo e seu orgulho deve ser despertado.
Hoje, em todos os cinco continentes do globo é a Europa e a maior parte da América que são renomadas por sua lei e ordem, governo e comércio, arte e indústria, ciência, filosofia e educação. No entanto, em tempos antigos estes eram os mais selvagens dos povos do mundo, os mais ignorantes e brutais. Eles eram até mesmo estigmatizados como bárbaros – ou seja, como extremamente rudes e incivilizados. Ademais, do século V após Cristo até o século XV, aquele período definido como a Idade Média, tais lutas terríveis e revoltas ferozes, tais encontros implacáveis e atos horríveis eram a regra entre os povos da Europa, de tal modo que os europeus acertadamente descrevem aqueles dez séculos como a Idade das Trevas. A base do progresso e da civilização da Europa foi verdadeiramente estabelecida no século XV da era cristã, e daquela época em diante toda sua presente e evidente cultura esteve, sob o estímulo de grandes mentes e como um resultado da expansão das fronteiras do conhecimento e do emprego de esforços enérgicos e ambiciosos, em processo de desenvolvimento.
Hoje, pela graça de Deus e a influência espiritual de Sua Manifestação universal, o governante justo do Irã reuniu seu povo no abrigo da justiça, e a sinceridade do objetivo imperial tem sido demonstrada por si só na realeza de seus atos. Na esperança de que seu reino rivalizará com o passado glorioso, ele tem buscado estabelecer a eqüidade e a retidão, e fomentar a educação e os processos de civilização por toda esta nobre terra, e traduzir potencialidade em realidade tudo o que assegure seu progresso. Até então nunca havíamos visto um monarca, que segurasse em suas mãos habilidosas as rédeas dos assuntos e de cuja elevada determinação dependesse o bem-estar de seus súditos, exercendo, como lhe convém, como um pai benevolente, seus esforços à instrução e ao cultivo de seu povo, procurando assegurar seu bem-estar e paz de espírito, e demonstrando devida preocupação pelos seus interesses; este Servo e aqueles como Ele têm, portanto, permanecido silenciosos. Agora, no entanto, está claro para os perspicazes que o Xá, de sua própria vontade, tomou a resolução de estabelecer um governo justo e assegurar o progresso de todos os seus súditos. Sua honorável intenção tem evocado, conseqüentemente, esta presente declaração.
É estranho, em verdade, que ao invés de oferecer agradecimentos por esta bênção, que verdadeiramente deriva da graça de Deus Todo-Poderoso, levantando-se unidos em gratidão e entusiasmo, e orando para que estes nobres propósitos multipliquem-se dia a dia, alguns, pelo contrário, cuja razão tem sido corrompida por motivos pessoais e cuja clareza de percepção foi obscurecida por interesses egoístas e vaidade, cujas energias são dedicadas ao serviço de suas paixões, cujo senso de honra está pervertido pelo amor ao poder, levantaram a bandeira da oposição e elevaram bem alto suas queixas. Até agora eles culpavam o Xá por não ter, de sua própria iniciativa, trabalhado pela prosperidade de seu povo e procurado realizar sua paz e bem-estar. Agora que ele inaugurou este grande desígnio eles mudaram de tom. Alguns dizem que estes constituem métodos modernos e estrangeirismos totalmente desconexos às necessidades atuais e aos costumes seculares da Pérsia. Outros arregimentaram as massas desamparadas, que nada conhecem de religião ou de suas leis e princípios básicos e que, portanto, não possuem poder de discernimento – e dizem a eles que estes métodos modernos são as práticas de povos pagãos e são contrários aos veneráveis cânones da verdadeira fé, e acrescentam dizendo que “Aquele que imita um povo é um deles.” Um grupo insiste que tais reformas devem continuar com grande ponderação, passo a passo, sendo a pressa inadmissível. Outros mantêm que tais medidas somente devem ser adotadas à medida que os próprios persas as idealizem, pois eles mesmos devem reformar sua administração política e seu sistema educacional, e o estado de sua cultura, e que não há necessidade de tomar emprestadas melhorias de outras nações. Cada facção, em resumo, segue sua própria ilusão particular.
Ó povo da Pérsia! Por quanto tempo desencaminhar-vos-eis? Quanto tempo deve durar vossa confusão? Por quanto tempo continuarão este conflito de opiniões, este antagonismo inútil, esta ignorância, esta recusa em pensar? Outros estão alertas e nós dormimos nosso sono sem sonhos. Outras nações estão empreendendo todo esforço na melhoria de sua condição; estamos aprisionados em nossos desejos e auto-indulgências e, a cada passo, caímos em uma nova armadilha.
Deus é Nossa testemunha de que Nós não temos nenhum motivo ulterior ao discorrermos sobre este tema. Não buscamos angariar favor de ninguém nem atrair alguém para Nós próprios, nem tirar disto qualquer proveito material. Falamos somente como alguém que deseja sinceramente o beneplácito de Deus, pois Nós volvemos Nosso olhar para longe do mundo e de seus povos e buscamos refúgio no protetor cuidado do Senhor. “Não vos exijo recompensa alguma . . . minha retribuição só procede de Deus.” 8
Aqueles que sustentam que estes conceitos modernos somente se aplicam aos outros países e são irrelevantes ao Irã, que eles não satisfazem suas exigências ou se adaptam ao seu modo de vida, desconsideram o fato de que outras nações já foram como somos atualmente. Não contribuíram estes novos sistemas e procedimentos, estas iniciativas progressistas para o avanço daqueles países? Foram os povos da Europa prejudicados pela adoção de tais medidas? Ou, pelo contrário, eles alcançaram por estes meios o mais elevado grau de desenvolvimento material? Não é verdade que, durante séculos, o povo da Pérsia tem vivido como o vemos vivendo atualmente, levando a cabo o modelo do passado? Resultaram quaisquer benefícios discerníveis, algum progresso foi realizado? Se estes fatos não tivessem sido comprovados pela experiência, alguns em cuja mente a luz da inteligência nativa está obscurecida poderiam questioná-los em vão. Pelo contrário, entretanto, cada aspecto destes pré-requisitos para o progresso tem sido testado repetidas vezes, em outros países, e seus benefícios demonstrados tão plenamente que até mesmo a mais tola das mentes pode entendê-los.
Consideremos isto de forma justa e sem preconceitos: perguntemo-nos qual destes princípios básicos e sensatos, procedimentos bem estabelecidos, falhariam em satisfazer nossas necessidades atuais ou seriam incompatíveis com os melhores interesses políticos da Pérsia ou injuriosos para o bem-estar geral de seu povo. Seriam a expansão da educação, o desenvolvimento de artes e ciências úteis, o fomento à indústria e à tecnologia, coisas prejudiciais? Pois tal esforço soergue o indivíduo do interior da multidão e o eleva das profundezas da ignorância às mais elevadas alturas do conhecimento e excelência humana. O estabelecimento de uma legislação justa, em harmonia com as Leis Divinas que garantem a felicidade da sociedade e protegem os direitos de toda a humanidade e constituem uma prova inexpugnável contra a agressão – tais leis, assegurando a integridade dos membros da sociedade e sua igualdade perante a lei, inibiriam sua prosperidade e sucesso?
Ou, se através do uso das faculdades de percepção alguém pudesse traçar analogias partindo das atuais circunstâncias e das conclusões tiradas a partir da experiência coletiva, e pudesse visualizar como tornar realidade as situações apenas potenciais no momento, seria irracional considerar que tais presentes medidas garantiriam nossa segurança futura? Pareceria míope, imprudente ou insano, constituiria um desvio daquilo que é justo e apropriado se tivéssemos que fortalecer nossas relações com os países vizinhos, vir a firmar tratados com as grandes potências, estabelecer laços de amizade com governos bem intencionados, olhar para a expansão do comércio com as nações do Oriente e do Ocidente, desenvolver nossos recursos naturais e aumentar a riqueza de nosso povo? Se os governadores provinciais e distritais fossem destituídos de seu atual poder absoluto, uma vez que eles agem conforme seu bel-prazer e fossem, ao contrário, limitados pela eqüidade e verdade, e se suas sentenças envolvendo pena capital, prisão e outras similares fossem condicionadas à confirmação pelo Xá e pelas altas cortes da capital, que primeiro investigariam devidamente o caso e determinariam a natureza e seriedade do crime e, então, transmitiriam uma decisão justa, sujeita à publicação de um decreto pelo soberano, significaria uma perdição para nossos súditos? Caso o suborno e a corrupção, hoje conhecidos pelos agradáveis nomes de “presentes e favores”, fossem extintos para sempre, isto ameaçaria os alicerces da justiça? Constituiria uma evidência de pensamento insano libertar a soldadesca, que representa um sacrifício vivo para o estado e o povo e desafia a morte a cada momento, de suas extremas miséria e indigência atuais e tomar providências adequadas para seu sustento, vestuário e alojamento, e exercer todo o esforço para instruir seus oficiais na ciência militar e supri-los com os mais avançados tipos de armas de fogo e outros armamentos?
Fosse alguém objetar que as reformas supramencionadas nunca foram totalmente efetivadas, ele deveria considerar o assunto imparcialmente e saber que estas deficiências resultaram da total ausência de uma opinião pública unificada e da falta de zelo e resolução e dedicação por parte dos líderes do país. É óbvio que somente quando o povo for educado, somente quando a opinião pública for adequadamente focalizada, somente quando os funcionários do governo, mesmo os de mais baixo escalão, estiverem isentos do mínimo resquício de corrupção, pode o país ser apropriadamente administrado. Somente quando a disciplina, a ordem e um bom governo atingirem o grau em que um indivíduo, mesmo que ele desenvolvesse seus máximos esforços para assim proceder, encontrar-se-ia ainda incapaz de desviar-se, na espessura de um fio de cabelo, do caminho da retidão, podem as desejadas reformas serem consideradas totalmente estabelecidas.
Além disso, toda e qualquer instituição, ainda que seja o instrumento do maior bem à humanidade, pode ser mal utilizada. Seu uso adequado ou abuso dependem dos vários graus de discernimento, capacidade, fé, honestidade, dedicação e magnanimidade dos líderes de opinião pública.
O Xá certamente fez a sua parte e a execução das medidas benéficas propostas está agora nas mãos das pessoas que trabalham nas assembléias consultivas. Se estes indivíduos provarem ser puros e magnânimos, se eles permanecerem livres da mácula da corrupção as confirmações de Deus farão deles uma fonte inesgotável de dádiva à humanidade. Ele fará com que fluam de seus lábios e de suas penas aquilo que abençoará o povo, de modo que cada canto deste nobre país, o Irã, será iluminado com sua justiça e integridade, e os raios daquela luz circundarão toda a terra. “Porque isso não é difícil a Deus.” 9
Caso contrário, está claro que os resultados provar-se-ão inaceitáveis. Pois se tem testemunhado claramente em certos países estrangeiros que, logo após o estabelecimento de parlamentos, aqueles corpos realmente afligiram e confundiram o povo, e suas bem intencionadas reformas produziram resultados maléficos. Embora o estabelecimento de parlamentos, a organização de assembléias consultivas, constitua o próprio fundamento e base do governo, existem diversos requisitos essenciais que estas instituições devem preencher. Primeiro, os membros eleitos devem ser íntegros, tementes a Deus, magnânimos, incorruptíveis. Segundo, eles devem ser plenamente cientes, em cada particularidade, das Leis de Deus, conhecedores dos mais elevados princípios da lei, versados nas regras que governam a administração dos assuntos internos e na conduta das relações exteriores, hábeis nas artes proveitosas da civilização e satisfeitos com os seus emolumentos legais.
Não se deve imaginar que seria impossível encontrar membros deste tipo. Através da graça de Deus e de Seus eleitos, e dos elevados esforços dos devotos e consagrados, toda dificuldade pode ser facilmente resolvida, todo problema, por mais complexo que seja, provar-se-á mais simples que piscar os olhos.
Se, todavia, os membros destas assembléias consultivas forem inferiores, ignorantes, desinformados das leis de governo e administração, insensatos, mal intencionados, indiferentes, indolentes, egoístas, nenhum benefício advirá da organização de tais corpos. Onde, no passado, um homem pobre, se quisesse buscar seus direitos tinha simplesmente que oferecer um presente a um indivíduo, atualmente ele teria que renunciar a toda esperança de justiça ou então satisfazer todos os membros.
Uma investigação minuciosa revelará que a causa principal de opressão e injustiça, de iniqüidade, irregularidade e desordem, é a falta de fé religiosa no povo e o fato de eles não serem educados. Quando, por exemplo, as pessoas são genuinamente religiosas e são letradas e bem instruídas, e apresenta-se uma dificuldade, elas podem recorrer às autoridades locais; caso elas não obtenham justiça e assegurem seus direitos, e caso elas vejam que a conduta do governo local é incompatível ao beneplácito Divino e à justiça real, elas podem então levar seu caso a cortes superiores e descrever o desvio da administração local em relação à lei espiritual. Essas cortes podem então solicitar os registros locais do caso e, neste caminho, a justiça será feita. Atualmente, porém, devido à sua educação inadequada, a maior parte da população não dispõe nem mesmo do vocabulário para explicar o que ela quer.
No que se refere àquelas pessoas que, aqui e acolá, são consideradas líderes do povo: em razão disto ser somente o início de um novo processo administrativo, elas não estão suficientemente adiantadas em sua educação para terem experimentado os deleites de ministrar justiça ou terem saboreado o regozijo de promover a retidão ou terem sorvido das fontes de uma consciência limpa e uma intenção sincera. Elas não entenderam adequadamente que a suprema honra e a verdadeira felicidade residem no auto-respeito, nas decisões elevadas e intenções nobres, na integridade e na qualidade moral, na pureza da mente. Elas imaginaram, pelo contrário, que sua grandeza consiste na acumulação, por qualquer meio que se lhes apresente, de bens mundanos.
O homem deveria parar e refletir e ser justo: seu Senhor, de imensurável graça, fez dele um ser humano e o honrou com as palavras: “Criamos o homem na mais perfeita proporção”10 – e fez com que Sua misericórdia, que se eleva acima do alvorecer da unicidade, sobre ele reluzisse até que ele se tornasse o manancial das palavras de Deus e o lugar em que os mistérios do paraíso iluminaram-se, e na manhã da criação ele fosse coberto com os raios das qualidades da perfeição e das graças da santidade. Como pode ele manchar esta imaculada vestimenta com a imundície dos desejos egoístas ou trocar esta honra eterna pela infâmia? “Tu te consideras somente uma forma insignificante, quando o universo está abarcado dentro de ti?”11
Não fosse nosso intento ser breve e desenvolver nosso tema principal, nós registraríamos um sumário de temas do mundo Divino referentes à realidade do homem e sua elevada posição, e o insuperável valor e importância da raça humana. Deixemos isto para uma outra ocasião.
A condição mais elevada, a suprema esfera, a mais nobre, mais sublime posição na criação, seja visível ou invisível, seja alfa ou ômega, é aquela dos Profetas de Deus, não obstante o fato de que geralmente eles têm, para o mundo exterior, a aparência de nada possuírem a não ser sua própria pobreza. Do mesmo modo, glória inefável é reservada para os Santos e aqueles que estão mais próximos ao Limiar de Deus, posto que pessoas como estas nem por um momento sequer se preocuparam com ganho material. Em seguida, vem a condição daqueles soberanos justos, cuja reputação de protetores dos povos e dispensadores da justiça Divina espalhou-se pelo mundo, cujo nome como poderosos campeões dos direitos dos povos ecoou através da criação. Estes não dão atenção à acumulação de enormes fortunas pessoais; eles acreditam, pelo contrário, que sua própria riqueza reside no enriquecimento de seus súditos. Para eles, se cada cidadão individualmente tiver riqueza e conforto, os cofres reais estarão cheios. Eles não sentem orgulho pelo ouro e prata mas, pelo contrário, pela sua iluminação e determinação em conseguir o bem universal.
Os próximos na escala são aqueles eminentes e honoráveis ministros de estado e deputados, que colocam a vontade de Deus acima de sua própria, e cujas habilidade e sabedoria administrativas na conduta de seus cargos públicos elevam a arte de governar a novas alturas da perfeição. Eles brilham no mundo instruído como lâmpadas do conhecimento; seus pensamentos, suas atitudes e seus atos demonstram seu patriotismo e sua preocupação com o progresso do país. Contentes com um modesto estipêndio, eles consagram seus dias e noites à execução de importantes tarefas e ao planejamento de métodos para assegurar o progresso do povo. Através da eficácia de seu sábio conselho, da integridade de seu julgamento, eles fizeram com que seu governo se tornasse um exemplo a ser seguido por todos os governos do mundo. Eles fizeram de sua capital um foco central de grandes empreendimentos mundiais, e conquistaram distinção, alcançando um grau supremo de eminência pessoal e atingindo as mais elevadas alturas de reputação e caráter.
Em seguida, existem aqueles homens de conhecimento famosos e talentosos, possuidores de qualidades louváveis e de uma vasta erudição, que se prendem ao apoio forte do temor a Deus e mantêm-se nos caminhos da salvação. No espelho de suas mentes, as formas da realidade transcendente são refletidas e a lâmpada de sua visão interior deriva sua luz do sol do conhecimento universal. Noite e dia, eles estão ocupados com meticulosa pesquisa em tais ciências que são proveitosas para a humanidade e dedicam-se à instrução de estudantes de capacidade. É certo que pelo seu critério de discernimento os tesouros ofertados pelos reis não se comparariam a uma única gota das águas do conhecimento, e montanhas de ouro e prata não poderiam ter mais valor do que a resolução bem sucedida de um problema difícil. Para eles, os deleites que jazem ao lado de fora de seu trabalho constituem somente brinquedos para crianças, e a carga enfadonha das posses desnecessárias são benéficas somente para os ignorantes e os vis. Contentes como os pássaros, eles rendem graças por um punhado de sementes, e a canção de sua sabedoria deslumbra as mentes dos mais sábios do mundo.
Existem ainda líderes sagazes entre os povos e personalidades influentes em todo o país que constituem os pilares do estado. Sua posição, condição e sucesso dependem de eles serem os que desejam o bem do povo, e de sua busca de tais meios que aperfeiçoarão a nação e aumentarão a riqueza e o conforto de seus cidadãos.
Observai o caso em que um indivíduo é uma pessoa eminente em seu país, zelosa, sábia, de coração puro, conhecida por sua capacidade inata, inteligência, perspicácia natural – e que é também um importante membro do estado: O quê, para tal indivíduo, pode ser considerado como honra, felicidade duradoura, posição e condição, seja nesta vida ou na vindoura? É a dedicação assídua à verdade e à retidão, é o empenho, resolução e devoção ao beneplácito de Deus, é o desejo de atrair a consideração favorável do governante e merecer a aprovação do povo? Ou, ao contrário, consistiria nisto, que por causa do prazer em festas e libertinagens à noite ele deveria gradativamente arruinar o seu país e partir os corações de seu povo durante o dia, fazendo com que Deus o rejeitasse e o seu soberano o exilasse, e o seu povo o difamasse e o mantivesse em merecido desprezo? Por Deus, os ossos em decomposição no cemitério são melhores do que estes! De que valor são eles, aqueles que nunca saborearam o alimento celestial das verdadeiras qualidades humanas e nunca beberam das águas cristalinas dessas bênçãos que pertencem ao reino do homem?
É inquestionável que o objetivo de estabelecer parlamentos é levar a efeito a justiça e a retidão, mas tudo depende dos esforços dos representantes eleitos. Se sua intenção for sincera, resultados desejáveis e melhorias incalculáveis apresentar-se-ão; caso contrário, é certo que tudo será sem sentido, o país chegará a uma paralisação e questões públicas deteriorar-se-ão continuamente. “Eu vejo mil construtores insuficientes para um destruidor; que tal, então, um construtor seguido por mil destruidores?”
O propósito das afirmações antecedentes é demonstrar pelo menos isto, que a felicidade e a grandeza, a posição e o status, a satisfação e a paz de um indivíduo nunca consistiram em sua riqueza pessoal, mas, pelo contrário, em seu caráter excelente, sua elevada determinação, a extensão de sua erudição e sua habilidade para solucionar problemas difíceis. Como bem se disse: “Sobre minhas costas está uma vestimenta que, fosse vendida por um centavo, aquele centavo seria de valor muito maior; ainda mais, dentro das vestes está uma alma que, se tu a comparasses com todas as almas no mundo, provar-se-ia maior e mais nobre.”
Na presente visão do escritor, seria preferível se a eleição de membros não-permanentes de assembléias consultivas em estados soberanos fosse dependente da vontade e escolha do povo. Pois, por conta disso, os representantes eleitos serão um tanto inclinados a exercer justiça a fim de que sua reputação não sofra e eles não caiam em desfavor do público.
Não se deve imaginar que os comentários iniciais do escritor constituem uma repreensão à riqueza ou uma condenação à pobreza. A riqueza é louvável no mais elevado grau se for adquirida pelo esforço próprio de um indivíduo e pela graça de Deus no comércio, agricultura, arte e indústria, e se for despendida para propósitos filantrópicos. Sobretudo, se um indivíduo sensato e de bons recursos iniciasse providências que enriquecessem universalmente as massas de pessoas, não poderia haver empreendimento maior do que este, e ele posicionar-se-ia diante de Deus como a suprema realização, pois tal benfeitor supriria as necessidades e asseguraria o conforto e bem-estar de uma vasta multidão. A riqueza é meritória ao máximo, contanto que a inteira população seja rica. Se, entretanto, poucos têm riquezas excessivas enquanto os demais estão empobrecidos, e nenhum fruto ou benefício advier daquela riqueza, ela é então somente responsabilidade para o seu possuidor. Se, por outro lado, ela for despendida para a promoção do conhecimento, a fundação de escolas elementares e outras, o fomento à arte e indústria, a instrução dos órfãos e pobres – seu possuidor distinguir-se-á perante Deus e o homem como o mais excelente de todos que vivem sobre a terra, e será contado como um dentre o povo do paraíso.
Quanto àqueles que sustentam que a inauguração de reformas e o estabelecimento de instituições poderosas estariam na realidade em desacordo com o beneplácito de Deus e transgrediriam as leis do Divino Doador de Leis, e seriam contrários aos princípios religiosos fundamentais e à vontade do Profeta – deixai-os considerarem como este poderia ser o caso. Transgrediriam tais reformas a lei religiosa porque elas seriam adquiridas de estrangeiros e nos compeliriam, portanto, a sermos como eles são, visto que “Aquele que imita um povo é um deles”? Em primeiro lugar, estas questões referem-se aos aparatos temporais e materiais da civilização, às ferramentas da ciência, aos suplementos do progresso nas profissões e nas artes, e à conduta metódica do governo. Elas absolutamente nada têm a ver com os problemas do espírito e às complexas realidades da doutrina religiosa. Se for alegado que mesmo onde questões materiais sejam afetadas as importações estrangeiras são inadmissíveis, tal argumento apenas estabeleceria a ignorância e a insensatez de seus proponentes. Esqueceram-se eles do célebre hadíth (Tradição Sagrada): “Buscai conhecimento, mesmo que na China?” É certo que o povo da China estava, perante Deus, entre os mais rejeitados dos homens, porque ele adorava ídolos e estava desatento ao Senhor onisciente. Os europeus eram ao menos “Povos do Livro” e crentes em Deus, e especificamente citados no verso sagrado, “Constatarás que aqueles que estão mais próximos do afeto dos crentes são os que dizem: Somos cristãos!”12 Portanto, é totalmente admissível e em verdade mais apropriado adquirir conhecimento de países cristãos. Como poderia a busca por conhecimento entre os pagãos ser aceitável a Deus e sua busca entre o Povo do Livro Lhe ser repugnante?
Ademais, na Batalha dos Confederados, Abú Sufyán angariou o apoio do Baní Kinánih, do Baní Qahtán e judeu Baní Qurayzih, e levantou-se com todas as tribos do Quraysh para eliminar a Luz que flamejava na lâmpada de Yathrib (Medina). Naqueles dias, os grandes ventos das provações e tribulações estavam soprando de cada direção, como está escrito: “Pensam os humanos que serão deixados em paz só porque dizem: Cremos! Sem o provarem?”13 Os crentes eram poucos e o inimigo atacando em grande número, procurando encobrir o recém-erguido Sol da Verdade com o pó da opressão e tirania. Então Salmán (o persa) entrou na presença do Profeta – o Ponto do Alvorecer da revelação, o Foco dos infindáveis esplendores de graça – e disse que na Pérsia, a fim de protegerem-se de uma hoste usurpadora, eles cavavam um fosso ou uma trincheira ao redor de suas terras, e que isto se havia provado uma salvaguarda altamente eficiente contra ataques de surpresa. Será que aquela Fonte de sabedoria universal, aquela Mina de conhecimento Divino, em resposta, disse que isto era uma prática corrente entre idólatras, magos adoradores do fogo, e dificilmente poderia ser adotada por monoteístas? Ou, pelo contrário, Ele imediatamente orientou Seus seguidores a começarem cavar a trincheira? Ele próprio, em Sua abençoada pessoa, pegou as ferramentas e foi ao trabalho ao lado deles.
Além disso, é uma questão de registro nos livros das diversas escolas islâmicas e dos escritos de líderes clérigos e historiadores, que após a Luz do Mundo ter se erguido sobre Hijáz, inundando toda a humanidade com Seu esplendor e, através da revelação de uma nova Lei Divina, novos princípios e instituições, criando uma mudança fundamental por todo o mundo – foram reveladas leis sagradas que em alguns casos conformaram-se às práticas dos Dias da Ignorância.14 Dentre estas, Maomé respeitou os meses de trégua,15 manteve a proibição da carne suína, continuou o uso do calendário lunar e os nomes dos meses, e assim por diante. Há um considerável número destas leis enumeradas nos textos:
“O povo dos Dias da Ignorância engajava-se em muitas práticas que a Lei do Islã mais tarde confirmou. Eles não tomariam em casamento ambas, uma mãe e sua filha, e o mais vergonhoso dos atos, na visão deles, era desposar duas irmãs. Eles estigmatizariam um homem que desposasse a esposa de seu pai, zombeteiramente chamando-o de concorrente de seu pai. Era seu costume ir em peregrinação à Casa de Meca, onde eles cumpriam as cerimônias de visitação, colocando vestimentas de peregrino, praticando a circumbulação, seguindo por entre as montanhas, detendo-se em todos os locais de parada e arremessando as pedras. Além disso, era seu hábito intercalar um mês em cada período de três anos para efetuar abluções após intercurso sexual, enxaguar a boca e aspirar água através das narinas, repartir o cabelo, usar o palito de dente, aparar as unhas e depilar as axilas. Eles cortavam, também, a mão direita de um ladrão.”
Pode alguém, Deus proíba, assumir que, em virtude de algumas das leis Divinas assemelharem-se às práticas dos Dias da Ignorância, os costumes de um povo abominado por todas as nações, se deduz que existe uma falha nestas leis? Ou pode alguém, Deus proíba, imaginar que o Senhor Onipotente foi movido a concordar com as opiniões dos pagãos? A sabedoria Divina toma muitas formas. Teria sido impossível a Maomé revelar uma Lei que não trouxesse nenhuma semelhança a qualquer prática corrente nos Dias da Ignorância? Certamente, o propósito de Sua consumada sabedoria era o de libertar o povo das chamas do fanatismo que os havia amarrado pelas mãos e pés, e prevenir aquelas muitas objeções que hoje confundem a mente e perturbam a consciência do humilde e desamparado.
Alguns, que não são suficientemente informados quanto ao significado dos Textos Divinos e do conteúdo da história tradicional e escrita, afirmarão que estes costumes dos Dias da Ignorância eram leis que haviam sido reveladas por Sua Santidade Abraão e preservadas pelos idólatras. Em relação a isto, eles citarão o verso do Alcorão: “Incitamos-te a que adotes o credo de Abraão, o monoteísta.” 16 Entretanto, é um fato atestado pelos escritos de todas as escolas islâmicas que os meses de trégua, o calendário lunar e a amputação da mão direita como punição ao ladrão não faziam parte da Lei de Abraão. Em todo caso, o Pentateuco é ainda hoje existente e disponível, e contém as leis de Abraão. Eles então insistirão, naturalmente, que a Torá foi adulterada e, como prova, citarão o verso do Alcorão: “há aqueles que deturpam as palavras.”17 Sabe-se, entretanto, onde tais distorções ocorreram, e é uma questão de registro em textos e comentários críticos.18 Fôssemos Nós desenvolver tal assunto além desta breve referência, Nós teríamos que abandonar Nosso presente propósito.
De acordo com alguns relatos, a humanidade tem sido levada a emprestar diversas qualidades e modos bons dos animais selvagens, e a aprender uma lição com eles. Visto que é permissível imitar virtudes de animais mudos, certamente o é muito mais emprestar ciências e técnicas materiais de povos estrangeiros, que pelo menos pertencem à raça humana e são distinguidos por julgamento e pelo poder de fala. E se for argumentado que tais qualidades louváveis são inatas nos animais, por qual prova podem eles reivindicar que estes princípios essenciais de civilização, este conhecimento e estas ciências correntes entre outros povos não sejam inatas? Existe qualquer Criador a não ser Deus? Dize: Louvado seja Deus!
Os clérigos mais versados e talentosos, os mais distinguidos eruditos, têm diligentemente estudado aqueles ramos de conhecimento de cujas raiz e origem eram os filósofos gregos, tais como Aristóteles e outros, e têm considerado a aquisição de textos de ciências dos gregos, tais como medicina e ramos da matemática, inclusive a álgebra19 e aritmética, como uma valiosíssima realização. Cada um dos eminentes clérigos estuda e também ensina a ciência da lógica, embora eles considerem que seu fundador tenha sido um sabeu. A maior parte deles tem insistido que, se um erudito dominou completamente uma variedade de ciências mas não é bem fundamentado em lógica, suas opiniões, deduções e conclusões seguramente não podem ser confiáveis.
Já foi clara e irrefutavelmente demonstrado que a importação dos princípios e procedimentos civilizatórios de países estrangeiros, e a aquisição de suas ciências e técnicas – em resumo, de tudo quanto contribuirá para o bem geral – são inteiramente permissíveis. Isto tem sido feito para focalizar a atenção pública sobre uma questão de tal proveito universal a fim de que o povo possa levantar-se com toda sua energia para promovê-la até que, com a ajuda de Deus, esta Terra Sagrada possa tornar-se, em um curto período, a primeira entre as nações.
Ó vós que sois sábios! Considerai cuidadosamente isto: pode um revólver comum ser comparado a um rifle Martini-Henry ou a um revólver Krupp? Se qualquer um afirmasse que nossas armas de fogo dos velhos tempos são boas o bastante para nós e que é inútil importar armamentos que foram inventados no exterior, mesmo uma criança lhe daria ouvidos? Ou alguém diria: “Nós sempre transportamos mercadorias de um país para outro no lombo de animais. Por que precisamos de locomotivas a vapor? Por que deveríamos imitar outros povos?” Poderia alguma pessoa inteligente tolerar tal afirmação? Não, pelo Deus único! A não ser que ele, por causa de algum intento ou animosidade antiga, recuse aceitar o óbvio.
Nações estrangeiras, apesar de terem alcançado a maior especialização em ciência, indústria e nas artes, não hesitam em emprestar idéias umas das outras. Como pode a Pérsia, um país na mais terrível carência, deixar-se ficar para trás, negligenciada, abandonada?
Aqueles eminentes clérigos e homens de conhecimento que andam no caminho reto e são versados nos segredos da sabedoria Divina e informados das íntimas realidades dos Livros Sagrados; que têm em seus corações a jóia do temor a Deus e cujas faces luminosas resplandecem com as luzes da salvação – estes estão alertas à presente necessidade e entendem os requisitos dos tempos modernos, e certamente dedicam todas as suas energias ao encorajamento do saber e da civilização. “Poderão, acaso, equiparar-se os sábios com os insipientes?”. . . ou . . . “Poderão equiparar-se as trevas e a luz?”20
Os espiritualmente sábios são lâmpadas de guia entre as nações, e estrelas de boa sorte resplandecendo dos horizontes da humanidade. São fontes de vida para aqueles que jazem na morte da ignorância e inconsciência, nascentes cristalinas de perfeições para aqueles que têm sede e vagueiam no deserto de seus defeitos e erros. São os locais do alvorecer dos emblemas da Unidade Divina e iniciados nos mistérios do glorioso Alcorão. São médicos habilidosos para a cura do corpo enfermo do mundo, são o antídoto certo ao veneno que tem corrompido a sociedade humana. Eles é que são a forte cidadela que protege a humanidade a o santuário inexpugnável para as extremamente angustiadas, ansiosas e atormentadas vítimas da ignorância. “Conhecimento é a luz que Deus lança no coração de quem quer que Ele deseje.”
Para cada coisa, entretanto, Deus tem criado um sinal e símbolo, e estabelecido padrões e testes pelos quais ela pode ser conhecida. Os espiritualmente sábios devem se caracterizar por ambas perfeições, interior e exterior; eles devem possuir um bom caráter, uma natureza iluminada, uma intenção pura, bem como poder intelectual, radiância e discernimento, intuição, prudência e presciência, temperança, reverência e um sincero temor a Deus. Pois uma vela apagada, por maior que seja em diâmetro e altura, não é melhor do que uma palmeira estéril ou uma estaca de madeira inerte.
A cara de flor pode amuar ou flertar,Uma autorizada Tradição afirma: “Quanto àquele que é um dos instruídos:21 ele deve proteger-se, defender sua fé, obstar suas paixões e obedecer aos mandamentos de seu Senhor. É, por conseguinte, a obrigação das pessoas guiarem-se por ele.” Uma vez que estas ilustrações e palavras sagradas incorporam todas as condições de aprendizagem, é apropriado um breve comentário sobre seu significado. Quem quer que esteja deficiente nestas qualificações Divinas e não demonstre estes requisitos inescapáveis em sua própria vida não deve ser considerado erudito e não é digno de servir como um modelo para os crentes.
O primeiro destes requisitos é proteger a si próprio. É óbvio que isto não se refere a proteger-se de calamidades e testes materiais, pois os Profetas e santos foram, cada um e todos, sujeitados às mais amargas aflições que o mundo tem a oferecer e foram alvos para todas as crueldades e agressões da humanidade. Eles sacrificaram suas vidas pelo bem-estar dos povos e, de todo o seu coração, apressaram-se ao local de seu martírio; e com suas perfeições interiores e exteriores eles adornaram a humanidade em novas vestes das qualidades excelentes, ambas, adquiridas e inatas. O significado primário desta proteção de si próprio é adquirir os atributos de perfeição espiritual e material.
O primeiro atributo de perfeição são a aprendizagem e as realizações culturais da mente, e esta eminente posição é atingida quando o indivíduo combina em si próprio um completo conhecimento daquelas realidades complexas e transcendentes que pertencem a Deus, das verdades fundamentais da lei política e religiosa do Alcorão, do conteúdo das sagradas Escrituras de outras fés e daqueles regulamentos e procedimentos que contribuiriam ao progresso e civilização deste distinguido país. Ele deve ser informado, adicionalmente, das leis e princípios, dos costumes, condições e maneiras, e das virtudes materiais e morais que caracterizam a diplomacia de outras nações, e deve ser bem versado em todos os ramos úteis do saber do dia, e estudar os registros históricos dos antigos governos e povos. Pois, se um indivíduo erudito não tem conhecimento das escrituras sagradas e de todo campo da ciência Divina e natural, da jurisprudência religiosa e das artes de governar, e do diversificado conhecimento da época e dos grandes eventos da história, ele pode se mostrar despreparado para uma emergência e isto é inconsistente com a necessária qualificação de conhecimento abrangente.
Se, por exemplo, um muçulmano espiritualmente erudito estiver conduzindo um debate com um cristão e ele nada souber a respeito das gloriosas melodias do Evangelho, ele será, não importa o quanto transmita do Alcorão e suas verdades, incapaz de convencer o cristão, e suas palavras cairão em ouvidos surdos. Se, entretanto, o cristão observar que o muçulmano é melhor versado nos fundamentos do Cristianismo do que os próprios sacerdotes cristãos e entende o significado das Escrituras ainda melhor do que eles, ele alegremente aceitará os argumentos do muçulmano, e não teria realmente outro recurso.
Quando o Comandante do Exílio22 alcançou a presença daquele Luminar de sabedoria Divina, de salvação e certeza, o Imame Ridá – houvesse o Imame, aquela mina de conhecimento, no decurso de sua conversação, falhado em fundamentar seus argumentos sobre autoridade de modo apropriado e familiar ao Exilarca, o último nunca haveria reconhecido a grandeza de Sua Santidade.
O estado é, além do mais, baseado em duas forças poderosas: o legislativo e o executivo. O centro focal do poder executivo é o governo, enquanto aquele do legislativo é o conhecimento – e se este último grande suporte e pilar se provasse defeituoso, como é concebível que o estado permanecesse?
Em vista do fato de que atualmente tais indivíduos plenamente desenvolvidos e amplamente eruditos são difíceis de se encontrar, e o governo e o povo estão em terrível necessidade de ordem e orientação, é essencial estabelecer um corpo de eruditos cujos diversos grupos de membros seriam, cada um deles, especialista em um dos ramos de conhecimento anteriormente mencionados. Este corpo deve deliberar com a maior energia e vigor quanto a todas as exigências atuais e futuras, e estabelecer equilíbrio e ordem.
Até agora não foi dado à lei religiosa um papel decisivo em nossas cortes porque cada um dos ulemás, que tem legado decretos de acordo com o que acha conveniente, baseado em sua interpretação arbitrária e opinião pessoal. Por exemplo, dois homens recorrerão à justiça, e um dos ulemás favorecerá o queixoso, e o outro, o acusado. Pode acontecer que em casos similares duas decisões conflitantes serão legadas pelo mesmo mujtahid, em razão de que ele esteve inspirado primeiro em uma direção e depois em outra. Não pode haver dúvida que tal estado de coisas tem confundido cada assunto importante e deve pôr em perigo os próprios alicerces da sociedade. Pois nem o queixoso, nem o acusado jamais perdem a esperança de eventual sucesso e cada um, à sua vez, dissipará sua vida na tentativa de garantir um veredicto posterior que revogasse o anterior. Todo o seu tempo é desta forma entregue ao litígio e, conseqüentemente, sua vida, em vez de ser dedicada a empreendimentos benéficos e afazeres pessoais necessários, é completamente envolvida com a disputa. Em verdade, estes dois litigantes poderiam ser considerados mortos, pois eles não podem servir nem um pouquinho seu governo e comunidade. Se, entretanto, um veredicto definitivo e final fosse apresentado, a parte devidamente sentenciada desistiria forçosamente de toda esperança de reabrir o caso e seria então aliviada daquela dívida, e voltaria atrás para cuidar de seus interesses e aqueles dos outros.
Visto que os meios fundamentais para assegurar a paz e a tranqüilidade dos povos, e a ação mais eficaz para o progresso das classes alta e baixa igualmente, constituem este assunto integralmente importante, incumbe àqueles instruídos membros da grande assembléia consultiva, que são completamente versados na lei Divina, desenvolver um procedimento singular, direto e definitivo para a instalação de litígios. Este instrumento deve então ser publicado em todo o país por ordem do monarca e suas disposições estritamente seguidas. Esta questão integralmente importante requer a mais urgente atenção.
O segundo atributo da perfeição são justiça e imparcialidade. Isto significa não ter nenhuma consideração aos próprios benefícios pessoais e vantagens egoístas, e cumprir as leis de Deus sem a mais leve preocupação por qualquer outra coisa. Significa ver a si próprio como somente um dos servos de Deus, o Possuidor de Tudo e exceto por aspirar a uma distinção espiritual, nunca tentar ser escolhido entre os outros. Significa considerar o bem-estar da comunidade como o seu próprio. Significa, em resumo, considerar a humanidade como um simples indivíduo e a si mesmo como um membro daquela forma corpórea, e saber de um fato indubitável, que se uma dor ou injúria aflige qualquer membro daquele corpo, ela inevitavelmente deve resultar em sofrimento para todo o resto.
O terceiro requisito da perfeição é levantar-se com total sinceridade e pureza de intenção para educar as massas: exercer o máximo esforço para instruí-las nos vários ramos de conhecimentos e ciências úteis, encorajar o desenvolvimento do progresso moderno, ampliar o escopo do comércio, da indústria e das artes, promover tais medidas que aumentarão a prosperidade do povo. Pois a massa da população é desinformada quanto a estas ações que constituiriam um remédio imediato para as doenças crônicas da sociedade.
É essencial que eruditos e espiritualmente versados devam incumbir-se de, com toda sinceridade e pureza de intenção, e por amor a Deus somente, aconselhar e exortar as massas e clarificar sua visão com aquele colírio que é o conhecimento. Pois, neste dia, o povo, das profundezas de sua superstição, imagina que qualquer indivíduo que acredita em Deus e Seus sinais, e nos Profetas e Revelações e Leis Divinas, e é uma pessoa devotada e temente a Deus, deve inevitavelmente permanecer ocioso e despender seus dias em indolência, de modo a ser considerado à vista de Deus como alguém que renunciou ao mundo e suas vaidades, dirigiu seu coração ao mundo por vir e isolou-se dos seres humanos a fim de aproximar-se de Deus. Visto que este tema será desenvolvido em outra parte do presente texto, Nós o deixaremos no momento.
São outros atributos da perfeição o temor a Deus, amar a Deus através do amor a Seus servos, exercer brandura e paciência e serenidade, ser sincero, acessível, clemente e compassivo; ter determinação e coragem, integridade e energia, empenhar-se e esforçar-se, ser generoso, leal, sem malícia, ter zelo e senso de honra, ser nobre e magnânimo, e ter consideração pelos direitos dos outros. Quem quer que esteja em falta com estas excelentes qualidades humanas é deficiente. Se Nós fôssemos explicar os íntimos significados de cada um destes atributos, “o poema tomaria setenta maunds 22a de papel.”
O segundo destes padrões espirituais que se aplica ao possuidor de conhecimento é que ele deve ser o defensor de sua fé. É óbvio que estas palavras sagradas não se referem exclusivamente a buscar as implicações da Lei, observar as formas de adoração, evitar os maiores e menores pecados, praticar as ordenações religiosas e, através de todos estes métodos, proteger a Fé. Elas significam, pelo contrário, que toda a população deve ser protegida de todas as maneiras; que todo esforço deve ser exercido para adotar-se a combinação de todas as medidas possíveis para erguer a Palavra de Deus, aumentar o número de crentes, promover a Fé de Deus e exaltá-la e fazê-la vitoriosa sobre outras religiões.
Se, em verdade, as autoridades religiosas muçulmanas tivessem perseverado ao longo destas linhas, conforme deveriam ter feito, neste momento cada nação na terra teria sido reunida ao abrigo da unidade de Deus, e o esplendor do fogo de “para fazê-la prevalecer sobre todas as religiões” 23 teria flamejado como o sol no íntimo do coração do mundo.
Quinze séculos após Cristo, Lutero, que era originalmente um dos doze membros de um corpo religioso católico no centro do governo papal e mais tarde iniciou a crença religiosa protestante, se opôs ao Papa em certos pontos da doutrina, tais como a proibição do casamento monástico, a reverência e o curvar-se diante de imagens dos Apóstolos e líderes cristãos do passado, e várias outras práticas e cerimônias religiosas que foram acrescidas às ordenações do Evangelho. Embora naquele período o poder do Papa fosse tão grande e ele fosse respeitado com tal temor que os reis da Europa tremiam e estremeciam diante dele, e ele mantivesse controle dos principais interesses de toda a Europa ao alcance de seu poder – não obstante, devido à posição de Lutero relativa à liberdade de líderes religiosos casarem-se, à abstenção de adoração e de fazer-se prostrações diante de imagens e representações penduradas nas igrejas, e à ab-rogação de cerimoniais que haviam sido adicionados ao Evangelho, ter sido demonstravelmente correta, e por causa dos recursos apropriados que foram adotados para a promulgação de suas idéias, dentro destes últimos quatrocentos e tantos anos a maior parte da população da América, quatro quintos da Alemanha e da Inglaterra, e uma grande parte dos austríacos, em suma, cerca de cento e vinte e cinco milhões de pessoas tiradas de outras denominações cristãs, entraram na Igreja Protestante. Os líderes desta religião estão fazendo ainda todo esforço para promovê-la e, hoje, na Costa Leste da África, para emancipar ostensivamente os sudaneses e vários povos negros, eles têm estabelecido escolas e faculdades, e estão instruindo e civilizando tribos africanas completamente selvagens, enquanto seu verdadeiro e primário propósito é converter algumas das tribos muçulmanas negras ao Protestantismo. Cada comunidade está labutando para o avanço de seu povo, e nós (i.e., muçulmanos) dormimos!
Embora não estivesse claro qual o propósito que impelia este homem ou para onde ele estava dirigindo-se, vede como os zelosos esforços dos líderes protestantes têm difundido suas doutrinas em todo o redor.
Agora, se as pessoas ilustres do Deus uno e verdadeiro, os recipientes de Suas confirmações, os objetos de Sua Divina assistência, empregassem todo seu poder e, com total dedicação, confiando em Deus e desviando-se de tudo a não ser dEle, adotassem procedimentos para a difusão da Fé e direcionassem todos seus esforços para este fim, é certo que Sua Divina luz envolveria toda a terra.
Alguns, que estão inconscientes da realidade abaixo da superfície dos eventos, que não podem sentir o pulso do mundo sob seus dedos, que não sabem que uma dose maciça da verdade deve ser administrada para a cura desta velha e crônica doença da falsidade, crêem que a Fé somente pode ser difundida pela espada e amparam sua opinião com a Tradição, “Eu sou um Profeta pela espada.” Se, entretanto, eles examinassem cuidadosamente esta questão, veriam que neste dia e era a espada não é um recurso conveniente para a promulgação da Fé, pois ela encheria os corações das pessoas com revolta e terror. De acordo com a Divina Lei de Maomé, não é permissível compelir o Povo do Livro a reconhecer e aceitar a Fé. Embora seja uma sagrada obrigação que incumbe a todo consciencioso crente na unidade de Deus guiar a humanidade à verdade, as Tradições “Eu sou um Profeta pela espada” e “Eu sou ordenado a ameaçar as vidas das pessoas até elas dizerem ‘Não há outro Deus a não ser Deus’” referiram-se aos idólatras dos Dias da Ignorância, que em sua cegueira e bestialidade rebaixaram o nível dos seres humanos. Uma fé nascida de golpes de espada dificilmente poderia ser de confiança e, por qualquer motivo insignificante, reverteria em erro e descrença. Após a ascensão de Maomé e Sua passagem para a “presença de um Senhor Onipotente,” 24 as tribos ao redor de Medina apostataram de sua Fé, voltando-se à idolatria dos tempos pagãos.
Lembrai-vos que quando os sopros sagrados do Espírito de Deus (Jesus) estavam vertendo sua brandura sobre Palestina e Galiléia, sobre as margens do Jordão e as regiões ao redor de Jerusalém, e as maravilhosas melodias do Evangelho estavam ressoando nos ouvidos dos espiritualmente iluminados, todos os povos da Ásia e Europa, da África e América, da Oceania, que abrangem as ilhas e arquipélagos dos Oceanos Pacífico e Índico eram adoradores do fogo e pagãos, ignorantes da Voz Divina que se manifestou no Dia do Convênio.25 Somente os judeus acreditaram na divindade e unicidade de Deus. Depois da declaração de Jesus, o sopro puro e revivificante de Sua boca conferiu vida eterna aos habitantes daquelas regiões por um período de três anos, e através da Divina Revelação da Lei de Cristo, naquele tempo o remédio vital para o corpo enfermo da humanidade foi estabelecido. Nos dias de Jesus apenas alguns indivíduos volveram suas faces a Deus; de fato, somente os doze discípulos e algumas mulheres tornaram-se verdadeiramente crentes, e um dos discípulos, Judas Iscariotes apostatou de sua Fé, restando onze. Após a ascensão de Jesus ao Reino da Glória, estas poucas almas levantaram-se com suas qualidades espirituais e com ações que eram puras e santas, e ergueram-se pelo poder de Deus e os sopros vivificadores do Messias para salvar todos os povos da terra. Então todas as nações idólatras, bem como os judeus, ergueram-se com seu poder para matar o fogo Divino que havia sido aceso na lâmpada de Jerusalém. “Desejam em vão extinguir a Luz de Deus com suas palavras; porém, Deus rechaçara a quantos se opuserem ao aperfeiçoamento de Sua Luz, ainda que isto desgoste os incrédulos.”26 Sob as mais ferozes torturas, eles causaram a morte destas santas almas; com cutelos de açougueiros cortaram os corpos puros e imaculados de alguns deles em pedaços e os queimaram em fornalhas, e estenderam alguns dos crentes sobre o ecúleo e depois os enterraram vivos. A despeito deste agonizante castigo, os cristãos continuaram a ensinar a Causa de Deus e nunca tiraram uma espada de sua bainha ou até mesmo tocaram uma face. Então, finalmente, a Fé de Cristo abarcou toda a terra de tal maneira que na Europa e América nem traços de outras religiões foram deixados, e na Ásia e África e Oceania grandes massas de pessoas estão vivendo no santuário dos Quatro Evangelhos.
Agora foi plenamente estabelecido, pelas irrefutáveis provas acima, que a Fé de Deus deve ser propagada através das perfeições humanas, através de qualidades que sejam excelentes e amáveis, e de comportamento espiritual. Se uma alma, por sua própria iniciativa, avançar em direção a Deus, ela será aceita no Limiar da Unicidade, pois a mesma encontra-se livre de considerações pessoais, de interesses gananciosos e egoístas, e refugiou-se no abrigo da proteção de seu Senhor. Ela tornar-se-á conhecida entre os homens como fidedigna e veraz, moderada e escrupulosa, magnânima e leal, incorruptível e temente a Deus. Desta maneira, o propósito primário de revelar a Lei Divina – que é estabelecer a felicidade no pós-vida, e civilização e refinamento de caráter nesta – será realizado. Quanto à espada, ela somente produzirá um homem que é exteriormente um crente e interiormente um traidor e apóstata.
Nós relataremos aqui uma história que servirá como um exemplo a todos. As crônicas árabes contam que, em um tempo anterior ao advento de Maomé, Nu‘mán, filho de Mundhir-i-Lakhmí – um rei árabe nos Dias da Ignorância, cuja sede de governo era a cidade de Hírih – havia recorrido tantas vezes ao seu copo de vinho que sua mente nublou-se e sua razão o abandonou. Nesta condição de embriaguez e insensibilidade ele deu ordens para que seus dois convivais companheiros, seus amigos íntimos e muito queridos, Khálid, filho de Mudallil, e ‘Amr, filho de Mas‘úd-Kaldih, fossem mortos. Quando ele despertou de sua beberronia, perguntou por seus dois amigos e recebeu a dolorosa notícia. Ele ficou com o coração partido e, por causa deste intenso amor e saudade deles, construiu dois esplêndidos monumentos sobre suas sepulturas e deu a estes o nome de “Manchados de Sangue.”
Em seguida fixou dois dias do ano, em memória aos dois companheiros, e chamou um deles de Dia do Mal e outro de Dia de Graça. Cada ano, nestes dois dias designados, ele sairia com pompa e cerimônia e sentar-se-ia entre os monumentos. Se, no Dia do Mal, seu olhar caísse sobre qualquer alma, aquela pessoa seria levada à morte; entretanto, no Dia de Graça, quem quer que passasse seria cumulado de presentes e donativos. Assim foi sua lei selada com poderoso juramento e sempre rigidamente observada.
Um dia o rei montou em seu cavalo, que era chamado Mahmúd, e cavalgou pelas campinas para caçar. Subitamente, à distância, ele captou a visão de um asno selvagem. Nu‘mán apressou seu cavalo para alcançá-lo e galopou adiante a tal velocidade que ele separou-se de sua comitiva. Quando a noite aproximou-se, o rei estava desesperadamente perdido. Então ele avistou uma tenda, longe no deserto, e virou seu cavalo, volvendo sua cabeça em direção a ela. Quando alcançou a entrada da tenda, perguntou, “Recebereis vós um hóspede?” O dono (que era Hanzala, filho de Abí-Ghafráy-i-Tá’í) respondeu, “Sim.” Ele aproximou-se e ajudou Nu‘mán a desmontar. Depois foi à sua esposa e disse a ela, “Há claros sinais de grandeza na conduta desta pessoa. Dá o melhor de si para mostrar-lhe hospitalidade e prepara uma festa.” Sua esposa disse, “Nós temos uma ovelha. Sacrifica-a. E eu tenho economizado um pouco de farinha para um dia como este.” Hanzala primeiro ordenhou a ovelha e levou uma tigela de leite a Nu‘mán, e então abateu-a e preparou a carne; e, devido à sua cordialidade e amorosa bondade, Nu‘mán passou aquela noite em paz e conforto. Quando veio o alvorecer, Nu‘mán preparou-se para partir e disse a Hanzala: “Vós demonstrastes a mim a maior generosidade, recebendo-me e festejando. Eu sou Nu‘mán, filho de Mundhir, e aguardarei ansiosamente vossa chegada à minha corte.”
Tempo passou e a fome caiu sobre a terra de Tavy. Hanzala estava em terrível necessidade e por esta razão ele procurou pelo rei. Por uma estranha coincidência ele chegou no Dia do Mal. Nu‘mán estava espiritualmente muito perturbado. Ele começou a repreender seu amigo, dizendo, “Por que dentre todos os dias vieste a teu amigo neste dia? Pois este é o Dia do Mal, isto é, o Dia da Ira e o Dia da Aflição. Este dia, fossem meus olhos deparar-se com Qábús, meu único filho, ele não escaparia com sua vida. Agora, peça-me qualquer favor que tu desejes.” Hanzala disse: “Eu nada sabia de vosso Dia do Mal. Quanto às dádivas desta vida, elas destinam-se aos vivos, e uma vez que eu, nesta hora, devo sorver da morte, o que podem todos os tesouros do mundo agora me ajudar?”
Nu‘mám disse, “Não há socorro para isto.”Hanzala lhe falou: “Adia minha execução, então, para que eu possa voltar à minha esposa e fazer meu testamento. No próximo ano eu voltarei, no Dia do Mal.”
Nu‘mán pediu então um fiador, de modo que, se Hanzala quebrasse sua palavra, ele seria morto em seu lugar. Hanzala, desamparado e confuso, olhou em torno de si. Então sua vista pousou sobre alguém da comitiva de Nu‘mán, Sharík, filho de ‘Amr, filho de Qays de Shaybán, e recitou-lhe estas linhas: “Ó meu companheiro, ó filho de ‘Amr! Existe alguma saída para a morte? Ó irmão de todo aflito! Ó irmão daquele que não tem irmão! Ó irmão de Nu‘mán, em ti hoje está a garantia para o Shaykh. Onde está Shaybán, o nobre – possa o Todo-Misericordioso favorecê-lo!” Mas Sharík apenas respondeu, “Ó meu irmão, um homem não pode apostar sua vida.” Ao ouvir isto a vítima não podia achar para onde se voltar. Então um homem chamado Qarád, filho de Ajdá‘-i-Kalbí, levantou-se e ofereceu-se como uma garantia, concordando que, se ele falhasse em entregar-se como vítima no próximo Dia da Ira, o rei poderia fazer com ele, Qarád, o que quisesse. Nu‘mán concedeu então a Hanzala quinhentos camelos, e o mandou para casa.
No ano seguinte, no Dia do Mal, tão logo o leal alvorecer rompeu no céu, Nu‘mán, como era seu costume, adornou-se com pompa e fausto e dirigiu-se aos dois mausoléus chamados de “Manchados de Sangue.” Ele trazia Qarád a seu lado, para saciar sua ira real sobre ele. Os pilares do estado perderam então suas línguas e suplicaram por perdão, implorando ao rei para adiar a execução de Qarád até o pôr-do-sol, pois eles esperavam que Hanzala pudesse ainda retornar; mas o objetivo do rei era poupar a vida de Hanzala e retribuir sua hospitalidade levando Qarád à morte em seu lugar. Assim que o sol começou a se pôr, eles tiraram as vestes de Qarád e prepararam-se para cortar sua cabeça. Naquele momento um cavaleiro apareceu à distância, galopando a toda velocidade. Nu‘mán disse ao espadachim, “Por que te demoras?” Os ministros disseram, “Possivelmente seja Hanzala quem vem.” E quando o cavaleiro aproximou-se, viram que não era ninguém a não ser ele.
Nu‘mán estava terrivelmente insatisfeito. Ele disse, “Tolo és tu! Tu escapuliste uma vez dos dedos apertados da morte; deves tu provocá-la agora, uma segunda vez?”
E Hanzala respondeu, “Doce em minha boca e agradável em minha língua é o veneno da morte, ao pensamento de libertar minha garantia.”
Nu‘mán respondeu, “Qual poderia ser a razão para esta lealdade, este respeito por tua obrigação e esta preocupação com teu juramento?” E Hanzala respondeu, “É minha fé no Deus único e nos Livros desceram do céu.” Nu‘mán perguntou, “Que Fé tu professas?” E Hanzala disse, “Foram os santos sopros de Jesus que me trouxeram à vida. Eu sigo o caminho reto de Cristo, o Espírito de Deus.” Nu‘mán disse, “Deixa-me inalar estes doces aromas do Espírito.”
Então, foi assim que Hanzala tirou a mão alva da guia do peito do amor de Deus,27 e iluminou a visão e o discernimento dos espectadores com a luz do Evangelho. Depois que ele havia recitado alguns versos Divinos do Evangelho com timbre de voz similar ao do sino, Nu‘mán e todos os seus ministros enojaram-se de seus ídolos e de sua adoração a imagens, e foram confirmados na Fé de Deus. E disseram, “Ai de nós, mil vezes ai de nós, que até agora éramos desatentos a esta infinita mercê e velados disso, e estávamos privados desta chuva das nuvens da graça de Deus.” Então o rei imediatamente arrancou os dois monumentos chamados “Manchados de Sangue”, e arrependeu-se de sua tirania e estabeleceu justiça no país.
Observai como um indivíduo, e ele um homem do deserto, externamente parecendo desconhecido e sem qualquer posição – por ter demonstrado uma das qualidades dos puros de coração, era capaz de libertar este orgulhoso soberano e uma grande companhia de outros da noite escura da descrença e guiá-los à manhã da salvação; de salvá-los da perdição da idolatria e trazê-los para as praias da unicidade de Deus, e de colocar fim às práticas do tipo que arruína uma sociedade inteira e reduz as pessoas à barbárie. Cada um deve refletir profundamente sobre isto e compreender seu significado.
Meu coração sofre, pois noto com intenso pesar que a atenção das pessoas não está dirigida a parte alguma que seja meritória deste dia e época. O Sol da Verdade ergueu-se sobre o mundo, mas nós estamos aprisionados na escuridão de nossas imaginações. As águas do Supremo Oceano estão encapelando-se em todo nosso redor, enquanto estamos ressequidos e sedentos. O pão Divino está descendo do céu, e ainda tateamos e cambaleamos em uma terra assolada pela fome. “Entre pranto e conversa, eu prolongo meus dias.”
Uma das principais razões pela qual povos de outras religiões têm se afastado e falhado em converter-se à Fé de Deus é o fanatismo e desarrazoado zelo religioso. Vide por exemplo as palavras divinas que foram dirigidas a Maomé, a Arca da Salvação, o Luminoso Semblante e Senhor dos Homens, ordenando-Lhe ser bondoso para com o povo e seu longo sofrimento: “Refuta-os de maneira benevolente.” 28 Aquela Abençoada Árvore cuja luz não foi “que não é nem oriental nem ocidental” 29 e Quem lançou sobre todos os povos da terra a sombra protetora de uma graça incomensurável, demonstrou infinitas bondade e paciência em Sua conduta com cada um. Nesta palavras, do mesmo modo, Moisés e Aarão foram ordenados a desafiar o Faraó, Senhor das Estacas:30 30a “Falai-lhe afavelmente.” 31
Embora a conduta nobre dos Profetas e Santos de Deus seja amplamente conhecida, e é em verdade, até a chegada da Hora,32 em cada aspecto da vida um padrão excelente para a humanidade seguir, não obstante, alguns têm permanecido negligentes e apartados destas qualidades de extraordinária compaixão e amorosa bondade, e têm sido privados de alcançar os íntimos significados dos Livros Sagrados. Eles não apenas escrupulosamente evitam os aderentes de outras religiões que não sejam sua própria, não se permitem nem mesmo lhes mostrar cortesia. Se a alguém não for permitido associar-se a qualquer outro, como pode ele guiá-lo da noite tenebrosa e vazia da negação, de “não existe Deus,” para a esplendorosa manhã da crença, da afirmação “a não ser Deus.”33 E como pode alguém urgi-lo e encorajá-lo a erguer-se do abismo da perdição e ignorância, e escalar as alturas da salvação e conhecimento? Considerai imparcialmente: não houvesse Hanzala tratado Nu‘mán com verdadeira amizade, demonstrando-lhe bondade e hospitalidade, poderia ele ter levado um Rei e um grande número de outros idólatras a reconhecerem a unidade de Deus? Manter-se afastado das pessoas, evitá-las, ser áspero com elas, as fará recuarem, enquanto que afeto e consideração, brandura e paciência atrairão seus corações a Deus. Se um verdadeiro crente, ao encontrar um indivíduo de um país do exterior, demonstrasse repugnância e pronunciasse palavras horríveis que obstassem a associação com estrangeiros e se referissem a eles como “impuros”, o estrangeiro seria magoado e ofendido a tal ponto que jamais aceitaria a Fé, mesmo se visse, tomando lugar ante seus olhos, o milagre da ruptura da lua. Os resultados de afastá-lo seriam este, que se tivesse havido em seu coração qualquer ligeira inclinação a Deus, ele arrepender-se-ia dela e fugiria do oceano da fé para as ruínas do oblívio e da descrença. E, ao retornar para casa em seu próprio país, ele publicaria na imprensa declarações no sentido de que tal nação era absolutamente carente das qualificações de um povo civilizado.
Se ponderarmos um pouco sobre os versos e provas do Alcorão, e os tradicionais relatos que desceram a nós daquelas estrelas do céu da Unidade Divina, os Santos Imames, nós seremos convencidos do fato de que, se uma alma for dotada com os atributos de verdadeira fé e caracterizada com qualidades espirituais, ela tornar-se-á um emblema das estendidas mercês de Deus. Pois os atributos das pessoas de fé são justiça e honestidade; paciência e compaixão e generosidade; consideração pelos outros; franqueza, integridade e lealdade; amor e bondade; devoção e determinação e humanidade. Se, portanto, um indivíduo for verdadeiramente reto, ele beneficiará a si próprio com todos aqueles recursos que atraem os corações dos homens e, através dos atributos de Deus, conduzi-los-á ao caminho reto da fé e fará com que eles sorvam do rio da vida eterna.
Hoje fechamos nossos olhos para todo ato justo e sacrificamos a felicidade permanente da sociedade para nosso benefício transitório. Consideramos o fanatismo e o excesso de zelo como redundantes a nosso crédito e honra e, não contentes com isto, denunciamos uns aos outros e tramamos a ruína uns dos outros, e sempre que desejamos exibir sabedoria e conhecimento, virtude e religiosidade, nós começamos a escarnecer e injuriar este e aquele. “As idéias de tal indivíduo,” nós dizemos, “são fora de propósito, e tal e tal comportamento deixa muito a desejar. As práticas religiosas de Zayd são raras, e ‘Amr não é firme em sua fé. As opiniões de fulano têm sabor de Europa. Fundamentalmente, Blank não pensa em nada a não ser seu próprio nome e fama. Na última noite, quando a congregação levantou-se para orar, a fileira estava desalinhada, e não é permissível seguir um líder diferente. Nenhum homem rico morreu este mês, e nada foi ofertado em caridade em memória do Profeta. O edifício da religião desintegrou-se, os fundamentos das fés foram soprados aos ventos. O tapete da crença foi enrolado, os sinais da certeza apagados; o mundo inteiro caiu no erro; quando se trata de repelir a tirania, todos são brandos e negligentes. Dias e meses passaram-se e estes povoados e estados pertencem ainda aos mesmos proprietários a que pertenciam no ano passado. Nesta cidade costumava haver setenta diferentes autoridades funcionando de boa maneira, mas o número tem decrescido constantemente; existem agora somente vinte e cinco, como um lembrete. Era usual que duzentas sentenças fossem transmitidas pelo mesmo muftí a cada dia; agora dificilmente se tem cinqüenta. Naquela época havia multidões de pessoas que estavam todas loucas com litígio, e agora descansam em paz; hoje o queixoso seria derrotado e o réu vitorioso, amanhã o queixoso venceria o caso e o réu o perderia – mas agora esta excelente prática também foi abandonada. O que é esta religião pagã, este tipo idólatra de pecado! Ai da Lei, ai da Fé, ai de todas estas calamidades! Ó Irmãos na Fé! Isto é certamente o fim do mundo! O Juízo está próximo!”
Com palavras como estas eles atacam as mentes das massas desamparadas e perturbam os corações daqueles já pobres e desnorteados que nada sabem do verdadeiro estado de coisas e do real fundamento de todo aquele rumor, e permanecem completamente inconscientes do fato de que mil objetivos egoístas estão ocultos por trás da eloqüência supostamente religiosa de certos indivíduos. Eles imaginam que oradores deste tipo sejam motivados por zelo virtuoso, quando a verdade é que tais indivíduos sustentam um grande clamor público porque eles vêem sua própria ruína pessoal no bem-estar das massas, e acreditam que se os olhos do povo forem abertos sua própria luz apagar-se-á. Somente o discernimento mais aguçado detectará o fato de que, se os corações destes indivíduos forem realmente impelidos pela retidão e temor a Deus, sua fragrância seria, como o almíscar, espalhada por toda parte. Nada no mundo pode jamais ser sustentado apenas por palavras.
Mas estas corujas de mau agouro uma injustiça cometeram,
E a cantar como canta o falcão branco aprenderam.E que será da mensagem de Sabá que a ventoinha traz
Se o alcaravão aprende a cantar a canção da ventoinha? 34
Os espiritualmente eruditos, aqueles que têm derivado infinitas significação e sabedoria do Livro da Revelação Divina, e aqueles cujos corações iluminados obtêm inspiração do mundo invisível de Deus certamente exercem seus esforços para realizar a supremacia dos verdadeiros seguidores de Deus, sob todos os aspectos e acima de todas as pessoas, e eles labutam e lutam para fazer uso de cada ação que conduzirá ao progresso. Se qualquer homem negligencia estes elevados propósitos ele não pode jamais provar-se aceitável à vista de Deus; ele resiste com todas as suas fraquezas e alega perfeição, e necessitado, simula a riqueza.
Um preguiçoso, insensível e rabugento é uma pobre coisa,
“Um pedaço de carne, sem uma perna ou uma asa.”Sabedoria, pureza, devoção, disciplina, independência, nada têm a ver com aparência e vestimenta exterior. Uma vez, no decorrer de Minhas viagens, Eu ouvi uma eminente personagem fazer o seguinte excelente comentário, cujos saber e encanto permanecem na memória: “Nem todo turbante de clérigo é uma prova de moderação e sabedoria; nem todo chapéu de leigo é um sinal de ignorância e imoralidade. Quantas vezes um chapéu ergueu orgulhosamente a bandeira da sabedoria, quantas vezes um turbante pôs abaixo a Lei de Deus!”
O terceiro elemento do pronunciamento em discussão é: “resiste às próprias paixões.” Quão maravilhosas são as implicações desta frase ilusoriamente fácil, toda-abrangente. Este é o próprio alicerce de toda louvável qualidade humana; em verdade, estas poucas palavras corporificam a luz do mundo, a base inexpugnável de todos os atributos espirituais dos seres humanos. Este é o volante de balanço de todo comportamento, a maneira de manter todas as boas qualidades do homem em equilíbrio.
Pois o desejo é uma chama que tem reduzido a cinzas incontáveis colheitas da existência dos eruditos, um fogo devorador que mesmo o vasto oceano de seu conhecimento acumulado jamais poderia debelar. Quantas vezes tem acontecido que um indivíduo que foi agraciado com cada atributo de humanidade e adornado com a jóia da verdadeira compreensão, não obstante seguiu suas paixões até que suas excelentes qualidades ultrapassaram os limites da moderação e ele foi compelido ao excesso. Suas intenções puras alteraram-se para más intenções, seus atributos não eram mais usados dignamente e o poder de seus desejos desviou-o da retidão e de suas recompensas para os caminhos que eram perigosos e sombrios. Um bom caráter é, à vista de Deus e de Seus escolhidos e dos possuidores de discernimento, a mais excelente e louvável de todas as coisas, mas sempre sob a condição de que seu centro de emanação deva ser a razão e a sabedoria, e sua base deva ser a verdadeira moderação. Fossem as implicações deste assunto desenvolvidas como elas merecem, o trabalho aumentaria demasiadamente e nosso tema principal seria perdido de vista.
Todos os povos da Europa, não obstante sua alardeada civilização, submergem e afogam-se neste terrificante oceano de paixão e desejo, e este é o motivo pelo qual todos os fenômenos de sua cultura reduzem-se a nada. Que ninguém se admire desta afirmação ou a deplore. O propósito primário, o objetivo fundamental de revelarem-se poderosas leis e estabelecerem-se grandes princípios e instituições que tratam de cada aspecto da civilização é a felicidade humana; e a felicidade humana consiste apenas em ser atraído para mais perto do Limiar de Deus Todo-Poderoso, e em assegurar a paz e o bem-estar de cada membro individual da raça humana, eminentes e humildes, igualmente; e os instrumentos supremos para a realização destes dois objetivos são as excelentes qualidades com as quais a humanidade tem sido dotada.
Uma cultura superficial, não amparada por uma moralidade cultivada, é “uma confusão de sonhos”35 e brilho exterior sem perfeição interior é “como uma miragem no deserto; o sedento crerá ver água.”36
Os povos da Europa não progrediram nos elevados planos da civilização moral, como demonstram claramente suas opiniões e comportamento. Notai, por exemplo, como o desejo supremo de governos e povos europeus é conquistar e esmagar um ao outro, e como, embora nutrindo secretamente a maior repulsão, eles despendem seu tempo permutando expressões de afeição, amizade e harmonia de bons vizinhos.
Existe um caso bem conhecido de um governante que está fomentando paz e tranqüilidade, e ao mesmo tempo devotando mais energia do que os fomentadores da guerra à acumulação de armamentos e à construção de um exército maior, baseado nas alegações de que a paz e harmonia somente podem ser alcançadas através da força. Paz é o pretexto, e noite e dia eles estão envidando todos os esforços para amontoar mais armamentos de guerra, e para pagar por isto seu desgraçado povo deve sacrificar a maior parte de tudo que é capaz de ganhar pelo seu suor e labuta. Quantos milhares têm desistido de seu trabalho em indústrias benéficas e estão laborando dia e noite para produzir novos e mortíferos armamentos que derramariam o sangue da raça humana mais copiosamente do que antes.
A cada dia eles inventam uma nova bomba ou explosivo, e então os governos devem abandonar suas armas obsoletas e começar a produzir as novas, uma vez que armas antigas não podem defender-se contra as modernas. Como exemplo para este escrito, no ano 1292 A.H.37 inventaram um novo rifle na Alemanha e um canhão de bronze na Áustria, que têm maior poder de fogo do que o rifle Martini-Henry e o canhão Krupp, são mais rápidos em seus efeitos e mais eficazes na aniquilação da humanidade. O estonteante custo de tudo isto deve ser suportado pelas massas infelizes.
Sede justos: pode esta civilização insignificante, não amparada por uma genuína civilização de caráter, realizar a paz e o bem-estar dos povos ou conquistar o beneplácito de Deus? Ela não implica, pelo contrário, na destruição do patrimônio do homem e na demolição os pilares da felicidade e da paz?
Na época da Guerra Franco-Prussiana, no ano de 1870 da era cristã, foi relatado que 600 mil homens morreram, esmagados e abatidos, no campo de batalha. Quantos lares foram arrancados pelas raízes; quantas cidades, florescendo na noite anterior, foram derrubadas ao amanhecer. Quantas crianças ficaram órfãs e abandonadas, quantos pais e mães tiveram de ver seus filhos, os jovens frutos de suas vidas, curvando-se e morrendo em meio à poeira e ao sangue. Quantas mulheres ficaram viúvas, deixadas sem alguém para ampará-las ou protegê-las.
E naquele tempo havia as bibliotecas e magníficos edifícios na França que acabaram em chamas, e o hospital militar, apinhado de homens doentes e feridos, que foi incendiado e queimou até o alicerce. E seguiram-se os terríveis acontecimentos da Comuna, os atos selvagens, a ruína e o horror quando facções oponentes lutaram e mataram-se umas às outras nas ruas de Paris. Havia ódio e hostilidades entre líderes religiosos católicos e o governo alemão. Havia disputa e tumulto, derramamento de sangue e devastação provocados pelos partidários da República e os carlistas na Espanha.
Mais do que demasiados, tais exemplos são válidos para demonstrar o fato de que a Europa é moralmente incivilizada. Visto que o autor não tem o desejo de difamar qualquer pessoa, Ele restringiu-Se a estes poucos exemplos. É claro que nenhuma mente perceptiva e bem informada pode tolerar tais acontecimentos. É certo e apropriado que povos entre os quais ocorrem estes horrores, diametralmente opostos ao mais desejável comportamento humano, devam ousar reivindicar uma verdadeira e adequada civilização? Especialmente quando nenhum resultado pode ser esperado de tudo isto exceto alcançar uma vitória transitória; e uma vez que este efeito nunca perdura, não é, para o sábio, válido o esforço.
Repetidas vezes, através dos séculos, o estado alemão subjugou o francês; vezes sem conta o reino da França governou o país alemão. É admissível que em nossos dias 600 mil criaturas desamparadas sejam oferecidas como um sacrifício a práticas e efeitos tão insignificantes e temporários? Não, pelo Senhor Deus! Até mesmo uma criança pode ver o mal disto. Ainda assim, a busca pela paixão e desejo encobrirá os olhos com um milhar de véus que se erguem do coração para cegar tanto a visão como o discernimento.
Desejo e ego, à porta chegamA verdadeira civilização desfraldará sua bandeira no íntimo do coração do mundo onde quer que um certo número de seus distinguidos e magnânimos soberanos – os brilhantes exemplares de devoção e determinação – erguerem-se, pelo bem-estar e a felicidade de toda humanidade, com resolução firme e visão clara, a fim de estabelecerem a Causa da Paz Universal. Eles devem fazer da Causa da Paz o objeto de consulta geral e buscar, por todos os meios em seu poder, estabelecer uma União das nações do mundo. Eles devem concluir um tratado obrigatório e estabelecer um convênio cujas provisões sejam sólidas, invioláveis e definidas. Eles devem proclamá-lo ao mundo inteiro e obter para ele a sanção de toda raça humana. Este supremo e nobre empreendimento – a verdadeira fonte da paz e bem-estar do mundo todo – deve ser considerado como sagrado por todos os que habitam a terra. Todas as forças da humanidade devem ser mobilizadas para assegurar a estabilidade e a permanência deste Maior Convênio. Neste Pacto todo-abrangente devem ser claramente determinados os limites e fronteiras de cada nação, definitivamente formulados os princípios que fundamentam as relações dos governos entre si e averiguados todos os acordos e obrigações internacionais. De igual modo, o volume dos armamentos de cada governo deve ser estritamente limitado, pois se os preparativos para guerra e as forças militares de qualquer nação fossem permitidos a aumentar, eles despertariam a suspeita das demais. O princípio fundamental que forma a base deste Pacto solene deve ser tão estável que, se qualquer governo violar posteriormente alguma de suas provisões, todos os governos da terra devem levantar-se para reduzi-lo à absoluta submissão, mais ainda, a raça humana como um todo deve decidir, com todo o poder à sua disposição, destruir aquele governo. Se este maior de todos os remédios for aplicado ao corpo enfermo do mundo, ele indubitavelmente se recuperará de suas doenças e permanecerá eternamente salvo e seguro.38
Observai que, se tal feliz situação se apresentasse, nenhum governo necessitaria acumular armamentos de guerra nem sentir-se obrigado a produzir continuamente novos armamentos militares para conquistar a raça humana. Uma pequena força para os propósitos de segurança interna, a punição de elementos criminosos e desordeiros, e a prevenção de distúrbios locais, seria necessária – não mais. Desta forma, toda a população seria, primeiramente, aliviada da carga esmagadora de gastos atualmente impostos para fins militares e, em segundo lugar, grande número de pessoas cessaria em devotar seu tempo à invenção continuada de novos armamentos de destruição – aquelas testemunhas de voracidade e sede de sangue tão inconsistentes com a dádiva da vida – e, em vez disso, direcionaria seus esforços à produção de tudo o que promovesse a existência e a paz e o bem-estar humanos, e tornar-se-ia a causa de desenvolvimento e prosperidade universais. Então toda nação na terra reinará com honra e cada povo será acalentado em tranqüilidade e contentamento.
Poucos, inconscientes do poder latente no esforço humano, consideram esta questão altamente impraticável, ainda mais, até mesmo além dos extremos esforços do homem. Contudo, este não é o caso. Pelo contrário, graças à infalível graça de Deus, à amorosa bondade de Seus favorecidos, aos esforços incomparáveis de almas sábias e capazes, e aos pensamentos e idéias dos inigualáveis líderes desta era, nada absolutamente pode ser considerado inatingível. Esforço, incessante esforço é necessário. Nada menos do que uma indomável determinação pode concebivelmente alcançá-la. Numerosas causas que eras passadas consideraram puramente visionárias, neste dia já se tornaram, em sua maioria, acessíveis e praticáveis. Por que deveria esta maior e mais elevada Causa – a estrela d’alva do firmamento da verdadeira civilização e a causa da glória, do avanço, do bem-estar e do sucesso de toda humanidade – ser considerada uma façanha impossível? Certamente, dia virá quando sua bela luz irradiará esplendor sobre a assembléia do homem.
Enquanto os preparativos continuarem na marcha atual, o mecanismo de conflito atingirá o ponto em que a guerra tornar-se-á algo intolerável para a humanidade.
É claro, a partir do que já foi dito, que a glória e grandeza do homem não consistem em ele ser ávido por sangue e garras afiadas, em demolir cidades e espalhar devastação, em massacrar forças armadas e civis. O que significaria um futuro brilhante para ele seria sua reputação pela justiça, sua bondade para com toda população, seja rica ou pobre, sua atitude de edificar países e cidades, aldeias e distritos, de tornar a vida cômoda, pacífica e alegre para seus semelhantes, de formular princípios fundamentais para o progresso, de elevar os estandartes e incrementar a riqueza de toda a população.
Considerai como através de toda a história muitos reis sentaram-se em seus tronos como conquistadores. Dentre eles estavam Hulágú Khán e Tamerlão, que tomaram o vasto continente da Ásia, e Alexandre da Macedônia e Napoleão I, que estenderam seus punhos arrogantes sobre três dos cinco continentes da terra. E o que se ganhou através de todas as suas poderosas vitórias? Foi algum país levado a prosperar, resultou alguma felicidade, algum trono permaneceu? Ou, pelo contrário, foi assim que aqueles reinos perderam seu poder? Exceto que a Ásia elevou-se no fulgor de muitas batalhas e caiu às cinzas, Changíz’s Hulágú, o senhor da guerra, não colheu fruto algum de todas as suas conquistas. E Tamerlão, de todos os seus triunfos, colheu apenas povos levados aos ventos, e ruína universal. E Alexandre nada tinha para mostrar de suas imensas vitórias, exceto que seu filho tombou do trono e Felipe e Ptolomeu tomaram os domínios que ele havia outrora governado. E o que ganhou Napoleão I por subjugar os reis da Europa, exceto a destruição de países em florescência, a desgraça de seus habitantes, a difusão de terror e angústia através da Europa e, no fim de seus dias, seu próprio cativeiro? Basta para os conquistadores e os monumentos que eles deixam atrás de si!
Contrastam com isto as qualidades louváveis e a grandeza e nobreza de Anúshírván, o Generoso e o Justo.39 Aquele monarca imparcial chegou ao poder num tempo em que o trono da Pérsia, outrora solidamente estabelecido, estava prestes a desintegrar-se. Com sua Divina dádiva do intelecto, ele estabeleceu os fundamentos da justiça, desarraigando a opressão e tirania e reunindo os povos dispersos da Pérsia sob as asas de seu domínio. Graças à influência restauradora de seu contínuo cuidado, a Pérsia, que havia permanecido debilitada e desolada, foi vivificada e rapidamente transformou-se na mais bela de todas as nações em florescência. Ele reconstruiu e reforçou os poderes organizados do estado, e a fama de sua retidão e justiça ecoou através das sete regiões,39a até que as pessoas levantaram-se de sua degradação e miséria às alturas da felicidade e honra. Embora ele fosse um mago, Maomé, aquele Centro da criação e Sol dos profetas, disse sobre ele: “Eu nasci no tempo de um rei justo,” e regozijou-Se por ter vindo ao mundo durante seu reinado. Esta ilustre personagem alcançou sua augusta posição em virtude de suas admiráveis qualidades ou, pelo contrário, esforçando-se para conquistar a terra e derramar o sangue de seus povos? Observai que ele atingiu uma posição tão distinta no coração do mundo, que sua grandeza ainda ressoa através de toda a impermanência do tempo, e ele ganhou vida eterna. Fôssemos Nós comentar sobre a continuação da vida dos grandes, este breve ensaio seria indevidamente prolongado, e visto vez que é certo que de nenhuma forma a opinião pública na Pérsia será essencialmente afetada por sua leitura, Nós abreviaremos o trabalho e prosseguiremos em outras questões que se enquadram no âmbito do pensamento público. Se, entretanto, revelar-se que este resumo produz resultados favoráveis, Nós escreveremos, Deus desejando, diversos livros tratando detalhada e proficuamente dos princípios fundamentais da sabedoria Divina em sua relação com o mundo fenomenal.
Nenhum poder na terra pode prevalecer contra os exércitos da justiça, e toda cidadela deve tombar diante deles; pois os homens desejosamente caem sob os golpes triunfantes desta lâmina decisiva e lugares desolados florescem e vicejam sob a marcha desta hoste. Existem duas poderosas bandeiras que, quando lançam sua sombra sobre a coroa de qualquer rei, farão com que a influência deste governo penetre rápida e facilmente toda a terra, como se fosse a luz do sol: a primeira destas duas bandeiras é a sabedoria; a segunda é a justiça. Contra estas duas mais poderosas forças as montanhas de ferro não podem prevalecer e a muralha de Alexandre romper-se-á diante delas. É claro que a vida neste mundo que se desvanece rapidamente é fugaz e inconstante como o vento matinal e, assim sendo, quão afortunados são os grandes que deixam um bom nome atrás de si e a memória de um tempo de vida despendido na senda do beneplácito de Deus.
É tudo o mesmo, seja um tronoUma conquista pode ser algo louvável, e existem momentos em que a guerra torna-se a poderosa base da paz, e a ruína, o próprio meio de reconstrução. Se, por exemplo, um magnânimo soberano dispõe suas tropas para bloquear o ataque do insurgente e do agressor, ou ainda, se ele entra no campo de batalha e distingue-se em uma luta para unificar um estado e um povo divididos, se, em resumo, ele está travando guerra por um propósito justo, então esta aparente fúria é a própria mercê, e esta aparente tirania, a própria essência da justiça, e esta guerra, a pedra angular da paz. Hoje, a incumbência condizente aos grandes governantes é estabelecer a paz universal, pois nisto jaz a liberdade de todos os povos.
A quarta frase da Declaração anteriormente mencionada, que aponta o caminho da salvação, é: “obediente aos mandamentos de seu Senhor.” É certo que a mais elevada distinção do homem é ser humilde e obediente a seu Deus; que a sua maior glória, sua mais exaltada posição e honra dependem de sua estreita observância aos comandos e proibições Divinas. A religião é a luz do mundo, e o progresso, realização e felicidade do homem resultam da obediência às leis registradas nos Livros Sagrados. Em resumo, é demonstrável que, nesta vida, a mais poderosa das estruturas, quer externa ou internamente, a mais solidamente estabelecida, a mais duradoura, que mantém a guarda sobre o mundo, que assegura tanto as perfeições espirituais como as materiais da humanidade, e que protege a felicidade e a civilização da sociedade – é a religião.
É verdade que existem indivíduos insensatos que nunca examinaram adequadamente os fundamentos das religiões Divinas, que tomaram como seu critério o comportamento de uns poucos religiosos hipócritas e avaliaram todas as pessoas religiosas por aquele padrão de medida, e concluíram por causa disto que as religiões são um obstáculo para o progresso, um fator decisivo e uma causa de malevolência e inimizade entre as pessoas. Eles nem mesmo observaram isto em grande parte, uma vez que os princípios das religiões Divinas dificilmente podem ser avaliados pelos atos daqueles que apenas alegam segui-los. Pois toda coisa excelente, mesmo que seja inigualável, pode ainda ser desviada para fins errados. Uma lâmpada acesa nas mãos de uma criança não instruída ou de um cego não dissipará a escuridão do ambiente, nem iluminará a casa – ela ateará fogo no portador e na casa. Podemos nós, em tal caso, culpar a lâmpada? Não, pelo Senhor Deus! Ao que enxerga, a lâmpada é uma guia e mostrar-lhe-á seu caminho; mas é um desastre para o cego.
Entre aqueles que repudiaram a fé religiosa estava o francês Voltaire, que escreveu uma grande quantidade de livros atacando as religiões, trabalhos que não são melhores do que brinquedos de crianças. Este indivíduo, tomando como seu critério as omissões e comissões do Papa, o cabeça da religião Católica Romana, e as intrigas e rixas dos líderes espirituais da Cristandade, abriu sua boca e cavilou contra o Espírito de Deus (Jesus). Na insanidade de seu raciocínio, ele falhou em compreender a verdadeira significação das Sagradas Escrituras, criticou certas partes dos Textos revelados e enfatizou as dificuldades envolvidas. “E revelamos no Alcorão aquilo que é bálsamo e misericórdia para os crentes; porém, aos iníquos, isso não fará mais do que aumentar-lhes a perdição.” 40
A Saga de Ghazna41 contou a mística história“Com isso desvia a muitos e encaminha a muitos outros. Mas com isso só desvia os depravados . . .”43
É certo que o maior dos auxílios para realizar o progresso e a glória do homem, a suprema ação para a iluminação e redenção do mundo, são amor e solidariedade e unidade entre todos os membros da raça humana. Nada pode ser realizado no mundo, nem mesmo concebivelmente, sem unidade e concórdia, e o recurso perfeito para engendrar concórdia e união é a verdadeira religião.
“E ainda que tivesses despendido quanto há na terra, não terias conseguido conciliar seus corações; porém Deus o conseguiu . . .”44
Com o advento dos Profetas de Deus, Seu poder de criar uma real união, uma que seja tanto exterior como do coração, reúne pessoas malevolentes, que estiveram sedentas pelo sangue uns dos outros, no abrigo único da Palavra de Deus. Então cem mil almas tornam-se como uma só alma, e inúmeros indivíduos emergem como um só corpo.
Uma vez eram como as ondas do marOs eventos que se tornaram conhecidos no advento dos Profetas do passado, e Seus caminhos e trabalhos e particularidades, não são adequadamente revelados em histórias autorizadas e são referenciados apenas de forma condensada nos versículos do Alcorão, nas Sagradas Tradições e na Torá. Entretanto, visto que todos eventos desde os dias de Moisés até o presente estão contidos no poderoso Alcorão, nas autorizadas Tradições, na Torá e outras fontes confiáveis, Nós, aqui, contentar-Nos-emos com breves referências, sendo o propósito determinar conclusivamente se a religião é a própria base e princípio fundamental da cultura e civilização, ou se, como Voltaire e seus semelhantes supõem, ela frustra todo o progresso, bem-estar e paz sociais.
Para impedir de uma vez por todas as objeções por parte de qualquer um dos povos do mundo, Nós conduziremos Nossa discussão em conformidade com aqueles relatos autorizados com os quais todas as nações estão de acordo.
Num tempo em que os israelitas haviam se multiplicado no Egito e estavam espalhados por todo o país, os Faraós coptas do Egito decidiram fortalecer e favorecer seus próprios povos coptas e degradar e desonrar os filhos de Israel, a quem consideravam estrangeiros. Por um longo período os israelitas, divididos e dispersos, estiveram cativos nas mãos dos tirânicos coptas e foram escarnecidos e desprezados por todos, de forma que o mais desprezível dos coptas perseguiria e exerceria domínio sobre o mais nobre dos israelitas. A escravização, a miséria e o abandono dos hebreus alcançaram um nível tal que eles, dia ou noite, nunca estavam seguros de suas próprias vidas nem aptos a prover qualquer defesa a suas esposas e famílias contra a tirania de seus captores faraônicos. Eles continuaram nesta angústia até que subitamente Moisés, o Todo-Formoso, contemplou a Luz Divina jorrando do Vale abençoado, o lugar que era solo sagrado, e ouviu a voz vivificadora de Deus que falou da chama daquela árvore “que não é oriental nem ocidental,”46 e Ele levantou-Se na plena panóplia de Sua condição de profeta universal. No meio dos israelitas, Ele resplandeceu como uma lâmpada de guia Divina e, através da luz de salvação, Ele conduziu aquele povo perdido das sombras da ignorância para o conhecimento e perfeição. Ele reuniu as tribos dispersas de Israel sob o abrigo da Palavra de Deus, unificadora e universal, e nas alturas da união Ele ergueu a bandeira da harmonia, de modo que, em um breve período, aquelas almas incivilizadas tornaram-se espiritualmente educadas, e eles, que haviam sido forasteiros para a verdade, reuniram-se para a causa da unidade de Deus e foram libertados de sua desgraça, sua indigência, sua incompreensão e escravidão, e alcançaram o supremo grau de felicidade e honra. Eles emigraram do Egito, partiram para a pátria original de Israel e foram a Canaã e Filistina. Primeiro, eles conquistaram as margens do Rio Jordão e Jericó, e estabeleceram-se naquela área, e finalmente todas as regiões vizinhas, como Fenícia, Edom e Amon, caíram sob seu domínio. No tempo de Josué, havia trinta e um governos nas mãos dos israelitas e em cada nobre atributo humano – erudição, equilíbrio, determinação, coragem, honra, generosidade – este povo veio a sobrepujar todas as nações da terra. Quando, naqueles dias, um israelita entrava em uma reunião, ele era imediatamente identificado por suas muitas virtudes, e mesmo pessoas estrangeiras que desejavam elogiar uma pessoa, diziam que ela era como um israelita.
É, além disso, um consenso geral em numerosos trabalhos históricos, que os filósofos da Grécia, como Pitágoras, adquiriram a maior parte de sua filosofia, seja Divina ou material, dos discípulos de Salomão. E Sócrates, após ter viajado avidamente para reunir-se com alguns dos mais ilustres eruditos e clérigos de Israel, em seu retorno à Grécia estabeleceu o conceito da unicidade de Deus e da continuidade da vida da alma humana após ela ter despido seu pó elementar. Finalmente, os ignorantes entre os gregos denunciaram este homem, que havia penetrado os íntimos mistérios da sabedoria, e levantaram-se para tirar sua vida; e então a populaça forçou a mão de seu governante e, em conselho reunido, fizeram que Sócrates bebesse do cálice de veneno.
Depois que os israelitas haviam avançado cada nível de civilização e atingido sucesso no mais elevado grau, eles começaram pouco a pouco a esquecer os princípios fundamentais da Lei e Fé Mosaicas para ocuparem-se com ritos e cerimônias, e a apresentar conduta inconveniente. Nos dias de Roboão, o filho de Salomão, terrível dissensão desencadeou-se entre eles; um deles, Jeroboão, tramou usurpar o trono, e foi ele que iniciou a adoração de imagens. A disputa entre Roboão e Jeroboão levou a séculos de guerras entre seus descendentes, resultando na dispersão e separação das tribos de Israel. Em resumo, foi por esquecerem-se do significado da Lei de Deus que eles envolveram-se em fanatismo ignorante e práticas censuráveis, tais como insurreição e sedição. Seus clérigos, tendo concluído que todas aquelas qualificações essenciais da humanidade, estabelecidas no Livro Sagrado, eram naquele tempo uma letra morta, começaram a pensar somente em seus próprios interesses egoístas e afligiram as pessoas, deixando-as submergir nas mais baixas profundezas da negligência e ignorância. E o fruto de seu erro foi este, que a glória dos tempos antigos, que por tanto tempo havia durado, transformara-se agora em degradação, e os governantes da Pérsia, da Grécia e de Roma, a tomaram. As bandeiras de sua soberania foram abolidas; a ignorância, a insensatez, a humilhação e o amor-próprio de seus líderes religiosos e seus eruditos vieram à luz na chegada de Nabucodonozor, Rei da Bábilônia, que os destruiu. Após um massacre geral, pilhagem e demolição de suas casas, e até mesmo a extirpação de suas árvores, eles aprisionaram todo e qualquer remanescente que suas espadas houvessem poupado e os conduziram à Bábilônia. Setenta anos depois, os descendentes destes cativos foram libertados e retornaram a Jerusalém. Então Ezequias e Esdras restabeleceram em seu meio os princípios fundamentais do Livro Sagrado, e dia a dia os israelitas progrediram, e o esplendor matinal de suas épocas antigas amanheceu novamente. Em um curto período, entretanto, grandes dissensões quanto à crença e à conduta irromperam mais uma vez, e novamente o único interesse dos doutores judeus tornou-se a promoção de seus próprios objetivos egoístas, e as reformas que eles haviam conseguido no tempo de Esdras foram transformadas em perversidade e corrupção. A situação piorou a tal ponto que repetidas vezes os exércitos da república de Roma e de seus governantes conquistaram o território israelita. Finalmente o belicoso Tito, comandante das forças romanas, esmagou a pátria judaica ao pó, passou todo homem ao fio da espada, tomando as mulheres e crianças como prisioneiras, arrasando suas casas, arrancando suas árvores, queimando seus livros, pilhando seus tesouros, e reduzindo Jerusalém e o Templo a um monte de cinzas. Após esta suprema calamidade, a estrela do domínio de Israel reduziu-se a nada e, até hoje, o remanescente daquela nação desvanecida tem sido espalhado aos quatro ventos. “E foram condenados à humilhação e indigência . . .” 47 Estas duas supremas aflições, provocadas por Nabucodonozor e Tito, são referidas no glorioso Alcorão: “E havíamos lançado, no Livro, um vaticínio aos israelitas: causareis corrupção duas vezes na terra e vos tornareis grandes tiranos. E quando se cumpriu a primeira, enviamos contra vós povos poderosos que adentraram vossos lares e foi cumprida a Nossa cominação . . . E quando se cumpriu Nossa segunda cominação permitimos a (vossos) inimigos afligir-vos e invadir o Templo, tal como haviam invadido da primeira vez, e arrasar totalmente com quanto haviam conquistado.”48
Nosso propósito é mostrar que a verdadeira religião promove a civilização e a honra, a prosperidade e o prestígio, o conhecimento e o progresso de um povo outrora abjeto, escravizado e ignorante, e que, quando ele cai nas mãos de líderes religiosos insensatos e fanáticos, desvia-se para finalidades iníquas, até que este maior dos esplendores transforma-se na mais sombria das noites.
Quando, pela segunda vez, os inequívocos sinais da desintegração, humilhação, submissão e aniquilação de Israel haviam se tornado manifestos, então os doces e sagrados sopros do Espírito de Deus (Jesus) foram difundidos através do Jordão e da terra da Galiléia; a nuvem de compaixão Divina cobriu aqueles céus e as copiosas águas do espírito jorraram, e após aquelas chuvas abundantes que provêm do mais grandioso Oceano, a Terra Santa exalou seu perfume e floresceu com a sabedoria de Deus. Então a solene canção do Evangelho elevou-se até ressoar nos ouvidos daqueles que habitam nos aposentos do paraíso e, ao toque do sopro de Jesus, os negligentes mortos que jazem nos sepulcros de sua ignorância ergueram suas cabeças para receber vida eterna. Durante o período de três anos, aquele Luminar de perfeições caminhou pelos campos da Palestina e vizinhanças de Jerusalém conduzindo todos os homens ao alvorecer da redenção, ensinando-os como adquirir qualidades e atributos espirituais agradáveis a Deus. Houvesse o povo de Israel acreditado naquele belo Semblante, ter-se-ia preparado para servi-Lo e obedecê-Lo de coração e alma e, através da fragrância vivificante de Seu Espírito, teria recuperado sua vitalidade perdida e avançado a novas vitórias.
Ai, de que proveito foi isto: eles rejeitaram-No e fizeram-Lhe oposição. Levantaram-se e atormentaram aquela Fonte de Divina sabedoria, aquele Ponto sobre o qual desceu a Revelação – todos exceto alguns poucos que, volvendo suas faces a Deus, foram purificados das máculas deste mundo e encontraram seus caminhos às alturas do reino etéreo. Eles infligiram toda agonia àquela Fonte de graça, até que se Lhe tornou impossível viver nas cidades, e ainda assim Ele içou a bandeira da salvação e estabeleceu solidamente os fundamentos da retidão humana, aquela base essencial da verdadeira civilização.
No quinto capítulo de Mateus, começando pelo trigésimo sétimo versículo, Ele aconselha: “Não resistas ao homem mau; antes, àquele que te fere na face direita oferece-lhe também a esquerda;” E mais adiante, do quadragésimo terceiro versículo: “Ouvistes que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo.’49 Eu, porém vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; deste modo vos tornareis filhos de vosso Pai que está nos céus, pois Ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos. Com efeito, se amais aos que vos amam, que recompensa tendes?”
Muitos foram os conselhos deste tipo que foram proferidos por aquele Alvorecer da Divina sabedoria, e almas que se caracterizaram com tais atributos de santidade são as essências destiladas da criação e as fontes da verdadeira civilização.
Jesus, depois, fundou a sagrada Lei sobre uma base de caráter moral e completa espiritualidade, e para aqueles que n’Ele acreditavam Ele delineou um modo de vida especial que constitui o mais elevado tipo de ação na terra. E embora aqueles emblemas da redenção estivessem externamente parecendo abandonados à malevolência e perseguição de seus atormentadores, na realidade eles haviam sido libertados da escuridão desesperante que abarcava os judeus, e resplandeciam em eterna glória ao alvorecer daquele novo dia.
Aquela poderosa nação judaica tombou e desintegrou-se, mas aquelas poucas almas buscaram abrigo sob a Árvore Messiânica que transformou toda a vida humana. Naquele tempo os povos do mundo eram completamente ignorantes, fanáticos e idólatras. Somente um pequeno grupo de judeus professava crença na unicidade de Deus, e eles foram infortunados proscritos. Aquelas santas almas cristãs agora levantavam-se para promulgar uma Causa que era diametralmente oposta e repugnante às crenças da inteira raça humana. Os reis de quatro dos cinco continentes do mundo resolveram extirpar inexoravelmente os seguidores de Cristo e, apesar disso, ao final, a maior parte deles começou a promover a Fé de Deus de todo seu coração. Todas as nações da Europa, muitos povos da Ásia e África, e alguns dos habitantes das ilhas do Pacífico foram reunidos ao abrigo da unicidade de Deus.
Considerai se existe, em qualquer lugar da criação, um princípio mais poderoso em todos os sentidos do que a religião, ou se qualquer poder concebível é mais penetrante que as diversas Fés Divinas, ou se qualquer ação pode realizar verdadeiro amor e solidariedade e união entre todos os povos como o pode a crença em um Deus Todo-Poderoso e Todo-Sapiente, ou se, à exceção das leis de Deus, tem havido qualquer evidência de um instrumento para educar toda a humanidade em cada fase da retidão.
Aquelas qualidades que os filósofos alcançavam quando eles haviam atingido as próprias alturas de sua sabedoria, aqueles nobres atributos humanos que os caracterizavam no apogeu de sua perfeição seriam exemplificados pelos crentes tão logo eles aceitavam a Fé. Observai como aquelas almas que sorveram das águas viventes da redenção nas benevolentes mãos de Jesus, o Espírito de Deus, e adentraram as sombras protetoras do Evangelho, alcançaram um plano tão elevado de conduta que Galeno, o célebre médico, embora ele mesmo não fosse cristão, em seu sumário de República, de Platão, exaltou suas ações. A seguir, uma tradução literal de suas palavras:
“A generalidade da humanidade é incapaz de compreender uma seqüência de argumentos lógicos. Por esta razão, eles necessitam de símbolos e parábolas falando de recompensas e punições no próximo mundo. Uma evidência confirmatória disto é que nos dias de hoje nós observamos um povo chamado cristão, que acredita devotamente em recompensas e punições em uma condição futura. Este grupo demonstra ações excelentes, similares às ações de um indivíduo que é um verdadeiro filósofo. Por exemplo, nós todos vemos com nossos próprios olhos que eles não têm medo da morte, e sua paixão por justiça e procedimentos justos é tão grande que seria considerada genuína pelos filósofos.”50
A posição de um filósofo, naquela época e na concepção de Galeno, era superior a qualquer outra posição no mundo. Considerai então como o poder iluminador e espiritualizante das religiões divinas impele os crentes a tais alturas de perfeição que um filósofo como Galeno, ele próprio não cristão, oferece tal testemunho.
Uma demonstração do excelente caráter dos cristãos naqueles dias foi a sua dedicação à caridade e boas ações, e o fato de terem fundado hospitais e instituições filantrópicas. Por exemplo, a primeira pessoa a estabelecer clínicas públicas por todo o Império Romano, onde o pobre, o ferido e o desamparado recebiam cuidados médicos, foi o Imperador Constantino. Este grande rei foi o primeiro governante romano a promover a Causa de Cristo. Ele não poupou esforços em dedicar sua vida à promoção dos princípios do Evangelho, e estabeleceu solidamente o governo romano, que na realidade nada havia sido a não ser um sistema de opressão não abrandada sobre a moderação e a justiça. Seu abençoado nome resplandece através do alvorecer da história como a estrela d’alva, e sua posição e fama entre os mais nobres e mais altamente civilizados estão ainda nas línguas dos cristãos de todas as denominações.
Que sólida fundação de excelente caráter foi estabelecida naqueles dias, graças à instrução de almas santas que se ergueram para promover os ensinamentos do Evangelho! Quantas escolas primárias, estabelecimentos de ensino superior, hospitais foram estabelecidos, e instituições onde crianças órfãs e indigentes recebiam sua educação! Quantos foram os indivíduos que sacrificaram suas próprias vantagens pessoais e, “ com a intenção de comprazer a Deus,”51 devotaram os dias de suas vidas a ensinar as massas!
Quando, entretanto, aproximou-se o tempo para a resplandecente beleza de Maomé alvorecer sobre o mundo, o controle dos assuntos cristãos passou para as mãos de sacerdotes ignorantes. Aquelas brisas celestiais, fluindo suavemente das regiões da graça Divina, extinguiram-se, e as leis do formidável Evangelho, a pedra fundamental sobre a qual a civilização do mundo estava baseada, tornaram-se estéreis em resultados, isto por abuso e por causa da conduta de pessoas que, aparentando ser justas, eram, entretanto, interiormente sórdidas.
Os notáveis historiadores da Europa, ao descrever as condições, as maneiras, a política, o conhecimento e a cultura, em todos os seus aspectos, dos tempos antigos, medievais e modernos, registram unanimemente que durante os dez séculos que constituíram a Idade Média, do início do sexto século da era cristã até o encerramento do décimo quinto, a Europa foi, em todos os aspectos e a um grau extremo, bárbara e tenebrosa. A causa principal disto foi que os monges, referidos pelos povos europeus como líderes espirituais e religiosos, abandonaram a glória permanente que provém da obediência aos sagrados mandamentos e ensinamentos espirituais do Evangelho, e juntaram forças com os soberanos presunçosos e tirânicos daqueles tempos. Eles haviam desviado seus olhos da glória imperecível e estavam devotando todos os seus esforços ao fomento de seus mútuos interesses mundanos e vantagens passageiras e efêmeras. Ao final, as coisas atingiram um tal ponto que as massas eram prisioneiras desesperadas nas mãos destes dois grupos, e tudo isto reduziu a ruínas toda a estrutura da religião, cultura, prosperidade e civilização dos povos da Europa.
Quando os atos e pensamentos vis e os ignominiosos propósitos dos líderes haviam abrandado os doces aromas do Espírito de Deus (Jesus) e eles cessaram de fluir através do mundo, e a escuridão da ignorância e fanatismo das ações que eram desagradáveis a Deus envolveram a terra, então o alvorecer da esperança resplandeceu e a primavera Divina chegou; uma nuvem de misericórdia cobriu o mundo e, das regiões da graça, os ventos fecundos começaram a soprar. Em sinal de Maomé, o Sol da Verdade ergueu-se sobre Yathrib (Medina) e Hijáz, e lançou por todo o universo as luzes da glória eterna. Então a terra das potencialidades humanas foi transformada, e as palavras “E a terra resplandecerá com a luz de seu Senhor,” 52 foram cumpridas. O velho mundo tornou-se novo outra vez, e seu corpo inanimado levantou-se com vida abundante. Então a tirania e a ignorância foram derrotadas, e palácios altaneiros de sabedoria e justiça foram erigidos em seu lugar. Um oceano de esclarecimento estrondeou, e a ciência emitiu seus raios. Os povos selvagens de Hijáz, antes daquela Chama da suprema condição de Profeta que foi acesa na lâmpada de Meca, eram os mais brutais e incivilizados de todos os povos da terra. Em todas as histórias, suas práticas depravadas e viciosas, sua ferocidade e suas constantes contendas, são uma questão de recorde. Naqueles dias os povos civilizados do mundo nem mesmo consideravam as tribos árabes de Meca e Medina como seres humanos. E ainda mais, depois que a Luz do Mundo ergueu-se sobre eles – por causa da educação a eles conferida por aquela Mina de perfeições, aquele Centro Focal da Revelação, e das bênçãos concedidas pela Lei Divina – por um breve período foram reunidos no abrigo do princípio da unicidade Divina. Então, este povo brutal atingiu tão elevado grau de perfeição e civilização humana que todos os seus contemporâneos maravilhavam-se com eles. Aqueles mesmos povos que haviam sempre escarnecido dos árabes e os tomavam para ridicularizá-los como uma espécie destituída de raciocínio, agora os procuravam, visitando seus países para adquirir esclarecimento e cultura, habilidades técnicas, estadística, artes e ciências.
Observai a influência daquela instrução, inculcada pelo verdadeiro Educador, sobre as condições materiais. Aí estavam tribos tão incivilizadas e indômitas que durante o período de Jáhilíyyih sepultavam vivas suas filhas de sete anos – um ato que até mesmo um animal, sem falar em um ser humano, odiaria e rejeitaria, mas que elas, em sua extrema degradação, consideravam a suprema expressão de honra e devoção ao princípio – e este povo obscurecido, graças aos ensinamentos manifestados por aquela grande Personagem, progrediu a tal ponto que, depois de conquistar o Egito, a Síria e sua capital Damasco, a Caldéia, a Mesopotâmia e o Irã, veio a administrar, sem ajuda, quaisquer assuntos, fossem da maior importância, nas quatro principais regiões do globo.
Os árabes, então, sobrepujaram todos os povos do mundo nas ciências e nas artes, na indústria e inventos, na filosofia, governo e caráter moral. E, verdadeiramente, a ascensão deste elemento brutal e desprezível, em tão curto período, às supremas alturas da perfeição humana, é a maior demonstração da legitimidade da condição de Profeta do Senhor Maomé.
Nos primórdios do Islã, os povos da Europa adquiriam as ciências e artes da civilização do Islã, conforme praticadas pelos habitantes de Andaluzia. Uma investigação cuidadosa e completa do registro histórico estabelecerá o fato de que a maior parte da civilização da Europa é originada do Islã; pois todos os escritos dos eruditos e clérigos e filósofos muçulmanos foram gradualmente reunidos na Europa e, com a mais meticulosa atenção, foram ponderados e debatidos em reuniões acadêmicas e nos centros de educação, após o que seus valiosos conteúdos eram colocados em uso. Hoje, numerosas cópias dos trabalhos de eruditos muçulmanos, que não são encontrados nos países islâmicos, estão disponíveis nas bibliotecas da Europa. Além disso, as leis e princípios correntes em todos os países europeus são, em uma proporção considerável e, de fato, virtualmente em sua totalidade, provenientes dos trabalhos sobre jurisprudência e arbítrio legal de teólogos muçulmanos. Não fosse pelo receio de prolongar indevidamente o presente texto, Nós citaríamos estes empréstimos um a um.
Os primórdios da civilização européia datam do século VII da era islâmica. As particularidades eram estas: ao aproximar-se o final do século V da Hégira, o Papa, ou Cabeça da Cristandade, estabeleceu um grande alarido e lamentação pelo fato de que lugares sagrados para os cristãos, tais como Jerusalém, Belém e Nazaré, haviam caído sob domínio muçulmano, e ele incitou os reis e plebeus da Europa a empreender o que ele considerou uma guerra santa. Seu clamor apaixonado tornou-se tão sonoro que todos os países da Europa responderam, e reis cruzados, encabeçando inumeráveis hostes, atravessaram o Mar de Marmara e seguiram seu caminho ao continente da Ásia. Naqueles tempos, os Califas fatímidas imperavam sobre o Egito e alguns países do Ocidente, e a maior parte do tempo os reis da Síria, isto é, os seljuques, também estavam sob o domínio deles. Em resumo, os reis do Ocidente, com seus inúmeros exércitos, lançaram-se sobre Síria e Egito, e houve guerra ininterrupta entre os soberanos sírios e aqueles da Europa por um período de duzentos e três anos. Reforços estavam sempre chegando da Europa, e repetidas vezes os soberanos ocidentais atacavam violentamente e tomavam cada castelo na Síria e, muitas vezes, os reis do Islã libertavam-nos de suas mãos. Finalmente Saladin, no ano 693 A.H., expulsou os reis europeus e seus exércitos do Egito e da costa síria. Desesperadamente vencidos, eles voltaram à Europa. No curso destas guerras das Cruzadas, milhões de seres humanos pereceram. Para resumir, de 490 a 693 A.H., reis, comandantes e outros líderes militares continuamente foram e voltaram entre o Egito, a Síria e o Ocidente, e quando, finalmente, todos eles retornaram à sua terra natal, introduziram na Europa tudo o que haviam observado durante duzentos e tantos anos nos países muçulmanos com respeito a governo, desenvolvimento social e educação, faculdades, colégios e os requintes da vida. A civilização da Europa data daquele tempo.
Ó povo da Pérsia! Quanto tempo irá durar vosso torpor e letargia? Vós fostes outrora os senhores de toda a terra; o mundo estava às vossas ordens. Como é que vossa glória escoou-se e vós caístes em desgraça, e rastejais em algum canto do oblívio? Vós fostes a nascente do conhecimento, a infalível fonte de luz para toda a terra; como é que agora vós estais debilitados e sufocados e atemorizados? Vós que outrora iluminastes o mundo, como é que agora espreitais, inertes, confusos, na escuridão? Abri os olhos de vossas mentes, olhai vossa grande e presente carência. Erguei-vos e esforçai-vos, buscai educação, buscai esclarecimento. É adequado que um povo estrangeiro receba de vossos próprios ancestrais sua cultura e sua sabedoria, e que vós, seu sangue, seus legítimos herdeiros, passeis sem elas? Como vos parece, quando vossos vizinhos estão trabalhando dia e noite com todo seu coração, provendo seu progresso, sua honra e prosperidade, que vós, em vosso fanatismo ignorante, estais ocupados somente com vossas disputas e antipatias, vossas indulgências e apetites e sonhos vazios? É louvável que vós despendais e esbanjeis, indiferentes, o brilho que é vosso direito inato, vossa competência nativa, vosso conhecimento inerente? Novamente, Nos desviamos de Nosso tema.
Aqueles intelectuais europeus que são bem informados dos fatos do passado da Europa e são caracterizados pela veracidade e senso de justiça, reconhecem unanimemente que os elementos básicos de sua civilização, em cada particular, são derivados do Islã. Por exemplo, Draper,53 a bem conhecida autoridade francesa, um escritor cuja precisão, habilidade e conhecimento são atestados por todos eruditos europeus, em um de seus trabalhos mais conhecidos, The Intellectual Development of Europe, escreveu um relato detalhado a respeito disto, ou seja, com referência à derivação, pelos povos da Europa, dos fundamentos da civilização e das bases do progresso e bem-estar do Islã. Seu relato é exaustivo e uma tradução aqui estenderia indevidamente o presente trabalho, e em verdade seria irrelevante ao Nosso propósito. Se forem desejados detalhes adicionais, o leitor pode referir-se àquele texto.
Em essência, o autor demonstra como a totalidade da civilização da Europa – suas leis, princípios, instituições, suas ciências, filosofias, conhecimento variado, suas maneiras civilizadas, arte e indústria, sua organização, seus louváveis traços de caráter, e mesmo muitas das palavras correntes no idioma francês, derivam-se dos árabes. Um a um, ele investiga cada detalhe destes elementos, dando até mesmo o período em que cada um foi trazido do Islã. Ele descreve também a chegada dos árabes ao Ocidente, naquela que é agora a Espanha, e como em um curto período de tempo eles lá estabeleceram uma civilização bem desenvolvida, e que elevado grau de excelência seu sistema administrativo e conhecimento alcançaram, e quão solidamente estabelecidos e bem ajustados eram suas escolas e instituições de ensino superior, onde ciências e filosofia, artes e ofícios, eram ensinados; que elevado nível de liderança eles atingiram nas artes da civilização e quantas crianças das principais famílias da Europa foram enviadas para freqüentar as escolas de Córdoba e Granada, Sevilha e Toledo, para adquirir as ciências e artes da vida civilizada. Ele registra até mesmo que um europeu chamado Gerbert chegou ao Ocidente e matriculou-se na Universidade de Córdoba, em território árabe, lá estudou artes e ciências, e após seu retorno à Europa atingiu tal proeminência que finalmente foi elevado à liderança da Igreja Católica, e tornou-se o Papa.
O propósito destas referências é estabelecer o fato de que as religiões de Deus são a verdadeira fonte das perfeições espirituais e materiais do homem, e a nascente de esclarecimento e conhecimento benéfico para toda a humanidade. Se observar-se o assunto de maneira imparcial, constatar-se-á que todas as leis da política estão contidas nestas poucas e santas palavras:
“Aconselham o bem e proíbem o ilícito e se emulam nas boas ações. Estes contar-se-ão entre os virtuosos.”54 E novamente: “E que surja de vós um povo que preconize o bem, dite a justiça e proíba o ilícito. Este será um povo bem-aventurado.”55 E também: “Deus ordena a justiça, a caridade... e veda a obscenidade, o ilícito e a iniqüidade. Ele vos exorta a que reflitais.”56 E ainda, novamente, sobre a civilização do comportamento humano: “Conserva-te indulgente, encomenda o bem e foge dos insipientes.”57 E igualmente: “. . . que reprimem a cólera; que indultam o próximo. Sabei que Deus aprecia os benfeitores.”58 E novamente: “A virtude não consiste só em orientar vossos rostos até o levante ou o poente. A verdadeira virtude é a de quem crê em Deus, no Dia do Juízo Final, nos anjos, no Livro e nos profetas; de quem distribui seus bens em caridade por amor a Deus, entre parentes, órfãos, necessitados, viandantes, mendigos e em resgate de cativos. Aqueles que observam a oração, pagam o tributo, cumprem os compromissos contraídos, são pacientes na miséria e na adversidade ou durante o combate, são os verdadeiros crentes e são os que temem a Deus.”59 E ainda mais: “Preferem-nos em detrimento de si mesmos, embora necessitem de tais despojos.”60 Observai agora como estes poucos versos sagrados abrangem os mais elevados níveis e mais íntimos significados de civilização, e incorporam todas as excelências do caráter humano.
Pelo Senhor Deus, e não há nenhum Deus a não ser Ele, até os mais minúsculos detalhes da vida civilizada derivam da graça dos Profetas de Deus. Que coisa de valor para a humanidade já veio à existência que não houvesse primeiro sido anunciada diretamente ou por implicação nas Sagradas Escrituras?
Ai, de que proveito é isso! Quando as armas estão nas mãos do covarde, nenhuma vida ou propriedade do homem estão seguras, e ladrões apenas tornam-se mais fortes. Quando, da mesma forma, um sacerdócio distante da perfeição adquire o controle dos assuntos, ele abaixa como uma maciça cortina entre o povo e a luz da Fé.
Sinceridade é a pedra fundamental da fé. Isto é, um indivíduo religioso deve desconsiderar seus desejos pessoais e procurar sinceramente servir o interesse público de qualquer forma que ele possa; e é impossível a um ser humano afastar-se de suas próprias vantagens egoístas e sacrificar seu próprio bem pelo bem da comunidade, a não ser através da verdadeira fé religiosa. Pois o amor-próprio é misturado ao próprio barro do homem e não é possível que, sem qualquer esperança de uma recompensa substancial, ele negligencie seus próprios bens materiais atuais. Aquele indivíduo, entretanto, que coloca sua fé em Deus e crê nas palavras de Deus – porque lhe é prometida uma copiosa recompensa na próxima vida e porque os benefícios mundanos, quando comparados à alegria e à glória permanentes dos futuros planos de existência, não são nada para ele – abandonará por amor a Deus sua própria paz e benefício, e consagrará livremente seu coração e alma ao bem comum. “Entre os homens há, também aquele que se sacrifica para obter a complacência de Deus.”61
Existem alguns que imaginam que um senso inato de dignidade prevenirá o homem de cometer más ações e assegurará sua perfeição espiritual e material. Isto é, que um indivíduo que é caracterizado por inteligência natural, elevada determinação e um potente zelo, refrear-se-á instintivamente, sem qualquer consideração pelas severas punições conseqüentes de más ações ou pelas grandes recompensas da retidão, de infligir danos aos seus semelhantes, e terá fome e sede de fazer o bem. E, no entanto, se ponderarmos as lições da história, tornar-se-á evidente que este próprio senso de honra e dignidade é, em si mesmo, uma das graças que derivam das instruções dos Profetas de Deus. Nós também observamos em crianças os sinais de agressão e ilegalidade, e que, se uma criança for privada das instruções de um professor, suas qualidades indesejáveis aumentarão de um momento para o outro. É, portanto, claro que a emersão deste senso natural de dignidade humana e honra é o resultado da educação. Secundariamente, mesmo se garantirmos que por causa do argumento daquela inteligência instintiva e uma qualidade moral inata preveniríamos as más ações, é óbvio que indivíduos assim caracterizados são tão raros quanto a pedra filosofal. Uma suposição deste tipo não pode ser validada por meras palavras, deve ser apoiada em fatos. Vejamos que poder na criação impele as massas em direção às intenções e ações retas!
Ao lado disto, se aquele indivíduo raro que exemplifica tal faculdade também se tornasse uma personificação do temor a Deus, é certo que seus esforços em direção à retidão seriam solidamente reforçados.
Benefícios universais derivam da graça das religiões Divinas, pois elas conduzem seus verdadeiros seguidores à sinceridade de intenções, aos elevados propósitos, à pureza e honra imaculada, à bondade e à compaixão insuperáveis, à preservação de seus convênios quando tiverem pactuado, ao interesse pelos direitos alheios, à liberdade, à justiça em cada aspecto da vida, à humanidade e à filantropia, ao valor e aos incansáveis esforços no serviço ao gênero humano. É a religião, em resumo, que produz todas as virtudes humanas, e são estas virtudes que são as velas brilhantes da civilização. Se um homem não for caracterizado por estas excelentes qualidades, é certo que ele jamais alcançou sequer uma gota do insondável rio das águas da vida, que flui através dos ensinamentos dos Livros Sagrados, nem apreendeu o mais tênue sopro das fragrantes brisas que se difundem dos jardins de Deus; pois nada sobre a terra pode ser demonstrado somente através de palavras, e cada nível de existência é conhecido por seus sinais e símbolos, e cada grau no desenvolvimento do homem tem sua marca de identificação.
O propósito destas afirmações é tornar abundantemente claro que as religiões Divinas, os preceitos sagrados, os ensinamentos celestiais, são a base inexpugnável da felicidade humana, e que os povos do mundo não podem esperar por nenhum real alívio ou libertação sem este único grande remédio. Esta panacéia deve, entretanto, ser administrada por um médico sábio e habilidoso, pois nas mãos de um incompetente todos os medicamentos que o Senhor dos homens tem continuamente criado para a cura dos males dos seres humanos não poderia gerar saúde e, ao contrário, somente destruiria o desamparado e incendiaria os corações dos já aflitos.
Aquela Fonte de Divina sabedoria, aquela Manifestação da Condição de Profeta Universal (Maomé), encorajando a humanidade a adquirir ciências e artes e vantagens similares, ordenou-lhes que as buscassem até mesmo nos mais remotos recantos da China, ainda que os doutores incompetentes e caviladores proibissem isto, oferecendo como sua justificativa os dizeres, “Aquele que imita um povo é um deles.” Eles nem mesmo compreenderam o que se entende pela referida “imitação”, nem sabem que as religiões Divinas ordenam e encorajam todos os fiéis a adotarem tais princípios que conduzirão a contínuos aperfeiçoamentos e a adquirirem ciências e artes de outros povos. Quem quer que se expresse contrariamente jamais sorveu do néctar do conhecimento e é desencaminhado em sua ignorância, tateando pela miragem de seus desejos.
Julgai corretamente: qual destes modernos desenvolvimentos, sejam em si mesmos ou em suas aplicações, é contrário aos mandamentos Divinos? Se eles significam o estabelecimento de parlamentos, estes são ordenados pelo próprio texto do versículo sagrado: “resolvem seus assuntos em concílios.”62 E, novamente, dirigindo-se ao Alvorecer de todo conhecimento, à Fonte de perfeição (Maomé), apesar de Sua existência em possessão de sabedoria universal, as palavras são: “e aceita seus conselhos.”63 Em vista disto, como pode a questão de consulta mútua estar em conflito com a Lei religiosa? As grandes vantagens da consulta podem ser igualmente estabelecidas por meio de argumentos lógicos.
Podem eles dizer que seria contrário às leis de Deus tornar uma sentença de morte condicional às mais cuidadosas investigações, à sanção de numerosos corpos, à prova legal e à ordem real? Podem eles alegar que o que ocorreu sob o governo anterior estava em conformidade com o Alcorão? Por exemplo, nos dias em que Hájí Mirza Áqásí foi Primeiro Ministro, ouviu-se de muitas fontes que o governo de Gulpáygán prendeu treze indefesos meirinhos daquela região, todos eles de santa linhagem, todos eles inocentes, e sem obter qualquer sanção superior, decapitou-os na mesma hora.
Uma vez a população da Pérsia excedeu os cinqüenta milhões. Esta foi parcialmente dissipada pelas guerras civis, mas predominantemente por causa da falta de um sistema de governo adequado, e do despotismo e da autoridade desenfreada dos governadores provinciais e locais. Com o passar do tempo, nem um quinto da população sobreviveu, pois os governadores selecionavam qualquer vítima que desejassem, mesmo inocente, e descarregavam sua ira sobre ela e a destruíam. Ou, por um capricho, faziam de um reconhecido assassino em massa um favorito. Nenhuma alma podia manifestar-se, porque o governador mantinha controle absoluto. Podemos dizer que estas coisas estavam em conformidade à justiça ou às leis de Deus?
Podemos sustentar que seja contrário aos fundamentos da Fé encorajar a aquisição de artes úteis e de conhecimento geral, informar-se das verdades de tais ciências físicas que são benéficas ao homem, e ampliar o escopo da indústria e incrementar os produtos do comércio, e multiplicar as vias de prosperidade da nação? Conflitaria com a adoração a Deus, estabelecer a lei e a ordem nas cidades, e organizar os distritos rurais, reparar as estradas e construir ferrovias, e facilitar o transporte e a viagem e, deste modo, aumentar o bem-estar do povo? Seria inconsistente com os mandamentos e proibições Divinas se fôssemos trabalhar as minas abandonadas que são a maior fonte de riqueza da nação, e construir fábricas das quais adviriam conforto, seguridade e riqueza de todo o povo? Ou estimular a criação de novas indústrias e promover aperfeiçoamentos em nossos produtos domésticos?
Pelo Todo-Glorioso! Eu estou atônito por constatar que um véu baixou ante seus olhos e como ele os cega até mesmo para necessidades tão óbvias como estas. E não há qualquer dúvida de que, quando conclusivos argumentos e provas deste tipo forem expostos, eles responderão, dentre mil rancores e preconceitos ocultos: “No Dia do Julgamento, quando os homens estiverem diante de seu Senhor, eles não serão questionados por sua educação e o grau de sua cultura – antes, serão examinados pelas suas boas ações.” Admitamos isto e assumamos que o homem não será questionado por sua cultura e educação; mesmo assim, naquele grande Dia do Juízo Final, não serão os líderes chamados a prestar contas? Não será dito a eles: “Ó chefes e líderes! Por que fizestes que esta poderosa nação despencasse das alturas de sua glória antiga para desaparecer de seu lugar no coração e centro do mundo civilizado? Vós éreis bem capazes de desincumbir-vos de tais providências que conduziriam à elevada honra deste povo. Isto vós falhastes em fazer, e até mesmo prosseguistes em privá-lo dos benefícios comuns, apreciados por todos. Este povo não resplandeceu outrora como estrelas em um céu auspicioso? Como vós ousastes extinguir sua luz na escuridão? Vós poderíeis ter acendido para ele a lâmpada da glória temporal e eterna; por que falhastes em esforçar-vos por isto com todo seu coração? E quando, pela graça de Deus, uma Luz flamejante cintilou, por que falhastes em abrigá-la, dos ventos que contra ela agitavam-se, no globo de vosso valor? Por que vos erguestes com todo vosso poder para extingui-la?”
“E a cada qual lhe penduramos ao pescoço sua obra e, no Dia da Ressurreição, apresentar-lhe-emos um livro, que encontrará aberto.”64
Novamente, existe alguma ação no mundo que seria mais nobre do que o serviço ao bem comum? Existe alguma maior bênção concebível para o homem do que ele tornar-se a causa da educação, do desenvolvimento, da prosperidade e da honra de seus semelhantes? Não, pelo Senhor Deus! A mais elevada retidão é a das almas abençoadas por segurar as mãos dos desamparados e libertá-los de sua ignorância e humilhação e pobreza, e com motivos puros, e somente por amor a Deus, levantar-se e devotar-se energicamente ao serviço às massas, esquecendo suas próprias vantagens mundanas e trabalhando apenas para servir ao bem geral. “Preferem-nos em detrimento de si mesmos, embora necessitem de tais despojos.”65 “Os melhores dos homens são aqueles que servem as pessoas; os piores dos homens são aqueles que prejudicam as pessoas.”
Glorificado seja Deus! Que extraordinária situação prevalece agora, quando ninguém, ao ouvir uma reivindicação, pergunta a si próprio qual poderia ser o real motivo do locutor, e que propósito egoísta ele não poderia ter ocultado por trás da máscara das palavras. Vós percebeis, por exemplo, que um indivíduo que busca seus próprios interesses mesquinhos e físicos impedirá o progresso de todo um povo. Para rodar seu próprio moinho a água, ele deixará as fazendas e campos de todos os outros ressequir e mirrar. Para manter sua própria liderança, ele guiará perpetuamente as massas ao preconceito e fanatismo que subvertem a própria base da civilização.
Tal homem, ao mesmo tempo em que está perpetrando ações que são anátemas à vista de Deus e abominadas por todos os Profetas e Santos, ao observar uma pessoa que acabou de comer lavar suas mãos com sabão – um artigo cujo inventor foi ‘Abdu’lláh Búní, um muçulmano – promoverá, pelo fato deste desafortunado não esfregar suas mãos para cima e para baixo na frente de seu manto e sobre sua barba, um alarido e lamentação no sentido de que a lei religiosa fora subvertida, e que as maneiras e costumes de nações pagãs estão sendo introduzidas em nossa nação. Negligenciando completamente o mal de seus próprios caminhos, ele considera a própria causa do asseio e refinamento como pecaminosa e insensata.
Ó Povo da Pérsia! Abri vossos olhos! Prestai atenção! Libertai-vos de seguir cegamente os fanáticos, esta imitação insensata que é a razão principal pela qual os homens precipitam-se nos caminhos da ignorância e degradação. Observai o real estado das coisas. Levantai-vos; agarrai-vos firmemente a tais meios que vos trarão vida e felicidade e grandeza e glória entre todas as nações do mundo.
Os ventos da verdadeira primavera estão passando sobre vós; adornai-vos com flores, como árvores nos jardins perfumados. Nuvens primaveris estão fluindo; tornai-vos então viçosos e verdejantes como os eternos campos férteis. A estrela d’alva está brilhando, colocai vossos pés no verdadeiro caminho. O oceano do poder está intumescendo, apressai-vos às ondas da elevada determinação e fortuna. A água pura da vida está jorrando, por que consumis vossos dias em um deserto de sede? Almejai o elevado, escolhei nobres propósitos; quanta letargia, quanta negligência! Desespero, tanto aqui como em vida futura, é tudo o que vós obtereis da auto-indulgência; abominação e miséria são tudo o que vós colhereis do fanatismo, da crença no insensato e negligente. As confirmações de Deus estão amparando-vos, o socorro de Deus está à mão: por que não bradais e exultais de todo vosso coração, e vos esforçais com toda vossa alma?
Entre aquelas questões que requerem revisão e reforma completas, está o método de estudo dos diversos ramos de conhecimento e da organização do currículo acadêmico. Pela falta de organização, a educação tem se tornado fortuita e confusa. Assuntos levianos que não deveriam requerer elaboração recebem demasiada atenção, a tal ponto que estudantes, durante longos períodos de tempo, desperdiçam seus intelectos e suas energias em matéria que é pura suposição, de nenhuma forma suscetível de prova, estudo este que consiste em ir a fundo em afirmações e conceitos cujo exame cuidadoso provaria serem nem mesmo improváveis, mas antes, genuína superstição, e que expressam a investigação de conceitos inúteis e perseguição de absurdos. Não pode haver dúvidas de que preocupar-se com tais ilusões, examinar e debater extensamente proposições tão inúteis, não é nada a não ser desperdício de tempo e ruína dos dias da vida de alguém. Não somente isto, mas também impede o indivíduo de empreender o estudo daquelas artes e ciências das quais a sociedade encontra-se em terrível carência. O indivíduo deve, antes de engajar-se no estudo de qualquer tema, perguntar-se quais são suas aplicações e que fruto e resultado derivam dele. Se for um ramo de conhecimento útil, isto é, se a sociedade obterá dele importantes benefícios, então ele certamente deve persegui-lo de todo seu coração. Caso contrário, se consistir de debates vazios, improfícuos, e de uma vã concatenação de imaginações que não levam a resultado algum a não ser mordacidade, por que devotar a vida a tão inúteis minuciosidades e disputas?
Como esta questão requer elucidação adicional e profunda atenção, a fim de que possa ser plenamente demonstrado que alguns dos assuntos, que hoje são negligenciados, são extremamente preciosos, uma vez que a nação não tem absolutamente qualquer necessidade dos diversos outros estudos supérfluos, se Deus quiser o assunto será desenvolvido em um segundo livro. Nossa esperança é que uma leitura deste primeiro livro produzirá mudanças fundamentais no pensamento e no comportamento da sociedade, pois Nós empreendemos o trabalho com uma intenção sincera e puramente por amor a Deus. Embora neste mundo indivíduos capazes de distinguir entre intenções sinceras e palavras falsas sejam tão raros quanto a pedra filosofal, ainda assim Nós fixamos Nossas esperanças nas imensuráveis graças do Senhor.
Para resumir: Quanto àquele grupo que sustenta que ao efetuar estas necessárias reformas devemos proceder com deliberação, exercitar paciência e alcançar os objetivos, um a cada vez, o que exatamente eles querem dizer com isto? Se por deliberação eles estão referindo-se àquela circunspeção que a ciência de governar requer, seu pensamento é oportuno e apropriado. É certo que empreendimentos momentosos não podem ser levados apressadamente a uma conclusão bem sucedida, pois em tais casos a pressa resultaria apenas em desperdício.
O mundo da política é como o mundo do homem; ele é semente no início, e depois passa gradualmente para a condição de embrião e feto, adquirindo uma estrutura óssea, sendo coberto com carne, tomando sua própria forma particular, até que finalmente ele atinge o plano em que pode condizentemente consumar as palavras: “Criador por excelência.”66 Do mesmo modo que isto é um requisito da criação e está baseado na Sabedoria universal, o mundo político não pode de maneira idêntica evoluir instantaneamente do nadir da imperfeição para o zênite da retidão e perfeição. Antes, indivíduos qualificados devem esforçar-se dia e noite utilizando todos aqueles recursos que conduzirão ao progresso, até que o governo e o povo desenvolvam-se ao longo de cada caminho do dia a dia, e mesmo de momento em momento.
Quando, através dos favores Divinos, três coisas aparecerem na terra, este mundo de pó avivar-se-á, e apresentar-se-á maravilhosamente adornado e cheio de encanto. Estas são, em primeiro lugar, os ventos frutuosos da primavera; em segundo, as nuvens vertentes e abundantes da primavera; e em terceiro, o calor do sol radiante. Quando, através da infinita generosidade de Deus, estas três coisas tiverem sido concedidas, então, lentamente, por Sua permissão, árvores e ramos secos tornar-se-ão frescos e verdejantes novamente, a adornar-se-ão com muitos tipos de flores e frutos. O mesmo ocorre quando as intenções puras e a justiça do soberano, a sabedoria e consumadas habilidade e diplomacia das autoridades governamentais, e a determinação e os ilimitados esforços dos povos, estão todos combinados; então, dia a dia, os efeitos do progresso, das extensas reformas, do orgulho e prosperidade do governo e do povo, igualmente, tornar-se-ão claramente manifestos.
Se, entretanto, por demora e adiamento eles pretenderem isto, que em cada geração somente uma minúscula parte das reformas necessárias devam ser atendidas, isto nada é senão letargia e inércia, e resultado algum se apresentaria de tal procedimento, exceto a infinita repetição de palavras inúteis. Se a pressa é prejudicial, a inércia e a indolência são mil vezes piores. Um meio termo é o melhor, como está escrito: “Incumbe a vós fazer o bem entre os dois males,” isto referindo-se ao meio entre os dois extremos. “Não sejas avaro nem perdulário . . . mas procura um tom médio entre ambos.”67
O primário, o mais urgente requisito é a promoção da educação. É inconcebível que qualquer nação alcance prosperidade e sucesso, a menos que este supremo, este fundamental interesse seja levado avante. A principal razão para o declínio e queda dos povos é a ignorância. Hoje, as massas dos povos são desinformadas até mesmo das questões ordinárias, muito menos elas compreendem o âmago dos importantes problemas e complexas necessidades atuais.
É, portanto, urgente que artigos e livros benéficos sejam escritos, estabelecendo clara e definitivamente quais são os requisitos do povo no presente dia e o que conduzirá à felicidade e progresso da sociedade. Estes devem ser publicados e difundidos por toda a nação, de modo que ao menos os líderes dentre o povo se tornem, em algum grau, despertos, e levantem-se para empenhar-se ao longo daquelas vias que conduzirão à sua honra permanente. A publicação de elevados pensamentos é o poder dinâmico nas artérias da vida; é a própria alma do mundo. Pensamentos são um oceano ilimitado, e os efeitos e variadas condições da existência são como as formas separadas e limites individuais das ondas; somente quando o oceano agitar-se as ondas erguer-se-ão e espalharão suas pérolas de conhecimento nas praias da vida.
Tu, Irmão, és teu pensamento apenas,A opinião pública deve ser direcionada a tudo o que for digno deste dia, e isto é impossível exceto através do uso de argumentos adequados e da adução de provas claras, abrangentes e conclusivas. Pois as massas desamparadas nada sabem do mundo, e embora não haja dúvida de que elas buscam e anseiam por sua própria felicidade, ainda assim a ignorância, como um pesado véu, dela as excluirá.
Observai a que ponto a falta de educação enfraquecerá e degradará um povo. Hoje [1875], do ponto de vista de população, a maior nação no mundo é a China, que possui algo em torno de quatrocentos milhões de habitantes. Por causa disto, seu governo deve ser o mais distinguido na terra, seu povo o mais aclamado. E por ora, pelo contrário, por causa de sua falta de educação em civilização cultural e material, é a mais medíocre e a mais desamparada de todas as nações fracas. Não há muito tempo, um pequeno contingente de tropas inglesas e francesas foram à guerra com a China e derrotaram tão decisivamente aquele país que tomaram até mesmo sua capital Pequim. Houvessem o governo e povo da China estado à altura das ciências avançadas daquele dia, houvessem eles sido habilitados nas artes de civilização, então, se todas as nações da terra houvessem marchado contra eles o ataque teria entretanto falhado, e os agressores teriam retornado derrotados para o lugar de onde tinham vindo.
Ainda mais estranho do que este episódio é o fato de que o governo do Japão estava inicialmente submisso e sob a proteção da China, e agora, há alguns anos, o Japão abriu seus olhos e adotou as técnicas de progresso e civilização contemporâneas, fomentando as ciências e as indústrias de utilidade ao público e esforçando-se ao máximo de suas forças e competência até que a opinião pública estivesse focalizada na reforma. Este governo tem atualmente avançado a tal ponto que, embora sua população seja apenas um sexto, ou mesmo um décimo daquela da China, ele desafiou recentemente o governo desta, e a China foi finalmente forçada a chegar ao acordo. Observai cuidadosamente como a educação e as artes de civilização trazem honra, prosperidade, independência e liberdade a seu povo.
Além disso, é uma necessidade vital estabelecer escolas por toda a Pérsia, mesmo nas menores cidades e aldeias do país, e encorajar o povo de todas as maneiras a deixar seus filhos a aprenderem a ler e escrever. Se necessário, a educação deve até mesmo ser tornada compulsória. Até que os nervos e artérias da nação agitem-se à vida, toda medida que for experimentada provar-se-á fútil; pois os povos são como o corpo humano, e a determinação e a vontade de labutar são como a alma, e um corpo sem alma não se move. Este poder dinâmico está presente a um grau superlativo na própria essência do povo persa, e a difusão da educação a libertará.
Quanto ao componente que acredita que não é necessário nem apropriado tomar emprestados os princípios da civilização, os fundamentos do progresso em direção aos elevados níveis da felicidade social no mundo material, as leis que efetivam reformas completas, os métodos que estendem o escopo da cultura – e que é muito mais conveniente que a Pérsia e os persas reflitam sobre a situação e então criem suas próprias técnicas de progresso.
É certo que, se a inteligência vigorosa e a habilidade superior das notabilidades da nação, e a energia e determinação dos mais eminentes homens da corte imperial, e os esforços determinados daqueles que possuem conhecimento e capacidade e são bem versados nas grandes leis da vida política, fossem todos combinados, e todos exercessem cada esforço, e examinassem e refletissem sobre cada detalhe, bem como sobre as principais correntes dos assuntos, há toda probabilidade de que, por causa dos planos efetivos que eles desenvolveriam, algumas situações seriam inteiramente reformadas. Na maioria dos casos, entretanto, eles ainda seriam obrigados a tomar emprestado, porque durante os muitos séculos passados, centenas de milhares de pessoas têm devotado suas vidas inteiras a colocar estas coisas em teste, até que elas estivessem aptas a realizar estes substanciais desenvolvimentos. Se tudo isso é para ser ignorado e um esforço for realizado para recriar aquelas atividades em nosso país e de nossa própria maneira, e assim realizar o esperado progresso, muitas gerações passar-se-iam e ainda o objetivo não seria alcançado. Observai, por exemplo, que em outros países eles perseveraram durante um longo período, até que finalmente descobriram o poder do vapor e através dele foram capacitados a executar facilmente as pesadas tarefas que outrora estavam além do poder humano. Quantos séculos levaria se nós fôssemos abandonar o uso deste poder e em seu lugar envidar todos os esforços para inventar um substituto? É, portanto, preferível prosseguir com o uso do vapor e ao mesmo tempo examinar continuamente a possibilidade de existir uma força disponível muito maior. Deve-se considerar sob a mesma luz os outros avanços tecnológicos, ciências, artes e fórmulas políticas de comprovada utilidade – isto é, aqueles procedimentos que, através das eras, têm sido colocados repetidas vezes à prova e cujas diversas utilizações e vantagens têm resultado, de forma demonstrável, na glória e grandeza do estado, e no bem-estar e progresso do povo. Fossem abandonados todos estes por razão não convincente, e outros métodos fossem experimentados, pelo tempo que tais reformas pudessem demandar e que suas vantagens pudessem ser colocadas à prova, muitos anos passar-se-iam, e muitas vidas. Entretanto, “nós ainda estamos na primeira volta da roda.”69
A superioridade do presente em relação ao passado consiste nisto, que o presente pode assumir e adotar como modelo muitas coisas que foram investigadas e examinadas, e cujos grandes benefícios foram demonstrados no passado, e pode fazer suas próprias novas descobertas e, através destas, aumentar sua preciosa herança. É claro, então, que a realização e a experiência do passado são conhecidas e disponíveis ao presente, enquanto que as descobertas peculiares ao presente são desconhecidas ao passado. Isto pressupõe que a geração mais recente seja constituída de pessoas de capacidade; caso contrário, quanto que a geração mais recente tem carecido, mesmo quão uma gota, do ilimitado oceano de conhecimento que foi de seus antepassados!
Refleti um pouco: suponhamos que, através do poder de Deus, certos indivíduos sejam colocados sobre a terra; estes indivíduos obviamente se encontram carentes de muitas coisas para suprir sua dignidade humana, sua felicidade e bem-estar. Agora, é mais praticável para eles adquirir estas coisas de seus contemporâneos ou devem eles, em cada sucessiva geração, nada tomar emprestado, mas, em vez disso, criar independentemente um ou outro dos recursos necessários à existência humana?
Fossem alguns sustentar que aquelas leis, princípios e fundamentos de progresso nos mais elevados níveis de uma sociedade plenamente desenvolvida, correntes em outros países, não são apropriados à condição e às tradicionais necessidades do povo da Pérsia, e por conta disto é necessário que, dentro do Irã, os planejadores da nação exerçam seus máximos esforços para realizar reformas apropriadas à Pérsia – deixai-os primeiramente explicar que mal poderia advir de tais importações estrangeiras.
Se o país fosse erigido, as estradas reparadas, a sorte dos desamparados melhorasse por diferentes meios, os pobres reabilitados, as massas colocadas a caminho do progresso, as vias de riqueza pública aumentadas, o escopo da educação ampliado, o governo apropriadamente organizado, e o livre exercício dos direitos dos indivíduos, e a seguridade de sua pessoa e propriedade, sua dignidade e bom nome, assegurados – estaria tudo isto em desacordo com o caráter do povo persa? O que quer que esteja em conflito com estas medidas já se provou ser prejudicial em todos os países, e não afeta uma localidade mais do que outra.
Estas superstições resultam, em sua totalidade, da falta de sabedoria e compreensão, e de observação e análise insuficientes. Em verdade, a maioria dos reacionários e procrastinadores está somente escondendo seus próprios interesse egoístas sob a barragem de palavras inúteis, e confundindo as mentes das massas desamparadas com declarações públicas que não guardam nenhuma relação com seus objetivos bem ocultos.
Ó povo da Pérsia! O coração é uma incumbência Divina; purificai-o da mácula do amor próprio, adornai-o com a coroa da intenção pura, até que a honra sagrada, a grandeza duradoura desta ilustre nação, possam resplandecer como a verdadeira manhã em um auspicioso paraíso. Este punhado de dias na terra escapulirá como sombras e terminará. Esforçai-vos, então, para que Deus possa lançar Sua graça sobre vós, para que possais deixar uma benévola lembrança nos corações e nos lábios daqueles por vir. “Concede-me boa reputação na posteridade.”70
Feliz a alma que esquece seu próprio bem, e como os escolhidos de Deus, disputa com seus semelhantes no serviço ao bem de todos; até que, fortalecida pelas bênçãos e perpétuas confirmações de Deus, ela seja capacitada a elevar esta poderosa nação aos seus antigos pináculos de glória e restituir a esta definhada terra a agradável vida nova e, como uma primavera espiritual, adornar aquelas árvores, que são as vidas dos homens, com as folhas, as flores e os frutos frescos do consagrado júbilo.
Índice RemissivoDesenvolve civilizações; não contrária à religião,
Eleva o homem à excelência,Dependente da sinceridade dos representantes eleitos,
Direitos dos outros preservados,1 Alcorão 39: 69. Todos os trechos do Alcorão que constam desta edição da obra em português foram extraídos da versão de Samir El Hayek, Tangará – Expansão Editorial, 1979.
2 Alcorão 55:1- 45b O texto original, escrito em persa em 1875, não portava nome do autor, e a primeira tradução inglesa publicada em 1910 sob o título The Misterious Forces of Civilization declara apenas “Escrito em Persa por um Eminente Filósofo Bahá’í.”
6 Alcorão 76:97 Crônicas 36:22-23, Esdras 1:2, Ester 1:1; 8:9, Isaías 45:1,14 e 49:12
8 Alcorão 6:90 e 11: 2914 Jáhilíyyih: o período de paganismo na Arábia, anterior ao advento de Maomé.
15 Os árabes pagãos observavam um mês isolado e três consecutivos de trégua, durante os quais eram realizadas peregrinações a Meca e aconteciam feiras, concursos de poesias e eventos similares.
16 Alcorão 16: 12319 “Se pela palavra álgebra nós entendemos aquele ramo da matemática pelo qual aprendemos como solucionar a equação x2 + 5.x = 14, escrita desta forma, a ciência começa no século XVII. Se nós admitirmos que a equação seja escrita com outros símbolos menos convenientes, deve ser considerado como iniciando pelo menos já no século III. Se nós permitirmos que ela seja expressa em palavras e solucionada através de simples casos de raízes positivas, através da ajuda de figuras geométricas, a ciência foi dada ao conhecimento a Euclides e outros da escola Alexandrina já em 300 a.C. Se nós admitirmos mais ou menos suposição científica em alcançar uma solução, pode ser dito que a álgebra foi conhecida aproximadamente 2000 anos a.C., e havia provavelmente atraído a atenção da classe intelectual muito antes . . . O nome álgebra é quase fortuito. Quando Mohammed ibn Mûsâ al-Khowârizmî . . . escreveu em Bagdá (aproximadamente em 825 d.C.), ele deu a um de seus trabalhos o nome de Al-jebr w’al-muqâbalah. O título é algumas vezes traduzido como ‘reintegração e equação’, mas o significado não era claro mesmo para os es escritores árabes subseqüentes.” Encyclopedia Britannica, 1952, vide Álgebra.
20 Alcorão 39: 9 e 13: 1621 ‘Ulemá’, do árabe ‘alima, saber, pode ser traduzido por homem instruído, cientista, autoridade religiosa.
22 O Resh Galuta, um príncipe ou regente dos exilados na Bábilônia, a quem os judeus, onde quer que estivessem, pagavam tributo.
22a Uma medida de peso, em Teerã equivalente a 6,66 libras (cerca de 2,9 kg).
23 Alcorão 9:33; 48:28 e 61:925 Alcorão 7: 172: Yawm-i-Alast, o Dia em que Deus, dirigindo-Se à posteridade vindoura de Adão, disse a eles, “Não é verdade que sou vosso Senhor?” (a-lastu bi Rabbikum),“ Disseram: Sim! Reconhecemo-lo.”
26 Alcorão 9: 3227 Conf. Alcorão 27:12, referindo-se a Moisés: “E põe tua mão em teu bolso, e daí a retirarás diáfana; este será um dos nove prodígios perante o Faraó e seu povo . . . .” Também Alcorão 7: 108; 20: 22; 26: 33 e 38:32. Também Êxodo 4:6. Vide também The Rubaiyat of Omar Khayyam, de Edward Fitzgerald:
Agora o Ano Novo revivendo velhos Desejos,As metáforas aqui se referem às florações brancas e aos perfumes da primavera.
28 Alcorão 16: 12530 Dhu’l-Awtád é diferentemente apresentado pelos tradutores do Alcorão como O Empalador, O Inventor das Estacas, O Senhor de um Forte Domínio, Aquele Rodeado por Ministros, etc. Awtád significa pegas ou estacas. Vide Alcorão 38: 12 e 89: 10.
30a No Alcorão traduzido para o inglês por Yússuf Alí, ele diz: Empalar com estacas era uma cruel punição aplicada pelo Faraó, em arrogante orgulho pelo poder. [Nota do Tradutor para o português]
31 Alcorão 20: 4432 Alcorão 33:63: “As pessoas te interrogarão sobre a Hora do Juízo. Dize-lhes: Seu conhecimento somente está nas mãos de Deus!” Também conforme 22:1, “a convulsão da Hora”, etc. Vide também Mateus 24:36, 42, etc. Para os bahá’ís isto refere-se ao Advento do Báb e Bahá’u’lláh.
33 Conforme a confissão de fé islâmica, algumas vezes chamada de “dois testemunhos”: “Eu testifico que não existe Deus a não ser Deus, e Maomé é o Profeta de Deus.”
34 Alcorão 27:20 e seguintes.38 O parágrafo precedente, juntamente com o posterior, que se inicia: “Poucos, inconscientes do poder latente no esforço humano,” foi traduzido por Shoghi Effendi, Guardião da Fé Bahá’í. Conforme The World Order of Bahá’u’lláh, p. 37-38.
39 Rei sassânida, que reinou de 531 a 578 D.C.39b Sa‘dí, The Gulistán, On the Conduct of Kings [O Gulistán, Sobre a Conduta dos Reis]
40 Alcorão 17: 8245 Vide Rúmí, The Mathnaví, II, 185 e 189. Também o Hadíth: “Deus criou as criaturas na escuridão, depois Ele salpicou um pouco de Sua Luz sobre eles. Aqueles a quem um pouco daquela Luz atingiu, tomaram o caminho certo, enquanto aqueles a quem ela não atingiu desviaram-se da senda reta.” Conf. The Mathnawí of Jalálu’ddín Rúmí” de R. A. Nicholson, em E. J. W. Gibb Memorial Series.
46 Alcorão 24:3549 A Bíblia de King James descreve: “Vós tendes ouvido que tem sido dito: tu amarás teu vizinho e odiarás teu inimigo.” Eruditos contestam esta leitura porque é contrária à conhecida Lei, conforme estabelecida em Levítico 19:18, Êxodo 23:4-5, Provérbios 25:21, o Talmude, etc.
50 Conforme ‘Abdu’l-Bahá, O Esplendor da Verdade, capítulo LXXXIV, e Promulgation of Universal Peace, p. 385. Vide também Galen on Jews and Christians de Richard Walzer, Oxford University Press, 1949, p. 15. O autor afirma que o sumário de Galeno aqui referido foi perdido, sendo preservado apenas em citações no idioma árabe.
51 Alcorão 4:114; 2:207; etc.53 O texto persa translitera o nome deste autor como “Draybar” e intitula seu trabalho The Progress of Peoples. Aparentemente a referência é a John William Draper, 1811-1882, célebre químico e historiador largamente traduzido. Material detalhado sobre contribuições muçulmanas ao Ocidente, e sobre Gerbert (Papa Silvestre II) aparece no segundo volume do citado trabalho. De algumas das obrigações sistematicamente reconhecidas da Europa para com o Islã, o autor escreve: “Injustiça fundamentada sobre rancor religioso e nacionalismo não pode ser perpetuada para sempre.” (Vol. II, p. 42, ed. rev.) O Dictionary of American Biography menciona que o pai de Draper era um católico romano que assumiu o nome de John Christopher Draper quando renegado por sua família ao tornar-se um metodista, e que seu verdadeiro nome é desconhecido. O tradutor está em débito com o sr. Paul North Rice, Chefe do Departamento de Consulta da Biblioteca Pública de Nova Iorque, pela informação de que os dados disponíveis sobre a história da família e a nacionalidade de Draper são conflitantes; The Drapers in America de Thomas Waln-Morgan (1892) menciona que o pai de Draper nasceu em Londres, enquanto que Albert E. Henschel em Centenary of John William Draper (New York University “Colonnadde”, junho de 1911) tem o seguinte: “Se há alguém entre nós que traça sua linhagem aos ensolarados campos da Itália, ele pode orgulhar-se legitimamente de John William Draper, pois seu pai, John C. Draper, era italiano de nascimento...”
Os agradecimentos do tradutor são também dirigidos à Madame Laura Dreyfus-Barney pelas investigações relacionadas a esta passagem, na Biblioteca do Congresso e na Bibliothéque Nationale.
54 Alcorão 3: 11466 Alcorão 23:14: “ Bendito seja Deus, Criador por excelência.”
67 Alcorão 17:31 e 11068 Rúmí, O Mathnaví, II, 2:277. A próxima linha é:
Perto, um jardim, se aquele pensamento for uma rosa,
Mas se for um espinho, então apenas prepara para queimar.
69 Das linhas: “ ‘Attár passou pelas sete cidades do amor, e nós ainda estamos na primeira curva do caminho.”
70 Alcorão 26:84